Depois do sucesso do TB 00's Awards, que premiou os melhores e piores da década passada, e diante de minha crise criativa (ok, é só falta de tempo, dois empregos, sabem como é...), O Tudo Bola passa a régua no ano de Copa, de Mundial de Basquete e de mais uma passadinha pela Grécia com o 2010 TB Awards, cópia descarada do primeiro post do ano - mas com novos agraciados pela visão única deste escriba que já viu de tudo mas ainda quer ver mais, muito mais.
ATLETA DO ANO
Rafael Nadal. Depois de lesões no ombro e joelho, o Miúra retomou o topo do ranking e teve o melhor ano da carreira - triunfou em Roland Garros, Wimbledon e no US Open. Sete troféus em oito decisões disputadas em 2010 pelo espanhol. Kelly Slater, com seu deca mundial, ficou para trás.
TIME DO ANO
A seleção da Espanha. Num ano em que a Champions ficou com a chatérrima Internazionale de Mourinho, a Fúria não foi tudo aquilo que dela se esperava na Copa do Mundo, mas venceu de forma inquestionável e até bela, dentro do que um Mundial moderno permite. E não me venham botar a seleção do Bernardinho nesse páreo, por favor.
AMARELADA DO ANO
Meninos e meninas do vôlei brasileiro, esse orgulho nacional, disputaram saque a saque este prêmio. Se a seleção masculina fez papelão na Itália, entregando jogo para Bulgária para evitar um confronto antecipado com Cuba, a quem acabou batendo na final do mundial, a feminina se superou mais uma vez, perdendo a segunda decisão seguida para a Rússia em mundiais. A masculina leva o prêmio no tiebreak, por ter conseguido amarelar numa competição em que acabou campeã. Coisas do vôlei, esse esporte fascinante.
JOGO DO ANO
Barcelona 5x0 Real Madrid. Com direito a mosaico no Camp Nou, nenhum golzinho do Messi e uma declaração de Mourinho, após o chocolate, que entrou imediatamente para a história: "Não é humilhante! É uma derrota fácil de digerir, porque não houve possibilidades de ganhar... É pior quando tens oportunidade de ganhar e não ganhas. O resultado é um prémio para a equipa que jogou bem e um castigo para quem jogou mal."
RIVALIDADE DO ANO
Lebron x a torcida do Cleveland Cavaliers. Ninguém mandou o menino-prodígio do basquete agir como um babaca-prodígio da fama, fazendo mistério durante meses para finalmente anunciar sua decisão sobre ficar ou não em Cleveland em rede nacional, num absurdo de uma hora promovido pela ESPN. É não ter misericórdia alguma dos fãs que o idolatraram por tanto tempo. A resposta veio no primeiro jogo com a camisa do Heat em Cleveland, que teve de tudo - vaias homéricas, brigas na arquibancada, mascote provocativo com colete à prova de balas e até bonecos do astro nos mictórios do ginásio. Ódio puro, em sua essência.
GOLAÇO DO ANO
Talvez a escolha mais pessoal dessa seríssima lista. Mas eu realmente não resisto a assistir de novo e de novo ao gol de Lionel Messi sobre o Real Sociedad, no apagar das luzes da temporada, em sucessivas tabelinhas com Daniel Alves. Futebol é isso.
MICO DO ANO
Seria plausível dar o prêmio ao Flamengo - ou alguém acha que ser campeão num ano e brigar até a penúltima rodada para não cair no seguinte não é mico? Mas, cá entre nós, mico por mico, ainda fico com LeBron James anunciando em rede nacional que estava trocando o Cleveland Cavaliers pelo Miami Heat. Algo sem propósito, sem cabimento, sem pena, sem graça e sem noção do ridículo, tanto dele, quanto da gloriosa ESPN.
MUSA DO ANO
Larissa Riquelme e Sara Carbonero. Mesmo palco, a Copa. Estilos mais opostos, impossível. Pena que só uma acabou nas páginas da Playboy - Larrisa Riquelme. Fico com a espanhola.
CARA-DE-PAU DO ANO
Washington, o boneco do posto do bicampeão brasileiro Fluminense. Na semana do jogo decisivo contra o poderoso Guarani, bem no meio de um jejum de gols sem fim, saiu-se com uma explicação pitoresca - teria feito um pacto com Deus (claro, é o Flu) para trocar seus gols pelo título. Convenceu um ou outro tricolor incauto, não mais que isso.
MALA DO ANO
Eduardo Paes. Nosso prefeito do Rio, primeiro a abraçar Carlos Arthur Nuzman quando do anúncio da cidade como sede dos jogos de 2016, fez de tudo para aparecer em todo e qualquer evento esportivo possível, com destaque para o prêmio craque do brasileirão, quando, mais uma vez, fez o papel de bobo da corte para Lula e Cabral.
ENGANADOR DO ANO
Adriano. Da Chatuba para Roma, mais uma vez conseguiu aplicar o golpe do "agora estou a fim" em um clube de ponta. Acabou eleito pela imprensa italiana, pela terceira vez, o pior do campeonato de lá. Nem um golzinho pela Roma. E já fala em voltar para o Brasil. Mais uma vítima à vista.
BRAVATA DO ANO
Renato Gaúcho: "já transei com mais de 5000 mulheres."
FARSA DO ANO
Omer Asik, pivozão da seleção turca que merecia o Oscar por esse papelão no Mundial da Turquia.
ABSURDO DO ANO
As arbitragens no campeonato brasileiro. Nem é preciso explicar o porquê.
FRASE DO ANO
"Muricy é o novo técnico da seleção".
PERSONALIDADE DO ANO
Ele mesmo. Apesar da notícia do globoesporte.com, Muricy não assumiu a seleção. O Flu não deixou. Em vez de subir nas tamancas, Mr. Ramalho aceitou a decisão de seu empregador, voltou ao trabalho e levou o clube ao seu segundo título nacional (o tri, a Copa de Prata e o Robertão são assuntos para um próximo post). Tem que ter muita pesonalidade pra lidar com uma situação dessas dessa forma.
TRANSAÇÃO DO ANO
Pat Riley, manda-chuva do Heat, leva essa. Convenceu, de uma só vez, LeBron James e Chris Bosh a se juntarem a Dwyane Wade na quente e ensolarada Miami. E fez do time o mais odiado e invejado da NBA.
ESCÂNDALO DO ANO
Será que alguém um dia imaginou ver o goleiro do Flamengo preso por assassinato de uma atriz pornô com quem teve um filho? Com direito a corpo jamais encontrado, cachorros comedores de carne humana, declaração apaixonada através de tattoo de um amigo chamado Macarrão e, pra completar, um primo dedo-duro que entregou todo mundo de uma vez? Sério candidato a maior escândalo de todos os tempos, que promete muitas horas ao vivo de julgamento na Globo News num futuro próximo.
ZEBRA DO ANO
Suíça 1x0 Espanha, estreia dos campeões mundiais na África do Sul. Se já era zebra no dia 16 de junho, virou ainda mais depois do dia 11 de julho. Ou o Mazembe, sobre o Internacional. Como preferirem. Afinal, zebras são brancas com listras pretas ou pretas com listras brancas?
MELHOR COISA DO ANO
O novo player do NBA League Pass leva essa fácil, fácil. É o futuro das transmissões esportivas agora.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
Nada Faz, Realmente, Sentido (Ou A Paixão Cega)
Não é passível de análise lógica o futebol.
É tal qual tentar explicar a paixão.
Hoje, Cuca, revoltado após a derrota com aquele pênalti para o Corinthians, afirmou categoricamente que houve má fé na marcação do lance. Para revelar, segundos depois, que votou em Sandro Meira Ricci para melhor árbitro do campeonato. Disse, ainda, que se pudesse, voltava atrás e mudava o voto.
Na tv, um comentarista afirmava serem "estranhíssimos" os inúmeros pênaltis marcados a favor do Corinthians no Pacaembu. Pediu, até, para que se alguém em casa soubesse a explicação, mandasse para ele.
Em Minas, depois de tomar uma goleada humilhante - sem jogar absolutamente nada - Luxemburgo, com toda sua pose, disse que "com todo respeito ao Guanari" o próximo jogo é para o Flamengo ganhar, "seja pra não cair, seja na disputa do título."
Hein?
Hora e meia antes, Obina tinha aberto o placar e, como virou quase regra, não comemorou o gol. Só que, em se tratando do folclórico Peu-2000, nada jamais é demais. Pediu desculpas pelo gol, numa imagem clara e quase inacreditável. Se não fosse Obina.
Mas é claro que há quem o supere.
Zezé Perrela afirmou que "o Andrés nao comprou o juiz, mas alguém, com certeza, fez isso por ele."
Andrés, por sua vez, se saiu com esta: "No futebol não existe ninguém sem prejuízo. Existem coisas piores no futebol do que um pênalti bem ou mal marcado."
Hã?
E tudo isso, no mesmo dia em que o Juca me releva, em seu blog, que em entrevista com o Tite, o técnico revelou já ter treinado uma equipe que venceu um jogo porque o adversário havia sido "ordenado" a perder para prejudicar seu principal rival. Como esperado, jurou nem sob tortura revelar nomes.
E até o Juca, quem diria, exagerou em sua paixão. O texto sobre o choro de Cuca (atenção botafoguenses: o termo foi dele) foi tão torcedor ao afirmar com convicção absoluta o pênalti que deve ter feito Renato Maurício Prado corar de vergonha em sua rubro-negrice.
São incríveis o futebol e todas as figuras que vivem dele.
É tal qual tentar explicar a paixão.
Hoje, Cuca, revoltado após a derrota com aquele pênalti para o Corinthians, afirmou categoricamente que houve má fé na marcação do lance. Para revelar, segundos depois, que votou em Sandro Meira Ricci para melhor árbitro do campeonato. Disse, ainda, que se pudesse, voltava atrás e mudava o voto.
Na tv, um comentarista afirmava serem "estranhíssimos" os inúmeros pênaltis marcados a favor do Corinthians no Pacaembu. Pediu, até, para que se alguém em casa soubesse a explicação, mandasse para ele.
Em Minas, depois de tomar uma goleada humilhante - sem jogar absolutamente nada - Luxemburgo, com toda sua pose, disse que "com todo respeito ao Guanari" o próximo jogo é para o Flamengo ganhar, "seja pra não cair, seja na disputa do título."
Hein?
Hora e meia antes, Obina tinha aberto o placar e, como virou quase regra, não comemorou o gol. Só que, em se tratando do folclórico Peu-2000, nada jamais é demais. Pediu desculpas pelo gol, numa imagem clara e quase inacreditável. Se não fosse Obina.
Mas é claro que há quem o supere.
Zezé Perrela afirmou que "o Andrés nao comprou o juiz, mas alguém, com certeza, fez isso por ele."
Andrés, por sua vez, se saiu com esta: "No futebol não existe ninguém sem prejuízo. Existem coisas piores no futebol do que um pênalti bem ou mal marcado."
Hã?
E tudo isso, no mesmo dia em que o Juca me releva, em seu blog, que em entrevista com o Tite, o técnico revelou já ter treinado uma equipe que venceu um jogo porque o adversário havia sido "ordenado" a perder para prejudicar seu principal rival. Como esperado, jurou nem sob tortura revelar nomes.
E até o Juca, quem diria, exagerou em sua paixão. O texto sobre o choro de Cuca (atenção botafoguenses: o termo foi dele) foi tão torcedor ao afirmar com convicção absoluta o pênalti que deve ter feito Renato Maurício Prado corar de vergonha em sua rubro-negrice.
São incríveis o futebol e todas as figuras que vivem dele.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Nada de Previsões.
Mais um ano, outra reta final disputada. E lá estão os matemáticos, ainda a vender seus serviços para os mais variados veículos, transformando esperança e desespero em frios - e mentirosos - números. Mentirosos porque, depois do Flu-2009, ninguém deveria mais ligar para essas contas. Mas, por algum motivo, ligam.
(Pode ser algum tipo de exploração da fé do torcedor, que se agarra às suas chances matemáticas como o devoto ao seu terço, e nelas crê até o título derradeiro ou o maldito "matematicamente rebaixado")
O Tudo Bola, nada afeito a tais números, prefere outros, mais lógicos.
Faltam seis rodadas para o fim do campeonato. E tão importante quanto conjecturar quem tem os compromissos mais fáceis - algo relativo diante dos tropeços recentes dos quatro primeiros colocados - é lembrar como desempenharam nas seis últimas rodadas.
Nelas, Cruzeiro e Botafogo conquistaram dez pontos - o primeiro, com três vitórias e um empate e o segundo, com duas vitórias e nenhuma derrota. Fluminense e Corinthians, por sua vez, ganharam seis, com campanhas idênticas - uma vitória e três empates.
Se mantiverem, nas próximas seis rodadas, o aproveitamento das últimas seis, o campeonato terminaria assim:
1 Cruzeiro - 67 pontos
2 Fluminense - 63
3 Botafogo - 61
4 Corinthians - 60.
O único confronto direto entre as quatro equipes acontecerá na trigésima-quinta rodada, quando se enfrentam Corinthians e Cruzeiro. Que, se continuar na tocada recente, fica com o título.
E, por tocada recente, entenda-se um aproveitamento de 55%. Inferior, portanto, ao que o próprio time ostenta, juntamente com o líder Fluminense - 59%.
* * *
Que nossa presidente olhe pelo esporte, num país sem política esportiva, sem um ministério forte, sem prática esportiva decente nas escolas e universidades, mas com uma turma que enriquece às custas do esporte há anos e anos, sem nunca mudar.
(Pode ser algum tipo de exploração da fé do torcedor, que se agarra às suas chances matemáticas como o devoto ao seu terço, e nelas crê até o título derradeiro ou o maldito "matematicamente rebaixado")
O Tudo Bola, nada afeito a tais números, prefere outros, mais lógicos.
Faltam seis rodadas para o fim do campeonato. E tão importante quanto conjecturar quem tem os compromissos mais fáceis - algo relativo diante dos tropeços recentes dos quatro primeiros colocados - é lembrar como desempenharam nas seis últimas rodadas.
Nelas, Cruzeiro e Botafogo conquistaram dez pontos - o primeiro, com três vitórias e um empate e o segundo, com duas vitórias e nenhuma derrota. Fluminense e Corinthians, por sua vez, ganharam seis, com campanhas idênticas - uma vitória e três empates.
Se mantiverem, nas próximas seis rodadas, o aproveitamento das últimas seis, o campeonato terminaria assim:
1 Cruzeiro - 67 pontos
2 Fluminense - 63
3 Botafogo - 61
4 Corinthians - 60.
O único confronto direto entre as quatro equipes acontecerá na trigésima-quinta rodada, quando se enfrentam Corinthians e Cruzeiro. Que, se continuar na tocada recente, fica com o título.
E, por tocada recente, entenda-se um aproveitamento de 55%. Inferior, portanto, ao que o próprio time ostenta, juntamente com o líder Fluminense - 59%.
* * *
Que nossa presidente olhe pelo esporte, num país sem política esportiva, sem um ministério forte, sem prática esportiva decente nas escolas e universidades, mas com uma turma que enriquece às custas do esporte há anos e anos, sem nunca mudar.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
2K
Os fios brancos na barba não me deixam mentir - eu joguei muito futebol de botão.
Nascido em 73, infância entre a Tijuca e Botafogo, eu realmente não cheguei a ser bom na bolinha de gude ou na pipa, mas no botão... Torneios no colégio - no Anglo-Americano ou no Marista São José -, na faculdade - ok, na ECO preferíamos o totó e a sueca -, ou no trabalho, nada me escapava. Afinal de contas, meu background era forte.
Não sou do tipo de pessoa que tem ricas e coloridas memórias de infância. Nem sonho em me lembrar de nada que tenha acontecido antes dos meus cinco, seis anos, tirando um ou outro flash desbotado. Mas jamais esquecerei das pequenas luzes estroboscópicas adaptadas, das faixas e bandeiras de papel imitando as torcidas, dos cotonetes embebidos em álcool, em chamas, colados na lateral da mesa, e do papel picado atirado para o alto por um canhão do forte apache playmobil - era o Flamengo entrando em campo, para uma final de campeonato, no momento em que minha mãe entrava no quarto, horrorizada com todo aquele arsenal em torno da mesa de botão. Eu tinha dez anos e emulava a decisão de 83, entre Flamengo e Santos.
Joguei durante toda a infância, sistematicamente. Campeonatos carioca, paulista, gaúcho, brasileiro, italiano, espanhol, Copa dos Campeões, Libertadores, Mundial, Copa do Mundo - era sempre eu contra eu, enquanto narrava, comentava e reportava, tudo (inclusive o jogo em si) na maior imparcialidade possível. Não, o Flamengo não era sempre o campeão. Mas eu sim. Joguei tanto botão na vida que, a partir de um determinado momento, ficou sem graça jogar com os outros (e, para eles, contra mim). E, como se diz sobre andar de bicicleta, essa habilidade jamais me abandonou. Já adulto, soube que o terceiro campeonato organizado no Sportv foi feito de forma sorrateira, sem a presença deste que havia tirado a graça dos dois anteriores. E não, nunca fui de tirar sarro dos outros enquanto jogava. Só com meus irmãos. Meu sarro era dadinho no filó.
* * *
Todo esse preâmbulo tem razão de ser. Ontem eu corri da tv para casa, assim que pude, para instalar em minha máquina o PES 2011 - o Pro Evolution Soccer, melhor (para mim) game de futebol do mercado.
Não é tão lúdico quanto o futebol de botão, é verdade. Mas não adianta resistir ao tempo, senhor de todas as coisas. Hoje, quando sento no sofá com meus amigos para jogar, me divirto mais do que quando impulsionava com uma palheta um botão de acrílico ou galalite contra um dadinho, mirando o gol. Não há comparação. Os anos 2000 trouxeram um realismo e dinamismo aos games que jamais imaginei serem possíveis lá nos distantes anos 80, quando sonhava sobre como seriam as coisas no novo milênio.
Praticamente todos os times do planeta. Gráficos e movimentos de um realismo a cada ano mais assustador. Possibilidades infinitas, como ser um jogador, desde a base até chegar à seleção nacional, ou, quem sabe, o técnico do Flamengo, na disputa de uma Libertadores. E a melhor de todas - assumir o papel de manager, montar seu próprio time e disputar sucessivas temporadas, acompanhando o crescimento do clube e o desenvolvimento dos jogadores. Tudo com um olho nas finanças - gastar dinheiro demais em negociações e contratos pode levá-lo à falência - e outro naquele garoto de 19 anos que joga no AEK e pode ser seu próximo grande craque.
Não dá pra competir. Tem uns bons dois ou três anos que não empunho uma palheta
Às cinco da manhã, o time estava montado. O Rubro-Negro tem uniforme, claro, à imagem e semelhança. Sua casa é a Amsterdam Arena, rebatizada Ninho do Urubu, mas ele jogará o campeonato espanhol - começando pela segunda divisão. Vai num 4-2-3-1, muito parecido com o Real Madrid de Mourinho. Se nenhum problema físico atrapalhar, vai a campo hoje à noite, em sua estreia, com Mandanda, Rafael, Cristian Zapata, Onuoha e De Ceglie; Schweinsteiger e Hamsik; David Silva, eu e Cláudio Rodríguez; Lavezzi.
O "eu", claro, à perfeita imagem. Mas não semelhança. Porque no mundo real, meu esporte é mesmo o basquete. Sou ruim toda vida com a bola no pé.
Nada como os tempos modernos.
Nascido em 73, infância entre a Tijuca e Botafogo, eu realmente não cheguei a ser bom na bolinha de gude ou na pipa, mas no botão... Torneios no colégio - no Anglo-Americano ou no Marista São José -, na faculdade - ok, na ECO preferíamos o totó e a sueca -, ou no trabalho, nada me escapava. Afinal de contas, meu background era forte.
Não sou do tipo de pessoa que tem ricas e coloridas memórias de infância. Nem sonho em me lembrar de nada que tenha acontecido antes dos meus cinco, seis anos, tirando um ou outro flash desbotado. Mas jamais esquecerei das pequenas luzes estroboscópicas adaptadas, das faixas e bandeiras de papel imitando as torcidas, dos cotonetes embebidos em álcool, em chamas, colados na lateral da mesa, e do papel picado atirado para o alto por um canhão do forte apache playmobil - era o Flamengo entrando em campo, para uma final de campeonato, no momento em que minha mãe entrava no quarto, horrorizada com todo aquele arsenal em torno da mesa de botão. Eu tinha dez anos e emulava a decisão de 83, entre Flamengo e Santos.
Joguei durante toda a infância, sistematicamente. Campeonatos carioca, paulista, gaúcho, brasileiro, italiano, espanhol, Copa dos Campeões, Libertadores, Mundial, Copa do Mundo - era sempre eu contra eu, enquanto narrava, comentava e reportava, tudo (inclusive o jogo em si) na maior imparcialidade possível. Não, o Flamengo não era sempre o campeão. Mas eu sim. Joguei tanto botão na vida que, a partir de um determinado momento, ficou sem graça jogar com os outros (e, para eles, contra mim). E, como se diz sobre andar de bicicleta, essa habilidade jamais me abandonou. Já adulto, soube que o terceiro campeonato organizado no Sportv foi feito de forma sorrateira, sem a presença deste que havia tirado a graça dos dois anteriores. E não, nunca fui de tirar sarro dos outros enquanto jogava. Só com meus irmãos. Meu sarro era dadinho no filó.
* * *
Todo esse preâmbulo tem razão de ser. Ontem eu corri da tv para casa, assim que pude, para instalar em minha máquina o PES 2011 - o Pro Evolution Soccer, melhor (para mim) game de futebol do mercado.
Não é tão lúdico quanto o futebol de botão, é verdade. Mas não adianta resistir ao tempo, senhor de todas as coisas. Hoje, quando sento no sofá com meus amigos para jogar, me divirto mais do que quando impulsionava com uma palheta um botão de acrílico ou galalite contra um dadinho, mirando o gol. Não há comparação. Os anos 2000 trouxeram um realismo e dinamismo aos games que jamais imaginei serem possíveis lá nos distantes anos 80, quando sonhava sobre como seriam as coisas no novo milênio.
Praticamente todos os times do planeta. Gráficos e movimentos de um realismo a cada ano mais assustador. Possibilidades infinitas, como ser um jogador, desde a base até chegar à seleção nacional, ou, quem sabe, o técnico do Flamengo, na disputa de uma Libertadores. E a melhor de todas - assumir o papel de manager, montar seu próprio time e disputar sucessivas temporadas, acompanhando o crescimento do clube e o desenvolvimento dos jogadores. Tudo com um olho nas finanças - gastar dinheiro demais em negociações e contratos pode levá-lo à falência - e outro naquele garoto de 19 anos que joga no AEK e pode ser seu próximo grande craque.
Não dá pra competir. Tem uns bons dois ou três anos que não empunho uma palheta
Às cinco da manhã, o time estava montado. O Rubro-Negro tem uniforme, claro, à imagem e semelhança. Sua casa é a Amsterdam Arena, rebatizada Ninho do Urubu, mas ele jogará o campeonato espanhol - começando pela segunda divisão. Vai num 4-2-3-1, muito parecido com o Real Madrid de Mourinho. Se nenhum problema físico atrapalhar, vai a campo hoje à noite, em sua estreia, com Mandanda, Rafael, Cristian Zapata, Onuoha e De Ceglie; Schweinsteiger e Hamsik; David Silva, eu e Cláudio Rodríguez; Lavezzi.
O "eu", claro, à perfeita imagem. Mas não semelhança. Porque no mundo real, meu esporte é mesmo o basquete. Sou ruim toda vida com a bola no pé.
Nada como os tempos modernos.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Quando Desesperança E Felicidade Se Misturam.
A cena, ontem, me fez mal.
No estacionamento do "CT" do Flamengo, Zico, com cara de nenhum amigo, se dirigia ao carro, após mais um dia de turbulência no Flamengo, quando foi interpelado pelo repórter Cícero Melo, da ESPN Brasil. Uma, duas, três perguntas. Nenhuma resposta. A porta do carro se fecha e Zico vai embora.
Nenhum questionamento quando à postura do Cícero. É dever do repórter, mesmo sabendo que, se não falou em coletiva, se não falou com ninguém, Zico provavelmente também não falaria com ele. Mas eu, no seu lugar, também tentaria. Só não poria no ar depois, por uma questão de elegância.
O que me fez questionar o estado atual (não mais) das coisas foi a postura do Zico. Aquele semblante. De um Zico que eu não reconheci nas imagens. Fiquei profundamente triste ao pensar que, depois de tudo que fez pelo clube, o Galinho agora pudesse estar numa situação em que, trabalhar para o clube, lhe causasse tanta angústia. Angúsia pela pressão, normal quando o Flamengo não vai bem, mas, principalmente, pelas acusações, tramóias, motins e pessoas escusas que rondavam seu trabalho nos últimos quatro meses.
Aí hoje eu chego no trabalho e dou de cara com a notícia de que Zico pediu o boné.
O primeiro sentimento, claro, foi de revolta e desesperança. Como pode alguém que se diz rubro-negro duvidar da idoneidade do Zico? Como pode, ainda hoje, a mesma corja que se instalou na Gávea na segunda metade da década de noventa ter tanto poder?
Quem é "capitão" Léo pra ser presidente do Conselho Fiscal do clube, depois de ter aprovado as contas de Edmundo Santos Silva em 99? Quem é Hélio Ferraz pra dizer que vai cobrar do "piloto" do futebol explicações pela má fase? Quem é essa gente, rubro-negramente falando, perto do Zico?
Por outro lado, agora, sinto alívio, uma quase felicidade pela saída do Galo. E me recordo do que senti quando, depois de 14 anos, pedi demissão do Sportv, por não concordar com os rumos do canal e com as decisões dos "capitães léos" de lá. Não é justo, numa relação de trabalho, que um lado se mate, se doe, se aborreça e se frustre enquanto o outro bate, explora, cobra e erra seguidamente.
Por isso, posso dizer que fico feliz com a saída do Zico do Flamengo. Feliz por ele.
O Flamengo atual não merece uma pessoa como Zico.
Merece, sim, sujeitos como o da foto. Ex-chefe de torcida, ex-dirigente da Ferj e, agora, ex-rubro-negro, como fica provado neste episódio.
Pra quem quiser entender o porquê das denúncias deste sujeito serem descabidas, sugiro a leitura da coluna de hoje do PVC.
E, por favor, que ninguém me venha com o argumento de que Zico errou ao abandonar o barco num momento de crise. Porque ninguém que se ache no direito de dizer isso jamais fez, pelo Flamengo, os sacrifícios que Arthur Antunes Coimbra fez.
Nem perto disso.
No estacionamento do "CT" do Flamengo, Zico, com cara de nenhum amigo, se dirigia ao carro, após mais um dia de turbulência no Flamengo, quando foi interpelado pelo repórter Cícero Melo, da ESPN Brasil. Uma, duas, três perguntas. Nenhuma resposta. A porta do carro se fecha e Zico vai embora.
Nenhum questionamento quando à postura do Cícero. É dever do repórter, mesmo sabendo que, se não falou em coletiva, se não falou com ninguém, Zico provavelmente também não falaria com ele. Mas eu, no seu lugar, também tentaria. Só não poria no ar depois, por uma questão de elegância.
O que me fez questionar o estado atual (não mais) das coisas foi a postura do Zico. Aquele semblante. De um Zico que eu não reconheci nas imagens. Fiquei profundamente triste ao pensar que, depois de tudo que fez pelo clube, o Galinho agora pudesse estar numa situação em que, trabalhar para o clube, lhe causasse tanta angústia. Angúsia pela pressão, normal quando o Flamengo não vai bem, mas, principalmente, pelas acusações, tramóias, motins e pessoas escusas que rondavam seu trabalho nos últimos quatro meses.
Aí hoje eu chego no trabalho e dou de cara com a notícia de que Zico pediu o boné.
O primeiro sentimento, claro, foi de revolta e desesperança. Como pode alguém que se diz rubro-negro duvidar da idoneidade do Zico? Como pode, ainda hoje, a mesma corja que se instalou na Gávea na segunda metade da década de noventa ter tanto poder?
Quem é "capitão" Léo pra ser presidente do Conselho Fiscal do clube, depois de ter aprovado as contas de Edmundo Santos Silva em 99? Quem é Hélio Ferraz pra dizer que vai cobrar do "piloto" do futebol explicações pela má fase? Quem é essa gente, rubro-negramente falando, perto do Zico?
Por outro lado, agora, sinto alívio, uma quase felicidade pela saída do Galo. E me recordo do que senti quando, depois de 14 anos, pedi demissão do Sportv, por não concordar com os rumos do canal e com as decisões dos "capitães léos" de lá. Não é justo, numa relação de trabalho, que um lado se mate, se doe, se aborreça e se frustre enquanto o outro bate, explora, cobra e erra seguidamente.
Por isso, posso dizer que fico feliz com a saída do Zico do Flamengo. Feliz por ele.
O Flamengo atual não merece uma pessoa como Zico.
Merece, sim, sujeitos como o da foto. Ex-chefe de torcida, ex-dirigente da Ferj e, agora, ex-rubro-negro, como fica provado neste episódio.
Pra quem quiser entender o porquê das denúncias deste sujeito serem descabidas, sugiro a leitura da coluna de hoje do PVC.
E, por favor, que ninguém me venha com o argumento de que Zico errou ao abandonar o barco num momento de crise. Porque ninguém que se ache no direito de dizer isso jamais fez, pelo Flamengo, os sacrifícios que Arthur Antunes Coimbra fez.
Nem perto disso.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Sábado, em meio à melancolia geral por conta da derrota para o Palmeiras, ainda com a bola rolando no Engenhão, ouço o grito, vindo de alguns metros atrás de onde assistia ao jogo.
"Vai tomar no cu, Zico!"
Eu e mais dezenas de pessoas olhamos para o sujeito na mesma hora. Não era moleque, devia ter seus trinta, talvez. Se tinha mesmo essa idade, mal viu o Galo jogar, pensei. Talvez nem mesmo seja um torcedor fiel, embora estivesse ali, conosco, naquela verdadeira prova de amor ao clube. Quem sabe quis apenas aparecer - da pior forma - com aquelas palavras.
Ou talvez seja apenas um torcedor comum, como qualquer outro, cansado de ver o Flamengo perder.
Fato é que, após os olhares de reprovação, o sujeito emendou outra vez a mesma ofensa, como se quisesse marcar que realmente tinha falado aquilo e, mais, tinha o direito a tal (assim como eu tinha o direito de xingá-lo de volta por isso, mas não o exerci).
Quando decidiu assumir o futebol do Flamengo, Zico aceitou descer de um pedestal sagrado, ornado de gols, títulos e pintado de vermelho e preto, para se submeter à humana condição de dirigente. Sabia, claro, que nem por conta disso estaria imune às críticas. Mas certamente não imaginava, por conta de sua índole, que seria alvo de denúncias, acusações e muita pressão por parte de quem não ama o clube e quer dele apenas poder e dinheiro - gente que não se conforma em ver o Flamengo, enquanto instituição, melhorando a cada dia desde a posse da presidenta Patrícia Amorim. Porque é preciso saber que o clube, que vai bem, não é apenas o time, que vai mal. Os salários na Gávea estão em dia, a própria Gávea perdeu seu aspecto sujo e abandonado e o clube investe na construção do CT que sempre quis e nunca teve, CT esse que sabemos ser fundamental para que se resgate um passado de formação de craques e times vencedores. O basquete agora tem dinheiro para si, a ginástica idem, a natação está de volta ao pódio e aos jornais.
Mas Zico cuida do futebol, apenas. E o futebol do Fla não vai nada bem.
Há coisa de três meses, eu escrevi aqui no TB sobre os verdadeiros trabalhos de Hércules que o Galinho teria pela frente. Curiosamente, o time havia acabado de perder, de forma inacreditável, para o Goiás, mesmo adversário de hoje. Falava-se em contratar Montillo, carrasco da Libertadores... os jornais tentavam se vender com histórias sobre Ronaldinho e Riquelme... Bruno ainda era o goleiro do time.
De lá para cá, o Flamengo perdeu sete vezes, empatou sete e só venceu quatro, chegando à situação em que se encontra hoje, temeroso de um novo drama para fugir de um inédito rebaixamento. Zico, como era previsto, teve dificuldades para remontar o time campeão brasileiro, que acabou sendo desfeito. Acertou algumas, como a contratação do jovem Diogo, que ainda deve dar alegrias à torcida, e errou em outras apostas, como Val Baiano, Borja e Leandro Amaral, só para citar o ataque. Para os que hoje criticam o acerto com Deivid - que realmente não está jogando nada -, eu lembro que, sem dinheiro e sem muitas ofertas no mercado, não há como fazer boas compras, ainda mais com a temporada começada.
Culpa do Zico? Claro que não. Ele aceitou assumir o comando do futebol do Flamengo bem no meio da Copa do Mundo; o assumiu de fato imediatamente depois. Logo, pegou o bonde andando, um bonde já repleto de furos, engranagens soltas e sem rumo certo.
Também no meio desse caminho pós-Copa até agora, Zico tomou outra importante decisão - demitir Rogério, que me parece nunca ter tido realmente o grupo na mão. Trouxe Silas, o melhor nome disponível à época. Que hoje pode até mesmo ter seu cargo a perigo em caso de nova derrota para o Goiás. E pior - se ele cair, não há, no momento, nenhum nome além do de Luxemburgo à altura do comando do clube.
Não é fácil. Se para o torcedor já é uma dor de cabeça tremenda, imaginem para Zico - sendo ele quem é, tendo a ligação com o Flamengo que ele tem e a seriedade que sempre demonstrou com seus compromissos.
Garanto que ele dormia bem melhor quando se preocupava apenas em jogar bola.
Mas esse não é mais o caso. Agora, por sua posição, ele está sujeito a impropérios como o daquele torcedor do Engenhão. E a críticas. Mesmo de gente que, sabidamente, sempre esteve ao seu lado, sempre deveu tantas alegrias a ele. Faz parte.
Ontem, pela primeira vez, Zico pisou na bola feio, no meu modo de ver. Permitiu que um grupo de dez torcedores tivesse acesso ao grupo de jogadores e ao técnico, em seu ambiente de trabalho. Pior, em sua privacidade, no vestiário. Sob a desculpa esfarrapada de uma "reunião de apoio", essas figuras, com seus cacasos da Raça e da Jovem e sua pinta de marginais, cobraram raça, empenho e Deus-sabe-mais-o-quê.
Zico não participou dessa reunião. Após saber o tom da conversa, se mostrou surpreso e garantiu que "será a última vez". Apesar disso, não vê o caso como um precedente perigoso, pois afirmou que mesmo sua sala continua aberta aos torcedores, desde que seja sempre de forma civilizada.
Esses sujeitos me parecem ser tudo, menos civilizados.
Em lugares civilizados, torcedores não têm acesso ao vestiário dos jogadores antes de um dia de trabalho. Não cobram destes empenho, raça ou o que quer que seja. Não exigem satisfações do técnico. Nem têm acesso ao departamento de futebol ou à sala da presidência.
Isso tudo eu realmente esperava não ver mais na Gávea depois que Zico assumiu. E continuo esperando não ver, agora que ele garantiu que foi a última vez. Vamos ver.
* * *
Pra quem adora dizer que o campeonato brasileiro é o mais equilibrado do mundo, um dos mais difíceis do mundo, eu digo o seguinte:
O campeão do ano passado, se cair este ano, não surpreenderá ninguém.
O quase rebaixado Fluminense, que surpreendeu a todos ao não cair, pode ser o campeão este ano.
Não há, com exceção de dois ou três clubes, real profissionalismo, planejamento, estrutura no futebol brasileiro. Não há continuidade, trabalho de longo prazo, paciência e investimento no futuro.
O que há, sim, é a realidade do país, a minha, a sua, a nossa - num mês dá pra pagar todas as contas, no mês seguinte não dá e assim a gente vai levando, da forma que é possível.
É a vida por estas bandas.
"Vai tomar no cu, Zico!"
Eu e mais dezenas de pessoas olhamos para o sujeito na mesma hora. Não era moleque, devia ter seus trinta, talvez. Se tinha mesmo essa idade, mal viu o Galo jogar, pensei. Talvez nem mesmo seja um torcedor fiel, embora estivesse ali, conosco, naquela verdadeira prova de amor ao clube. Quem sabe quis apenas aparecer - da pior forma - com aquelas palavras.
Ou talvez seja apenas um torcedor comum, como qualquer outro, cansado de ver o Flamengo perder.
Fato é que, após os olhares de reprovação, o sujeito emendou outra vez a mesma ofensa, como se quisesse marcar que realmente tinha falado aquilo e, mais, tinha o direito a tal (assim como eu tinha o direito de xingá-lo de volta por isso, mas não o exerci).
Quando decidiu assumir o futebol do Flamengo, Zico aceitou descer de um pedestal sagrado, ornado de gols, títulos e pintado de vermelho e preto, para se submeter à humana condição de dirigente. Sabia, claro, que nem por conta disso estaria imune às críticas. Mas certamente não imaginava, por conta de sua índole, que seria alvo de denúncias, acusações e muita pressão por parte de quem não ama o clube e quer dele apenas poder e dinheiro - gente que não se conforma em ver o Flamengo, enquanto instituição, melhorando a cada dia desde a posse da presidenta Patrícia Amorim. Porque é preciso saber que o clube, que vai bem, não é apenas o time, que vai mal. Os salários na Gávea estão em dia, a própria Gávea perdeu seu aspecto sujo e abandonado e o clube investe na construção do CT que sempre quis e nunca teve, CT esse que sabemos ser fundamental para que se resgate um passado de formação de craques e times vencedores. O basquete agora tem dinheiro para si, a ginástica idem, a natação está de volta ao pódio e aos jornais.
Mas Zico cuida do futebol, apenas. E o futebol do Fla não vai nada bem.
Há coisa de três meses, eu escrevi aqui no TB sobre os verdadeiros trabalhos de Hércules que o Galinho teria pela frente. Curiosamente, o time havia acabado de perder, de forma inacreditável, para o Goiás, mesmo adversário de hoje. Falava-se em contratar Montillo, carrasco da Libertadores... os jornais tentavam se vender com histórias sobre Ronaldinho e Riquelme... Bruno ainda era o goleiro do time.
De lá para cá, o Flamengo perdeu sete vezes, empatou sete e só venceu quatro, chegando à situação em que se encontra hoje, temeroso de um novo drama para fugir de um inédito rebaixamento. Zico, como era previsto, teve dificuldades para remontar o time campeão brasileiro, que acabou sendo desfeito. Acertou algumas, como a contratação do jovem Diogo, que ainda deve dar alegrias à torcida, e errou em outras apostas, como Val Baiano, Borja e Leandro Amaral, só para citar o ataque. Para os que hoje criticam o acerto com Deivid - que realmente não está jogando nada -, eu lembro que, sem dinheiro e sem muitas ofertas no mercado, não há como fazer boas compras, ainda mais com a temporada começada.
Culpa do Zico? Claro que não. Ele aceitou assumir o comando do futebol do Flamengo bem no meio da Copa do Mundo; o assumiu de fato imediatamente depois. Logo, pegou o bonde andando, um bonde já repleto de furos, engranagens soltas e sem rumo certo.
Também no meio desse caminho pós-Copa até agora, Zico tomou outra importante decisão - demitir Rogério, que me parece nunca ter tido realmente o grupo na mão. Trouxe Silas, o melhor nome disponível à época. Que hoje pode até mesmo ter seu cargo a perigo em caso de nova derrota para o Goiás. E pior - se ele cair, não há, no momento, nenhum nome além do de Luxemburgo à altura do comando do clube.
Não é fácil. Se para o torcedor já é uma dor de cabeça tremenda, imaginem para Zico - sendo ele quem é, tendo a ligação com o Flamengo que ele tem e a seriedade que sempre demonstrou com seus compromissos.
Garanto que ele dormia bem melhor quando se preocupava apenas em jogar bola.
Mas esse não é mais o caso. Agora, por sua posição, ele está sujeito a impropérios como o daquele torcedor do Engenhão. E a críticas. Mesmo de gente que, sabidamente, sempre esteve ao seu lado, sempre deveu tantas alegrias a ele. Faz parte.
Ontem, pela primeira vez, Zico pisou na bola feio, no meu modo de ver. Permitiu que um grupo de dez torcedores tivesse acesso ao grupo de jogadores e ao técnico, em seu ambiente de trabalho. Pior, em sua privacidade, no vestiário. Sob a desculpa esfarrapada de uma "reunião de apoio", essas figuras, com seus cacasos da Raça e da Jovem e sua pinta de marginais, cobraram raça, empenho e Deus-sabe-mais-o-quê.
Zico não participou dessa reunião. Após saber o tom da conversa, se mostrou surpreso e garantiu que "será a última vez". Apesar disso, não vê o caso como um precedente perigoso, pois afirmou que mesmo sua sala continua aberta aos torcedores, desde que seja sempre de forma civilizada.
Esses sujeitos me parecem ser tudo, menos civilizados.
Em lugares civilizados, torcedores não têm acesso ao vestiário dos jogadores antes de um dia de trabalho. Não cobram destes empenho, raça ou o que quer que seja. Não exigem satisfações do técnico. Nem têm acesso ao departamento de futebol ou à sala da presidência.
Isso tudo eu realmente esperava não ver mais na Gávea depois que Zico assumiu. E continuo esperando não ver, agora que ele garantiu que foi a última vez. Vamos ver.
* * *
Pra quem adora dizer que o campeonato brasileiro é o mais equilibrado do mundo, um dos mais difíceis do mundo, eu digo o seguinte:
O campeão do ano passado, se cair este ano, não surpreenderá ninguém.
O quase rebaixado Fluminense, que surpreendeu a todos ao não cair, pode ser o campeão este ano.
Não há, com exceção de dois ou três clubes, real profissionalismo, planejamento, estrutura no futebol brasileiro. Não há continuidade, trabalho de longo prazo, paciência e investimento no futuro.
O que há, sim, é a realidade do país, a minha, a sua, a nossa - num mês dá pra pagar todas as contas, no mês seguinte não dá e assim a gente vai levando, da forma que é possível.
É a vida por estas bandas.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Valores.
Antes de entrar no mérito (ou na falta de) da demissão de Dorival Júnior, é preciso saber, com precisão, se os fatos divulgados após o anúncio oficial de sua saída correspondem à verdade. O próprio ainda não se pronunciou.
Segundo a diretoria santista, havia sido decidido, de comum acordo, que Neymar ficaria fora do jogo contra o Guarani, por conta de suas atitudes na vitória sobre o Atlético Goianiense, quando xingou técnico e companheiros por ter sido impedido de cobrar um pênalti que ele mesmo sofrera. Para o clássico contra o Corinthias, hoje, o menino de ouro da Vila seria reintegrado, segundo palavras do presidente do clube, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, citando reunião com o treinador na segunda-feira. Só que, na coletiva de ontem, após o treino, Dorival anunciou que Neymar continuaria fora do time e que tinha o respaldo da diretoria para tomar tal decisão.
É, respaldo ele não teve, isso já sabemos.
Mas por que Dorival Júnior, que me parece dos mais corretos e éticos em sua profissão, decidiu passar por cima do que haveria combinado com o presidente (veja o comunicado oficial do Santos) em relação ao retorno de Neymar ao time?
(Corta para 21 de agosto, na França)
Foi nesta data - sete dias antes do início do Mundial da Turquia - que o técnico da seleção brasileira de basquete, o argentino Rubén Magnano, cortou Nenê por conta de um estiramento muscular no músculo sóleo. Segundo os médicos, uma contusão que exigiria entre cinco e dez dias sem atividade física, tornando perfeitamente possível sua manutenção no grupo para que tivéssemos o pivô na fase decisiva do campeonato. Nenê provavelmente estaria apto para atuar nas oitavas, contra a Argentina, e certamente teria feito diferença naquele jogo. Mas não fez, não estava mais lá. Por quê?
Segundo minha percepção, porque Magnano não quis. E não por conta da contusão, que acabou sendo pretexto perfeito para o corte, mas sim porque não engolia a postura de Nenê e sua atitude nos treinamentos. Afinal, Nenê não gosta de treinar e demonstra isso. Magnano acabou de chegar ao comando, fez o grupo treinar duro e conquistou sua confiança. Coisa que o pivô nunca teve dele.
(Corta para a Vila Belmiro, ontem)
Em meio ao turbilhão dos últimos dias, Dorival Júnior comanda o treino do Santos. A poucos metros dele está Neymar, epicentro dos tremores. Eu não vi o treino, não posso saber. Mas vi como o atacante se comportou depois daquele pênalti que não bateu. Foram quase dez minutos em campo até o fim do jogo, dez minutos de firulas descabidas, de gestos exagerados, de mais palavrões e reclamações, mesmo com a vitória garantida. Foi um deboche.
Como terá se comportado Neymar ontem, no treino?
(Corta para o Morumbi, daqui a alguns meses)
Dorival Júnior comemora a classificação do São Paulo à Libertadores, garantida apenas na última rodada do campeonato, com a vitória sobre o rebaixado Atlético Mineiro de Luxemburgo. Ele é abraçado por seus comandados e festejado pela torcida. Na coletiva após o jogo, a diretoria comunica que, já na semana seguinte, vai se reunir com o treinador para planejar a temporada 2011.
Dorival jamais voltou a tocar no assunto. Quando assumiu o São Paulo, uma semana depois, disse que estava contente por ter a chance de trabalhar num clube com estrutura profissional, hierarquia bem definida e respeito pela disciplina. Coisas que ele, corretamente, prezou no episódio de sua demissão do Santos.
Por conta disso, sua imagem sequer foi arranhada, pelo contrário - Dorival saiu ainda mais forte, admirado e valorizado da Vila.
Neymar?
Bem, sabe-se que o Chelsea jamais demonstrou o mesmo interesse de antes.
* * *
Sobre as imagens divulgadas ontem, de como ficará o "novo" Maracanã, reproduzo o email do meu mestre Renato Nogueira:
"Porra, ele flutuava... Agora, nessa versão Frank Miller, vai ficar atarrachado no chão. E maracanã é um pássaro, né? Abateram o estádio!"
Pois é. E o pior é que, além de enterrado no chão, o novo gramado terá dimensões bem menores. Esse sim, para mim, é o maior crime que está para ser cometido.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Voltamos.
Quando a gente sai para uma viagem longa, como a que fiz agora - 45 dias -, é comum que se tenha aquela preocupação em deixar determinados aspectos mundanos da vida planejados, como aquela maldita conta que por algum motivo não está com débito automático, o pagamento do cartão de crédito - ninguém quer ficar sem ele no exterior - ou onde vai ficar o carro este tempo todo.
Tudo isso, claro, eu planejei. O que não deu pra planejar foi como ficaria o meu time.
E olha, foi difícil acompanhá-lo com uma diferença de fuso de seis horas a meu favor. Ainda assim, houve a noite em que, grudado na web, vi o dia clarear sem que a situação do meu time clareasse... E ainda aquela outra em que, dentro de um caminhão de transmissão, pude ouvir, ao vivo, dois gols seguidos do Guarani, em poucos minutos, me roubando uma alegria que já parecia certa.
Fato é que só tive esse sentimento uma única vez nestes 45 dias - quando o Flamengo venceu o Ceará, no Maracanã, logo depois que parti. No total, foram nove jogos, com essa vitória, três empates e cinco derrotas. Perdemos todas fora - para Corinthians, Atlético PR, Guarani, Cruzeiro e São Paulo. Em três jogos diante da torcida e de times desfalcados e/ou em má situação no campeonato, não passamos do empate - Atlético MG, Santos (sem Neymar e já sem Ganso) e Vitória (jogo que quase perdemos).
Pelo menos, desde que voltei (sem onda), foram quatro pontos em seis possíveis. Já é algo.
Conversando ontem com minha namorada, enquanto assistíamos ao Fla-Flu, expliquei-lhe que, no meu ponto de vista, o grande erro do Flamengo foi ter se planejado tardiamente para o campeonato brasileiro. Uma série de fatores levou a esse "atraso" e não entrarei em detalhes aqui. Basta dizer que não havia como ser muito diferente disso e que, com o que temos, acredito plenamente na possibilidade de classificação para a Libertadores.
E por que não? Hoje, estamos a apenas oito pontos do Santos, o sexto colocado. Ainda faltam quinze jogos e nove deles serão no Rio. Não acho que seria nenhuma grande façanha, se comparada à arrancada do ano passado.
Dorival Júnior e Silas tiveram comportamentos idênticos na rodada de ontem. Enquanto o primeiro fez valer sua vontade e afastou Neymar do grupo - ao que parece, ainda por tempo indeterminado -, o segundo fez o mesmo, de outra forma, deixando Petkovic no banco durante todo o Fla-Flu.
Resta saber, agora, como cada elenco vai reagir à demonstração de autoridade de seu treinador.
Tudo isso, claro, eu planejei. O que não deu pra planejar foi como ficaria o meu time.
E olha, foi difícil acompanhá-lo com uma diferença de fuso de seis horas a meu favor. Ainda assim, houve a noite em que, grudado na web, vi o dia clarear sem que a situação do meu time clareasse... E ainda aquela outra em que, dentro de um caminhão de transmissão, pude ouvir, ao vivo, dois gols seguidos do Guarani, em poucos minutos, me roubando uma alegria que já parecia certa.
Fato é que só tive esse sentimento uma única vez nestes 45 dias - quando o Flamengo venceu o Ceará, no Maracanã, logo depois que parti. No total, foram nove jogos, com essa vitória, três empates e cinco derrotas. Perdemos todas fora - para Corinthians, Atlético PR, Guarani, Cruzeiro e São Paulo. Em três jogos diante da torcida e de times desfalcados e/ou em má situação no campeonato, não passamos do empate - Atlético MG, Santos (sem Neymar e já sem Ganso) e Vitória (jogo que quase perdemos).
Pelo menos, desde que voltei (sem onda), foram quatro pontos em seis possíveis. Já é algo.
Conversando ontem com minha namorada, enquanto assistíamos ao Fla-Flu, expliquei-lhe que, no meu ponto de vista, o grande erro do Flamengo foi ter se planejado tardiamente para o campeonato brasileiro. Uma série de fatores levou a esse "atraso" e não entrarei em detalhes aqui. Basta dizer que não havia como ser muito diferente disso e que, com o que temos, acredito plenamente na possibilidade de classificação para a Libertadores.
E por que não? Hoje, estamos a apenas oito pontos do Santos, o sexto colocado. Ainda faltam quinze jogos e nove deles serão no Rio. Não acho que seria nenhuma grande façanha, se comparada à arrancada do ano passado.
Dorival Júnior e Silas tiveram comportamentos idênticos na rodada de ontem. Enquanto o primeiro fez valer sua vontade e afastou Neymar do grupo - ao que parece, ainda por tempo indeterminado -, o segundo fez o mesmo, de outra forma, deixando Petkovic no banco durante todo o Fla-Flu.
Resta saber, agora, como cada elenco vai reagir à demonstração de autoridade de seu treinador.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
O Recibo.
Hoje saiu uma foto que mostra que a sensacional cesta de Kerem Tunçeri, da Turquia, no último segundo da semifinal contra a Sérvia, foi ilegal.
A imagem foi captada por um torcedor e mostra o exato momento em que o armador turco pisa na linha enquanto conduz a bola. O câmera da FIBA, de colete vermelho, deve ter pego um bom ângulo. Mas ele jamais foi mostrado na transmissão de tv ou no telão.
Se já não tinham gostado do papelão de Ömer Asik, agora os sérvios afirmam que foram roubados. É, não há como dizer que não foram.
A imagem foi captada por um torcedor e mostra o exato momento em que o armador turco pisa na linha enquanto conduz a bola. O câmera da FIBA, de colete vermelho, deve ter pego um bom ângulo. Mas ele jamais foi mostrado na transmissão de tv ou no telão.
Se já não tinham gostado do papelão de Ömer Asik, agora os sérvios afirmam que foram roubados. É, não há como dizer que não foram.
domingo, 12 de setembro de 2010
A Conta, Por Favor.
Falta pouco menos de uma hora para a final entre Turquia e Estados Unidos. Vendo o Sinan Erdem já quase lotado, enquanto sérvios e lituanos disputam o terceiro lugar, lembro-me da decepção pela eliminação brasileira, do clima aconchegantemente charmoso do Abdi Ipekçi, do injusto fim do jogo de ontem e do quanto gastei para estar aqui, durante três semanas, acompanhando este mundial – no fim das contas, sem compromisso algum com trabalho, tirando dois dias operando ao vivo uma câmera que deve custar mais que meu carro.
Valeu cada centavo.
A Lituânia acaba de conquistar o bronze. Os sérvios vão para casa com um frustrante quarto lugar, mas este sentimento não é só deles. A Argentina termina em quinto, a Espanha em sexto e este mundial ainda pode acabar pior para o basquete - como a Copa de 78 para o futebol.
Os americanos acabam de entrar em quadra para o aquecimento sob tremenda vaia. Torcerei por eles, para o bem do Brasil no pré-olímpico do ano que vem, em Mar del Plata. Se bem que, com a iminente greve na NBA, isso pode fazer nenhuma diferença. Mas não quero a Turquia campeã.
O dia da final foi também de referendo aqui, com cinquenta milhões deles decidindo se mudam ou não uma constituição escrita em 1982, dois anos após um golpe militar que levou centenas de ativistas à prisão, tortura e forca. Não chega a ser notícia que interesse ao mundo, embora devesse. Os turcos estão de olho num lugar na União Europeia, o que, aí sim, seria algo notável – um país com 99% da população muçulmana, quase totalmente situado na Ásia, entrando para o clube rico do velho continente. Não à toa, França e Alemanha têm posição veladamente contrária à aceitação do novo membro. Embora não haja um fundamentalismo islâmico aqui e o povo tenha democracia, através de um sistema parlamentarista, não sei se dá pra dizer que simpatizem ao extremo com os ocidentais. Talvez com alguns de seus modos, suas modas e, claro, todo seu dinheiro. Istambul é uma das cidades do planeta com maior número de bilionários.
Os americanos já saíram de quadra. Nas lanchonetes, turcos consomem sanduíches de carne de higiene duvidosa e cola turca. Eu devia ter desconfiado de um torneio da FIBA sem Coca-Cola. Aqui é outro mundo. Que quase vem abaixo quando as luzes se apagam e o sistema de som anuncia a apresentação oficial dos dois times. A torcida canta em tom uníssono – e quase ensurdecedor – a música tema dos “12 Gigantes”, como é conhecida a equipe da casa. O momento do hino turco até seria arrepiante, se eu já não estivesse tão louco para ver Istambul pelas costas.
A bola subiu. E eu digo que um time americano jamais enfrentou ambiente tão hostil (eu estava no ginásio em 2004, em Atenas, no jogo contra a Grécia – não chegou nem perto disso aqui). Torço para que o brasileiro Cristiano Maranho, que comanda o trio, não se perca. Mas no já no primeiro quarto, a arbitragem foi da casa. Mas um lance, a 49 segundos do fim, deu o caminho das pedras para os americanos – o jogo físico. Eric Gordon marcou Sinan Guller até o osso e a Turquia estourou o tempo de posse. O banco americano, bem ao lado, explodiu. Atleticamente falando, não dá para comparar. E eles ainda têm um moleque de 21 anos chamado Kevin Durant. Onze pontos dele no quarto, 22 a 17 para os EUA.
Vantagem que dobrou na ida para o intervalo, apesar do time americano ter abusado dos chutes de 3 – e mal – no segundo período (2 de 12), quando Durant fez mais nove pontinhos, chegando a 20...
(O QUÊ é Kevin Durant? Eu vi bastante do Dominique Wilkins, outra máquina de pontuar, mas esse garoto é realmente fora do comum. Nesse mundial ele mostrou que o comentário de Andre Iguodala não é tão fora de propósito quando pareceu. Seu companheiro de time afirmou aqui em Istambul que Durant será o maior cestinha da história. Não apostaria contra isso.)
O terceiro quarto começou e, depois de duas bolas seguidas de 3, ele se virou para a torcida turca e bateu no peito, com raiva, sentimento que foi retribuído da mesma forma. Detalhe – na segunda, pouco antes, um apito veio da arquibancada e o time americano chegou a dar uma meia-trava, achando que algo tivesse sido marcado. Turcos.
Durant terminou com 28 pontos. A sete minutos do fim, os americanos venciam por vinte. E fecharam a partida por 81 a 64.
Daqui a alguns anos, talvez ninguém lembre de muita coisa deste mundial, em que favoritos como Espanha, Argentina e Grécia ficaram pelo caminho, em que a Turquia chegou à final com a ajuda de uma trapaça e Sérvia e Lituânia jogaram muito basquete.
Mas todos vão lembrar de que ele foi o cartão de visitas de Kevin Durant – de Oklahoma para o mundo.
Valeu cada centavo.
A Lituânia acaba de conquistar o bronze. Os sérvios vão para casa com um frustrante quarto lugar, mas este sentimento não é só deles. A Argentina termina em quinto, a Espanha em sexto e este mundial ainda pode acabar pior para o basquete - como a Copa de 78 para o futebol.
Os americanos acabam de entrar em quadra para o aquecimento sob tremenda vaia. Torcerei por eles, para o bem do Brasil no pré-olímpico do ano que vem, em Mar del Plata. Se bem que, com a iminente greve na NBA, isso pode fazer nenhuma diferença. Mas não quero a Turquia campeã.
O dia da final foi também de referendo aqui, com cinquenta milhões deles decidindo se mudam ou não uma constituição escrita em 1982, dois anos após um golpe militar que levou centenas de ativistas à prisão, tortura e forca. Não chega a ser notícia que interesse ao mundo, embora devesse. Os turcos estão de olho num lugar na União Europeia, o que, aí sim, seria algo notável – um país com 99% da população muçulmana, quase totalmente situado na Ásia, entrando para o clube rico do velho continente. Não à toa, França e Alemanha têm posição veladamente contrária à aceitação do novo membro. Embora não haja um fundamentalismo islâmico aqui e o povo tenha democracia, através de um sistema parlamentarista, não sei se dá pra dizer que simpatizem ao extremo com os ocidentais. Talvez com alguns de seus modos, suas modas e, claro, todo seu dinheiro. Istambul é uma das cidades do planeta com maior número de bilionários.
Os americanos já saíram de quadra. Nas lanchonetes, turcos consomem sanduíches de carne de higiene duvidosa e cola turca. Eu devia ter desconfiado de um torneio da FIBA sem Coca-Cola. Aqui é outro mundo. Que quase vem abaixo quando as luzes se apagam e o sistema de som anuncia a apresentação oficial dos dois times. A torcida canta em tom uníssono – e quase ensurdecedor – a música tema dos “12 Gigantes”, como é conhecida a equipe da casa. O momento do hino turco até seria arrepiante, se eu já não estivesse tão louco para ver Istambul pelas costas.
A bola subiu. E eu digo que um time americano jamais enfrentou ambiente tão hostil (eu estava no ginásio em 2004, em Atenas, no jogo contra a Grécia – não chegou nem perto disso aqui). Torço para que o brasileiro Cristiano Maranho, que comanda o trio, não se perca. Mas no já no primeiro quarto, a arbitragem foi da casa. Mas um lance, a 49 segundos do fim, deu o caminho das pedras para os americanos – o jogo físico. Eric Gordon marcou Sinan Guller até o osso e a Turquia estourou o tempo de posse. O banco americano, bem ao lado, explodiu. Atleticamente falando, não dá para comparar. E eles ainda têm um moleque de 21 anos chamado Kevin Durant. Onze pontos dele no quarto, 22 a 17 para os EUA.
Vantagem que dobrou na ida para o intervalo, apesar do time americano ter abusado dos chutes de 3 – e mal – no segundo período (2 de 12), quando Durant fez mais nove pontinhos, chegando a 20...
(O QUÊ é Kevin Durant? Eu vi bastante do Dominique Wilkins, outra máquina de pontuar, mas esse garoto é realmente fora do comum. Nesse mundial ele mostrou que o comentário de Andre Iguodala não é tão fora de propósito quando pareceu. Seu companheiro de time afirmou aqui em Istambul que Durant será o maior cestinha da história. Não apostaria contra isso.)
O terceiro quarto começou e, depois de duas bolas seguidas de 3, ele se virou para a torcida turca e bateu no peito, com raiva, sentimento que foi retribuído da mesma forma. Detalhe – na segunda, pouco antes, um apito veio da arquibancada e o time americano chegou a dar uma meia-trava, achando que algo tivesse sido marcado. Turcos.
Durant terminou com 28 pontos. A sete minutos do fim, os americanos venciam por vinte. E fecharam a partida por 81 a 64.
Daqui a alguns anos, talvez ninguém lembre de muita coisa deste mundial, em que favoritos como Espanha, Argentina e Grécia ficaram pelo caminho, em que a Turquia chegou à final com a ajuda de uma trapaça e Sérvia e Lituânia jogaram muito basquete.
Mas todos vão lembrar de que ele foi o cartão de visitas de Kevin Durant – de Oklahoma para o mundo.
sábado, 11 de setembro de 2010
A Patifaria Turca.
Antes de mais nada, é preciso explicar quem é Ömer Asik.
Pivozão sem muito talento de 2,14 m, o turco de 24 anos vai estrear na NBA na próxima temporada - e pelo meu Chicago Bulls. No media guide da FIBA, se referem da seguinte forma: "...his free-throw shooting is abysmal". Bondade. Asik faz Shaq (52% na carreira) e Dwight Howard (59%) parecerem o Petrovic. Em sua última temporada aqui no Fenerbahçe Ulker, pela Euroliga, Asik teve média de 36% nos lances livres.
Hoje, contra a Sérvia, faltando 1:18 pro fim, ele recebe uma falta absolutamente normal do Milos Teodosic que o levaria para a linha, para dois arremessos. O que ele faz? Cai no chão e ali fica, com as mãos sobre o rosto como se tivessem lhe arrancado um dos olhos.
O placar marcava 78 a 77 para a Turquia.
Seria absolutamente normal que, diante da pressão, Asik errasse os dois arremessos. Até então, tinha cobrado três e convertido um.
Pois do chão, depois de algum tempo, Asik foi direto pro banco, ainda com as mãos sobre o rosto e com meio time turco o cercando.
O técnico botou em seu lugar o armador Ender Arslan, que, ainda por cima, só acertou um arremesso.
Pela regra, só há uma situação em que um jogador que vai para a linha de lance livre pode ser substituído - se ele não tiver, por conta de contusão, mais condição de continuar na partida. Neste caso, o treinador o substitui e quem entra cobra os lances. Quem sai, mesmo que melhore depois, não pode mais voltar - afinal de contas, a premissa é de que não os cobrou porque não podia mais jogar.
Hoje, Asik forjou descaradamente um problema que não existiu de forma alguma.
Terminado o jogo, lá estava ele, com os outros onze, comemorando loucamente, como se nada jamais tivesse acontecido ao seu olho, como a foto ao lado deixa bem claro (a cena, ou melhor, encenação, havia acontecido alguns instantes antes deste click - e, do jeito que a partida terminou, ninguém nem se importou em disfarçar depois).
E não aconteceu mesmo.
* * *
A Turquia não precisava disso para vencer. Mas fato é que venceu por apenas um pontinho. Que pode ter sido aquele lance livre convertido pelo Arslan.
Também não precisava de tanta ajuda da arbitragem. Hoje teve até dois tapas na cara seguidos em cima de jogadores sérvios, ambos a metro e meio dos juízes. E com a bola parada. Inacreditável, em se tratando de uma semifinal de mundial.
Tão inacreditável quanto é que a Sinan Erdem Arena lotada tenha intimidado mais a árbitros e o próprio time turco - muito nervoso - que aos próprios jovens sérvios. Um time equilibrado, que não chuta de fora a esmo, joga sempre de forma consciente, procurando aquele passe extra que deixa o companheiro livre para o arremesso, seja dentro ou no perímetro. Pra mim, o melhor basquete deste mundial.
Com um detalhe: Teodosic, Tepic e Velickovic têm 23 anos, Bjelica, Keselj e Markovic menos ainda, 22, Perovic 25, Rasic 26 e Savanovic e Krstic, os mais velhos da rotação básica do técnico Dusan Ivkovic, têm 27. Imaginem o que vem por aí...
* * *
Teodosic, aliás, foi monstruoso hoje. Em trinta e seis minutos em quadra, sempre sob marcação fortíssima, fez 13 pontos, deu 11 assistências, pegou 6 rebotes e desperdiçou uma só bola. Uma atuação cerebral, digna do craque que ele é. Sorte da torcida do Olympiakos que os irmãos donos do time, armadores (de navios, não de basquete...) gregos bilionários, têm grana suficiente para segurá-lo.
Na outra semifinal, aconteceu com a Lituânia o que também aconteceu com a Argentina, que depois de um partidaço contra o Brasil, não foi nem de longe o mesmo time no jogo seguinte e acabou ficando pelas quartas.
Naquela partida, a Lituânia converteu suas oito primeiras bolas de três, além de fazer o que não fizemos – parar Luís Scola (13 pontos, 6 de 16 arremessos). No geral, teve um aproveitamento de 54% nos arremessos (37/69) e em momento algum permitiu que o adversário tivesse a chance de voltar ao jogo.
Hoje, a Lituânia foi a Argentina de quinta. Doze pontos no primeiro quarto, apenas vinte e sete no primeiro tempo – no mesmo espaço, Kevin Durant fez 24. Na defesa, não foram nem sombra do time aplicado e aguerrido das quartas. E a pontaria... só 39% no geral e igual percentual para 3. Resultado: vitória americana por 89 a 74, sem que jamais os lituanos realmente tivessem chance. E olha que os Estados Unidos chutaram mal também, 8 de 25 para 3 pontos. Mas Durant fez 38, então...
* * *
Milos Teodosic, Juan Carlos Navarro (podia ser Jaka Lakovic, da Eslovênia, mas prefiro o espanhol), Kevin Durant, Luís Scola e Ersan Ilyasova (podia ser Hamed Haddadi, do Irã, mas vou sem um pivô genuíno). Meu time desse mundial.
Pivozão sem muito talento de 2,14 m, o turco de 24 anos vai estrear na NBA na próxima temporada - e pelo meu Chicago Bulls. No media guide da FIBA, se referem da seguinte forma: "...his free-throw shooting is abysmal". Bondade. Asik faz Shaq (52% na carreira) e Dwight Howard (59%) parecerem o Petrovic. Em sua última temporada aqui no Fenerbahçe Ulker, pela Euroliga, Asik teve média de 36% nos lances livres.
Hoje, contra a Sérvia, faltando 1:18 pro fim, ele recebe uma falta absolutamente normal do Milos Teodosic que o levaria para a linha, para dois arremessos. O que ele faz? Cai no chão e ali fica, com as mãos sobre o rosto como se tivessem lhe arrancado um dos olhos.
O placar marcava 78 a 77 para a Turquia.
Seria absolutamente normal que, diante da pressão, Asik errasse os dois arremessos. Até então, tinha cobrado três e convertido um.
Pois do chão, depois de algum tempo, Asik foi direto pro banco, ainda com as mãos sobre o rosto e com meio time turco o cercando.
O técnico botou em seu lugar o armador Ender Arslan, que, ainda por cima, só acertou um arremesso.
Pela regra, só há uma situação em que um jogador que vai para a linha de lance livre pode ser substituído - se ele não tiver, por conta de contusão, mais condição de continuar na partida. Neste caso, o treinador o substitui e quem entra cobra os lances. Quem sai, mesmo que melhore depois, não pode mais voltar - afinal de contas, a premissa é de que não os cobrou porque não podia mais jogar.
Hoje, Asik forjou descaradamente um problema que não existiu de forma alguma.
Terminado o jogo, lá estava ele, com os outros onze, comemorando loucamente, como se nada jamais tivesse acontecido ao seu olho, como a foto ao lado deixa bem claro (a cena, ou melhor, encenação, havia acontecido alguns instantes antes deste click - e, do jeito que a partida terminou, ninguém nem se importou em disfarçar depois).
E não aconteceu mesmo.
* * *
A Turquia não precisava disso para vencer. Mas fato é que venceu por apenas um pontinho. Que pode ter sido aquele lance livre convertido pelo Arslan.
Também não precisava de tanta ajuda da arbitragem. Hoje teve até dois tapas na cara seguidos em cima de jogadores sérvios, ambos a metro e meio dos juízes. E com a bola parada. Inacreditável, em se tratando de uma semifinal de mundial.
Tão inacreditável quanto é que a Sinan Erdem Arena lotada tenha intimidado mais a árbitros e o próprio time turco - muito nervoso - que aos próprios jovens sérvios. Um time equilibrado, que não chuta de fora a esmo, joga sempre de forma consciente, procurando aquele passe extra que deixa o companheiro livre para o arremesso, seja dentro ou no perímetro. Pra mim, o melhor basquete deste mundial.
Com um detalhe: Teodosic, Tepic e Velickovic têm 23 anos, Bjelica, Keselj e Markovic menos ainda, 22, Perovic 25, Rasic 26 e Savanovic e Krstic, os mais velhos da rotação básica do técnico Dusan Ivkovic, têm 27. Imaginem o que vem por aí...
* * *
Teodosic, aliás, foi monstruoso hoje. Em trinta e seis minutos em quadra, sempre sob marcação fortíssima, fez 13 pontos, deu 11 assistências, pegou 6 rebotes e desperdiçou uma só bola. Uma atuação cerebral, digna do craque que ele é. Sorte da torcida do Olympiakos que os irmãos donos do time, armadores (de navios, não de basquete...) gregos bilionários, têm grana suficiente para segurá-lo.
Na outra semifinal, aconteceu com a Lituânia o que também aconteceu com a Argentina, que depois de um partidaço contra o Brasil, não foi nem de longe o mesmo time no jogo seguinte e acabou ficando pelas quartas.
Naquela partida, a Lituânia converteu suas oito primeiras bolas de três, além de fazer o que não fizemos – parar Luís Scola (13 pontos, 6 de 16 arremessos). No geral, teve um aproveitamento de 54% nos arremessos (37/69) e em momento algum permitiu que o adversário tivesse a chance de voltar ao jogo.
Hoje, a Lituânia foi a Argentina de quinta. Doze pontos no primeiro quarto, apenas vinte e sete no primeiro tempo – no mesmo espaço, Kevin Durant fez 24. Na defesa, não foram nem sombra do time aplicado e aguerrido das quartas. E a pontaria... só 39% no geral e igual percentual para 3. Resultado: vitória americana por 89 a 74, sem que jamais os lituanos realmente tivessem chance. E olha que os Estados Unidos chutaram mal também, 8 de 25 para 3 pontos. Mas Durant fez 38, então...
* * *
Milos Teodosic, Juan Carlos Navarro (podia ser Jaka Lakovic, da Eslovênia, mas prefiro o espanhol), Kevin Durant, Luís Scola e Ersan Ilyasova (podia ser Hamed Haddadi, do Irã, mas vou sem um pivô genuíno). Meu time desse mundial.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Jogamos Como Nunca, Mas Insistem Em Tratar A Derrota Como Sempre...
Sai agora a notícia de que Tiago Splitter jogou contundido ontem - uma contratura na coxa sofrida na partida diante da Eslovênia, nossa penúltima na primeira fase. Por conta disso ele teria jogado tão pouco contra a Croácia e tão discretamente contra a Argentina.
Já li manchetes como “A CBB ESCONDEU A CONTUSÃO” e lamúrias do tipo “a imprensa não tinha como saber, pois não podia acompanhar os treinos, fechados”. Eu não sou fã de como as coisas são feitas na CBB, há muitos anos. E ainda acho cedo para sair metendo o pau na administração atual, que teve o mérito de contratar um técnico de ponta, tem acertado em algumas medidas e continuado a errar em muitas outras.
Mas acho que é direito de qualquer treinador, em qualquer esporte, trabalhar sem a presença da imprensa.
Não conheço, aliás, nenhum jornalista que goste de escrever seu texto com alguém atrás olhando enquanto ele trabalha.
O que não acho correto é limitar o acesso da imprensa aos atletas depois que o trabalho acaba, como foi feito aqui em Istambul, em treinos e jogos.
E, se técnico fosse da seleção brasileira, não gostaria que o Sérgio Hernández soubesse que um de meus principais jogadores, um dos encarregados de marcar Scola, entraria em quadra sem estar 100%.
Mas agora, como disse, vai ter um monte de gente que nunca pegou numa bola de basquete, que não sabe identificar um pick and roll (que Prigioni e Scola fizeram tão bem ontem no fim), querendo achar explicações, sejam quais forem.
Depois, eu tenho que ouvir colegas de profissão dizendo que o esporte não é área de jornalistas sérios. Muitos não são mesmo.
Nada mais apropriado que o jogo de hoje entre Sérvia e Espanha, pelas quartas-de-final, ter teminado da maneira como terminou – com uma cesta de 3 de Milos Teodosic, a três segundos do fim, quase no estouro do relógio de posse de bola e quase do meio da quadra.
A bola que decidiu a partida (92 x 89) mostra não apenas como o armador sérvio tem colhões do tamanho do troféu de MVP da última Euroliga, que merecidamente ganhou, como também como no basquete, hoje em dia, times e seleções vivem e morrem através dos arremessos de 3. Que nós, nos últimos anos, erradamente nos acostumamos a rotular como um “mal brasileiro”.
A Espanha, que tem um excelente pivô como referência no garrafão em Marc Gasol, entrou no quarto final perdendo por três pontos. Até então, havia chutado quase tantas bolas de 3 – vinte e duas – quanto de dois pontos – vinte e seis. E isso tendo como um de seus principais jogadores o jovem Ricky Rubio, que praticamente não chuta dos 3 por não ter arremesso consistente. No fim, os espanhóis terminaram a partida com um aproveitamento de 56% para 2 pts (20/36) e 38% para 3 (10/26). Mesmo chutando muito bem dentro do perímetro, tentaram só dez bolas a mais nele do que de fora.
E o que dizer da Sérvia? Foram 35 arremessos para 2 no jogo (com o também ótimo aproveitamento de 54%), contra 30 da linha dos 3 (com 50% de acerto, o que acabou sendo o X para a vitória). Ou seja, praticamente chutaram tanto de fora quanto de dentro.
Desconsiderando os erros, em que os dois times praticamente se equivaleram (14 espanhóis e 16 sérvios), a Espanha teve 65 posses de bola e a Sérvia, 62.
Qual a moral desses números, então?
Simples. Se você tem um bom time pra 3 pontos, com bons arremessadores, jogue com eles. Se, mesmo assim, a bola não estiver caindo, não insista.
E se, ao contrário, você não tem no chute de 3 sua principal arma, mas a bola, num jogo qualquer, estiver caindo, continue chutando.
Ou seja, bom senso. Como tudo na vida.
Já li manchetes como “A CBB ESCONDEU A CONTUSÃO” e lamúrias do tipo “a imprensa não tinha como saber, pois não podia acompanhar os treinos, fechados”. Eu não sou fã de como as coisas são feitas na CBB, há muitos anos. E ainda acho cedo para sair metendo o pau na administração atual, que teve o mérito de contratar um técnico de ponta, tem acertado em algumas medidas e continuado a errar em muitas outras.
Mas acho que é direito de qualquer treinador, em qualquer esporte, trabalhar sem a presença da imprensa.
Não conheço, aliás, nenhum jornalista que goste de escrever seu texto com alguém atrás olhando enquanto ele trabalha.
O que não acho correto é limitar o acesso da imprensa aos atletas depois que o trabalho acaba, como foi feito aqui em Istambul, em treinos e jogos.
E, se técnico fosse da seleção brasileira, não gostaria que o Sérgio Hernández soubesse que um de meus principais jogadores, um dos encarregados de marcar Scola, entraria em quadra sem estar 100%.
Mas agora, como disse, vai ter um monte de gente que nunca pegou numa bola de basquete, que não sabe identificar um pick and roll (que Prigioni e Scola fizeram tão bem ontem no fim), querendo achar explicações, sejam quais forem.
Depois, eu tenho que ouvir colegas de profissão dizendo que o esporte não é área de jornalistas sérios. Muitos não são mesmo.
Nada mais apropriado que o jogo de hoje entre Sérvia e Espanha, pelas quartas-de-final, ter teminado da maneira como terminou – com uma cesta de 3 de Milos Teodosic, a três segundos do fim, quase no estouro do relógio de posse de bola e quase do meio da quadra.
A bola que decidiu a partida (92 x 89) mostra não apenas como o armador sérvio tem colhões do tamanho do troféu de MVP da última Euroliga, que merecidamente ganhou, como também como no basquete, hoje em dia, times e seleções vivem e morrem através dos arremessos de 3. Que nós, nos últimos anos, erradamente nos acostumamos a rotular como um “mal brasileiro”.
A Espanha, que tem um excelente pivô como referência no garrafão em Marc Gasol, entrou no quarto final perdendo por três pontos. Até então, havia chutado quase tantas bolas de 3 – vinte e duas – quanto de dois pontos – vinte e seis. E isso tendo como um de seus principais jogadores o jovem Ricky Rubio, que praticamente não chuta dos 3 por não ter arremesso consistente. No fim, os espanhóis terminaram a partida com um aproveitamento de 56% para 2 pts (20/36) e 38% para 3 (10/26). Mesmo chutando muito bem dentro do perímetro, tentaram só dez bolas a mais nele do que de fora.
E o que dizer da Sérvia? Foram 35 arremessos para 2 no jogo (com o também ótimo aproveitamento de 54%), contra 30 da linha dos 3 (com 50% de acerto, o que acabou sendo o X para a vitória). Ou seja, praticamente chutaram tanto de fora quanto de dentro.
Desconsiderando os erros, em que os dois times praticamente se equivaleram (14 espanhóis e 16 sérvios), a Espanha teve 65 posses de bola e a Sérvia, 62.
Qual a moral desses números, então?
Simples. Se você tem um bom time pra 3 pontos, com bons arremessadores, jogue com eles. Se, mesmo assim, a bola não estiver caindo, não insista.
E se, ao contrário, você não tem no chute de 3 sua principal arma, mas a bola, num jogo qualquer, estiver caindo, continue chutando.
Ou seja, bom senso. Como tudo na vida.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
7 de Setembro, Um Brasil Bem Na Foto - Depende Do Ângulo Que Se Vê.
Nos últimos três anos, a seleção brasileira teve três jogos realmente importantes, jogos que valiam muito para o futuro do basquete no país. Eu estava presente nos três (e antes que me chamem de pé-frio, eu estava na Coréia do Sul quando conquistamos o penta e em Lisboa quando Guga levantou a Masters Cup – então, o problema não sou eu, definitivamente).
O primeiro deles foi em 2007, em Las Vegas, contra a mesma Argentina de hoje. Como já escrevi aqui, lideramos o placar durante boa parte da partida, mas perdemos no fim. O segundo, no ano seguinte, em Atenas, também valia vaga para os Jogos Olímpicos de Pequim. Diante da Alemanha de Dirk Nowitzki, no entanto, em nenhum momento jogamos realmente bem e perdemos por treze pontos no fim.
Hoje, contra a Argentina, o retorno não estava em jogo (aqui em Istambul, apenas o campeão mundial se classifica para Londres 2012). Mas num plano mais amplo, era a chance da afirmação para uma geração que não somente já deveria ter duas olimpíadas no currículo, como começa a virar piada para o torcedor comum, que se acostumou com o fato de que a) nunca mais ganhamos nada importante, b) não aparecemos mais na tv aberta, em nenhum âmbito e c) não participamos, com o time masculino, há três edições da maior festa do esporte.
Pressão? Imagina...
Pela frente tínhamos só a base da geração que foi prata no mundial de 2002 e ouro olímpico em Atenas 2004 (além do quarto lugar no mundial de 2006). Que, mesmo sem Ginóbili e Nocioni, ainda é um dos times mais respeitados (e mais time) do mundo.
E o que fizemos?
Começamos com Splitter no banco e Guilherme marcando Scola, para surpresa geral da nação. Uma decisão surpreendente e interessante de Rubén Magnano, que decidiu sacrificar um para poupar o outro. Scola fez sete pontos em dois minutos, Guilherme saiu com duas faltas com pouco mais de dois para o fim e Delfino, mesmo marcado por Alex, fez a festa da linha dos 3, com nove pontos no período – mesmo número do capitão argentino. Pra nossa sorte, Leandrinho e Huertas, inspirados no ataque, fizeram dez cada. E o quarto terminou 25 a 25. Um bom começo.
Magnano só trouxe outra cara nova do banco a cinco minutos do fim do segundo quarto, quando trocou Alex por Marcelinho – a Argentina, à essa altura, vencia por 34 a 30 e Sergio Hernández também só havia utilizado sete jogadores. Aí nosso técnico trocou Huertas – que já fazia uma partida estupenda – por Nezinho... Guilherme pegou a terceira falta... E a coisa só não desandou porque Marcelinho nos manteve no jogo com duas boltas de 3 e Magnano trouxe Huertas de volta rapidinho. Nosso armador fechou o primeiro tempo com um lance de quatro pontos que levantou a torcida brasileira, espalhada pelo ginásio, e a turca, que nos apoiava. Se a atuação dele, sua melhor pela seleção (18 pontos!), nos enchia de esperança, as três faltas de Leandrinho preocupavam, mesmo com a vantagem no intervalo – 48 a 46. Jogão. Jogaço.
Por conta disso, Magnano voltou para para o segundo tempo com Marcelinho em seu lugar e Splitter no de Guilherme. Como é bom ter alguém como ele no comando. Chegamos a abrir sete no placar. Mas pecamos ao continuar deixando Delfino jogar – e jogou muito o armador argentino hoje. Talvez por isso, Magnano só tenha posto Leandrinho de volta a um minuto do fim do quarto, que terminou empatado por 66 a 66.
Aí no último.. prefiro ir logo para os minutos finais. Porque faltando 3:15, nós perdíamos por apenas dois - 81 a 79 - quando permitimos que Scola, o dono do jogo, fizesse 6 pontos seguidos. Ora, todo mundo sabia que, na hora da decisão, o negócio seria pará-lo, não? Quatro dias focando nisso, treinando isso, pensando em como, com quem... E ele ainda faria outros quatro depois, para terminar com 37. E chutando 14 de 20 bolas, sem um único erro no último quarto.
Nós? Bem, nós desperdiçamos uma bola tola com Leandrinho, faltando 44 segundos, quando perdíamos por três. Quem a roubou? Scola. Que abriria cinco no ataque seguinte, selando o destino da partida - que terminou com a vitória deles por 93 a 89. Não foi só o erro do Leandro, claro. Embora ele realmente tenha tido um peso absurdo - ali, estávamos no jogo, quando ele se enrolou e perdeu a bola, não estávamos mais. Mas o que fica marcado, de novo, é que temos um bom time que ainda não sabe decidir seus jogos. Foi assim que deixamos de virar manchete mundial contra os EUA, foi assim que deixamos de vencer os Eslovenos - o que teria nos feito jogar contra a fraca Austrália nas oitavas - e foi assim que perdemos hoje.
Fracasso? Depende do ponto de vista. Não para mim.
Jogamos bem nossas últimas quatro partidas no mundial. Tivemos a afirmação de Huertas como o comandante da equipe em quadra - hoje ele foi um monstro, com 32 pontos. Demos mais um passo no desenvolvimento de jogadores como Varejão e Splitter. E Magnano teve a chance de conhecer este grupo, saber com quem pode e com quem não pode contar daqui pra frente.
Há o outro lado, claro. O mesmo Huertas, hoje, só deu duas assistências. E apesar de ter parecido frio como gelo (hoje realmente foi), mostrou aqui em Istambul ainda se desequilibrar com certa facilidade por conta de erros de arbitragem e, principalmente, dos companheiros. Splitter, tão alardeado pelo ótimo trabalho na Espanha, ainda está a léguas de ser um pivô dominante - nem mesmo na defesa ele é. Ânderson, peça importantíssima desse grupo, acabou prejudicado pela torção no tornozelo. Leandrinho fez um péssimo mundial e precisa aprender a pensar antes de executar, principalmente nos momentos decisivos. Marcelinho, Alex e Guilherme deixaram claro para o técnico argentino que são nomes fixos para o restante do ciclo olímpico. Já Nezinho, Murilo, Marquinhos e J.P. certamente não impressionaram o treinador.
Então o que fica deste 7 de setembro de mais uma tristeza para o basquete brasileiro?
Fica o orgulho de termos jogado bem, sim, contra um dos melhores times do mundo, que é a Argentina. Fica a lembrança boa do que fizemos contra os americanos e a ruim do que poderíamos ter feito contra a Eslovênia. E fica, sobretudo, a esperança de que haja continuidade no treinamento e formação dessa seleção sob a batuta de Rubén Magnano, o homem que pode nos levar de volta aos bons tempos do nosso basquete.
O resto é o resto.
O jogo é jogado. Um ganha, outro perde.
O importante é sair de cabeça erguida de quadra, como fizemos hoje.
sábado, 4 de setembro de 2010
Don't Believe The Hype.
O Public Enemy já alertava, há vinte anos.
Tudo começou em 2005, quando, aos quatorze de idade, Ricky Rubio se tornou o mais jovem jogador a atuar na ACB, a liga profissional espanhola, segunda mais forte do mundo. Eu ouviria falar dele pela primeira vez um ano depois. Leria, na verdade – Lang Whitaker, da SLAM, um de meus gurus quando o assunto é basquete, seria o responsável por levar o então jovem armador do Joventut Badalona ao conhecimento dos americanos e de fanáticos como eu.
A performance inacreditável na final do europeu sub-16, contra a Rússia, em 2006 – 51 pontos, 24 rebotes, 12 assistências e 7 bolas roubadas, forçando a primeira de duas prorrogações com um arremesso do meio da quadra – dava credibilidade ao burburinho. Não parecia mesmo hype. Naquele torneio, Ricky teve dois triple-doubles e um quadruple-double. Gostaria muito de linkar um vídeo da final, mas aqui na Turquia o You Tube é proibido (sério).
Muita coisa aconteceu desde então. Aos vinte anos, ele já possui uma prata olímpica, um título europeu e um da Euroliga. Mas o fato é que, aqui em Istambul, tem sido apenas mais um.
Números são frios, mesmo no basquete. Nem sempre traduzem a verdade. Mas os dele, nos cinco jogos da primeira fase, não condizem com a fama – médias de 5 pontos, 6.2 assistências e só 28% nos arremessos, com pífios 9% nas bolas de 3. Mais que estes, dois outros chamam a atenção – 3 vitórias e 2 derrotas da Espanha, num grupo que tinha Nova Zelândia, Canadá, Líbano (vitórias), Lituânia e França (derrotas). Contras os libaneses, em 26 minutos em quadra, Ricky saiu zerado.
Essa campanha irregular – e um possível corpo mole da Grécia no último jogo da fase de grupos, contra a Rússia – fizeram com que espanhóis e gregos se cruzassem logo nas oitavas aqui em Istambul, reeditando a final do mundial passado. Ótima chance para o garoto tirar minha má impressão (e que fique claro que já vi Ricky jogar inúmeras vezes pela tv na liga espanhola, em olimpíadas, no europeu, na Euroliga - muitas delas de forma excepcional). Mas hoje, novamente, não foi o caso.
A Espanha venceu. Nem jogou tão bem, mas teve uma senhora ajudinha do time grego, que chutou 7 pra 23 da linha dos 3 e - meu Deus! - só 44% da linha de lances livres. Com aproveitamento assim, seria mesmo complicado vencer os atuais campeões, que, aliás, não perdem para o adversário há cinco anos. Ricky jogou 27 minutos, o que é sua média aqui. De novo foi mal nos arremessos - 2/6, com 0/2 dos 3 (acumula 1/13 no campeonato) para 6 pontos, 6 assistências e uma bola despediçada.
Ricky Rubio é uma farsa, então? Claro que não. Basta rever a final olímpica contra os americanos ou algumas de suas partidas nos playoffs da Euroliga ou da ACB para saber que há muito basquete no garoto magrelo de 1,92 m. Mas daí a apontá-lo como um fenômeno, há uma distância enorme. Fenômeno, quem tem mostrado que é aqui em Istambul é Kevin Durant, outro garoto (22 anos). Ricky é um jogador em construção. Que hoje, aliás, tomou decisões acertadas nos minutos decisivos contra os gregos e foi frio na hora de converter aqueles dois lances livres no fim.
Mas não à toa ele decidiu esperar mais um tempo para dar o salto para a NBA. Se engana quem pensa que foi apenas por ter sido escolhido pelo Minesotta Timberwolves, um dos piores times da liga. Ele não está pronto.
Há serviços que não nos atendem – na prestação e no atendimento – mesmo quando pagamos caro por eles. Operadoras de telefonia móvel em geral, a NET, em especial... e há aqueles que não deveriam nos atender além do serviço em si, visto que são gratuitos.
Como o Google.
Ontem, enquanto reorganizava minhas contas do Gmail, cometi um descuido em meio a tantos formulários para deletar uma delas, e acidentalmente excluí o Tudo Bola. Qual não foi meu pânico quando me dei conta... Quatro anos de textos, entre Uol Blog e Blogger, perdidos para sempre! Primeiro tentei o suporte, mas já esperava que não houvesse, afinal, os principais serviços do Google são de graça... tentei a ajuda, através do fórum do próprio Blogger... nada. Apelei para fóruns outros, chegando a bater papo com geeks americanos, apenas para ter a mesma resposta – no máximo, conseguiria recuperar alguns textos, nunca todo o conteúdo. Fui dormir, já de madrugada, arrasado.
Neste sábado, pela manhã, o desespero me fez apelar. Usei o único canal de comunicação do Google, por onde eles recebem denúncias de pornografia, spam etc. Fui sincero no formulário e expliquei que havia apagado meu blog acidentalmente, que era conteúdo jornalístico de quatro anos, com textos que significavam muito para mim... Mas não tinha muita esperança.
Eis que, quando chego aqui na Sinan Erdem Arena e entro no messenger pra falar com meu amor, ela me dá a notícia de que tinha acabado de acessar o blog! Entrei imediatamente e estava tudo lá. Abri a conta que havia deletado e lá estavam também todas as mensagens que não mais desejava na caixa de entrada.
O mais engraçado é que, ontem mesmo, um dos telões gigantes de Times Square exibia o vídeo de uma ONG criticando a política de privacidade do Google, usando a imagem do CEO da empresa, Eric Schmidt, como um sorveteiro que já sabe os sabores favoritos de cada criança antes mesmo do pedido. “O Google sabe mais sobre nós que agências do governo”, alertava o vídeo.
Bem, depois de hoje, quando alguém, sabe-se lá em que lugar do mundo, resolveu meu problema em poucas horas, o Google pode perguntar o que quiser sobre minha vida que eu respondo.
E não falem mal da empresa perto de mim...
Tudo começou em 2005, quando, aos quatorze de idade, Ricky Rubio se tornou o mais jovem jogador a atuar na ACB, a liga profissional espanhola, segunda mais forte do mundo. Eu ouviria falar dele pela primeira vez um ano depois. Leria, na verdade – Lang Whitaker, da SLAM, um de meus gurus quando o assunto é basquete, seria o responsável por levar o então jovem armador do Joventut Badalona ao conhecimento dos americanos e de fanáticos como eu.
A performance inacreditável na final do europeu sub-16, contra a Rússia, em 2006 – 51 pontos, 24 rebotes, 12 assistências e 7 bolas roubadas, forçando a primeira de duas prorrogações com um arremesso do meio da quadra – dava credibilidade ao burburinho. Não parecia mesmo hype. Naquele torneio, Ricky teve dois triple-doubles e um quadruple-double. Gostaria muito de linkar um vídeo da final, mas aqui na Turquia o You Tube é proibido (sério).
Muita coisa aconteceu desde então. Aos vinte anos, ele já possui uma prata olímpica, um título europeu e um da Euroliga. Mas o fato é que, aqui em Istambul, tem sido apenas mais um.
Números são frios, mesmo no basquete. Nem sempre traduzem a verdade. Mas os dele, nos cinco jogos da primeira fase, não condizem com a fama – médias de 5 pontos, 6.2 assistências e só 28% nos arremessos, com pífios 9% nas bolas de 3. Mais que estes, dois outros chamam a atenção – 3 vitórias e 2 derrotas da Espanha, num grupo que tinha Nova Zelândia, Canadá, Líbano (vitórias), Lituânia e França (derrotas). Contras os libaneses, em 26 minutos em quadra, Ricky saiu zerado.
Essa campanha irregular – e um possível corpo mole da Grécia no último jogo da fase de grupos, contra a Rússia – fizeram com que espanhóis e gregos se cruzassem logo nas oitavas aqui em Istambul, reeditando a final do mundial passado. Ótima chance para o garoto tirar minha má impressão (e que fique claro que já vi Ricky jogar inúmeras vezes pela tv na liga espanhola, em olimpíadas, no europeu, na Euroliga - muitas delas de forma excepcional). Mas hoje, novamente, não foi o caso.
A Espanha venceu. Nem jogou tão bem, mas teve uma senhora ajudinha do time grego, que chutou 7 pra 23 da linha dos 3 e - meu Deus! - só 44% da linha de lances livres. Com aproveitamento assim, seria mesmo complicado vencer os atuais campeões, que, aliás, não perdem para o adversário há cinco anos. Ricky jogou 27 minutos, o que é sua média aqui. De novo foi mal nos arremessos - 2/6, com 0/2 dos 3 (acumula 1/13 no campeonato) para 6 pontos, 6 assistências e uma bola despediçada.
Ricky Rubio é uma farsa, então? Claro que não. Basta rever a final olímpica contra os americanos ou algumas de suas partidas nos playoffs da Euroliga ou da ACB para saber que há muito basquete no garoto magrelo de 1,92 m. Mas daí a apontá-lo como um fenômeno, há uma distância enorme. Fenômeno, quem tem mostrado que é aqui em Istambul é Kevin Durant, outro garoto (22 anos). Ricky é um jogador em construção. Que hoje, aliás, tomou decisões acertadas nos minutos decisivos contra os gregos e foi frio na hora de converter aqueles dois lances livres no fim.
Mas não à toa ele decidiu esperar mais um tempo para dar o salto para a NBA. Se engana quem pensa que foi apenas por ter sido escolhido pelo Minesotta Timberwolves, um dos piores times da liga. Ele não está pronto.
Há serviços que não nos atendem – na prestação e no atendimento – mesmo quando pagamos caro por eles. Operadoras de telefonia móvel em geral, a NET, em especial... e há aqueles que não deveriam nos atender além do serviço em si, visto que são gratuitos.
Como o Google.
Ontem, enquanto reorganizava minhas contas do Gmail, cometi um descuido em meio a tantos formulários para deletar uma delas, e acidentalmente excluí o Tudo Bola. Qual não foi meu pânico quando me dei conta... Quatro anos de textos, entre Uol Blog e Blogger, perdidos para sempre! Primeiro tentei o suporte, mas já esperava que não houvesse, afinal, os principais serviços do Google são de graça... tentei a ajuda, através do fórum do próprio Blogger... nada. Apelei para fóruns outros, chegando a bater papo com geeks americanos, apenas para ter a mesma resposta – no máximo, conseguiria recuperar alguns textos, nunca todo o conteúdo. Fui dormir, já de madrugada, arrasado.
Neste sábado, pela manhã, o desespero me fez apelar. Usei o único canal de comunicação do Google, por onde eles recebem denúncias de pornografia, spam etc. Fui sincero no formulário e expliquei que havia apagado meu blog acidentalmente, que era conteúdo jornalístico de quatro anos, com textos que significavam muito para mim... Mas não tinha muita esperança.
Eis que, quando chego aqui na Sinan Erdem Arena e entro no messenger pra falar com meu amor, ela me dá a notícia de que tinha acabado de acessar o blog! Entrei imediatamente e estava tudo lá. Abri a conta que havia deletado e lá estavam também todas as mensagens que não mais desejava na caixa de entrada.
O mais engraçado é que, ontem mesmo, um dos telões gigantes de Times Square exibia o vídeo de uma ONG criticando a política de privacidade do Google, usando a imagem do CEO da empresa, Eric Schmidt, como um sorveteiro que já sabe os sabores favoritos de cada criança antes mesmo do pedido. “O Google sabe mais sobre nós que agências do governo”, alertava o vídeo.
Bem, depois de hoje, quando alguém, sabe-se lá em que lugar do mundo, resolveu meu problema em poucas horas, o Google pode perguntar o que quiser sobre minha vida que eu respondo.
E não falem mal da empresa perto de mim...
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Melhor Que Da Última Vez.
Vencemos a Croácia e vencemos bem. Estamos entre os dezesseis melhores do mundo, resultado melhor que o do último mundial, no Japão, quando terminamos na décima-nona posição - nossa pior participação na história.
Tudo que fizemos de errado contra a Eslovênia, não repetimos hoje - principalmente na defesa. Mas não só. Trabalhamos a bola com mais calma, saímos com velocidade nos contra-ataques quando foi possível e demonstramos até uma incomum consciência na hora de chutar dos 3 - foram 10 de 19 arremessos, poucos deles forçados. Marcelinho voltou a ser fundamental (e cestinha), Alex foi um monstro e Leandrinho jogou de forma mais controlada. Ânderson, mesmo ainda sentindo o tornozelo, foi decisivo pelos 12 rebotes, quatro deles no ataque, compensando uma atuação mais apagada de Tiago, que ficou apenas 16 minutos em quadra. Tudo isso nos permitiu abrir uma boa vantagem e administrá-la no fim. Magnano mostra, a cada jogo, que nunca foi tão acertada uma escolha de técnico para a seleção brasileira.
Agora teremos quatro dias de descanso e treino. E a Argentina pela frente nas oitavas. Que seja melhor que da última vez em que realmente valeu algo.
Naquele primeiro de setembro de 2007 fazia um calor dos infernos em Las Vegas. Logo no início, Nenê sentiu a panturrilha e foi forçado a assistir ao restante do jogo do banco, de onde Lula Ferreira parecia não ter mais nenhum comando sobre seu time. Apesar disso, viramos o primeiro tempo na frente, 43 a 35. Jogávamos bem. Mas tivemos um apagão. Como o de anteontem, contra a Eslovênia. Perdemos o terceiro quarto por 30 a 13. O jogo por 91 a 80. E a vaga direta para Pequim, que ficou com nossos vizinhos.
Naquela partida e naquele torneio, Scola foi a diferença. Poucas vezes vi alguém jogar tanto. Mesmo com o timaço americano, que tinha Kobe, LeBron, Carmello e tantos outros, ele foi escolhido o MVP. Aqui em Istambul, Scola está jogando tanto ou mais que em Las Vegas, onde a seleção argentina não tinha Ginóbili e Nocioni, como agora.
Mas nós não tínhamos Magnano.
Hora dele mostrar que, como criador deste time, sabe melhor que ninguém os caminhos para derrotá-lo.
Se as cheerleaders russas têm presença garantida até o fim do mundial, a seleção delas deu azar e pode dançar nas quartas, quando provavelmente enfrenta a americana. As oitavas começam sábado com dois jogaços - Sérvia x Croácia, muito mais pela rivalidade, pois os sérvios têm muito mais time, e Espanha x Grécia. No domingo, outra partida que promete, entre Turquia e França - que hoje surpreendentemente foi derrotada pela Nova Zelândia.
Quem vencer o clássico Brasil x Argentina pega a Lituânia, que não perde para a China, nas quartas.
Vai começar o mundial.
Tudo que fizemos de errado contra a Eslovênia, não repetimos hoje - principalmente na defesa. Mas não só. Trabalhamos a bola com mais calma, saímos com velocidade nos contra-ataques quando foi possível e demonstramos até uma incomum consciência na hora de chutar dos 3 - foram 10 de 19 arremessos, poucos deles forçados. Marcelinho voltou a ser fundamental (e cestinha), Alex foi um monstro e Leandrinho jogou de forma mais controlada. Ânderson, mesmo ainda sentindo o tornozelo, foi decisivo pelos 12 rebotes, quatro deles no ataque, compensando uma atuação mais apagada de Tiago, que ficou apenas 16 minutos em quadra. Tudo isso nos permitiu abrir uma boa vantagem e administrá-la no fim. Magnano mostra, a cada jogo, que nunca foi tão acertada uma escolha de técnico para a seleção brasileira.
Agora teremos quatro dias de descanso e treino. E a Argentina pela frente nas oitavas. Que seja melhor que da última vez em que realmente valeu algo.
Naquele primeiro de setembro de 2007 fazia um calor dos infernos em Las Vegas. Logo no início, Nenê sentiu a panturrilha e foi forçado a assistir ao restante do jogo do banco, de onde Lula Ferreira parecia não ter mais nenhum comando sobre seu time. Apesar disso, viramos o primeiro tempo na frente, 43 a 35. Jogávamos bem. Mas tivemos um apagão. Como o de anteontem, contra a Eslovênia. Perdemos o terceiro quarto por 30 a 13. O jogo por 91 a 80. E a vaga direta para Pequim, que ficou com nossos vizinhos.
Naquela partida e naquele torneio, Scola foi a diferença. Poucas vezes vi alguém jogar tanto. Mesmo com o timaço americano, que tinha Kobe, LeBron, Carmello e tantos outros, ele foi escolhido o MVP. Aqui em Istambul, Scola está jogando tanto ou mais que em Las Vegas, onde a seleção argentina não tinha Ginóbili e Nocioni, como agora.
Mas nós não tínhamos Magnano.
Hora dele mostrar que, como criador deste time, sabe melhor que ninguém os caminhos para derrotá-lo.
Se as cheerleaders russas têm presença garantida até o fim do mundial, a seleção delas deu azar e pode dançar nas quartas, quando provavelmente enfrenta a americana. As oitavas começam sábado com dois jogaços - Sérvia x Croácia, muito mais pela rivalidade, pois os sérvios têm muito mais time, e Espanha x Grécia. No domingo, outra partida que promete, entre Turquia e França - que hoje surpreendentemente foi derrotada pela Nova Zelândia.
Quem vencer o clássico Brasil x Argentina pega a Lituânia, que não perde para a China, nas quartas.
Vai começar o mundial.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
A Tal Da Hora H.
Meu amigo Fábio Balassiano, do ótimo blog Bala na Cesta, fez o levantamento - nos últimos sete anos, em jogos decididos por seis ou menos pontos, a seleção brasileira havia perdido todos.
Bem, agora são oito.
Depois da derrota para os americanos, na última bola, hoje perdemos para a Eslovênia, por 80 a 77, num jogo chave para nossas pretensões no Mundial.
Basquete é um jogo de detalhes em que você não pode justificar uma derrota por três pontos com base neles. Não é como no futebol, em que um lance específico pode ser capital para o resultado. Então, não dá pra falar daquela bola que o Alex deixou escapar no contra-ataque (e como jogou bem ele hoje, muito na defesa) ou de um dos pombos-sem-asa do Leandringo na hora errada (e como tem sido individualista ele...). É muito mais lógico - e é o justo - dizer que perdemos o jogo no segundo quarto, quando uma pane ofensiva de sete minutos deu o placar de 24 a 12 para o adversário no período.
Mas aí eu lembro da bola que o Balassiano levantou... e chego à conclusão de que, nos momentos decisivos, a gente continua não sabendo o que fazer.
De que adianta uma reação como a do último quarto, quando fizemos 15 pontos seguidos (11 do Marcelinho, que mudou o jogo, inclusive com sua defesa, com duas roubadas) se, nos minutos finais, quando se decide uma partida, não temos organização? Aquela bola sem nexo do Leandrinho, a 3:14 do fim, o que é? Falta de inteligência dele ou de comando do banco? Por que, nessas horas, a impressão que fica é que não temos um time, mas sim cinco caras em quadra querendo resolver, cada um da sua maneira? Naquele momento, perdíamos só por 5... Pouco depois, lá estava de novo o Leandro partindo pra dentro do garrafão, com tempo de sobra no relógio, pra mais uma bola desperdiçada...
Não vou nem entrar no mérito da nossa defesa, outra vez vacilante e desatenta hoje, principalmente no perímetro, deixando o Lakovic chutar 6 pra 11 de fora... O que nos falta é jogar, nos momentos decisivos, como joga a Argentina, desde a época do próprio Magnano - com cada um sabendo o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve fazer.
Mais alguns pitacos sobre hoje:
- Eram uns 3 mil eslovenos na Abdi Ipekci arena hoje, empurrando sua seleção o tempo todo e vaiando a nossa a cada posse. Não é desculpa, claro, mas quem já jogou, mesmo na base ou num intercolegial no ginásio do adversário, sabe a diferença que isso faz. E a transmissão da TV, de forma alguma, mostrou o quanto eles fizeram barulho.
- Enquanto nosso time não tiver arremessadores consistentes, Marcelinho terá vaga na seleção. Perdemos, mas ele, de novo, mostrou que não se omite (20 pontos, 5/10 com 4/8 de 3 e 3 roubadas, em apenas 17 minutos).
- Novamente Tiago foi muito bem, apesar da ótima atuação do Brezec, homem que ele marcou a maior parte do tempo. Aliás, o pessoal em Milwaukee, se estiver acompanhando o mundial, deve estar otimista para a próxima temporada - ele, Delfino e Ilyasova estão jogando bem. Ok, o Brezec foi só hoje...
- Pra compensar, Leandrinho, de novo, esteve muito mal - chutou 6 pra 18, deu só uma assistência e desperdiçou quatro bolas em 36 minutos (foi quem mais tempo esteve em quadra).
- Huertas saiu com cara de poucos amigos, provavelmente por ter ficado a maior parte do último quarto no banco (onde começou e de onde só saiu a 3:12 do fim). Eu sei que, quando um time reage, o técnico, quase por obrigação, mantém quem entrou em quadra. Mas a reação de hoje teve as digitais do Marcelo, não do Nezinho, que errou uma bandeja ridícula num contra-ataque de três contra um (mostrando zero domínio com a esquerda e, mais que isso, muito nervosismo, de novo). Magnano, aos poucos, vai vendo com quem pode contar para o pré-olímpico. Ou, pelo menos, assim eu espero...
- Agora é vencer a Croácia. Mas com ou sem a vitória, cruzaremos com Argentina ou Sérvia nas oitavas. Nada animador, infelizmente. Mas formar um time é isso, conviver com adversidades.
Bem, agora são oito.
Depois da derrota para os americanos, na última bola, hoje perdemos para a Eslovênia, por 80 a 77, num jogo chave para nossas pretensões no Mundial.
Basquete é um jogo de detalhes em que você não pode justificar uma derrota por três pontos com base neles. Não é como no futebol, em que um lance específico pode ser capital para o resultado. Então, não dá pra falar daquela bola que o Alex deixou escapar no contra-ataque (e como jogou bem ele hoje, muito na defesa) ou de um dos pombos-sem-asa do Leandringo na hora errada (e como tem sido individualista ele...). É muito mais lógico - e é o justo - dizer que perdemos o jogo no segundo quarto, quando uma pane ofensiva de sete minutos deu o placar de 24 a 12 para o adversário no período.
Mas aí eu lembro da bola que o Balassiano levantou... e chego à conclusão de que, nos momentos decisivos, a gente continua não sabendo o que fazer.
De que adianta uma reação como a do último quarto, quando fizemos 15 pontos seguidos (11 do Marcelinho, que mudou o jogo, inclusive com sua defesa, com duas roubadas) se, nos minutos finais, quando se decide uma partida, não temos organização? Aquela bola sem nexo do Leandrinho, a 3:14 do fim, o que é? Falta de inteligência dele ou de comando do banco? Por que, nessas horas, a impressão que fica é que não temos um time, mas sim cinco caras em quadra querendo resolver, cada um da sua maneira? Naquele momento, perdíamos só por 5... Pouco depois, lá estava de novo o Leandro partindo pra dentro do garrafão, com tempo de sobra no relógio, pra mais uma bola desperdiçada...
Não vou nem entrar no mérito da nossa defesa, outra vez vacilante e desatenta hoje, principalmente no perímetro, deixando o Lakovic chutar 6 pra 11 de fora... O que nos falta é jogar, nos momentos decisivos, como joga a Argentina, desde a época do próprio Magnano - com cada um sabendo o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve fazer.
Mais alguns pitacos sobre hoje:
- Eram uns 3 mil eslovenos na Abdi Ipekci arena hoje, empurrando sua seleção o tempo todo e vaiando a nossa a cada posse. Não é desculpa, claro, mas quem já jogou, mesmo na base ou num intercolegial no ginásio do adversário, sabe a diferença que isso faz. E a transmissão da TV, de forma alguma, mostrou o quanto eles fizeram barulho.
- Enquanto nosso time não tiver arremessadores consistentes, Marcelinho terá vaga na seleção. Perdemos, mas ele, de novo, mostrou que não se omite (20 pontos, 5/10 com 4/8 de 3 e 3 roubadas, em apenas 17 minutos).
- Novamente Tiago foi muito bem, apesar da ótima atuação do Brezec, homem que ele marcou a maior parte do tempo. Aliás, o pessoal em Milwaukee, se estiver acompanhando o mundial, deve estar otimista para a próxima temporada - ele, Delfino e Ilyasova estão jogando bem. Ok, o Brezec foi só hoje...
- Pra compensar, Leandrinho, de novo, esteve muito mal - chutou 6 pra 18, deu só uma assistência e desperdiçou quatro bolas em 36 minutos (foi quem mais tempo esteve em quadra).
- Huertas saiu com cara de poucos amigos, provavelmente por ter ficado a maior parte do último quarto no banco (onde começou e de onde só saiu a 3:12 do fim). Eu sei que, quando um time reage, o técnico, quase por obrigação, mantém quem entrou em quadra. Mas a reação de hoje teve as digitais do Marcelo, não do Nezinho, que errou uma bandeja ridícula num contra-ataque de três contra um (mostrando zero domínio com a esquerda e, mais que isso, muito nervosismo, de novo). Magnano, aos poucos, vai vendo com quem pode contar para o pré-olímpico. Ou, pelo menos, assim eu espero...
- Agora é vencer a Croácia. Mas com ou sem a vitória, cruzaremos com Argentina ou Sérvia nas oitavas. Nada animador, infelizmente. Mas formar um time é isso, conviver com adversidades.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Que Me Desculpe O Nelson, Mas Complexo De Vira-Lata É O Caralho.
Entre a sirene final, logo após a bola do Leandrinho beijar caprichosamente o aro e não cair, e hoje, li e ouvi muita besteira sobre a "quase vitória" do Brasil sobre a "poderosa" seleção americana aqui em Istambul.
Caramba, nem num dia como ontem, quando fizemos uma exibição sensacional, branquinho alivia. Me parece que a expressão criada por Nelson Rodrigues se aplica muito melhor a parte da imprensa brasileira (por isso a blogosfera me parece cada vez melhor) que ao nosso time, que teve uma exibição magnífica, mais ainda pelo aspecto da psiqué do que da técnica ou tática que empregamos para quase conseguir o improvável. Entramos sem medo e saímos de cabeça erguida, enquanto os americanos deixaram a quadra atordoados e ainda com medo da derrota, apesar de o jogo ter acabado. Porque ali debaixo da cesta onde a bola do Leandro não caiu, a 50 cm da quadra, dava pra sentir no ar o terror deles. Na coletiva, o sempre calmo e seguro coach K elogiava e elogiava nossos jogadores e técnico, malandro que é, já prevendo a saraivada de questionamentos dos jornalistas americanos que, claro, diminuiu após as primeiras explicações dele.
Ainda assim, se podemos tirar uma lição do "quase", ela é: erramos os quatro arremessos de três pontos que tentamos nos três minutos finais da partida, aos 2:57 e 2:51, quando conseguimos o rebote ofensivo com Splitter, e novamente aos 1:37 e 1:32, quando fizemos o mesmo com Guilherme. Nas duas oportunidades, o placar marcava 68 a 64 para os americanos.
Nos dois ataques seguintes, quando batemos para dentro com Huertas e Leandrinho, pontuamos.
Magnano ainda vai levar algum tempo para mudar essa mentalidade do basquete brasileiro. Ontem chutamos 28 bolas de 3, com apenas 10 acertos.
Mas isso é só uma observação. O que fica marcado, isso sim, é o jogão que fizemos. Deu orgulho do time de camisa verde - mesmo que esse verde imposto pela Nike ainda me pareça tão esquisito.
O jogo foi tão bom que perdi esse highlight imperdível - a brasileira Alessandra Ambrósio beijando o sem sal do Bascat (apesar do bom trocadilho)
* * *
RIP JB.
Com o fim do jornal impresso e essa reforma pavorosa que farão no Maraca, o Rio vai ficando cada vez menos carioca. Uma pena.
Caramba, nem num dia como ontem, quando fizemos uma exibição sensacional, branquinho alivia. Me parece que a expressão criada por Nelson Rodrigues se aplica muito melhor a parte da imprensa brasileira (por isso a blogosfera me parece cada vez melhor) que ao nosso time, que teve uma exibição magnífica, mais ainda pelo aspecto da psiqué do que da técnica ou tática que empregamos para quase conseguir o improvável. Entramos sem medo e saímos de cabeça erguida, enquanto os americanos deixaram a quadra atordoados e ainda com medo da derrota, apesar de o jogo ter acabado. Porque ali debaixo da cesta onde a bola do Leandro não caiu, a 50 cm da quadra, dava pra sentir no ar o terror deles. Na coletiva, o sempre calmo e seguro coach K elogiava e elogiava nossos jogadores e técnico, malandro que é, já prevendo a saraivada de questionamentos dos jornalistas americanos que, claro, diminuiu após as primeiras explicações dele.
Ainda assim, se podemos tirar uma lição do "quase", ela é: erramos os quatro arremessos de três pontos que tentamos nos três minutos finais da partida, aos 2:57 e 2:51, quando conseguimos o rebote ofensivo com Splitter, e novamente aos 1:37 e 1:32, quando fizemos o mesmo com Guilherme. Nas duas oportunidades, o placar marcava 68 a 64 para os americanos.
Nos dois ataques seguintes, quando batemos para dentro com Huertas e Leandrinho, pontuamos.
Magnano ainda vai levar algum tempo para mudar essa mentalidade do basquete brasileiro. Ontem chutamos 28 bolas de 3, com apenas 10 acertos.
Mas isso é só uma observação. O que fica marcado, isso sim, é o jogão que fizemos. Deu orgulho do time de camisa verde - mesmo que esse verde imposto pela Nike ainda me pareça tão esquisito.
O jogo foi tão bom que perdi esse highlight imperdível - a brasileira Alessandra Ambrósio beijando o sem sal do Bascat (apesar do bom trocadilho)
* * *
RIP JB.
Com o fim do jornal impresso e essa reforma pavorosa que farão no Maraca, o Rio vai ficando cada vez menos carioca. Uma pena.
domingo, 29 de agosto de 2010
Não Existe Mais Bobo No Basquete
O título deste post não é nada original, mas cai perfeitamente bem após um primeiro dia de campeonato marcado por surpresas.
A primeira delas foi logo na chegada à Abdi Ipekçi Arena, onde acontecem os jogos do grupo B nesta primeira fase do mundial. Não sabia que metade da população da Eslovênia havia emigrado para cá. Com uns oitenta por cento de 11.500 lugares ocupados, o ginásio era um mar de camisetas verdes. Em Atenas, no pré de 2008, já havia notado o quanto a torcida eslovena é fanática e apaixonada, por conta da presença de numeroso grupo uniformizado nas arquibancadas. Mas aqui eles realmente deram uma demonstração de que a) realmente gostam muito de basquete, b) são patriotas ao extremo ou c) ambas as coisas. E isso pode ser um problema para o Brasil, que faz contra a Eslovênia um jogo decisivo para uma boa classificação na próxima quarta-feira. O time deles é alto - média de 2,02 - e experiente, com destaque para Goran Dragic, que mostrou na estreia a mesma confiança vista na última temporada da NBA pelos Suns, marcando 16 pontos, distribuindo oito assistências e chutando 6/9, com um só desperdício de bola em 26 minutos. Tudo bem, era a Tunísia. Mas como vimos nesse primeiro dia de jogos, isso nem quer dizer tanto.
Afinal, quem imaginaria a Austrália vencendo a Jordânia por apenas um pontinho? Ou a Grécia tendo tanta dificuldade contra a China? Ok, os gregos estavam desfalcados, mas a França também veio para Istambul com um time depenado e venceu a campeã Espanha, mudando a perspectiva do grupo D. Pra completar o dia, a Argentina só decidiu seu jogo contra a Alemanha no fim, por 78 a 74, e muito graças à atuação inspirada de Carlos Delfino.
A vitória americana sobre a Croácia foi a única com placar centenário e diz mais sobre o time da ex-potência europeia, nosso último adversário na primeira fase, do que sobre o do coach K. Roko Ukic, que não teve sucesso na NBA e veio parar aqui no Fenerbahçe Ülker, não me pareceu muito melhor do que vi em 2008, em Atenas. Chutou 2/11 e não conteve nenhum dos velozes moleques americanos, principalmente Rose e Westbrook, como era de se esperar. Teremos que prestar atenção com Bojan Bogdanovic, ala bom de bola, e, claro, com Ante Tomic, pivô do Real Madrid que promete problemas para nossos homens altos. E já que toquei no assunto...
Não jogamos bem. Não mesmo. E por mais que fale-se sempre em treino de luxo ou fragilidade exagerada do adversário, mostramos contra o Irã que nossa defesa, além de nada assustadora, muda pouco durante o jogo, tirando uma ou outra pressão quadra toda que não surtiu tanto efeito. Mais - de que adianta isso se, por inúmeras vezes, o gigante Hamed Haddadi teve liberdade para trazer a bola de uma quadra à outra? Com 2,18, ele não somente faz o que quer no time como causou problemas para nossos homens altos, terminando com 16 pontos, 9 rebas e 5 tocos, além de chutar 7/13. Se sabíamos que o jogo seria todo nele, falhamos em tentar contê-lo. E, graças a isso, em nenhum momento deslanchamos no placar como deveríamos e poderíamos. Num grupo onde o importante é terminar em segundo, para fugir de argentinos e sérvios, o saldo de pontos pode ser decisivo. E, nesse ponto, já saímos atrás dos eslovenos.
Magnano rodou bastante o time, que voltou a chutar mais da linha dos 3 do que deveria - e mal, 6/21 - e pareceu muito mais preocupado em poupar figuras chaves como Huertas, Leandrinho e Tiago do que com fazer o placar. Acredito que hoje à noite, contra a Tunísia, não vá ser diferente. Mas é bom que comecemos logo a entrar num ritmo mais forte, com uma rotação mais fechada e, principalmente, tenhamos em mente de que quarta-feira precisaremos estar prontos para uma verdadeira pedreira.
* * *
Pela primeira vez participo de um evento FIBA onde voluntários não falam inglês, seguranças não falam inglês, técnicos de TV não falam inglês, não há Coca-Cola no ginásio (só uma Cola turca e fast-food típico, em que o cara que prepara seu sanduba não lava as mãos entre mexer na comida e no dinheiro) e a Arena é quente.
A Turquia realmente é um lugar exótico.
A primeira delas foi logo na chegada à Abdi Ipekçi Arena, onde acontecem os jogos do grupo B nesta primeira fase do mundial. Não sabia que metade da população da Eslovênia havia emigrado para cá. Com uns oitenta por cento de 11.500 lugares ocupados, o ginásio era um mar de camisetas verdes. Em Atenas, no pré de 2008, já havia notado o quanto a torcida eslovena é fanática e apaixonada, por conta da presença de numeroso grupo uniformizado nas arquibancadas. Mas aqui eles realmente deram uma demonstração de que a) realmente gostam muito de basquete, b) são patriotas ao extremo ou c) ambas as coisas. E isso pode ser um problema para o Brasil, que faz contra a Eslovênia um jogo decisivo para uma boa classificação na próxima quarta-feira. O time deles é alto - média de 2,02 - e experiente, com destaque para Goran Dragic, que mostrou na estreia a mesma confiança vista na última temporada da NBA pelos Suns, marcando 16 pontos, distribuindo oito assistências e chutando 6/9, com um só desperdício de bola em 26 minutos. Tudo bem, era a Tunísia. Mas como vimos nesse primeiro dia de jogos, isso nem quer dizer tanto.
Afinal, quem imaginaria a Austrália vencendo a Jordânia por apenas um pontinho? Ou a Grécia tendo tanta dificuldade contra a China? Ok, os gregos estavam desfalcados, mas a França também veio para Istambul com um time depenado e venceu a campeã Espanha, mudando a perspectiva do grupo D. Pra completar o dia, a Argentina só decidiu seu jogo contra a Alemanha no fim, por 78 a 74, e muito graças à atuação inspirada de Carlos Delfino.
A vitória americana sobre a Croácia foi a única com placar centenário e diz mais sobre o time da ex-potência europeia, nosso último adversário na primeira fase, do que sobre o do coach K. Roko Ukic, que não teve sucesso na NBA e veio parar aqui no Fenerbahçe Ülker, não me pareceu muito melhor do que vi em 2008, em Atenas. Chutou 2/11 e não conteve nenhum dos velozes moleques americanos, principalmente Rose e Westbrook, como era de se esperar. Teremos que prestar atenção com Bojan Bogdanovic, ala bom de bola, e, claro, com Ante Tomic, pivô do Real Madrid que promete problemas para nossos homens altos. E já que toquei no assunto...
Não jogamos bem. Não mesmo. E por mais que fale-se sempre em treino de luxo ou fragilidade exagerada do adversário, mostramos contra o Irã que nossa defesa, além de nada assustadora, muda pouco durante o jogo, tirando uma ou outra pressão quadra toda que não surtiu tanto efeito. Mais - de que adianta isso se, por inúmeras vezes, o gigante Hamed Haddadi teve liberdade para trazer a bola de uma quadra à outra? Com 2,18, ele não somente faz o que quer no time como causou problemas para nossos homens altos, terminando com 16 pontos, 9 rebas e 5 tocos, além de chutar 7/13. Se sabíamos que o jogo seria todo nele, falhamos em tentar contê-lo. E, graças a isso, em nenhum momento deslanchamos no placar como deveríamos e poderíamos. Num grupo onde o importante é terminar em segundo, para fugir de argentinos e sérvios, o saldo de pontos pode ser decisivo. E, nesse ponto, já saímos atrás dos eslovenos.
Magnano rodou bastante o time, que voltou a chutar mais da linha dos 3 do que deveria - e mal, 6/21 - e pareceu muito mais preocupado em poupar figuras chaves como Huertas, Leandrinho e Tiago do que com fazer o placar. Acredito que hoje à noite, contra a Tunísia, não vá ser diferente. Mas é bom que comecemos logo a entrar num ritmo mais forte, com uma rotação mais fechada e, principalmente, tenhamos em mente de que quarta-feira precisaremos estar prontos para uma verdadeira pedreira.
* * *
Pela primeira vez participo de um evento FIBA onde voluntários não falam inglês, seguranças não falam inglês, técnicos de TV não falam inglês, não há Coca-Cola no ginásio (só uma Cola turca e fast-food típico, em que o cara que prepara seu sanduba não lava as mãos entre mexer na comida e no dinheiro) e a Arena é quente.
A Turquia realmente é um lugar exótico.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Que Comecem Os Jogos, Por Favor.
Se alguém aí pensa em conhecer Istambul, bastam dois dias. A cidade é gigantesca - com quase treze milhões de habitantes, está entre as cinco mais populosas do planeta - mas não prima exatamente pela diversidade. Para qualquer lado que se vá, o que há é uma repetição de padrões - mesquitas, dezenas e dezenas de mesquitas (só fiz questão de entrar na Azul, realmente impressionante), comércio de rua no melhor estilo Saara (no centro do Rio, pra quem não conhece), shopping centers aos montes com o que qualquer shopping center do mundo tem e, como já disse, gente demais. Quase noventa e nove por cento dos habitantes são muçulmanos, muitos ortodoxos, o que significa rezar cinco vezes por dia virado para Meca (e, cinco vezes por dia, minaretes das mesquitas tocam a reza para a cidade inteira ouvir) e usar burkas que cobrem quase todo o corpo, no caso das mulheres. Eu, ocidental de língua estranha e todo tatuado, quando botei camiseta fui olhado com um misto de horror e desprezo por muitos - ao que parece, muçulmanos não se tatuam. Vou pesquisar. Mas não agora, estou cansado. Cansado de Istambul (me deem um desconto, passei três semanas em paraísos) e cansado de esperar pelo motivo de estar aqui - basquetebol.
Nos primeiros dias na cidade, era muitíssimo mais fácil saber que o U2 tocará aqui no próximo dia seis - que marca o fim do Ramadã - do que haverá um mundial de basquete na cidade. Os turcos não são comos os gregos, fanáticos pelo esporte. A paixão aqui, como em quase todo lugar, é o futebol, com lojas oficiais de Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas por toda Istambul. Ontem, prefeitura e FIBA trataram de espalhar galhardetes pelos postes anunciando o campeonato. Não vi um único outdoor. Nem mesmo nos dois hotéis oficiais, onde está quase toda a imprensa mundial, é possível notar a marca do evento.
Independentemente disso tudo, sábado a bola sobe e aí serão doze jogos diários, em quatro sedes, três por grupo. Mas não se enganem - o mundial começa, pra valer, nas oitavas.
Assim como a Copa do Mundo (de futebol), o nosso mundial se enfraqueceu com a participação de 24 equipes. Claro, é muito bonito pensar que seleções como Angola, Tunísia e Irã participarão da festa. Mas o que fazem, por exemplo, Costa do Marfim, Jordânia e Líbano aqui? A FIBA dá quatro vagas à Ásia, três à África e duas à Oceania. Nenhum menosprezo ou preconcento embutidos, mas a realidade é a mesma da Copa da África do Sul - uma primeira fase com jogos sem brilho e, mais, sem tanta importância. O que é pior ainda no caso do Mundial da Turquia, com quatro grupos de seis e apenas dois eliminados na primeira fase. Qualquer garoto é capaz de cravar quem ficará pelo caminho (principalmente nos grupos A e B, o do Brasil).
Fora esse enfraquecimento técnico (imaginem um mundial com 16 equipes, como antigamente... aliás, aqui abro parênteses dentro dos parênteses - alguém lembra do mundial de 86, na Espanha, quando a FIBA tentou quatro grupos de seis e um regulamento tão estapafúrdio depois da primeira fase que voltou a realizar o mundial somente com 16 equipes pelas quatro edições seguintes?), há ainda a questão dos desfalques, que não param. Hoje, Andres Nocioni, da Argentina, foi vetado por seu time na NBA, o Philadelphia 76ers, de participar do torneio, por conta de uma lesão no tornozelo. Noci chorou na coletiva, deixou claro que, se dependesse dele, viria, mas como o contrato deixa claro que a decisão é do time, ficou de fora. Até o pobre Irã, adversário de estreia do Brasil, teve sua baixa por motivos médicos - o ala-armador Samad Bahrami, capitão e o mais bola do time, com passagem pelo basquete francês, foi cortado com uma contusão no pé.
Se é bom pra nós, mas não chega a tirar mais brilho do torneio, a própria FIBA tratou de fazer isso hoje ao punir severamente os envolvidos na pancadaria entre Sérvia e Grécia, na semana passada (ainda bem que não fui ao jogo, pois ficaria muito chateado, pra dizer o mínimo, de assistir à uma partida que foi interrompida a 2:14 do fim mas não teve fim - e quando a diferença no placar era de apenas um ponto). Nenad Krstic, pivô que tacou uma cadeira num adversário, pegou três jogos de gancho. Não chega a ser um desastre. Mas Milos Teodosic, o marrento craque do time e MVP da última Euroliga, pegou dois e será bem menos atraente ver a seleção sérvia jogar sem ele. Pelo lado grego, o não menos marrento (mas bem menos bola) Antonis Fotsis também foi suspenso por duas partidas, assim como o Baby Shaq Sofoklis Schortsanitis - esse sim fará falta aos atuais vice mundiais. Sorte de sérvios e gregos que seus primeiros jogos serão, respectivamente, contra Angola/Alemanha e China/Porto Rico.
O Brasil? Treinamos hoje, sem Leandrinho, poupado. E temos ainda mais sorte por jogarmos primeiro com Irã e Tunísia.
Como eu disse, que comecem os jogos.
Mas, cá entre nós, pra valer mesmo, só a partir das oitavas, no dia 4.
Nos primeiros dias na cidade, era muitíssimo mais fácil saber que o U2 tocará aqui no próximo dia seis - que marca o fim do Ramadã - do que haverá um mundial de basquete na cidade. Os turcos não são comos os gregos, fanáticos pelo esporte. A paixão aqui, como em quase todo lugar, é o futebol, com lojas oficiais de Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas por toda Istambul. Ontem, prefeitura e FIBA trataram de espalhar galhardetes pelos postes anunciando o campeonato. Não vi um único outdoor. Nem mesmo nos dois hotéis oficiais, onde está quase toda a imprensa mundial, é possível notar a marca do evento.
Independentemente disso tudo, sábado a bola sobe e aí serão doze jogos diários, em quatro sedes, três por grupo. Mas não se enganem - o mundial começa, pra valer, nas oitavas.
Assim como a Copa do Mundo (de futebol), o nosso mundial se enfraqueceu com a participação de 24 equipes. Claro, é muito bonito pensar que seleções como Angola, Tunísia e Irã participarão da festa. Mas o que fazem, por exemplo, Costa do Marfim, Jordânia e Líbano aqui? A FIBA dá quatro vagas à Ásia, três à África e duas à Oceania. Nenhum menosprezo ou preconcento embutidos, mas a realidade é a mesma da Copa da África do Sul - uma primeira fase com jogos sem brilho e, mais, sem tanta importância. O que é pior ainda no caso do Mundial da Turquia, com quatro grupos de seis e apenas dois eliminados na primeira fase. Qualquer garoto é capaz de cravar quem ficará pelo caminho (principalmente nos grupos A e B, o do Brasil).
Fora esse enfraquecimento técnico (imaginem um mundial com 16 equipes, como antigamente... aliás, aqui abro parênteses dentro dos parênteses - alguém lembra do mundial de 86, na Espanha, quando a FIBA tentou quatro grupos de seis e um regulamento tão estapafúrdio depois da primeira fase que voltou a realizar o mundial somente com 16 equipes pelas quatro edições seguintes?), há ainda a questão dos desfalques, que não param. Hoje, Andres Nocioni, da Argentina, foi vetado por seu time na NBA, o Philadelphia 76ers, de participar do torneio, por conta de uma lesão no tornozelo. Noci chorou na coletiva, deixou claro que, se dependesse dele, viria, mas como o contrato deixa claro que a decisão é do time, ficou de fora. Até o pobre Irã, adversário de estreia do Brasil, teve sua baixa por motivos médicos - o ala-armador Samad Bahrami, capitão e o mais bola do time, com passagem pelo basquete francês, foi cortado com uma contusão no pé.
Se é bom pra nós, mas não chega a tirar mais brilho do torneio, a própria FIBA tratou de fazer isso hoje ao punir severamente os envolvidos na pancadaria entre Sérvia e Grécia, na semana passada (ainda bem que não fui ao jogo, pois ficaria muito chateado, pra dizer o mínimo, de assistir à uma partida que foi interrompida a 2:14 do fim mas não teve fim - e quando a diferença no placar era de apenas um ponto). Nenad Krstic, pivô que tacou uma cadeira num adversário, pegou três jogos de gancho. Não chega a ser um desastre. Mas Milos Teodosic, o marrento craque do time e MVP da última Euroliga, pegou dois e será bem menos atraente ver a seleção sérvia jogar sem ele. Pelo lado grego, o não menos marrento (mas bem menos bola) Antonis Fotsis também foi suspenso por duas partidas, assim como o Baby Shaq Sofoklis Schortsanitis - esse sim fará falta aos atuais vice mundiais. Sorte de sérvios e gregos que seus primeiros jogos serão, respectivamente, contra Angola/Alemanha e China/Porto Rico.
O Brasil? Treinamos hoje, sem Leandrinho, poupado. E temos ainda mais sorte por jogarmos primeiro com Irã e Tunísia.
Como eu disse, que comecem os jogos.
Mas, cá entre nós, pra valer mesmo, só a partir das oitavas, no dia 4.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Sumiço e Férias
Alguém um dia disse que não há melhor maneira de se gastar dinheiro que viajando. Se a viagem inclui alteradores de consciência legais e um ou dois Air Jordans, melhor ainda.
Depois de uma semana em Amsterdam, um dos lugares mais civilizados do mundo - senão o mais - e duas semanas na Grécia - terra que amo mas tem um dos povos mais intragáveis do planeta -, cheguei ontem a Istambul, onde a partir de sábado acompanharei o Mundial de Basquete de uma maneira bem diferente das minhas experiências anteriores. Em 2004, em meio à cobertura das Olimpíadas de Atenas, precisava sair correndo para o ginásio e abrir mão de preciosas horas de sono para assistir aos jogos. Sem Brasil. Em 2007 e 2008, nos prés de Las Vegas e Atenas, em que o Brasil não se classificou para Pequim, pude respirar basquete integralmente, mas com diversas responsabilidades (como, por exemplo, lidar com engenheiros americanos que jamais entenderão como os engenheiros no Brasil não falavam inglês para resolver diretamente com eles os problemas técnicos, quando eles aconteciam). Agora, como free-lancer, minha única obrigação será gravar entrevistas após os jogos. Ou seja, praticamente uma extensão de minhas deliciosas férias, o que me dará tempo de atualizar o Tudo Bola diariamente.
Nada como duas semanas de basquete na veia.
Podia ser melhor, claro. Os americanos terão um time B, sem nenhuma das estrelas de Pequim. Praticamente todas as demais seleções chegarão desfalcadas de seus principais jogadores - Gasol, Ginóbili, Yao Ming, Nowitzki, Parker, Bogut, Papaloukas, só para citar os principais. O Brasil, até então imune à onda de contusões e com um técnico de ponta, ontem ficou sem Nenê.
Não sou médico, mas me parece estranho que uma contusão como esta tire um jogador como ele dos planos da comissão técnica. Recuperado de problemas nos tendões de Aquiles, Nenê agora sofreu um estiramento na panturrilha. Segundo o próprio médico da seleção, doutor Carlos Andreoli, seriam necessários de cinco a dez dias para a total recuperação. Assim, na pior das hipóteses, o pivô ficaria fora apenas dos três primeiros jogos, contra Irã, Tunísia e Estados Unidos. Duas babas e uma derrota certa. Mesmo que ainda levasse algum tempo para recuperar o ritmo, retornando, digamos, no fim da primeira fase, acredito que poderia ser peça importante para a hora do vamos ver, pois os jogos eliminatórios só começam em 4 de setembro (dependendo da nossa posição, talvez ainda mais, apenas no dia 7). Num grupo de doze jogadores, onde a rotação do técnico não deve passar de nove ou dez, valeria a pena arriscar e mantê-lo no grupo. Mas essa é apenas a minha opinião. Ruben Magnano tem uma medalha de ouro olímpica e certamente sabe o que está fazendo.
Depois de quatro derrotas seguidas em amistosos, hoje vencemos a Costa do Marfim, baba do grupo C. Oxalá não tenhamos mais nenhum problema médico.
Enquanto isso, os americanos afinam um time de garotos-prodígios, como Rose e Durant, exatamente como o Coach K gosta; os gregos, que são minha aposta para zebra, ficam quietinhos depois da pancadaria contra os sérvios e os espanhóis, atuais campeões, torcem para que o irmão Gasol menos famoso e talentoso esteja cem por cento para quando a bola subir.
E quando isso acontecer, certamente será um baita campeonato.
Se aqui na Turquia quase ninguém fala um bom inglês, na Grécia é bem diferente. E se o assunto é futebol, os gregos, que falam como se estivessem sempre dando um esporro em alguém, não se seguram. No caminho para o porto de Piraeus, rumo a Mykonos, troquei uma ideia com o taxista, um senhor apaixonado por bola e pelo Olympiakos, que passei a detestar depois da maneira como demitiu o Galinho.
Primeiro perguntei sobre Diogo, apresentado hoje por Ele na Gávea juntamente com Deivid. "Teve um bom primeiro ano aqui, mas no segundo, muitas contusões, jogou pouco".
E o Zico? O que houve?
"Ah, ele deu onze dias de folga aos jogadores entre o Natal e o Ano Novo... onde já se viu dar esse tempo todo de folga bem no meio da temporada? Por isso, terminamos em quinto no último campeonato nacional... Tínhamos ganho onze dos treze campeonatos anteriores!"
Aqui, o que vale é isso - ser melhor que o rival em casa. No caso, o Panathinaikos, justamente o campeão da temporada 2009-2010.
Por essas e outras - incluindo a demissão através de um oficial de justiça - o futebol grego jamais mereceu um cara como Zico.
Depois de uma semana em Amsterdam, um dos lugares mais civilizados do mundo - senão o mais - e duas semanas na Grécia - terra que amo mas tem um dos povos mais intragáveis do planeta -, cheguei ontem a Istambul, onde a partir de sábado acompanharei o Mundial de Basquete de uma maneira bem diferente das minhas experiências anteriores. Em 2004, em meio à cobertura das Olimpíadas de Atenas, precisava sair correndo para o ginásio e abrir mão de preciosas horas de sono para assistir aos jogos. Sem Brasil. Em 2007 e 2008, nos prés de Las Vegas e Atenas, em que o Brasil não se classificou para Pequim, pude respirar basquete integralmente, mas com diversas responsabilidades (como, por exemplo, lidar com engenheiros americanos que jamais entenderão como os engenheiros no Brasil não falavam inglês para resolver diretamente com eles os problemas técnicos, quando eles aconteciam). Agora, como free-lancer, minha única obrigação será gravar entrevistas após os jogos. Ou seja, praticamente uma extensão de minhas deliciosas férias, o que me dará tempo de atualizar o Tudo Bola diariamente.
Nada como duas semanas de basquete na veia.
Podia ser melhor, claro. Os americanos terão um time B, sem nenhuma das estrelas de Pequim. Praticamente todas as demais seleções chegarão desfalcadas de seus principais jogadores - Gasol, Ginóbili, Yao Ming, Nowitzki, Parker, Bogut, Papaloukas, só para citar os principais. O Brasil, até então imune à onda de contusões e com um técnico de ponta, ontem ficou sem Nenê.
Não sou médico, mas me parece estranho que uma contusão como esta tire um jogador como ele dos planos da comissão técnica. Recuperado de problemas nos tendões de Aquiles, Nenê agora sofreu um estiramento na panturrilha. Segundo o próprio médico da seleção, doutor Carlos Andreoli, seriam necessários de cinco a dez dias para a total recuperação. Assim, na pior das hipóteses, o pivô ficaria fora apenas dos três primeiros jogos, contra Irã, Tunísia e Estados Unidos. Duas babas e uma derrota certa. Mesmo que ainda levasse algum tempo para recuperar o ritmo, retornando, digamos, no fim da primeira fase, acredito que poderia ser peça importante para a hora do vamos ver, pois os jogos eliminatórios só começam em 4 de setembro (dependendo da nossa posição, talvez ainda mais, apenas no dia 7). Num grupo de doze jogadores, onde a rotação do técnico não deve passar de nove ou dez, valeria a pena arriscar e mantê-lo no grupo. Mas essa é apenas a minha opinião. Ruben Magnano tem uma medalha de ouro olímpica e certamente sabe o que está fazendo.
Depois de quatro derrotas seguidas em amistosos, hoje vencemos a Costa do Marfim, baba do grupo C. Oxalá não tenhamos mais nenhum problema médico.
Enquanto isso, os americanos afinam um time de garotos-prodígios, como Rose e Durant, exatamente como o Coach K gosta; os gregos, que são minha aposta para zebra, ficam quietinhos depois da pancadaria contra os sérvios e os espanhóis, atuais campeões, torcem para que o irmão Gasol menos famoso e talentoso esteja cem por cento para quando a bola subir.
E quando isso acontecer, certamente será um baita campeonato.
Se aqui na Turquia quase ninguém fala um bom inglês, na Grécia é bem diferente. E se o assunto é futebol, os gregos, que falam como se estivessem sempre dando um esporro em alguém, não se seguram. No caminho para o porto de Piraeus, rumo a Mykonos, troquei uma ideia com o taxista, um senhor apaixonado por bola e pelo Olympiakos, que passei a detestar depois da maneira como demitiu o Galinho.
Primeiro perguntei sobre Diogo, apresentado hoje por Ele na Gávea juntamente com Deivid. "Teve um bom primeiro ano aqui, mas no segundo, muitas contusões, jogou pouco".
E o Zico? O que houve?
"Ah, ele deu onze dias de folga aos jogadores entre o Natal e o Ano Novo... onde já se viu dar esse tempo todo de folga bem no meio da temporada? Por isso, terminamos em quinto no último campeonato nacional... Tínhamos ganho onze dos treze campeonatos anteriores!"
Aqui, o que vale é isso - ser melhor que o rival em casa. No caso, o Panathinaikos, justamente o campeão da temporada 2009-2010.
Por essas e outras - incluindo a demissão através de um oficial de justiça - o futebol grego jamais mereceu um cara como Zico.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
O Grande A(r)mador.
Foram dias de coisas de ponta à cabeça.
Na quinta, internação surpresa por conta de um cálculo renal.
Na sexta, ainda antes da endoscopia, tv e web do celular buscavam a notícia. Fui para a sala de cirurgia imaginando como seria a seleção brasileira de Muricy (ok, não pensava nisso). Acordei da anestesia seis horas depois com Mano no comando. Claro, ele e o presidente do Corinthians não recusariam.
Coitado do Muricy. Pagou pela incompetência alheia e pelo complicado jogo de poder que rege o futebol. O presidente da CBF poderia ter feito o convite há dias, antes mesmo de o técnico se comprometer verbalmente com o Fluminense. Em vez disso, o fez sem falar antes com o clube - claro, afinal de contas, o presidente não poderia se rebaixar ao ponto de pedir permissão a um desafeto político - o clube votou contra a chapa de Kléber Leite, homem da CBF, na eleição para o clube dos 13. O presidente do Fluminense, por sua vez - ou como sempre - agiu da forma menos recomendada. Valeu-se de um acordo e do respeito que Muricy tem por sua palavra para, de uma vez só, sacanear a CBF, manter seu treinador e, por tabela, sacanear também Muciry.
"É triste porque é uma oportunidade única, mas procurei ser correto. Eu não disse não, dependia do Fluminense."
Mano - que não tem nada a ver com isso e talvez também não devesse ter com a seleção, ainda - se saiu muito bem no primeiro dia no novo trabalho. Além de termos o retorno das entrevistas coletivas como devem ser, tivemos também uma primeira lista repleta de bons nomes. Um possível time titular poderia ter Victor, Dani Alves, David Luiz, Thiago Silva e Marcelo; Lucas, Hernanes, Ramires e Ganso; Neymar e Pato. Só de ler, dá vontade de ver em campo. Além destes todos, ainda há acertos garantidos como Rafael, Sandro e André. Mano foi inteligente e mostra planejamento. Não apenas chamou sete com idade olímpica mas, entre eles, um que nem mesmo vem jogando no Corinthians, que é Jucilei. Poupou outros, como Júlio César, ainda de férias, e Maicon, que resolve sua transferência com a Inter. No futuro, quem sabe, jogadores como Kléber, Keirrison e mesmo Kaká possam se juntar à essa base.
Não haveria um único Felipe Melo, Josué ou Júlio Baptista neste time.
Não sei se Muricy, na convocação, pelo menos, teria feito melhor.
Na quinta, internação surpresa por conta de um cálculo renal.
Na sexta, ainda antes da endoscopia, tv e web do celular buscavam a notícia. Fui para a sala de cirurgia imaginando como seria a seleção brasileira de Muricy (ok, não pensava nisso). Acordei da anestesia seis horas depois com Mano no comando. Claro, ele e o presidente do Corinthians não recusariam.
Coitado do Muricy. Pagou pela incompetência alheia e pelo complicado jogo de poder que rege o futebol. O presidente da CBF poderia ter feito o convite há dias, antes mesmo de o técnico se comprometer verbalmente com o Fluminense. Em vez disso, o fez sem falar antes com o clube - claro, afinal de contas, o presidente não poderia se rebaixar ao ponto de pedir permissão a um desafeto político - o clube votou contra a chapa de Kléber Leite, homem da CBF, na eleição para o clube dos 13. O presidente do Fluminense, por sua vez - ou como sempre - agiu da forma menos recomendada. Valeu-se de um acordo e do respeito que Muricy tem por sua palavra para, de uma vez só, sacanear a CBF, manter seu treinador e, por tabela, sacanear também Muciry.
"É triste porque é uma oportunidade única, mas procurei ser correto. Eu não disse não, dependia do Fluminense."
Mano - que não tem nada a ver com isso e talvez também não devesse ter com a seleção, ainda - se saiu muito bem no primeiro dia no novo trabalho. Além de termos o retorno das entrevistas coletivas como devem ser, tivemos também uma primeira lista repleta de bons nomes. Um possível time titular poderia ter Victor, Dani Alves, David Luiz, Thiago Silva e Marcelo; Lucas, Hernanes, Ramires e Ganso; Neymar e Pato. Só de ler, dá vontade de ver em campo. Além destes todos, ainda há acertos garantidos como Rafael, Sandro e André. Mano foi inteligente e mostra planejamento. Não apenas chamou sete com idade olímpica mas, entre eles, um que nem mesmo vem jogando no Corinthians, que é Jucilei. Poupou outros, como Júlio César, ainda de férias, e Maicon, que resolve sua transferência com a Inter. No futuro, quem sabe, jogadores como Kléber, Keirrison e mesmo Kaká possam se juntar à essa base.
Não haveria um único Felipe Melo, Josué ou Júlio Baptista neste time.
Não sei se Muricy, na convocação, pelo menos, teria feito melhor.
terça-feira, 20 de julho de 2010
O Importante É Vencer (Será?)
Relendo alguns posts recentes e outros nem tanto, percebi que há um tema aqui nesse espaço tão recorrente quanto o tempo.
A importância da vitória.
Justificativa-mor para algumas das decisões mais equivocadas da história do esporte, a busca pela vitória a qualquer preço também forjou campeões inigualáveis. A obsessão por ser o primeiro une nomes como Jordan, Schumacher, Valentino, Bolt, Phelps, Bernardinho, só para citar os mais dependentes desta condição.
Acabamos de assistir à uma Copa em que a seleção brasileira abandonou suas principais características em função do resultado. Onde a Espanha, que se manteve fiel a seus princípios, provou que aprendeu a vencer sem se violentar. Coisa que a Holanda não entendeu muito bem e, por isso, não só ficou em segundo como terminou deixando péssima impressão - pois achou que, para vencer a final, valia tudo, até mesmo bater muito.
Qual será o ponto de equilíbrio? Se o esporte é a grande metáfora da vida, vale a pena abrir mão das próprias convicções para atingir um objetivo? A jornada não deveria ser tão importante quanto o resultado em si? Ou alguém pensa que uruguaios e holandeses, nesse momento, não se sentem orgulhosos? Mas e os alemães, teriam agora o mesmo sentimento, depois de chegar tão perto em duas Copas seguidas mas... não vencê-las?
Afinal, qual a importância da vitória?
Nesses dias pós-Copa, além do retorno do campeonato brasileiro, temos a definição de como serão as próximas temporadas do futebol europeu e da NBA. Na América e no velho continente, times fazem contas, contatos e mais contas para tentar formar as equipes mais capacitadas para conquistar vitórias e títulos. E nesses gloriosos tempos modernos em que o atleta é dono do próprio nariz, fica muito mais fácil decidir qual prioridade para a carreira. Vitória? Dinheiro? Fama?
Qual terá sido a principal motivação para David Villa ter trocado o Valência pelo Barcelona, por exemplo? Claro que ele ganhará mais fortuna e visibilidade no clube catalão. Mas sabem quando foi a última vez que o Valência conquistou um título? Há seis anos.
E Ibrahimovic, que depois de seguidos scudettos na Itália, viu a Inter ganhar tudo - e por "tudo", leia-se Champions - justamente depois dele sair do clube? Será que o sueco pensa agora em mais dinheiro ou faixa no peito? Mesmo com a chegada de Villa, declarou, na semana passada, que gostaria de permanecer no Barça. Me parece clara sua opção.
No mundo da bola, em que os campeonatos são variados e a chance de sucesso maior, há bolo para todos. Mas na NBA, de apenas um campeão por temporada - e outros 29 times frustrados - a aposta precisa ser certa. Depois de muito suspense, LeBron James e Chris Bosh, duas estrelas da seleção americana campeã olímpica, decidiram não renovar com seus clubes e se juntar a Dwyane Wade no Miami Heat. LeBron e Bosh jamais foram campeões de coisa alguma, tirando o ouro em Pequim, ao lado de Wade. Trocaram salários maiores que poderiam receber nos Cavs e Raptors, respectivamente, pela chance de conquistar o sonhado título, que Wade já tem. Iniciaram, com sua decisão, uma avalanche de outros jogadores que cavam um lugar no time da Flórida, mesmo que ganhando o salário mínimo da liga, em busca do anel de campeão. Em menos de duas semanas, a equipe praticamente foi remontada. Mas não sem a desaprovação de alguns.
"Eu jamais teria chamado Larry Bird e Magic Johnson e dito, ei, vamos nos juntar e jogar no mesmo time. Não posso dizer que é ruim, é uma oportunidade que esses garotos têm hoje. Mas, para ser honesto, eu estava tentando superar aqueles caras."
Nem preciso dizer o autor da frase acima. Mas lembro que, quando LeBron anunciou sua decisão naquele patético programa ao vivo na ESPN americana, pensei: "uau, Jordan jamais teria feito isso". E não me refiro só ao programa.
Agora, mesmo que LeBron ganhe seis títulos da NBA - como MJ - ele sempre terá um a menos que Wade, com quem sempre será comparado, pois se tornaram profissionais no mesmo ano. Mais que isso - todos lembrarão que LeBron precisou da ajuda de outros dois craques para chegar à terra prometida.
Vale tudo pela vitória?
* * *
É necessária uma distinção entre os exemplos que dei.
LeBron, Wade, Villa, Ibra, nenhum desses caras, mesmo querendo vencer sempre, jamais deixou claro ter como motivação o desejo de se tornar o maior de todos os tempos.
Coisa que Jordan, Schumi, Valentino, Bolt, Phelps e Bernardinho sempre demonstraram ao longo de suas carreiras - e acabaram conseguindo.
Algo que Ronaldinho Gaúcho, no auge, não quis. Contentou-se com as vitórias - todas as possíveis, é verdade - que já tinha alcançado.
* * *
É o que falta, também, a atletas como Valtinho. Ontem, o armador, que acaba de trocar o Brasília por Uberlândia, onde teve a melhor fase de sua carreira, mais uma vez abandonou a seleção brasileira. Na verdade, nem mesmo chegou a ser apresentar ao grupo, no Rio. Mas "abandonar", no caso, é o verbo mais preciso.
Não é a primeira, nem a segunda vez que Valtinho, um puta cara e baita jogador, demonstra total desapego ao orgulho que deveria ser vestir a camisa da seleção brasileira.
Mas, certamente, foi a última.
A importância da vitória.
Justificativa-mor para algumas das decisões mais equivocadas da história do esporte, a busca pela vitória a qualquer preço também forjou campeões inigualáveis. A obsessão por ser o primeiro une nomes como Jordan, Schumacher, Valentino, Bolt, Phelps, Bernardinho, só para citar os mais dependentes desta condição.
Acabamos de assistir à uma Copa em que a seleção brasileira abandonou suas principais características em função do resultado. Onde a Espanha, que se manteve fiel a seus princípios, provou que aprendeu a vencer sem se violentar. Coisa que a Holanda não entendeu muito bem e, por isso, não só ficou em segundo como terminou deixando péssima impressão - pois achou que, para vencer a final, valia tudo, até mesmo bater muito.
Qual será o ponto de equilíbrio? Se o esporte é a grande metáfora da vida, vale a pena abrir mão das próprias convicções para atingir um objetivo? A jornada não deveria ser tão importante quanto o resultado em si? Ou alguém pensa que uruguaios e holandeses, nesse momento, não se sentem orgulhosos? Mas e os alemães, teriam agora o mesmo sentimento, depois de chegar tão perto em duas Copas seguidas mas... não vencê-las?
Afinal, qual a importância da vitória?
Nesses dias pós-Copa, além do retorno do campeonato brasileiro, temos a definição de como serão as próximas temporadas do futebol europeu e da NBA. Na América e no velho continente, times fazem contas, contatos e mais contas para tentar formar as equipes mais capacitadas para conquistar vitórias e títulos. E nesses gloriosos tempos modernos em que o atleta é dono do próprio nariz, fica muito mais fácil decidir qual prioridade para a carreira. Vitória? Dinheiro? Fama?
Qual terá sido a principal motivação para David Villa ter trocado o Valência pelo Barcelona, por exemplo? Claro que ele ganhará mais fortuna e visibilidade no clube catalão. Mas sabem quando foi a última vez que o Valência conquistou um título? Há seis anos.
E Ibrahimovic, que depois de seguidos scudettos na Itália, viu a Inter ganhar tudo - e por "tudo", leia-se Champions - justamente depois dele sair do clube? Será que o sueco pensa agora em mais dinheiro ou faixa no peito? Mesmo com a chegada de Villa, declarou, na semana passada, que gostaria de permanecer no Barça. Me parece clara sua opção.
No mundo da bola, em que os campeonatos são variados e a chance de sucesso maior, há bolo para todos. Mas na NBA, de apenas um campeão por temporada - e outros 29 times frustrados - a aposta precisa ser certa. Depois de muito suspense, LeBron James e Chris Bosh, duas estrelas da seleção americana campeã olímpica, decidiram não renovar com seus clubes e se juntar a Dwyane Wade no Miami Heat. LeBron e Bosh jamais foram campeões de coisa alguma, tirando o ouro em Pequim, ao lado de Wade. Trocaram salários maiores que poderiam receber nos Cavs e Raptors, respectivamente, pela chance de conquistar o sonhado título, que Wade já tem. Iniciaram, com sua decisão, uma avalanche de outros jogadores que cavam um lugar no time da Flórida, mesmo que ganhando o salário mínimo da liga, em busca do anel de campeão. Em menos de duas semanas, a equipe praticamente foi remontada. Mas não sem a desaprovação de alguns.
"Eu jamais teria chamado Larry Bird e Magic Johnson e dito, ei, vamos nos juntar e jogar no mesmo time. Não posso dizer que é ruim, é uma oportunidade que esses garotos têm hoje. Mas, para ser honesto, eu estava tentando superar aqueles caras."
Nem preciso dizer o autor da frase acima. Mas lembro que, quando LeBron anunciou sua decisão naquele patético programa ao vivo na ESPN americana, pensei: "uau, Jordan jamais teria feito isso". E não me refiro só ao programa.
Agora, mesmo que LeBron ganhe seis títulos da NBA - como MJ - ele sempre terá um a menos que Wade, com quem sempre será comparado, pois se tornaram profissionais no mesmo ano. Mais que isso - todos lembrarão que LeBron precisou da ajuda de outros dois craques para chegar à terra prometida.
Vale tudo pela vitória?
* * *
É necessária uma distinção entre os exemplos que dei.
LeBron, Wade, Villa, Ibra, nenhum desses caras, mesmo querendo vencer sempre, jamais deixou claro ter como motivação o desejo de se tornar o maior de todos os tempos.
Coisa que Jordan, Schumi, Valentino, Bolt, Phelps e Bernardinho sempre demonstraram ao longo de suas carreiras - e acabaram conseguindo.
Algo que Ronaldinho Gaúcho, no auge, não quis. Contentou-se com as vitórias - todas as possíveis, é verdade - que já tinha alcançado.
* * *
É o que falta, também, a atletas como Valtinho. Ontem, o armador, que acaba de trocar o Brasília por Uberlândia, onde teve a melhor fase de sua carreira, mais uma vez abandonou a seleção brasileira. Na verdade, nem mesmo chegou a ser apresentar ao grupo, no Rio. Mas "abandonar", no caso, é o verbo mais preciso.
Não é a primeira, nem a segunda vez que Valtinho, um puta cara e baita jogador, demonstra total desapego ao orgulho que deveria ser vestir a camisa da seleção brasileira.
Mas, certamente, foi a última.
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