sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Fim-de-semana no parque.

Nos dois últimos anos eu trabalhei TODOS os domingos. Isso dá 108 dias em que eu, ao contrário das pessoas normais, não tive o dia mais sagrado da semana à minha disposição.

Os finais de semana agora se apresentam a mim como um cardápio variado de jogos e mais jogos a que posso escolher assistir de acordo com minha vontade. O que significa, por vezes, estar em casa com as duas tvs e um computador ligados em esporte.

Hoje, portanto, é dia de montar minha "grade de programação". Que inclui, claro, Maracanã amanhã. Logo mais, vejo o que me reservam os canais de esporte dos campeonatos inglês e italiano. Quem sabe o espanhol, se tiver Messi na tv. Fórmula 1? Passo, obrigado. Quero bola.

E ela quica hoje, às 22h, na ESPN internacional, com Celtics e Bulls. A primeira chance de ver Derrick Rose com a camisa do meu time. Eu não vou me alongar agora, porque sei que, depois do jogo, não resistirei a escrever sobre o moleque que tanto me impressionou jogando pela universidade de Memphis. Só digo que vale à pena prestar atenção ao número um vestido de vermelho hoje à noite.

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O jogo-chave do fim-de-semana? São Paulo x Inter. E olho na arbitragem. Aliás, depois dos apagões em Salvador e Florianópolis, olho em tudo, minha gente.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Embolada

Embolada é como chamam, no norte e nordeste do país, os desafios entre repentistas. Um manda a rima de um lado, o outro responde ironizando o adversário, usando e abusando de ofensas e palavrões, mas sem nunca perder o respeito por ele.

Essa reta final de campeonato brasileiro, mais que nunca, virou uma grande embolada. Rodada à rodada, não basta fazer o seu - é preciso ficar atento ao que os adversários estão fazendo... Com os resultados desta quarta, a corrida pelo título ficou assim:

Grêmio 59
São Paulo 59
Cruzeiro 58
Palmeiras 58
Flamengo 56

Na embolada de ontem, o Palmeiras foi o primeiro a mandar a rima. Suou para vencer o Goiás, em casa, com um golzinho de pênalti, pênalti daqueles que a maioria dos juízes não dá.

Uma hora mais tarde, era a vez dos outros quatro pretendentes darem suas respostas.

Ninguém foi mais rápido que o Cruzeiro, que abriu o placar no Mineirão, diante do Grêmio, com quinze segundos de jogo. Fez mais dois e bateu na mesa - "queremos o título". O ainda líder Grêmio ficou sem resposta.

No Engenhão, o São Paulo, invicto há doze jogos, rebateu com autoridade todos os versos do Botafogo. Que, como um todo, mais uma vez perdeu o controle ao ver o gol de Lucas Silva mal anulado pelo péssimo árbitro Sérgio Carvalho. Bebeto, mais uma vez, não se portou como presidente de clube de futebol. E o alvi-negro, agora sim, ficou definitivamente para trás. O tricolor, por sua vez, mostrou que é o time a ser batido, até e muito por conta dos jogos que terá pela frente.

Quem ficou sem rima, logo jogando no Nordeste, onde tem muita embolada boa, foi o Flamengo. Jogou mal, perdeu gols incríveis, poderia ter ganho ou perdido e acabou empatando, em mais uma desastrosa noite do técnico Caio Júnior, que escalou mal o time (com Ibson recuado e torto pela esquerda e Kléberson fazendo a função que deveria ser deste), e mexeu pior ainda no segundo tempo. O Homem Flúido ainda tem muito o que aprender.

Ainda assim, mesmo o Flamengo segue na briga nessa embolada, visto que a diferença do quinto colocado para o líder caiu de quatro para três pontos.

No fim-de-semana, Fla e Grêmio têm jogos fáceis, em casa, contra Lusa e Figueirense. Os outros, não - O Cruzeiro enfrenta o Goiás fora, o Palmeiras, também fora, faz clássico contra o Santos e o São Paulo recebe o imprevisível Internacional.

Com um detalhe - é o Flamengo o único a mandar seus versos no sábado, podendo chegar antes aos 59 pontos (e até mesmo à breve liderança, pois pode ultrapassar o Grêmio). E, na embolada, quem manda a rima primeiro sempre leva uma certa vantagem, pois joga a pressão pra cima do oponente.

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Pesquisas realizadas pelos jornais Clarín e La Nación mostram que mais de 70% dos torcedores argentinos desaprovam Maradona no comando da seleção.

Como eu disse, tem tudo pra ser muito divertido isso...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Era do 10 (e um feliz ano novo)

Depois da saída dos campos pela porta dos fundos - flagrado em dois exames antidoping, em 91 e 94 - Maradona foi técnico, apresentador de programa de tv, comentarista de tv e jogador de showbol. Foi preso por consumo de cocaína, ficou internado em Cuba, chegou a ter a vida em risco por conta dos problemas decorrentes do vício e do excesso de peso.

Maradona foi o maior que vi jogar, ao lado de Zico.

Agora don Diego é o novo técnico da seleção argentina.

Seria uma vingança movida a pragas tupiniquins, por conta da cruz chamada Dunga que temos carregado?

Como será o técnico Maradona? Disciplinador ou paizão? Ofensivo ou retranqueiro? Como vai lidar com Agüero, seu genro? E com Messi, seu craque? E com Tévez?

Serão tempos divertidos esses que se aproximam no futebol argentino.

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Hoje é dia de Cruzeiro, Flamengo e São Paulo baterem o pau na mesa - ou vencem ou mostram que não estão na briga pelo título da mesma forma que o Grêmio, que nos momentos de pressão até aqui, na maioria das vezes, venceu.

Para o Palmeiras, então, nem se fala - jogando em casa e depois do tropeço no Rio, tem a obrigação de vencer não somente para continuar na briga como também para aplacar a ira de sua torcida.

A noite promete.

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E ainda tem outra atração - Spurs x Suns, na primeira transmissão da temporada 2008/2009 da NBA na tv brasileira (22h30, ESPN Brasil); ontem o Chicago estreou com vitória sobre o Milwaukee e Derrick Rose, em seu debut profissional, anotou 11 pontos e nove assistências.

Feliz ano novo a todos, 2008 finalmente começou.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ó, pá!

Hoje o Mourinho foi notícia por aqui (Adriano também, mas notícia repetida). Barrou o brasileiro e o Júlio Cruz. O português é dos mais apreciados técnicos do mundo, elogiado pela capacidade tática e inventividade, criticado pela postura arrogante e disciplinatória e indicado por Sir Ferguson como seu possível sucessor no comando dos Red Devils.

Por conta disso tudo, costumam respeitar - ou pelo menos prestar muita atenção - no que o senhor José Mourinho diz. Vale então lembrar o que ele falou no Mineirão, há alguns meses, no Tá na Área, quando foi assistir à Brasil x Argentina:

"Na Europa, com a diferença de fuso horário, não é fácil assistir aos jogos ao vivo. Mas eventualmente, se é um jogo importante, de Libertadores ou um bom jogo do campeonato brasileiro, faço uma noite de insônia para poder acompanhar, porque o talento nunca acaba. Eu costumo dizer que, no Brasil, dá-se um ponta-pé numa pedra e aparece um jogador embaixo. Todos os anos aparecem jogadores novos que nós não conhecemos. E, um ano ou dois depois, ele está na seleção, e um ano ou dois depois, está numa grande equipe européia."

Afinal, o futebol que tem sido praticado por aqui é bom ou não?

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Pensamento do dia - alguém ainda acha que o Robinho fez má escolha ao ir para o City em vez de ficar no Real de Schuster?

Ontem o moleque, que já tem seis na vice-artilharia da Premier League, um atrás de um egípcio do Wigan, disse que pretende alcançar a marca dos 30 gols na temporada.

Quando um jogador consegue marcar vinte numa temporada lá, pode bater no peito e gritar aquela frase que tantos atacantes usam ao estufar a rede.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

On any given sunday.

A gente tem umas manias estranhas que, de vez em quando, aparecem pra ficar de vez, infelizmente. E pior, a gente nem sabe exatamente de onde elas vieram.

Nessa reta final de campeonato brasileiro, uma das piores dos últimos tempos ocupa novamente páginas de jornais e minutos de televisão - as "previsões" (sic) dos matemáticos (e não vou chamar de matemáticos de plantão porque isso seria uma tremenda indelicadeza minha, visto que são profissionais competentíssimos).

O problema é que a matemática - essa matemática - e o futebol têm pouquíssimo em comum.

Cálculos matemáticos são muito bons pra dizer que o sujeito tem uma chance em 50 milhões de acertar a mega-sena com uma aposta mínima (e toda hora alguém acerta). Que o Chicago tinha 1,7% de chance de ficar com a primeira escolha no último draft da NBA (e ficou).

Não para dizer que o Grêmio tem 43% de chance de ser campeão, enquanto Cruzeiro tem 17%, São Paulo, Flamengo e Palmeiras, 13%.

Por quê? Porque esses números não valem absolutamente nada, mudam de um extremo ao outro em coisa de duas rodadas. Por si só, uma análise do que foi publicado até agora mostra que as tais previsões, como chamam os jornais, são nada mais que cálculos matemáticos em cima das combinações de resultados possíveis. Como quem calcula qual a chance de se acertar a mega-sena com um cartão de seis dezenas.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u10267.shtml

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Ainda sobre as tais previsões matemáticas, quais variáveis a matemática poderia aprender para apontar um resultado mais provável em qualquer um desses jogos de quarta?

Cruzeiro x Grêmio. Botafogo x São Paulo. Vitória x Flamengo.

Pra mim, qualquer resultado é tão possível quanto qualquer outro nessas partidas.

Afinal, a matemática não leva em conta que o Cruzeiro venceu apenas um dos seis confrontos diretos que fez até aqui contra os outros pretendentes. Muito menos leva em conta a tradição do Botafogo sempre ter uma motivação extra contra o São Paulo, por conta do passado. Nem que o Flamengo deve ter tanta torcida quanto o Vitória no Barradão.

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A nota do dia:

"O Sport Club Corinthians Paulista agradece ao Clube de Regatas do Flamengo pela manifestação de carinho por nosso retorno à Série A.

Também desejamos toda sorte e sucesso ao co-irmão carioca na reta final do Campeonato Brasileiro de 2008. Estamos na torcida pelo título rubro-negro!"

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Flanonsense

"Com show de Obina, Fla goleia o Coritiba no Maracanã" - O Globo

Era noite de dever de casa para três dos cinco pretendentes ao título.

O Grêmio fez o seu, marcando um golzinho logo no início do jogo contra o Sport, time-turista desse campeonato. E lamba.

O São Paulo teve dififuldades e começou perdendo para o Vitória. Virou e cumpriu sua parte.

E o Flamengo goleou o Coritiba - tarefa muito mais complicada do que vencer pernambucanos e baianos - jogando bem. Vá entender.

Dos cinco que lutam pela taça, o rubro-negro é, disparado, o que tem jogado pior. E também o que mais tem vencido, seguindo assim na cola dos líderes - foram seis triunfos nos últimos sete jogos. Tivesse vencido o Atlético Mineiro também, estaria a um pontinho da liderança. Mesmo não tendo, possui a melhor campanha do segundo turno. E tem o melhor ataque entre os cinco, ao lado do São Paulo. E, ainda assim, eu te desafio a dizer quem é o artilheiro do time no campeonato.

Mas o nonsense rubro-negro nem está nesses fatos e números. Está nesses:

14 minutos - Obina cabeceia na trave uma bola cruzada por Luizinho.
19 minutos - Obina sai atrás do zagueiro, chega na frente e sofre pênalti.
35 minutos - Obina recebe de Kléberson, ajeita com a esquerda e, antes da bola cair, chuta com a direita no cantinho.
29 do segundo tempo - Obina faz jogada de craque, dribla o zagueiro duas vezes - o deixa no chão na segunda - e chuta rente ao gol.
34 do segundo tempo - Obina rouba a bola, passa por dois zagueiros na velocidade e cruza para Maxi marcar.

Como se não bastasse isso tudo - e ainda a impressão de que Obina está magro e em forma - o Jaílton jogou muito na posição do Fábio Luciano, como líbero de fato.

Vá entender o Flamengo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Muricy.

Mal-humorado, ranzinza, implicante para alguns. Para outros, marrento mesmo. Para mim, um dos poucos, poquíssimos, que fogem à mesmice do futebol. Além de um puta técnico. Ou seja, não tem como eu não simpatizar com o Muricy.

Pois eis que essa semana, num programa desses de tv, o treinador com mais tempo de cargo no futebol brasileiro disparou: "Eu não vejo diferença nenhuma entre os jogos do Campeonato Italiano e do Campeonato Brasileiro." Se referia, basicamente, à qualidade do jogo, sem entrar nos méritos econômico, tático ou do talento dos jogadores.

Eu, que acompanho o futebol há mais de vinte e cinco anos, de perto há quinze, nunca assisti a tantas partidas quanto no último mês. Campeonato italiano, brasileiro, inglês, espanhol - até alemão e holandês - além da Champions League, filé dos filés da bola, a tudo eu assisti. E olha, o Muricy está com a razão.

Meus amigos, o que é ver a Juventus jogar... ou o Roma... ou o Milan... No Calcio, em geral, só assisti a jogos chatíssimos. Destoam a Inter, pela qualidade superior do elenco e pelo Mourinho, e o Napoli, surpresa até aqui. E só. O resto é de doer.

Na Inglaterra, onde o futebol hoje é o mais dinâmico no mundo da bola, dá gosto realmente ver o Manchester jogar. Sir Alex Fergusson troca as peças - muitas e boas - mas os diabos jogam sempre da mesma forma, pra frente, pelos flancos, valorizando o toque de primeira e aproveitando a velocidade de seus atacantes. O Liverpool tenta jogar parecido, mas não consegue. O Arsenal é jovem demais. O Chelsea, de Felipão, também dá sono, mesmo com tantos bons jogadores.

Na Espanha, o time que mais evoluiu nos últimos anos é dos mais chatos de se ver que há - o Villareal. O Real Madrid, dirigido por um alemão que foi craque mas não deixa de ser alemão, virou um time mecânico em que talentos como Gago e Higuaín não brilham e Robben fica no banco... E o Barça, esse sim, também dá gosto de ver. Não tem o ímpeto ou o estilo do Manchester, mas tem Messi.

Enquanto isso, por aqui, a imensa maioria critica horrores o Campeonato Brasileiro, "medíocre e nivelado por baixo". Associa de imediato a falta de dinheiro à falta de qualidade, pensamento raso e fácil. Esquece da essência do futebol - que não faz distinção entre um jogo de garotos de quinze anos e outro de profissionais de alto nível - pois o primeiro pode, perfeitamente, ser mais emocionante que o segundo.

Afinal, a emoção, no esporte, nunca dependeu só de talento.

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Exemplo prático disso? O basquete americano. Os melhores do mundo estão na NBA. Mas é muito mais fácil assistir-se a um emcionante (e melhor) jogo na NCAA, o campeonato universitário.

Nem vou entrar no mérito tático, que exemplifica que o basquete dos garotos é mais bem jogado que o dos milionários - o primeiro se aproxima mais do europeu, com movimentação e troca de muitos passes, enquanto o segundo se baseia no individualismo e na criação de astros.

Eu me refiro simplesmente à emoção. Que pode ser muito maior num jogo entre Grêmio e Náutico, pela segunda divisão do nosso campeonato, do que num Juventus x Real Madrid, pela Champions League. Como o Muricy bem sabe.

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Nessa semana uma notinha de jornal me chamou atenção, muita. Foi no O Globo de segunda, em que o editor de esportes do jornal, Antonio Nascimento, denunciava a agressão de Falcão a um jogador espanhol na final do mundial de futsal. "Uma cena covarde", palavras de Antonio. E foi mesmo. Por isso causou revolta nos adversários. E por conta da notinha, Falcão admitiria, na mesma noite de segunda, o que havia negado após o jogo e também na segunda pela manhã.

Foi inevitável lembrar-me da confusão na final do pólo aquático masculino do campeonato sul-americano que cobri em Mar Del Plata, em 99. Uma semana antes, em off, Coaracy Nunes, presidente da CBDA, nos havia dito que "os rapazes do pólo eram sua única preocupação". Na decisão contra os donos da casa, um dos bad boys do nosso time - que só tinha tipos assim, necessitando muito auto-afirmar a própria masculinidade - acertou um soco na nunca de um adversário. A porrada estancou na piscina, depois à beira da piscina, depois nas arquibancadas. Uma cagada.

Eu, acompanhado de uma repórter e um câmera que presenciaram a mesma cena, decido bancar a história como ela foi e ignoro o papinho de vítima dos nossos jogadores depois do jogo. Só que não havia a imagem do soco - assim como não havia foto ou imagem do soco do Falcão. Só o compromisso dos três com a verdade. Soa piegas, mas não é.

Por conta disso, meio time do Brasil quis tirar satisfações comigo no hotel. Chegaram a tentar intimidar (conseguiram) nosso produtor, um brasileiro residente na Argentina, que eles achavam ter a fita com alguma imagem comprometedora. Naquele mesmo saguão de hotel, os valentões se gabavam de seus socos aos berros.

Botamos nossa história no ar através de um audio-tape recheado de imagens de pancadaria generalizada na piscina. Mas sem a imagem do primeiro soco, que foi nosso.

Uma semana depois, de volta à tv, fui informado das várias pessoas ligadas ao pólo aquático que ligaram e até foram ao canal reclamar da nossa cobertura no caso.

Eu tinha pouco tempo de profissão e fui mandado pra Argentina na chefia da equipe. Não podia aceitar nada menos do que eu fiz - meu trabalho de jornalista. Como o Antonio bem sabe.