domingo, 11 de setembro de 2011

Amargos Dezesseis.

Estava no meio de um workshop da agência de notícias Reuters, num hotel em Copacabana, quando recebi a notícia de que um avião havia se chocado contra uma das torres do World Trade Center.

Todo mundo lembra onde estava e o qua fazia quando soube dos atentados do onze de setembro de 2001.

Dois anos antes, num 22 de julho, me encontrava na redação semi-vazia do Sportv quando assisti pela tv ao inesperado fracasso na tentativa de uma vaga para as Olimpíadas de Sydney, naquele pré-olímpico realizado em Porto Rico. Após duas vitórias e duas derrotas na primeira fase, fomos batidos por Canadá, Estados Unidos e Argentina nas quartas, deixando de participar pela primeira vez de uma edição dos jogos olímpicos.

Quatro anos mais tarde, naquele 28 de agosto de 2003, a redação estava ainda mais vazia e eu, perplexo, não encontrava palavras para escrever o texto da derrota diante do México que encerrava de forma pífia nossa participação no pré-olímpico, novamente em Porto Rico, dessa vez num vergonhoso sétimo lugar, depois de quatro derrotas seguidas na fase de quartas-de-final, para Argentina (2 pontos), Canadá (4), Porto Rico (2) e o tal México. Estávamos fora novamente.

No dia primeiro de setembro de 2007, estava à beira da quadra do ginásio da UNLV, em Las Vegas, quando perdemos para a Argentina por 91 a 80, da forma mais doída possível.

Onze meses depois, no 18 de julho de 2008, assisti da tribuna de imprensa do ginásio olímpico de Atenas ao fim do sonho do retorno, por conta da derrota por 78 a 65 para a Alemanha, que nos deixava de fora dos Jogos de Pequim.

Dá pra imaginar como foi minha noite ontem.

O choro ao fim foi um misto de raiva, alívio, orgulho e emoção de quem viu caras como Marcelo, Guilherme, Alex, Tiago, Huertas tentarem e tentarem e tentarem, sem sucesso. Nenê, Leandrinho, Ânderson, Valtinho, Murilo, Marquinhos, Rafael - foram tantos os nomes e as histórias ao longo desses dezesseis anos.

Dezesseis anos acompanhando carreiras iniciarem e acabarem sem a realização do sonho olímpico. Década e meia de piadinhas sem graça, provocações jocosas, crises, campeonatos inacabados, times e técnicos e presidentes que vieram e foram, além de títulos e mais títulos no vôlei, pra tornar tudo ainda um pouco pior de levantar depois de tantos anos andando pelas sombras.

Parou-se de ver basquete na tv aberta, a tv que todo mundo vê.

Ontem, doze caras, um genial técnico argentino e uma comissão técnica disposta a aprender com ele reergueram nosso basquetebol. Como nosso orgulho, ele agora está de pé, não sente mais vergonha de ser quem é e acredita que dias melhores virão.

Certeza que vem das convicções que emanam de um homem que foi capaz de se entregar como poucos fariam ao objetivo de disputar mais uma olimpíada, dessa vez, vejam só, comandando a seleção rival, vaiada e secada impiedosamente em Mar del Plata, como era de se esperar, assim como se esperava ver homenagens da mesma plateia a esse senhor chamado Rubén Magnano, logo ele, que como técnico nem medalha ganha e tem apenas dentro de si, na mente e na alma, o sabor e o significado de um ouro olímpico.

Serão 320 dias até Londres. Tempo suficiente para acreditar em mais do que apenas participar novamente da festa.


Nada mais apropriado ontem que a atuação de Marcelo Machado. Que dentre todos que tentaram ao longo dos últimos dezesseis anos foi quem mais esteve presente, mais tomou porrada de todos os lados e nunca fugiu da responsabilidade, da última bola, do próximo arremesso.