terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Amar é...

Quem leu Febre de Bola, de Nick Hornby, sabe como é.

Domingo, lá pelas cinco da tarde, eu comprava M&M´s em quantidade suficiente para os 162 minutos de Avatar que viriam pela frente (aliás, só pelo novo 3D - diferente de tudo que eu já tinha visto em 3D - já valeria ver o filme).

E não, também não teve Maracanã no sábado. Um fim-de-semana sem futebol.

Talvez, tenha a ver com a idade. Hornby tinha 35 quando escreveu Fever Pitch.

Sei que, hoje, meu time de coração faz parte de minha vida como jamais fez, nem nos tempos Dele.

Poderia haver relação com meu retorno à rotina de arquibaldo, há coisa de três anos, quando voltei a frequentar o Maracanã em praticamente todos os jogos. Mas aí eu lembro que, na adolescência, esse hábito era ainda mais "grave", com idas também aos Eduardo Guinle, Alair Corrêa e Leônidas da Silva (pra quem não sabe, o nome do estádio do Bonsucesso, mais conhecido pelo nome da rua, Teixeira de Castro) da vida. E, naquela época de carteirinha de torcida organizada, meu time não chegava nem perto de ocupar o espaço que ocupa hoje em mim.

Teria minha vida ficado menos interessante, então? Estaria o futebol preenchendo alguma lacuna? Hmmm... Não. Hoje eu sou um homem, não mais um garoto. Os brinquedos agora são de homem, as preferências de adulto, não é por aí. Pelo certo, meu time deveria estar no fim de uma fila de amplas possibilidades, já que meu universo ficou tão maior que o daquele moleque de quinze, dezesseis anos.

Só pode ser a convivência. A intimidade.

O olhar juvenil foi substituído pelo de um jornalista esportivo, sabedor de tanta coisa boa e ruim por trás do que todo mundo vê; mas não menos apaixonado por conta disso. Pelo contrário. Viver essa intimidade é que mantém a chama acesa. Porque é bem diferente o sentimento do torcedor que vê seu time perder uma final pela tv - acabou, ele troca o canal ou desliga, dá atenção pros filhos, pra namorada - daquele que sai do estádio e fica horas vagando pela Tijuca atrás de um táxi e acaba voltando pra casa num 415, às duas da manhã. Fica marcado. E é aí que vida e bola se misturam de forma tão forte - eu jamais vou esquecer das coisas que vivi naquela quarta-feira até a hora em que encontrei meu irmão no metrô para irmos ao estádio.

Domingo? Daqui a alguns meses eu não me lembrarei mais do que fiz no dia em que assisti a Avatar.

Essa convivência e intimidade a que me refiro, que fazem nosso clube do coração se tornar um verdadeiro ente querido, ficaram claras para mim nesse mesmo dia. Quando saí do cinema, pensei: e nem o Chicago tem hoje. Os Bulls, que para mim sempre foram uma paixão quase no mesmo nível do Flamengo, assumiram outra dimensão neste ano.

Depois da mágica década de noventa, de seis títulos de MJ e companhia, se seguiram dez anos de sofrimento e humilhação. Times ruins, campanhas pífias. Ainda assim, nas raras vezes em que passava um jogo do Chicago na tv, lá estava eu, deixando de fazer alguma coisa mais interessante para ver meu time jogar. E assim se passou outra década com dois ou três encontros anuais entre nós. Agora, com a possibilidade de assistir a todos os jogos pela web, em HD, eu vejo meu time a cada dois, três dias. Às vezes, dias seguidos - como sexta e sábado passados. E a convivência fez com que os Bulls voltassem a ser parte integrante de minha vida, como nos noventa. Ontem, perdemos para os Wizards. Amanhã, pegamos os Pacers.

Só que este, eu vou ver depois, em VT. Afinal, amanhã é dia de Maraca. Estreia em mais uma Libertadores.

E assim o tempo segue, pelos brancos na barba surgem, jogadores passam. E apenas uma coisa fica - a paixão por duas camisas, curiosamente, rubro-negras.

Triste de quem passa pela vida sem viver amor assim.

* * *

Nada a ver, mas eu acho esse vídeo irresistível. Passa algumas vezes a cada transmissão da NBA e, em cada uma delas, eu me pergunto a mesma coisa - dá pra parecer mais idiota que Bush e menos confiável que Clinton?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Assim é o futebol.

A chuva fina não impediu minha nadadinha básica. Foi na volta para casa que vi que também não foi problema para as centenas de botafoguenses na fila por ingresso para domingo em General Severiano.

Quando um jogo como o de ontem acontece, é preciso tentar entender o que não se pode explicar, em busca de uma razão para o futebol ser assim.

Então vamos lembrar que foi, sim, o melhor para o campeonato. Lá estarão, na final da Taça GB, o Vasco, ressurgido depois do purgatório da segundona, e o Botafogo, que finalmente quebrou a escrita de dois anos e dez jogos. E, de quebra, ganhou o direito de uma revanche com o rival que o submeteu à maior humilhação de seu passado recente - e olha que ele revela outros episódios não menos vergonhosos.

Aqui, um parênteses - de forma alguma eu concordo com a opinião de que o botafoguense deve se envergonhar da maneira como chegou à vitória ontem. Jogou de forma acovardada, como sua torcida, cada vez mais ausente? Sim, sem dúvida. Mas venceu. Sabia de suas limitações e se propôs a buscar a vitória da única maneira possível, jogando atrás e apostando nos postes Herrera e Loco Abreu. Foi eficiente e virou pra cima do Flamengo - problema dele se perdeu quase uma dezena de chances e se o juíz, horroroso, voltou atrás numa expulsão que deveria ter acontecido.

Flamengo que oscilou entre o bom e o mau tom nas explicações após a derrota. Andrade disse que todos viram um pouco de futebol inglês ontem no Maracanã. Eu digo que Andrade não deve assistir aos jogos da Premier League. Se assim fosse, saberia que não se joga somente à base do chuveirinho há tempos por lá. Pelo contrário - hoje, é na Inglaterra onde a bola corre mais veloz, em triangulações e muitos passes de primeira, dos gigantes aos nanicos que os imitam. Coisa que tem faltando justamente ao Fla de Andrade, que gira a bola de um lado para o outro sem eficiência, já que quem recebe nunca vê um companheiro (ou dois) encostar para uma tabelinha ou triangulação. Pior, ontem, foi o técnico ter sacado Vinícius Pacheco, único em campo com coragem para partir para cima do marcador, deixando Kléberson, pior do time.

Marcos Braz, em contrapartida, foi sereno ao minimizar a derrota - sem desmerecer o Bota - e afirmar que não fará nenhuma loucura para reforçar a defesa. Nem cobrará o grupo por supostos excessos na folia momesca.

Braz me parece ser oito ou oitenta. Como o futebol.

* * *

Muricy, que disse ontem não ter medo "de porra nenhuma", foi demitido nesta tarde, seis meses depois de assumir o Palmeiras, à época, líder absoluto do campeonato brasileiro. Sai com um medíocre aproveitamento de 49,1% em 34 jogos.

Muricy deveria ter medo sim - de se tornar um técnico estigmatizado por seu jeito irrascível e também por só ter dado certo, mesmo, num só clube.

Perguntem ao Leão como é isso.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nas mãos de Dunga.

Enquanto escrevo, aguardo pela lista para o amistoso do dia dois, contra a Irlanda, em Londres, a casa da seleção brasileira. A expectativa de todos é pela convocação - ou não - de Ronaldinho Gaúcho. Já se vai quase um mês desde sua última grande atuação, contra o lanterna do campeonato italiano. De lá para cá, desempenhos apagados, notícias sobre festas e baladas e o Milan caindo pela tabela do calcio.

Eu não imagino nem tenho palpite sobre o que Dunga vai fazer. E me preocupo muito mais com outras presenças ou ausências nesta lista de hoje.

Daniel Alves, machucado, está fora. Quem aparecerá em seu lugar?

Na zaga, Lúcio, Juan e Luisão são nomes certos; quem será o quarto zagueiro, o fazedor-de-pênaltis Miranda ou o cada vez melhor Thiago Silva, titularíssimo do Milan?

Vamos mais uma vez de André Santos e Kléber mesmo? Sério? Com Marcelo voando no Real Madrid, que se apressou em renovar seu contrato até 2015? E Michel Bastos, que esteve nas duas últimas convocações?

Alguém duvida que ele continuará chamando também Gilberto Silva, Josué e o HORROROSO Felipe Melo, motivo de piada na Itália e símbolo da crise por que passa a minha Juve?

Ramires continua na lista? E Júlio Baptista, que mal joga? Kaká e Elano são os outros dois meias na cabeça do técnico, que se antes claramente não gostava de Diego, agora tem motivos para não convocá-lo, por conta de sua má fase.

E no ataque, onde Robinho, Luís Fabiano e Nilmar parecem nomes certos, quem será o quarto homem? Adriano? Alexandre Pato, machucado, está fora.

Por fim, afinal, quem é o reserva de Júlio César?

Muitas perguntas. Fora a possibilidade de alguma grande zebra, como Neymar ou Love. E Ronaldinho Gaúcho, claro.

* * *

A lista saiu acaba de sair. Ronaldinho fora. Daniel Alves, mesmo machucado, dentro - vá entender... Michel Bastos e Gilberto (!) para a lateral-esquerda. Thiago Silva dentro (pelo menos isso). E, do meio pra frente, só uma surpresa: Kléberson. O mesmo que não consegue se destacar nem mesmo no time do Flamengo.

Assim, nossos meio-campistas para a Copa devem ser Gilberto Silva, Josué, Felipe Melo, Ramires, Elano, Júlio Baptista, Kléberson e Kaká.

Particularmente, destes, só levaria o último.

Mas, particularmente também, não estou nem aí pra uma seleção brasileira como essa.

* * *

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o técnico da seleção brasileira de basquete, Rubén Magnano cumpre sua peregrinação por Cleveland, Denver e Phoenix para convencer - acho esse o termo correto - Ânderson Varejão, Nenê e Leandrinho da importância do comprometimento com o projeto que tem, como objetivo principal, levar o basquete brasileiro de volta aos jogos olímpicos.

Depois do esperado sim de Varejão, ontem foi a vez de Nenê, a grande dúvida, acertar seus ponteiros com os do argentino e da CBB, que aposta no Mundial da Turquia como início de uma virada.

A dona do coração deste que escreve, que nessa viagem já entrevistou Shaq e LeBron, traz as boas novas.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nos Fla-Flus é o ai Jesus.

Terminado o jogo, Vágner Love foi ao chão. Pouco antes, após o quinto fol, Adriano nem tivera forças para comemorar como devia, dadas as circunstâncias - afinal, não é todo dia que se vence um Fla-Flu por 5x3 depois de perder o primeiro tempo por 3x1 e jogar desde os dezessete do segundo com um homem a menos, quando o placar ainda marcava 3x3. Os heróis da virada história não tinham mais pernas no fim.

Ainda bem que o Garotinho estava voltando de férias, com a garganta fresquinha. Não fui ao jogo de oito gols, muito por conta do horário exdrúxulo de 19:30 para um domingo. Como o pay-per-view espertamente alegava problemas técnicos para não vender a partida de forma avulsa - mas se prontificava a vendê-la num pacote pro ano todo - acabei vivendo um Fla-Flu vintage, pelo radinho. Mais tarde, no video-tape da tv (sem som, diga-se, com RATM ao fundo vindo do outro quatro), surgiram as explicações.

A primeira é que o Flamengo deve muito dessa vitória ao seu técnico. Andrade teve personalidade e moral para sacar Petkovic no intervalo, voltando para o segundo tempo com Vinícius Pacheco (o que levou Pet a deixar o estádio, depois de um bate-boca com Marcos Braz, história que ainda deve render pano pra manga). O sérvio esteve apagado, enquanto Vinícius foi, em campo, o principal responsável pela virada - meteu uma bola na trave, cruzou para o gol de empate de Kléberson e deu o quarto gol de bandeja para Adriano.

Andrade também acertou ao trocar o bom (porém lento) Fernando por Williams, que não só acertou a marcação como passou a trabalhar bem pela direita, com Pacheco. Nem mesmo a justa expulsão de Álvaro deixou os tricolores em vantagem, pelo contrário - Cuca resolveu trocar um defensor, Cássio, por um atacante, Kieza. E assim, com essa manobra brilhante, um time que tinha vantagem numérica foi capaz de ceder contra-ataque atrás de contra-ataque para outro que jogava com um a menos...

Foi então que apareceu Vágner Love, incansável na tarefa de ser o homem de ligação entre o meio-campo e o ataque - no caso, Adriano. Andrade montou duas linhas de quatro após a entrada de David no lugar de Fierro e, na segunda linha, eram Love e Vinícius que tinham liberdade para sair pro jogo. E assim foi, com ambos participando da jogada que decidiu a partida, a do quarto gol.

Ao Flu, faltou a presença de Fred, sem dúvida. E também um técnico que goste menos de alterações estapafúrdias, como Cuca. Eu lembro bem como era no Flamengo...

Ao Fla, falta começar a pensar no futuro. Vencer a Taça Guanabara é fundamental para uma primeira fase mais tranquila na Libertadores. Só para lembrar, se chegar às oitavas-de-final e também à decisão do Estadual, o time terá jogos domingo (1º da final), quarta (ida das oitavas), domingo e quarta novamente. Quatro decisões em onze dias.

Dentro desse planejamento, quem sabe Andrade já não esteja pensando na melhor maneira de utilizar Petkovic... Porque em jogos assim, o sérvio vale muito mais no segundo tempo do que começando como titular. Basta imaginar o que ele teria feito ontem, na segunda etapa, com tanto espaço dado pelo Flu.