sexta-feira, 10 de abril de 2009

'Cause I'm Free To Do What I Want...

Falou-se de tudo. De morte a uma suposta tentativa de suicídio. Do sequestro de um membro da família a uma doença grave. Falou-se, daqui e da Itália, em condição gravíssima, preocupação com o ser humano, apoio nesse momento delicado. A cada dia de sumiço, aumentavam as especulações em torno do que estaria acontecendo com Adriano.

Eis que ontem ele reaparece. Bermudão, chinelos, camiseta de malha barata. Com a mesma simplicidade, anuncia que vai parar de jogar futebol "por um tempo indeterminado". Nega qualquer doença, nega estar sofrendo de depressão ou mesmo triste. Sorri, desmente outra suposição, a de uma desilusão amorosa, e ri quando perguntado se vai se tratar. "- Não preciso ir pra nenhuma clínica, não estou doente."

Parreira, Zagallo, Muricy, Mourinho, Marco Aurélio Cunha. Apenas algumas pessoas que trabalharam com Adriano e acham que ele precisa de tratamento.

A justificativa para a decisão também é simples: "- Perdi a alegria de jogar. Todo mundo tem o direito de ser feliz no trabalho. E eu estava infeliz na Itália. Não sei se vou ficar um, dois ou três meses sem jogar. Vou repensar a carreira. Sou feliz no Brasil ao lado dos meus amigos e dos meus familiares."

Adriano ainda tinha um tempinho de contrato com a Inter, mais treze meses, pra ser exato. Falou ontem em não receber por esse tempo, o que é mais do que óbvio - a Inter não só não pagará por isso como ainda pode vir a tomar medidas legais em relação ao jogador. Principalmente se Adriano mudar de ideia e resolver voltar a jogar em outro clube dentro desse período.

* * *

Havia na NBA um jogador chamado Eddie Robinson. Surgiu em 1999, nos Hornets, e logo chamou atenção pela mão certeira e a absurda capacidade atlética. Eddie era, como os locutores americanos gostam de dizer, capaz de "saltar para fora do ginásio". Sua enterradas, a mais pura demonstração de vigor e explosão.

Dois anos depois, em 2001, Eddie foi para o meu Chicago Bulls, que lhe deu um contrato de 32 milhões de dólares pelos cinco anos seguintes.

Só cumpriu três dos cinco anos de compromisso. Passou a se mostrar um atleta desinteressado, chegando a ficar fora de forma, algo que parecia impossível, dado que seu corpo moldado para o basquete era seu principal talento. Não se importava em ficar mais tempo no banco que na quadra, jamais permanecia no ginásio um minuto sequer após o fim dos treinos. Quando os Bulls finalmente enxergaram que ali não havia alguma paixão pelo jogo, o mandaram embora.

Eddie, no fim das contas, recebeu 30 dos 32 milhões de dólares, num acerto com o time. Nunca mais jogou basquete.

* * *

Adriano nunca foi craque, longe disso. Surgiu no Flamengo como um jovem atacante de puro vigor físico e chute fortíssimo de canhota. Logo se transferiu para a Itália, depois de apenas 45 jogos (e 14 gols) com a camisa rubro-negra. Contratato pela Inter, foi emprestado à Fiorentina e ao Parma, onde finalmente mostrou serviço. Chamado de volta a Milão, ganhou a alcunha de Imperador, subiu ao céu e desceu ao inferno antes de terminar novamente emprestado, desta vez ao São Paulo.

No meio disso tudo, título e artilharia da Copa América de 2004 e da Copa das Confederações de 2005, além de 44 gols pela Inter.

Mas também a atuação apagada na Copa de 2006, gordo e fora de forma. Sem contar os flagras em boates, garupas de motos, atrasos, treinos alcoolizado, barrações, agressões, acidentes de carro, dois filhos e duas eleições como o pior jogador do campeonato italiano, em 2006 e 2007.

* * *

Adriano tem todo o direito de se aposentar, caso queira, mesmo aos 27 anos. Afinal, ganhou dinheiro mais que suficiente para isso.

Qualquer pessoa, em qualquer profissão, tem o direito de largar seu emprego ou parar de trabalhar, desde que, claro, possa arcar com as consequências disso. Como Adriano.

E eu, como apaixonado pelo futebol e dependente do esporte para viver, tenho todo o direito de achar Adriano um dos piores profissionais que vi em minha carreira. O anti-profissional, na verdade. Superou Eddie Robinson.

* * *

E Dunga, técnico da nossa seleção, convocou Adriano para os dois últimos jogos pelas eliminatórias, menos de duas semanas antes dele jogar tudo pro alto e decidir dar um tempo do futebol.

Considerando que Adriano não vinha atuando bem na Itália e que, como fica claro agora, sua cabeça estava tão mal quanto suas pernas, qual terá sido o critério de Dunga para convocá-lo?

9 comentários:

renato disse...

he said no, no, no.

Camilo disse...

Adriano teria mandado muito bem se soubesse fazer outra coisa da vida. Teria mandado muito bem se realmente estivesse limpo da cocaína e do tráfico de drogas. Seria sincero, inédito e até bonito o gesto de um jogador parar de jogar simplesmente pq nao é mais feliz e já nao possui mais ambiçoes financeiras com a bola.

Só que Adriano parou de jogar, pq o futebol é a última coisa da vida dele há uns 3 anos. E é a única coisa que ele sabe fazer bem.

Edu Mendonça disse...

"O que eu quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci..."

renato disse...

mudando de assunto: bolívia. taí um país mais ridículo que o brasil. aqui, que faz pirracinha é um desimportante governador de estado. lá, é o presidente.

Edu Mendonça disse...

Um chefe de estado fazer greve de fome já seria algo nonsense. Num país em que há gente passando fome então...

Deve ser a altitude, que faz o cérebro trabalhar com menos O2. Mas Maradona discorda disso.

Camilo disse...

Mudando de assunto de novo:
o que aconteceu no Maraca ontem?

Edu Mendonça disse...

A pergunta é: o que você acha que vai acontecer no domingo que vem?

Eu disse que daria Fla x Bota. É melhor vocês tentarem ganhar a Taça Rio a qualquer custo...

Camilo disse...

foi o que mais ouvi na redaçao: se nao ganharem no domingo, fudeu.

o flamengo tinha q ter goleado hoje tb, mto gol perdido. tal de émerson nao é bobo...

Edu Mendonça disse...

Vocês já conhecem a história...

Caso aconteça, ficará marcado para sempre como o tri em cima do Botafogo, como foi o último, 1-2-3 em cima do Vasco.

Mas domingo que vem, tudo pode acontecer.