Não vou falar do Botafogo, já que todos os alvi-negros com quem conversei durante a semana, incluindo meu avô, me garantiram veementemente que o time seria campeão da Taça Guanabara, sem que houvesse a mais remota chance do Resende aprontar outra zebra. Algo tão previsível deve ser sem graça também... mas não para os mais de 75 mil que ontem trocaram o dia aburdamente lindo de sol e praia pelo calor do Maracanã lotado. A torcida botafoguense deu um show de fazer inveja a todo e qualquer outro campeonato estadual do país.
Mas uma frase que ouvi ontem na tv ficou martelando: "Será que se fosse um clássico entre dois grandes, o público teria sido tão bom?". O argumento do autor, paulista, é que foi muita gente ao estádio por ser um jogo de uma torcida só, o que elimina o componente violência.
Sou forçado a discordar.
Fosse o Flamengo, em vez do Resende, teríamos a mesma casa cheia, por conta da rivalidade entre os dois clubes, a mais inflamada nos últimos anos. Fosse o Vasco, acredito no mesmo, por conta do significado que um título teria nesse momento para a torcida cruz-maltina.
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Dando sequência ao assunto listas, eis que Bebeto vence Careca no desafio promovido pelo programa-matinal-de-domingo-que-já-foi-bom-um-dia. Venceu apertado, com 51% dos votos dos internautas (229.411 contra 218.585). Perdeu na escolha de um júri de notáveis do programa (de goleada) e também na eleição entre jornalistas (lavada maior ainda). Entre os boleiros, o baiano levou a melhor apertado, por um voto.
Esse é meu problema com essas coisas.
Entre os internautas, certamente a maioria absoluta não viu Careca jogar. Entre os boleiros, idem. Votaram em Bebeto moleques como Keirrison, Rafael Moura e Kaká...
Até aí, tudo bem.
Mas como pode alguém que realmente viu os dois jogarem, alguém que acompanhou a carreira dos dois, achar que Bebeto era mais bola que Careca?
O futebol é mesmo apaixonante.
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Depois de algum oba-oba em torno do assunto, os velhinhos da International Board, espécia de Távola Redonda da FIFA, decidiram não aceitar quase nada das mudanças propostas ao jogo.
Quanto ao tal cartão laranja, graças a Deus. Seria um desastre. Imagine as retrancas que veríamos quando um time ficasse com um ou dois jogadores a menos por um determinado período do jogo? Seria como reduzir a marcha de uma partida por dez, quinze minutos... Regra boa pra hóquei, handebol... não para o futebol, com onze de cada lado.
Vetaram também o aumento do intervalo de 15 para 20 minutos e ainda a proposta de uma quarta substituição em caso de prorrogação. Seriam boas, essas. Jogadores e técnicos há muito reclamam que, em 15 minutos, entre saída e volta pro campo, mal dá pra jogar uma água na cabeça ou dar instruções no vestiário. E uma quarta substituição (ou mesmo uma quinta) seria boa medida mesmo sem a tal prorrogação.
Foram aprovadas a permanência dos treinadores na área técnica (o que já acontecia com muitos deles) e a idéia de um auxiliar extra atrás dos gols, para tirar dúvidas como "a bola entrou ou não entrou?". Hmmm... mais conservador, impossível.
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Pra fechar a conta: Léo Moura no meio?
Começou a contagem regressiva para a fritura de Cuca na Gávea.
6 comentários:
Ontem foi fácil-fácil, mas muito divertido. Somos carentes, diferentes na reação de uma conquistinha dessas. Muita mulher e criança no estádio. Tá chique ir pro Maraca quando o ingresso mais barato custa 30 reais.
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Meu pai ligou de Floripa indignado: "Gosto muito do Bebeto, mas peraí, melhor que o Carecones? Camilo, você conhece o merda que inventou essa discussão?" E olha que ele é colorado. Não vi o Careca jogar...
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O cartao laranja seria a senha pra apagar a luz, sair e fechar a porta. Imagino técnicos armando estratégias com esse cartão, para ficar com um a menos em determinado período de jogo e fechar horrorosas retrancas.
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Léo Moura é o capitão-ídolo-símbolo daquele time em que jogam Diguinho, Léo Lima, Carlos Alberto, Pet, Felipe, Váldson...
Sendo seu pai uma pessoa ligada ao esporte, fã do Clyde Drexler, não me surpreende ele achar absurda a comparação entre o chorão e o Careca, claro.
Absurdo é o Maraca ter virado programa de classe média. Por isso me surpreende tanto a propaganda da Skol sobre "torcedor" que tá rolando na tv, em que, no fim, um arquibaldo toma um saco de mijo nas costas e ri. Onde isso??? Acho que hoje, se alguém tacar um saco de urina em outra pessoa no estádio, é preso e ainda toma vaia.
Mas eu sou do tempo em que:
- tinha mais preto que branco no Maraca;
- qualquer mulher que aparecesse no campo ganhava coro de "piranha" (nas arquibancadas também);
- ninguém, absolutamente ninguém, ía ao estádio de óculos escuros ou relógio que não fosse de camelô;
- o que gastava com um cachorro e duas cervas equivalia ao preço do ingresso...
Ou seja, tô velho!
aaahh, brother, permita dizer que vi ambos jogarem no auge da forma e afirmo que Bebetinho foi melhor. Por um quesito: era bom como atacante e como meia. O Careca foi um gênio da área, do gol e das jogadas bonitas. Mas bebeto cobrava faltas, finalizava com as duas, armava o time - isso no auge, em 86-90.
adeeeeeeeeeeeeeeeus
Mas futebol é isso, cara. Uns preferem Zico, outros Rivelino. Seu amigo Renato Maldito Prado também votou no Bebetinho...
voto no careca. uma das melhores brincadeiras de futebol ainda é imaginar a seleção de 82 com ele no lugar do serginho.
Uau. Imagine só. Teríamos ganho aquela Copa. Zico e outros subiriam alguns degraus no panteão dos imortais da bola. Careca teria ido naquele mesmo ano para a Itália, em vez do São Paulo. E para um clube grande, em vez do Nápoli, cinco anos depois. Teria também se tornado maior que foi, mas não teria feito dupla com Maradona. Que, por sua vez, talvez nunca tivesse levado o Nápoli tão longe sem a ajuda do brasileiro.
Como diz Hiro Nakamura em Heroes, mexer com o passado sempre altera o futuro...
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