segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pai Mei.

Chegou a hora de Ronaldo provar que estive sempre errado sobre ele.

Não me refiro ao seu retorno, cada vez mais sólido, ao futebol. Já são oito gols em dez jogos, muitos deles, decisivos (gols e jogos), calando a boca de quem duvidou de que ele seria capaz (me incluo no time). O que Ronaldo tem a me provar, então?

Que é craque.

Desse time eu nunca fiz parte. Nunca considerei-o craque, apesar dos títulos, dos gols decisivos, das voltas por cima e tudo o mais. Ronaldo, pra mim, foi um fenômeno, sim, por sua incrível habilidade como goleador e suas arrancadas que aliavam força e domínio de bola como poucas vezes vi. Mas craque? Não, não, craque, pra mim, é outra coisa.

Craque tem que ser completo. Ronaldo faz gols, ok. Mas nunca soube cabecear. Aí alguém pode dizer que Gérson era craque mas também não sabia... Só que Ronaldo não passa a bola como o canhotinha passava... Nem nunca bateu faltas como ele. Ah, mas Romário era craque e também não batia faltas... Bem, Rivelino era craque e não cobrava pênaltis...

Em resumo, Ronaldo - volto a dizer, para mim - sempre foi um baita jogador, mas não um craque.

Eis que justo agora, aos 32 anos de idade, depois de duas cirurgias nos joelhos, ainda sofrendo de visível sobrepeso, Ronaldo parece querer me provar que é craque.

O lançamento pra Jorge Henrique, na semana passada.

O gol por cobertura sobre Fábio Costa, ontem.

E a matada. Ah, aquela matada no lance do primeiro gol dele contra o Santos foi de craque, sem dúvida.

Ronaldo não é mais o mesmo? Claro que não. Ronaldo está se reinventado? Pode ser.

Vi isso com Zico, de 85 a 89, no Flamendo. Vi isso com Júnior, no início dos anos noventa, também no Fla. Vi acontecer com muitos outros, como Leandro, Baggio, Baresi, Gullit, Del Piero, o próprio Romário, só pra citar alguns. Todos craques que, quando a idade começou a pesar, mudaram seu estilo de jogo para compensar o declínio do corpo com a técnica. Mudaram então a posição em campo, a quantidade de cabelos... mas nunca a classe, o toque que fazia deles craques da bola.

E agora lá vem Ronaldo, que eu nunca considerei craque, fazendo o mesmo, usando a inteligência para encurtar caminho rumo ao gol, sempre em poucos toques na bola. Como um mestre.

Botafogo e Flamengo fizeram ontem um jogo ruim mas emocionante na primeira parte da decisão do campeonato carioca.

Do lado de fora do Maracanã, cambistas ofereciam arquibancadas a quinze reais - o preço para as finais é quarenta, mas todos sabem que cambistas pagam meia, como estudantes. Do lado de dentro, milhares e milhares de lugares vazios, sobretudo na torcida alvi-negra, obrigada a ouvir corinho de "cadê você". Uma pena, porque qualquer festa, com pouca gente, tem menos brilho.

O Flamengo saiu na frente num pênalti tolo, sofreu o empate numa falta não menos, em que a barreira abriu (Ibson, infantilmente, pulou) e, pouco depois, tomou o segundo em outra falha defensiva (de novo Ibson, que deixou Reinaldo subir sozinho).

A partir daí, o que se viu foi um show de bolas levantadas na área de forma equivocada por Juan, Léo Moura sendo substituído por critérios técnicos e os jogadores do Botafogo promovendo um cai-cai que não condiz com a história do clube (ok, talvez com a história recente). Crime e castigo - na base da raça, Willians empatou num daqueles lances que só acontecem com o Botafogo (dois gols contra seguidos do mesmo jogador contra o mesmo adversário? Nunca vi).

Na minha memória, lembrarei desse jogo por conta desse lance e de outros dois:

A substituição de Eduardo, que foi onde o Flamengo empatou o jogo. Ney Franco, preocupado com a possível expulsão do jogador após o cartão amarelo pela falta sobre Kléberson, sacou o mais improvável destaque do time para botar o garoto Gabriel. Que não só falhou no lance do segundo gol rubro-negro, como poderia ter decidido o jogo (e quem sabe o título) se tivesse passado a bola para Victor Simões, livre, em vez de ter chutado nas mãos de Bruno, num contra-ataque mortal do Botafogo quando este vencia por dois a um.

A falta e a não-expulsão de Juan no lance com Maicosuel. Um verdadeiro absurdo - pela falta, pelo esporro no adversário, ainda no chão, pela reação dos jogadores alvi-negros e, principalmente, pela falta de moral do juíz, que deveria ter expulsado o lateral rubro-negro. Sei não, mas a fama de Juan, depois dessa e do lance com Viola, não deve andar muito boa no meio boleiro.

* * *

Alguém viu a coletiva do Leão após o massacre? Perdi, uma pena...

9 comentários:

renato disse...

assino embaixo de cada palavra sobre o ronaldo. sobre o jogo de ontem, uma história ficou mal contada: o eduardo, que se tirar a máscara precoce pode mesmo vir a ser um ótimo jogador, teria sido ameaçado de expulsão. foi mesmo? por quê? o juan também foi? e o willians, coitado. fez um gol comovente, de raça. não precisava, depois, daquele corporativismo babaca ao defender o ridículo juan. fica quieto, pô. fala do gol.

Guilherme disse...

Cadê você? Cade você?

Edu Mendonça disse...

Hehehe... há certas coisas que não têm preço mesmo.

Por falar nisso... Cadê você, Camilo?

renato disse...

outra mal contada: tinha na arquibancada um bandeirão da candidatura do rio às olimpíadas de 2016. quem levou? quem estendeu? quem levou grana? como ficaríamos eu ou você, que somos contra, se um bandeirão daqueles passasse pelas nossas cabeças? quem disse que todo mundo ali era a favor? mais um exemplo dos pequenos fascismos que vão tornando cada vez mais agradável a vida no rio.

Edu Mendonça disse...

Eu iria começar um tumulto, infelizmente.

Durante uma semana veremos agora COB e políticos tentando enganar descaradamente o COI.

E não houvi falar nada sobre algum tipo de manifestação na porta do Copacabana Palace, onde a comitiva está. Triste.

Mas, pra ainda podermos ter orgulho de sermos cariocas, se a bandeira não foi vaiada, a primeira aparição do logo da candidatura nos telões foi. Por muitos.

Aparício disse...

O que diria a Mulher Caviar disso tudo...

Edu Mendonça disse...

Depende... essa também tá dando pro Adriano da Vila Cruzeiro?

Camilo disse...

Minha segunda-feira foi de recolhimento. Mais até pela preocupação com nosso gênio da bola Maicosuel, do que pela entrega do empate.

Meus amigos, no próximo domingo, por conta das ausências dos nossos dois atacantes titulares o Rio de Janeiro assistirá a maior retranca da história do futebol. Ney Franco colocará o volante Batista no lugar do nosso camisa 10 e tentará levar o jogo aos penaltis. Porque o Flamengo não chuta. Porque Ney acha que Victor Simoes é um ataque inteiro.


Vou aos cambistas amanhã.
E, po, Ronaldo é craque sim, galera... Sempre foi...

Edu Mendonça disse...

Hmmm... craque pra mim é outra coisa. Mas, como eu disse, ele ainda pode me provar o contrário - afinal, eu passei a considerar o Júnior, por exemplo, craque mesmo a partir da segunda passagem pelo Fla. Antes, pra mim, era só um baita lateral.

E tomara que esse papinho de cambista não seja desculpa alvi-negra pra não ir... final com uma torcida só não tem graça.

Torço (sério) para que o Juan seja denunciado e suspenso pra domingo, mas acho pouco provável.