terça-feira, 16 de junho de 2009

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é... (ou: "There's no Kobe hater here")

A temporada da NBA terminou domingo com o esperado título dos Lakers, numa não menos previsível vitória por quatro a um. Um título merecido e indiscutível, apesar do placar não traduzir o que foi a série final, marcada por erros de arbitragem para ambos os lados, grandes lideranças que viraram fumaça e vitórias praticamente certas entregues nos segundos finais. Pode-se dizer que os Lakers venceram dois jogos com absoluta autoridade (1 e 5), entregaram um de forma tola (3) e receberam, de mão beijada, a vitória em outros dois (2 e 4). Ainda assim, se o Orlando tivesse ganho uma dessas partidas, não teria, na minha opinião, sequer levado a série ao jogo sete. O time de LA foi capaz de competir de igual para igual no garrafão - onde Pau, Bynum e Odom foram tão eficientes, à sua maneira, quanto Howard, Turkoglu e Lewis - e sobrou na armação, com Kobe e Derek Fisher fazendo picadinho de Alston, Lee, Pietrus, Nelson e quem mais aparecesse pela frente.

Primeiro todos esperavam por uma revanche diante dos Celtics. Depois, por um duelo contra Lebron. Mas quem chegou foi o Orlando, com um ex-malabarista do basquete de rua e um novato como armadores titulares.

O título, como também como era esperado, levantou uma questão: qual o papel de Kobe Bryant dentro da história do basquete?

Pra começar, eu preciso dizer duas coisas: 1) Kobe está entre os melhores e mais espetaculares jogadores que vi jogar e 2) Kobe não é nem mesmo o melhor jogador da história do seu time.

Pra quem tem memória curta ou sequer teve o prazer de testemunhar, vale lembrar que Magic Johnson foi campeão cinco vezes, MVP três, primeiro time da NBA nove, líder em assistências quatro e, acima de tudo, reinventou o jogo ao se tornar o primeiro armador de fato com mais de dois metros de altura. Nunca houve outro como ele, nem antes e nem desde então. Além disso tudo, era um líder como poucos, não conhecia a palavra egoísmo em quadra e fazia os companheiros ao seu redor melhores.

Dizer para um americano torcedor dos Lakers que Kobe é melhor que Magic é como dizer a um rubro-negro que Romário foi melhor que Zico. E, claro, passar recibo de não entender nada de basquete.

Magic foi campeão em sua primeira temporada substituindo o titular Kareem no jogo seis do playoff final, contra o Houston, atuando como pivô. Foi o melhor da partida, garantiu o título e acabou eleito o MVP das finais. Tinha só vinte anos.

Kobe, como eu já escrevi aqui, não chegou a ser o "coadjuvante" nos seus primeiros três títulos. Mas é preciso lembrar que era Shaq quem fazia a diferença naquele time que, claro, nada teria conquistado sem seu então camisa oito. Mas isso é fato e nem foi há tanto tempo quanto o triple-double de Magic naquelas finais - Shaq foi o MVP das três primeiras decisões da vida de Kobe porque acabou com o jogo em todas elas.

Pegue Kobe em seu auge (hoje) e Shaq na mesma condição e pergunte a qualquer General Manager da NBA qual jogador ele escolheria...

Melhor que Bird? Pode ser, sim. Kobe tem um título a mais que Larry. Mas Larry tem três troféus de MVP, foi escolhido nove vezes para o primeiro time da NBA, assim como Magic (Kobe, até hoje, foi apenas quatro) e é tão campeão olímpico quanto os outros. Mas Bird era genial justamente por conseguir, com sua inteligência, conhecimento e intuição do jogo, suprir suas deficiências físicas. Então, não se tratava de um fenômeno atlético como Kobe. Você acha Kobe decisivo na hora H? Hehehe... talvez só Jordan tenha sido mais decisivo que Bird. Aliás, qual foi a cesta decisiva de Kobe em suas quatro finais de campeonato?

Cesta da vitória?

Ainda assim, eu reconheço em Kobe um jogador tão bom quanto Bird. Diferentes estilos e posições sempre dificultam uma comparação pura e simples como essa.

O que faz muita gente esquecer de Bill Russell e Wilt Chamberlain, só pra citar dois dos super craques pivôs. O primeiro, onze vezes campeão. O segundo, apenas uma. Ainda assim, ousará alguém dizer que Kobe é melhor que Wilt?

Heresia.

Que Mr. Russell?

Pior ainda. Ninguém, na verdade, pode se dizer melhor que ele. Nem que tenha sido.

Eu citei só cinco nomes. Jordan, Magic, Bird, Russell e Wilt.

Em matéria de números, todos tiveram carreiras bem superiores a Kobe (não me refiro só a títulos - Chamberlain, por exemplo, teve apenas um - mas a pontos, rebotes, assistências, tocos, troféus de MVP, recordes etc).

Fora o caráter subjetivo de cada carreira. Jordan provou ser possível vencer sem um pivô decente (Kobe? Shaq e Gasol) e se tornou um ícone tão forte quanto Pelé, Magic reinventou a posição um do basquete, Bird fez o mesmo com a três, Russel e Wilt chegaram a fazer com que a NBA mudasse determinadas regras para que o jogo continuasse competitivo contra eles...

Kobe? Kobe imita Jordan em tudo, quase à perfeição, do fadeaway aos saltos dados logo após o fim do jogo, domingo. E nem sempre foi assim. Basta lembrar do Kobe que, nas finais diante dos Celtics, desistiu no meio do caminho por não acreditar mais no título. MJ jamais foi vice. Quando chegou, venceu.

As estatísticas de sua carreira - 25,1 pontos, 5,3 rebotes e 4,6 assistências, são muito mais comparáveis às de jogadores como Jerry West e Hakeen Olajuwon, pra citar dois outros campeões... E ainda assim, Kobe os superou, num aspecto mais amplo.

Kobe Bryant não precisava desse título para estar na companhia de todos esses grandes e de outros. Já estava lá.

Mas esse título não muda seu papel na história do basquete.

Ver as coisas dessa forma seria reconhecer que ainda lhe faltava a tal "conquista como protagonista" para atestar sua genialidade.

E todos sabem dela há tempos.

* * *

Esse é o problema dessas comparações entre atletas de diferentes gerações.

Achar ser possível comparar Ronaldinho Gaúcho a Rivelino.

* * *

Eu não vi o Brasil.

Mas não me causou nenhuma surpresa quando soube que o jogo terminou 4 a 3.

* * *

Assim como não me causou espanto algum a derrota do Flamengo por 5 a 0.

13 comentários:

Bruno disse...

Você ainda esqueceu do Kareen, do Oscar Robertson e até do Duncan, que tb tem 4 anéis e era o cara do Spurs em todos eles.

Queria ver se eles teriam passado pelo Houston se o Yao não tivesse machucado.

Edu Mendonça disse...

Oscar Robertson teve uma carreira muito mais avassaladora que a de Kobe, conseguindo algo que ninguém jamais fez, que é média de triple-double durante toda a temporada - e ele fez isso em duas. Mas ganhou só um título, no fim da carreira, o que sempre vai pesar contra ele...

O Duncan é tão vencedor quanto o Kobe, concordo, mas apesar de tecnicamente perfeito nos fundamentos, não tem a capacidade de improvisação e a genialidade deste.

4xKB disse...

Bom, pelo menos agora acabam as comparações entre KObe e Lebron, porque isso sim não dava pra aguentar!

Edu Mendonça disse...

Bem, como eu imagino que você admire o Kobe, vou tentar colocar de uma forma simples e direta:

Kobe é, hoje, mais jogador que LeBron. Mas LeBron fez, neste ano, um campeonato melhor que o do Kobe?

Deu pra sacar a diferença?

Anônimo disse...

Isso é uma discu~ssão besta que não leva a lugar nenhum. Eu vi teu comentário no Rebote e tenho a mesma opinião não dá pra comparar o jogo de hoje com o de cinquenta anos atrás. Mas tem uns caras ae que parecem apaixonados pelo Kobe, fazer.

Net Esportes disse...

Essas discussões não tem fim, é igual Senna e Schumacher e (o absurdo!!!) Pelé e Maradona ....... acho que os números tem certa influência, pois na minha opinião pela idade e média que vem fazendo nos fundamentos o LeBron James já é melhor que o Kobe, o problema dele é que no Cleveland 'sozinho' não vai ganhar nada, pois ele não é Jordan ..... ficou mais do que provado que o Kobe não ganha sozinho, O´Neal fez a diferença e agora Gasol como você falou, mas nem por isso deixo de admirar Kobe Bryant, ele é aguerrido e tem vontade de vencer, dizem que é arrogante e tal mas sei lá, achei ele muito simpático nos encontros com o Oscar durante as Olimpíadas .....

Edu Mendonça disse...

Vivemos na nuvem, na era midiática, do youtube e da tv a cabo. É fácil pra molecada, hoje, comparar o que pode ver todo dia, se assim quiser (viva a justin.tv) com o aquilo que jamais realmente teve a chance de ver e saber como era.

Rapaz, eu que joguei e sou apaixonado por basquete, mas pouco tive a chance de ver alguns ídolos de minha época de moleque, como Dominique Wilkins, por exemplo... o mundo mudou, o jogo mudou, é realmente complicado comparar. Mas possível, sem dúvida. Schumi jamais será o mito que Senna é, não importa o número de títulos. Maradona jamais será Pelé. E Kobe... bem, ainda depende dele, mas eu não apostaria meu dinheiro num cara que terá 32 anos na próxima temporada.

Camilo Pinheiro Machado disse...

Sou novo demais, logo tenho que me apegar a esses caras, não tem jeito...

Drexler, Kobe, Shaq, Duncan, Malone, Stockton, Hakeem e aquele menino camisa 23.

Iverson também me divertiu muito.

Edu Mendonça disse...

Eh, listas... adoro listas. Que tal a dos que queriam ter chegado onde Kobe chegou - o melhor "próximo Jordan" de todos os tempos?

Penny Hardaway, Grant Hill, Vince Carter, Tracy McGrady.

renato disse...

rapaz, o kaká respira! ouviu a historinha que o mauro naves contou? perguntado sobre as insuportáveis vuvuzelas, o kaká respondeu: "pra quem passa o dia ouvindo o julio batista tocar cavaquinho, isso é um alívio." o kaká não é de plástico, você sabia? é capaz até de brincar com idéias e palavras, e com alguma graça. surpreendente, essa.

Edu Mendonça disse...

Hehehe. Só não peça pra ele falar sobre a Igreja Renascer...

Gonik disse...

Voltando ao assunto...

depois do teu post sobre o apagão do Flamengo no Recife, eu disse aqui nos comentários:

"vem ai Coritiba la, Inter aqui e Fla x Flu. E o pior é que TUDO pode acontecer"

Foi só falar! Tomar de 5 do Coritiba, dar de 4 no Inter!!!

Só falta o Flu e, se tudo der "certo", o Renatinho já pode ir preparando a festa...

Edu Mendonça disse...

Que nada... domingo que vem Parreira cai para, se Zico quiser, nunca mais arrumar emprego de treinador.