quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ou Estou Ficando Velho Ou A Copa Não É Mais A Mesma.

Uau, dia de estreia do Brasil em Copa.

Eu acordei atrasado e morto para o primeiro trabalho do dia - a que não fui. Sorte poder. Mais três horas de sono, até o meio-dia. Desperto com aquele joguinho chato entre Portugal e Costa do Marfim. Tinha outras três horas livres até o jogo.

Pois eu li muito sobre as finais da NBA. Eu lavei louça. Até roupa. Ouvi Doors e Nirvana. Tudo, claro, ao som de um vizinho qualquer que devia achar-se sul-africano, soprando uma vuvuzela ou similar a todo instante.

Era o que me lembrava do jogo.

É muito única essa relação com Copa do Mundo quando se trabalha com esporte. Via de regra, o profissional de jornalismo normal, principalmente se for homem, sonha cobrir uma. Mulheres sempre me mostraram ter um encantamento maior pelas olimpíadas, embora também conheça vários amigos que as prefiram. Eu fico com elas, muito por conta do basquete. Enfim, época de Copa é época que marca, dias e situações que se tornam memórias sempre muito frescas na cabeça de quem as vive. Eu já cobri uma, na Coreia, e trabalhei aqui em outra, na França. Na da Alemanha, fui espectador. A dos Estados Unidos se deu pouco antes de minha entrada no Sportv, com o teto próximo a uma das janelas da acanhada redação ainda manchado pelo champanhe estourado semanas antes.

No caminho até a TV Brasil, máquina numa mão registrando ruas desertas e volante na outra, pensava em como a estreia de hoje, ao contrário de todas as outras que vi, desde a da Espanha, não era capaz de mexer comigo. Ok, botei minha camisa amarela do Galinho, achei bacana a redação enfeitada e todo mundo na torcida. Mas eu não consigo. Eu não me identifico em nada com essa seleção brasileira e realmente acho que um eventual título pode ser maléfico para o futuro. Seria a vitória de uma maneira de pensar o futebol com a qual não concordo. A corrente de pensamento meso-militar-meso-religiosa que escala uma seleção brasileira, contra a Coreia do Norte, com um meio-campo que tem Gilberto Silva, Felipe Melo (!) e Elano. Que vai para o intervalo empatando por zero a zero. Que marca um gol meio espírita - embora Maicon tenha chutado de forma consciente - e outro num lampejo de Robinho completado com muita categoria por Elano. E ainda toma um gol da Coreia do Norte. Houvesse mais tempo de jogo, talvez ainda tomássemos pressão.

Se meu time jogasse assim, com toda essa precaução contra um adversário notoriamente mais fraco, eu já ficaria puto. Por que haveria de gostar de uma seleção brasileira assim?

Existem hoje dois caminhos para o futebol. Recuperar a arte de antigamente, quando se jogava pra frente, em busca do gol. Uma época em que perder um jogo era perder um jogo - e não lidar com possívels consequências que envolvam milhões de dólares. Parece romântico desprezar a realidade, mas é exatamente o que o Barcelona faz hoje em dia, graças a Pep Guardiola, discípulo da escola que Cruijff implementou no Barcelona, fazendo todos os times, da base ao profissional, jogarem da mesma forma - pra frente. Com esse pensamento, o Barça venceu e perdeu, é a vida. Mas se tornou a referência de bom futebol que é hoje.

O outro caminho é triunfar, como na última Copa, com um futebol defensivo. Calcio. Primeiro defender, depois atacar. É o time de Dunga. Quatro defensores – sem esquecer que os laterais de Dunga guardam posição e só sobem de forma alternada – e mais três volantes preocupados, antes de tudo, em proteger a defesa. “Um time que é mortal no contra-ataque”, dizem muitos. Eu acho uma vergonha para o futebol brasileiro.

Resultado, eu quero do meu time. Da seleção eu quero bola.

Só que essa não tem.

Se vai ser hexa, isso é outro post.

* * *

Hoje eu li, não me lembro onde, algo sobre a “incrível” audiência que os jogos da Copa estão tendo nos Estados Unidos – a estreia da seleção da casa, contra a Inglaterra, teve índice maior que os quatro primeiros jogos das finais da NBA. Ainda lembrava que, pelo fuso, os jogos do mundial passam à tarde, enquanto os de basquete são realizados em horário nobre. Concluía que, apesar dos números, futebol ainda é coisa de "imigrantes latinos" na América.

Visão tão preconceituosa quanto torta.

Os Estados Unidos são a nação que mais recebe imigrantes no planeta. Por ano, os EUA admitem mais novos residentes legais do que todos os países do mundo juntos. Estima-se em quarenta e dois milhões de imigrantes de primeira geração atualmente no país.

Se a audiência estimada da estreia dos EUA foi de 17 milhóes de pessoas, isso significa que bastaria menos da metade da população de imigrantes ter assistido à partida. Só que menos da metade dessa população é composta por latinos.

Futebol é o esporte do planeta. Nos últimos dias, ruas ficaram desertas pela Alemanha, Holanda, França, algumas até no Japão – como as que vi hoje. E pelas principais cidades americanas, onde os Índices de audiência recebem mais peso, milhões de alemães, franceses, holandeses e japoneses pararam para assistir suas seleções.

E brasileiros, claro. Alguém imagina um único que more nos EUA e não tenha vestido a camisa e torcido pela seleção hoje, mesmo com aquele futebolzinho modorrento?

12 comentários:

Camilo disse...

acho que o Dunga leva.

acho também que o povo pinta e cara e vai pra rua mais como ritual, Elano nao leva ninguém à loucura. Um paulista - daqueles paulistas que só aparecem no sportv-rio em grandes eventos - disse que o Elano foi o nome do jogo. só nao o mandei se foder, pq intimidade eu quero ter é com amigos. mas enfim.

kaká nao tem condiçoes físicas de jogar uma copa. ou coloca o nilmar recuando o robinho, ou efetiva o bonzinho do Ramires. O Dunga gastou o segundo tempo dele testando isso.

costa do marfim pode nos vencer. michel bastos acho mais grave que felipe melo. e até hoje, era meio do contra e tentava defender o dunga de uma parte da imprensa escrota e covarde, mas foi difícil torcer pra uns merdas. segue seeçao fora da copa:

01 - Marcos (Victor)
02 - Léo Moura (algum paulista da moda)
03 - Miranda (Naldo)
04 - André Dias (Diego Souza, um maia a mais, foda-se)
06 - Roberto Carlos (Marcelo)
05 - Lucas (Denílson Inglês)
08 - Hernanes (Wesley santista)
11 - Paulo Henrique Ganso (Alex Turco)
10 - Ronaldinho Gaúcho (Diego da Juve)
07 - Neymar (Diego Tardelli)
09 - Fred (Kléber)

Edu Mendonça disse...

Bom time. E só com dois volantes à la Dunga, já que Hernanes e Wesley são bola.

Eu também acho que a Costa do Marfim pode nos vencer. Assim como Portugal. E acredito, mesmo, que uma eliminação na primeira fase seria a bomba necessária para destruir o pensamento equivocado que se estabeleceu com relação à seleção brasileira. Os principais jornais do mundo dão hoje que estamos jogando como um time europeu. É a tal preocupação única com o resultado. Se vencermos, esse pensamento perdura. Se falharmos, ainda temos esperança de que as coisas mudem.

De qualquer maneira, temos um jogo 7 pela frente na quinta-feira, já que futebol, por enquanto, esta Copa está devendo.

Bolinho disse...

ontem só salvou o fato de terr visto o jogo em meio a amigos, cerveja (muita, e Heineken) e ganja. De resto, LIXO! E na dependência total de lampejos do robinho ou kaká, não vamos longe, fique tranquilo
abraço!

Anônimo disse...

E o Dunga ainda vem depois na entrevista dizer que a Coréia foi "praticamente perfeita na marcação". Na boa, não dá. Só a Alemanha jogou bola até agora.

Edu Mendonça disse...

Hmmm... vamos lembrar que a Austrália é só um pouco melhor que a Coreia do Norte, amigo. Acho que, além da Alemanha, Argentina e Holanda também mostraram bom futebol para uma estreia.

Bolinho, nem isso eu tive - vi o segundo tempo no trabalho, a seco...

Anônimo disse...

E aí, não vai falar da argentina?

Anônimo disse...

Ridículo toda essa exaltação ao segundo gol do Brasil, do Luis Fabiano...

Um jogador médio, que só demostra alguma habilidade usando artifícios assim, como contatos 'desintencionados'( e duas vezes num mesmo lance..) simplesmente ridículo...

O mais triste é que 'nossa' seleção se baseia na criação, triangulação, armação e criatividade de um jogador que foi genial por um breve instante, e que muito provavelmente foi seu ápice na carreira e agora, só rende na média...

Tenho também muito receio do que essa 'Era Dunga' fará com nosso futebol e pensamentos... até porque agora, toda a imprensa enaltece a 'evolução' do Brasil...

Sinceramente, espero que a Espanha dê uma lavada nessa Copa...

Anônimo disse...

Só pra esclarescer, o jogador genial por um breve instante foi o Kaká, até porque Luis Fabiano (vide entrevista da ultima Playboy), nem pelada jogava em time que comandasse...

Aliás, dessa seleção só Kaká, Júlio César, Maicom, Thiago, Nilmar e Juan...

Edu Mendonça disse...

Deu pra mim, essa seleção. Agora técnico xinga jornalista na frente do mundo todo e nada acontece - a FIFA anunciou hoje que não viu nenhum motivo para punir o Tosco. É o final dos tempos.

E nem vou falar do gol irregular, da falta de inteligência do Tosco ao não substituir logo o Kaká após o primeiro cartão, nem da leitura labial feita pelo Fantástico onde se vê o mesmo mandando o Maicon "puxar o braço dele (Drogba)".

Não me interessa ganhar um jogo ou mesmo uma Copa da maneira como os franceses se classificaram para esta.

Anônimo disse...

Disse tudo Edu, infelizmente acho que todos 'estamos ficando velhos' mesmo...

E achei muito mais grave suas ofensas aos jogadores como ao próprio Drogba, sem contar esse fato do puxa-puxa... sobre o fato com o Alex Escobar sem comentários...

Infelizmente futebol nunca caminhou com justiça...

Anônimo disse...

Esse tosco não sabe o que é dualidade, por isso trava essa guerra contra a imprensa que sempre pegou no pé dele.

Mesmo ganhando a Copa, sua história, se não for mal contada se dissipará no tempo...torçamos pra isso... também já deu pra mim.

Dei uma passada no blog do PVC, infelizmente, em sua maioria, pelos comentários que vi lá por mais essa lambança do sem noção Dunga, os torçedores são cópias de um treinador que realmente essa seleção mereçe.

Edu Mendonça disse...

É incrível que apareça TANTA gente defendendo o Tosco. Inacreditável mesmo.