quarta-feira, 10 de junho de 2009

Tempo, ah, o Tempo...

Ficar velho - envelhecer, no caso - é uma experiência assustadora para alguns e admirável para outros. Eu diria que me situo num meio termo entre as duas sensações. Os primeiros fios brancos na barba certamente são muito menos interessantes que, por exemplo, descobrir que aos trinta e seis anos eu ainda sou capaz de voltar à minha antiga forma atlética, nadando três quilômetros e correndo dez no mesmo dia. Nada como o tempo - ter tempo, no meu caso...

Por conta desses trinta e seis bem vividos anos, eu pude acompanhar a carreira de inúmeros mitos do esporte do início ao fim. E perceber as nuances do envelhecimento em diferentes atletas. Zico. Jordan. Prost. Sampras. Favre. Romário. Iverson. Com cada um deles, o processo se deu de forma diferente.


Kobe Bryant tem trinta anos. Faz trinta e um em agosto. Mas números são frios como palavras escritas.

Em treze de carreira, o armador dos Lakers já soma mais minutos em quadra que Larry Bird, por exemplo. Há pelo menos oito anos, opera no limite de sua capacidade física. Oito anos no auge. Máquina humana funcionando a todo vapor.

Ontem a máquina rateou. E não só a vitória do Orlando por 108 a 104 deixa isso claro, como toda essa série final, no fim das contas.

Na primeira partida na casa do adversário, Kobe novamente começou bem. Acertou oito dos onze primeiros arremessos, num primeiro tempo de jogo fantástico.

Depois disso, foram apenas três de quatorze chutes certos. Até nos lances livres, o braço pesou - foram cinco de dez. Dois tocos sofridos (aliás, alguém deveria contar quandos tocos Kobe vai ter levado no fim dessa série), um erro e uma bola perdida nos momentos finais.

Considerando que o Mr. Bryant não somente é genial como frio e decisivo nessas horas, sobra a explicação do corpo, que nem sempre acompanha a mente.

Deu trabalho, mas como isso me chamou a atenção desde o início da série, fiz o levantamento. Apesar da média superior a 33 pontos por jogo nessas finais, Kobe também teve atuação bem abaixo da crítica no último quarto dos dois primeiros jogos:

- No primeiro, uma surra em que ele pouco jogou no período final, ainda assim foram cinco arremessos de quadra e apenas uma bola na cesta.

- No segundo, decidido na prorrogação, Kobe converteu dois de quatro arremessos (é isso mesmo, ele chutou apenas quatro bolas) e cometeu três erros. No tempo extra, foi ainda mais discreto - uma cesta, um arremesso errado, uma assistência e um erro.

Nestas finais, Kobe não está sendo Kobe na hora H.

* * *

Pra não parecer que os Lakers perderam o jogo de ontem - na verdade, foi o Orlando quem venceu - vale dizer que Stam Van Gundy deve ter dado uma passadinha aqui pelo Tudo Bola. Após o segundo jogo, eu escrevi:

"(...) a falta de confiança de Stan Van Gundy em seu armador titular, Rafer Alston - depois de comandar o time no primeiro quarto das duas primeiras partidas (Magic na liderança em ambos), Alston foi sacado e só voltou muito tempo depois, já frio (no jogo 1, retornou só no terceiro quarto!). Ontem, na prorrogação, era o eterno "universitário" J.J. Hedick quem conduzia a bola - e foi ele quem acabou errando um passe primário para permitir que os Lakers abrissem vantagem. Só aí SVG botou Alston em quadra."


Ontem Alston jogou 37 minutos, fez vinte pontos (oito de doze arremessos), deu quatro assistências e foi o ponto de equilíbrio do time. Não, Rafer não é um armador top de linha, nem chega a ser um dos três mais importantes do time. E nem mesmo foi quem ditou o ritmo do ataque do Orlando nos minutos finais - essa tarefa continua sendo de Hedo Turkoglu (sete assistências ontem). Mas é Alston quem o desafoga nessas horas, trazendo a bola da defesa para o ataque sem erros e deixando-a com o turco em segurança para que a equipe inicie a jogada, quase sempre um pick and roll.

Alston, Pietrus, Lewis, Turkoglu e Howard. Quero ser mico de circo se Van Gundy não terminar todos os próximos jogos com esse quinteto em quadra.

* * *

Continuando a quicar a bola, o Brasil caiu no grupo da Argentina e estreia contra os dominicanos na Copa América, que começa dia 26 de agosto, em Porto Rico, e vale quatro vagas para o Mundial da Turquia, em 2010. Além de argentinos, estão no grupo venezuelanos, cubanos e dominicanos. A outra chave tem Porto Rico, Uruguai, Canadá, México e Ilhas Virgens. Os Estados Unidos, campeões olímpicos, já estão classificados e não participam da competição.

Depois da estreia, a seleção brasileira enfrenta Venezuela, Argentina e Cuba.

O alívio para mim, que vi de perto nossos dois últimos fracassos, em Las Vegas e Atenas, é a fórmula de disputa. Os quatro melhores de cada grupo avançam para a segunda fase, em que enfrentam os quatro classificados da outra chave. Ou seja, o Brasil terá oito jogos pela frente, no que será praticamente um torneio "por pontos corridos", já que os times levam a pontuação da primeira para a segunda fase - quando então os quatro com mais pontos somados se garantem nas semis e na Turquia.

Leandrinho está confirmado. Nenê e Ânderson, não. Moncho será o técnico. E a Argentina não terá Ginóbili, Oberto e Nocioni. Vai ser duro. Mas estaremos no Mundial de 2010.

* * *

Seleção do Dunga? Ah, quem se importa se vamos de Nilmar ou Pato quando nos damos conta de que Felipe Mello deve ser o único jogador na história da seleção brasileira a disputar os quatro primeiros jogos com a amarelinha como titular, sem nem ter passado pelo banco?

2 comentários:

Camilo Pinheiro Machado disse...

Não vi nada do jogo. Me mudei e tô sem TV, sem armário, sem internet... nada.

Sobre Kobe, deve ser o desgaste físico. Ele nunca foi de tremer.

E também acho isso. o armador do Orlando é o Turkoglu.

Edu Mendonça disse...

Perdeu um bom jogo de se ver.

De jeito nenhum acho que o Kobe tenha tremido, ele é experiente demais nesse tipo de situação pra isso. Mas realmente tem sido outro jogador nos 12 minutos finais - mais previsível e suscetível ao erro (eu nunca o vi tomar tantos tocos).