sábado, 11 de setembro de 2010

A Patifaria Turca.

Antes de mais nada, é preciso explicar quem é Ömer Asik.

Pivozão sem muito talento de 2,14 m, o turco de 24 anos vai estrear na NBA na próxima temporada - e pelo meu Chicago Bulls. No media guide da FIBA, se referem da seguinte forma: "...his free-throw shooting is abysmal". Bondade. Asik faz Shaq (52% na carreira) e Dwight Howard (59%) parecerem o Petrovic. Em sua última temporada aqui no Fenerbahçe Ulker, pela Euroliga, Asik teve média de 36% nos lances livres.

Hoje, contra a Sérvia, faltando 1:18 pro fim, ele recebe uma falta absolutamente normal do Milos Teodosic que o levaria para a linha, para dois arremessos. O que ele faz? Cai no chão e ali fica, com as mãos sobre o rosto como se tivessem lhe arrancado um dos olhos.

O placar marcava 78 a 77 para a Turquia.

Seria absolutamente normal que, diante da pressão, Asik errasse os dois arremessos. Até então, tinha cobrado três e convertido um.

Pois do chão, depois de algum tempo, Asik foi direto pro banco, ainda com as mãos sobre o rosto e com meio time turco o cercando.

O técnico botou em seu lugar o armador Ender Arslan, que, ainda por cima, só acertou um arremesso.

Pela regra, só há uma situação em que um jogador que vai para a linha de lance livre pode ser substituído - se ele não tiver, por conta de contusão, mais condição de continuar na partida. Neste caso, o treinador o substitui e quem entra cobra os lances. Quem sai, mesmo que melhore depois, não pode mais voltar - afinal de contas, a premissa é de que não os cobrou porque não podia mais jogar.

Hoje, Asik forjou descaradamente um problema que não existiu de forma alguma.

Terminado o jogo, lá estava ele, com os outros onze, comemorando loucamente, como se nada jamais tivesse acontecido ao seu olho, como a foto ao lado deixa bem claro (a cena, ou melhor, encenação, havia acontecido alguns instantes antes deste click - e, do jeito que a partida terminou, ninguém nem se importou em disfarçar depois).

E não aconteceu mesmo.

* * *

A Turquia não precisava disso para vencer. Mas fato é que venceu por apenas um pontinho. Que pode ter sido aquele lance livre convertido pelo Arslan.

Também não precisava de tanta ajuda da arbitragem. Hoje teve até dois tapas na cara seguidos em cima de jogadores sérvios, ambos a metro e meio dos juízes. E com a bola parada. Inacreditável, em se tratando de uma semifinal de mundial.


Tão inacreditável quanto é que a Sinan Erdem Arena lotada tenha intimidado mais a árbitros e o próprio time turco - muito nervoso - que aos próprios jovens sérvios. Um time equilibrado, que não chuta de fora a esmo, joga sempre de forma consciente, procurando aquele passe extra que deixa o companheiro livre para o arremesso, seja dentro ou no perímetro. Pra mim, o melhor basquete deste mundial.

Com um detalhe: Teodosic, Tepic e Velickovic têm 23 anos, Bjelica, Keselj e Markovic menos ainda, 22, Perovic 25, Rasic 26 e Savanovic e Krstic, os mais velhos da rotação básica do técnico Dusan Ivkovic, têm 27. Imaginem o que vem por aí...

* * *

Teodosic, aliás, foi monstruoso hoje. Em trinta e seis minutos em quadra, sempre sob marcação fortíssima, fez 13 pontos, deu 11 assistências, pegou 6 rebotes e desperdiçou uma só bola. Uma atuação cerebral, digna do craque que ele é. Sorte da torcida do Olympiakos que os irmãos donos do time, armadores (de navios, não de basquete...) gregos bilionários, têm grana suficiente para segurá-lo.


Na outra semifinal, aconteceu com a Lituânia o que também aconteceu com a Argentina, que depois de um partidaço contra o Brasil, não foi nem de longe o mesmo time no jogo seguinte e acabou ficando pelas quartas.

Naquela partida, a Lituânia converteu suas oito primeiras bolas de três, além de fazer o que não fizemos – parar Luís Scola (13 pontos, 6 de 16 arremessos). No geral, teve um aproveitamento de 54% nos arremessos (37/69) e em momento algum permitiu que o adversário tivesse a chance de voltar ao jogo.

Hoje, a Lituânia foi a Argentina de quinta. Doze pontos no primeiro quarto, apenas vinte e sete no primeiro tempo – no mesmo espaço, Kevin Durant fez 24. Na defesa, não foram nem sombra do time aplicado e aguerrido das quartas. E a pontaria... só 39% no geral e igual percentual para 3. Resultado: vitória americana por 89 a 74, sem que jamais os lituanos realmente tivessem chance. E olha que os Estados Unidos chutaram mal também, 8 de 25 para 3 pontos. Mas Durant fez 38, então...

* * *

Milos Teodosic, Juan Carlos Navarro (podia ser Jaka Lakovic, da Eslovênia, mas prefiro o espanhol), Kevin Durant, Luís Scola e Ersan Ilyasova (podia ser Hamed Haddadi, do Irã, mas vou sem um pivô genuíno). Meu time desse mundial.

6 comentários:

Thiago. disse...

Espírito esportivo ZERO. No site da FIBA, entre muitas provocações entre turcos e sérvios tem gente lembrando desse lance. Na hora eu pensei 'uau que cara de pau'. Só não sabia que ele tinha aproveitamento tão baixo, agora tá explicado. Mas se a Sérvia jogou muito a Turquia teve um mérito: em momento nenhum deixou eles escaparem muito no placar. E a Sérvia sai protagonizando os dois melhors jogos deste mundial.

Camilo disse...

Teodosic, Kevin Durant, Kleiza, Ersan e Scola.

Não vou parar de repetir: o que fez o Teodosic hoje?!

Uma homenagem ao basquete. não sabia que ele era tão novo. Basquete de veterano. Uma alma pulsante e fria ao mesmo tempo. Uma inteligência absurda nos gestos e os melhores passes da FIBA.

Edu Mendonça disse...

É, o Kleiza fez um baita mundial mesmo, também merece.

O que mais me impressionou no Teodosic - e no time sérvio todo, de modo geral - foi a frieza. Diante do ginásio lotado, da arbitragem da casa, das provocações turcas, em momento algum eles se abalaram, pareciam todos veteranos. É time pra brigar pelo ouro em Londres e pelo próximo título mundial. Uma pena que tenham perdido da maneira como perderam. Mas, pro crescimento deles, essa derrota vai contar muito, muito...

Anônimo disse...

Pior que essa patuscada foram a falta antidesportiva em cima desse Asik (não foi) e a que deram do Krstic no pivozão naquela enterrada no fim (que elimina o sérvio e que o turco perde o LL depois), duas invenções dos juízes. Os eua que abram o olho hoje, se bem que acho que contra eles os juizes tendem a ser mais corretos.

Anônimo disse...

Lamentável uma equipe como a da Turquia chegar a final de um Mundial. Não tem bola nem ética para tanto. A arbitragem decidiu o jogo!

Edu Mendonça disse...

Pois é, os turcos, a rigor, só tiveram um jogo realmente complicado, que foi o de ontem (o contra Porto Rico, na primeira fase, vencido por 2 pts, não era um jogo-chave). Diante de Rússia e Grécia, não deu jogo. E no mata-mata, se deram bem pegando França e Eslovênia. Se forem campeões, o que duvido, não terão cruzado com Espanha, Argentina, Brasil (sim, Brasil, único jogo complicado que os americanos tiveram), nem Lituânia. Uma campanha fácil. Mas, como disse, acho (e torço, pro nosso bem) que dá EUA.