Se alguém aí pensa em conhecer Istambul, bastam dois dias. A cidade é gigantesca - com quase treze milhões de habitantes, está entre as cinco mais populosas do planeta - mas não prima exatamente pela diversidade. Para qualquer lado que se vá, o que há é uma repetição de padrões - mesquitas, dezenas e dezenas de mesquitas (só fiz questão de entrar na Azul, realmente impressionante), comércio de rua no melhor estilo Saara (no centro do Rio, pra quem não conhece), shopping centers aos montes com o que qualquer shopping center do mundo tem e, como já disse, gente demais. Quase noventa e nove por cento dos habitantes são muçulmanos, muitos ortodoxos, o que significa rezar cinco vezes por dia virado para Meca (e, cinco vezes por dia, minaretes das mesquitas tocam a reza para a cidade inteira ouvir) e usar burkas que cobrem quase todo o corpo, no caso das mulheres. Eu, ocidental de língua estranha e todo tatuado, quando botei camiseta fui olhado com um misto de horror e desprezo por muitos - ao que parece, muçulmanos não se tatuam. Vou pesquisar. Mas não agora, estou cansado. Cansado de Istambul (me deem um desconto, passei três semanas em paraísos) e cansado de esperar pelo motivo de estar aqui - basquetebol.
Nos primeiros dias na cidade, era muitíssimo mais fácil saber que o U2 tocará aqui no próximo dia seis - que marca o fim do Ramadã - do que haverá um mundial de basquete na cidade. Os turcos não são comos os gregos, fanáticos pelo esporte. A paixão aqui, como em quase todo lugar, é o futebol, com lojas oficiais de Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas por toda Istambul. Ontem, prefeitura e FIBA trataram de espalhar galhardetes pelos postes anunciando o campeonato. Não vi um único outdoor. Nem mesmo nos dois hotéis oficiais, onde está quase toda a imprensa mundial, é possível notar a marca do evento.
Independentemente disso tudo, sábado a bola sobe e aí serão doze jogos diários, em quatro sedes, três por grupo. Mas não se enganem - o mundial começa, pra valer, nas oitavas.
Assim como a Copa do Mundo (de futebol), o nosso mundial se enfraqueceu com a participação de 24 equipes. Claro, é muito bonito pensar que seleções como Angola, Tunísia e Irã participarão da festa. Mas o que fazem, por exemplo, Costa do Marfim, Jordânia e Líbano aqui? A FIBA dá quatro vagas à Ásia, três à África e duas à Oceania. Nenhum menosprezo ou preconcento embutidos, mas a realidade é a mesma da Copa da África do Sul - uma primeira fase com jogos sem brilho e, mais, sem tanta importância. O que é pior ainda no caso do Mundial da Turquia, com quatro grupos de seis e apenas dois eliminados na primeira fase. Qualquer garoto é capaz de cravar quem ficará pelo caminho (principalmente nos grupos A e B, o do Brasil).
Fora esse enfraquecimento técnico (imaginem um mundial com 16 equipes, como antigamente... aliás, aqui abro parênteses dentro dos parênteses - alguém lembra do mundial de 86, na Espanha, quando a FIBA tentou quatro grupos de seis e um regulamento tão estapafúrdio depois da primeira fase que voltou a realizar o mundial somente com 16 equipes pelas quatro edições seguintes?), há ainda a questão dos desfalques, que não param. Hoje, Andres Nocioni, da Argentina, foi vetado por seu time na NBA, o Philadelphia 76ers, de participar do torneio, por conta de uma lesão no tornozelo. Noci chorou na coletiva, deixou claro que, se dependesse dele, viria, mas como o contrato deixa claro que a decisão é do time, ficou de fora. Até o pobre Irã, adversário de estreia do Brasil, teve sua baixa por motivos médicos - o ala-armador Samad Bahrami, capitão e o mais bola do time, com passagem pelo basquete francês, foi cortado com uma contusão no pé.
Se é bom pra nós, mas não chega a tirar mais brilho do torneio, a própria FIBA tratou de fazer isso hoje ao punir severamente os envolvidos na pancadaria entre Sérvia e Grécia, na semana passada (ainda bem que não fui ao jogo, pois ficaria muito chateado, pra dizer o mínimo, de assistir à uma partida que foi interrompida a 2:14 do fim mas não teve fim - e quando a diferença no placar era de apenas um ponto). Nenad Krstic, pivô que tacou uma cadeira num adversário, pegou três jogos de gancho. Não chega a ser um desastre. Mas Milos Teodosic, o marrento craque do time e MVP da última Euroliga, pegou dois e será bem menos atraente ver a seleção sérvia jogar sem ele. Pelo lado grego, o não menos marrento (mas bem menos bola) Antonis Fotsis também foi suspenso por duas partidas, assim como o Baby Shaq Sofoklis Schortsanitis - esse sim fará falta aos atuais vice mundiais. Sorte de sérvios e gregos que seus primeiros jogos serão, respectivamente, contra Angola/Alemanha e China/Porto Rico.
O Brasil? Treinamos hoje, sem Leandrinho, poupado. E temos ainda mais sorte por jogarmos primeiro com Irã e Tunísia.
Como eu disse, que comecem os jogos.
Mas, cá entre nós, pra valer mesmo, só a partir das oitavas, no dia 4.
3 comentários:
Começa amanhã né filho? Sorte e aproveite aí! E sorte sua não estar por aqui: senão teria presenciado aquele jogo patético der ontem. Rogerio caiu. Espoecula-se o nome de...de...Jorginho! São Judas nos salve! abraço. Adeeeeeeeeeeeeeus!
Faltava 2:40 pro jogo acabar.
Na verdade, faltavam 2:40. Abs e seja bem vindo!
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