quarta-feira, 30 de junho de 2010

Amanhã É O Grande Dia


Foram anos de espera.

Para alguns times, dois, três. Tem quem espere há quatro. Quatro anos planejando cada passo em função de uma data.

Primeiro de julho de 2010.

É o dia em que LeBron James, Dwyane Wade, Chris Bosh, Amar'e Stoudemire, Dirk Nowitzki, Joe Johnson e Paul Pierce estarão todos desempregados, livres para negociar com quem tiver mais espaço dentro do teto salarial da NBA, que é de pouco mais de cinquenta milhões de dólares.

New York Knicks, New Jersey Nets, Chicago Bulls e Miami Heat, nessa ordem, estão em melhor posição para tal. Todos tiveram campanhas pífias ou no máximo ordinárias durante esse tempo. Dispensaram bons jogadores para que seus salários saíssem da folha. Por vezes, trocaram talento por papel. Se planejaram de tal forma que, nesse momento, mal teriam time para por em quadra - o Heat tem só dois jogadores sob contrato. E Wade não é um deles.

(Essa é uma faceta que só aumentou o zum-zum-zum-quase-novela em torno do destino dessa gente talentosa nos últimos anos. Para cada desempregado amanhã, haverá uma cidade inteira rezando para não perder o maior ídolo. Cleveland, sem LeBron, volta a ser uma cidade irrelevante na América. Toronto, sem Bosh, pode ver o basquete perder fãs e dinheiro. Só o povo de Miami não se preocupa muito, pelo contrário, está otimista. Wade já disse que quer ficar - embora não vá deixar de ouvir as ofertas. E o Heat tem a folha quase limpa, o que o torna um dos mais fortes candidatos a ter, quem sabe, Wade, LeBron e Bosh juntos.)

Cada uma das "cidades canditadas", quer dizer, dos times pretendentes promete uma verdadeira "corte" ao craque. Nessa hora, ex-jogadores e gente famosa entram no circuito, fazendo o lobby pela equipe e, principalmente, pela cidade, pela capacidade de gerar dinheiro que cada mercado tem - ponto para Nova Iorque. A expectativa é que os principais jogadores resolvam seus destinos logo na primeira semana. Por isso, até donos de times estarão voando pela América hoje à noite. O frenesi começa à 00:01.

O mais interessante é que, depois de dois anos exaustivamente falando sobre o assunto, ninguém sabe para onde cada um vai. Nem o torcedor comum, nem os altos executivos que trabalham nessas empresas - porque cada time é uma empresa, com dono - e quebraram a cuca nos últimos anos bolando planos mirabolantes para, literalmente, estarem quase sem time neste momento. Foi assim da última vez, quando Kobe, McGrady e Hill - ainda inteiro - ficaram desempregados juntos. Teve time ficando na mão, como os Bulls, e time se dando bem aparentemente, como o Orlando (porque Hill sofreria com contusões e McGrady, mais tarde, também).

Quem sairá vencedor agora? Os Bulls, com sua tradição? O Heat, com sua quente Miami? Cleveland teria alguma chance de manter LeBron? (Não) Os Knicks, formando um trio de super-stars na capital do mundo? (Difícil, pois para que isso aconteça, todos teriam que reduzir seus salários. E aí chegamos à questão do dinheiro.)

LeBron, Bosh e Wade podem receber um salário máximo de 16,5 milhões de dólares. Segundo a escala da NBA, que leva em conta o tempo como profissional, Stoudemire pode pedir ainda mais, 18,7 milhões, enquanto veteranos como Dirk e Pierce podem atingir a cifra de 20,7 milhões por ano. Será mesmo que estariam dispostos a reduzirem seus salários para formar um time mais forte? Tirar cerca de cinco, seis milhões por ano do bolso?

Dirk e Pierce devem renegociar novos contratos com Dallas e Boston, seus atuais times. Talvez até possam reduzir um pouco suas pedidas para que o time tenha flexibilidade para trazer reforços.

Mas James, Bosh, Wade e Johnson têm se encontrado nos últimos dias para discutir o futuro.

(Como se Messi, Cristiano, Kaká e Rooney pudessem, um dia, ter uma conversa assim:

- Barça! Venham todos, a cidade é sensacional, jogamos pra frente e a torcida os amará!
- Sim, sim, e Pep vai poder escalar a todos nós!
- Ouviu, Kaká? Real Madrid tá fora, Mourinho vai botar um de nós no banco e fazer os outros três marcarem.
- Deus saberá escol...
- Cala-te!)

Deve ser mais ou menos o mesmo. Cidade, tradição, noite, clima, mulheres, dono do time, técnico, o time em si - o Chicago, por exemplo, já tem Derrick Rose, Luol Deng e Joaquim Noah, uma base melhor que qualquer outro possa oferecer. Jovens entre 25 e 28 anos decindo onde vão morar, enriquecer, serem idolatrados e jogar basquete.

É claro que ninguém poderia saber o que vai acontecer.

E prometem ser divertidos esses capítulos finais.

domingo, 27 de junho de 2010

A Dona FIFA Deveria Aprender Com A Senhorita NBA.

Não vou falar aqui sobre o que aconteceu ontem, em Bloemfontein, nem fazer paralelos com o lance quase idêntico ocorrido no Wembley, em 66, na final daquela Copa. Não há discussão, só a frieza dos fatos - no passado, a bola não entrou, mas tivemos o gol. Agora, ela passou 33 cm da linha, mas o placar no Free State Stadium permaneceu inalterado.

Não me parece possível que, depois desta, o International Board da FIFA permaneça irredutível quanto ao uso da tecnologia para elucidar este tipo de lance. Mesmo tendo, em 6 de março passado, se reunido exclusivamente para isso e, novamente, resistido ao fato de que o tempo não para.

Primeiro foi a NFL, a liga de futebol americano, que deu o direito aos técnicos de questionar dois lances duvidosos por jogo; as zebrinhas corriam para a lateral do campo, analizavam as imagens e anunciavam a decisão, por um microfone, para todo o estádio.

Depois foi a NBA, que instituiu o recurso do vídeo-tape para solucionar lances duvidosos nos minutos finais das partidas. E, nas finais deste ano, entre Celtics e Lakers, a nova regra se mostrou valiosa, sendo aplicada em praticamente todas as sete partidas. Vale ressaltar seu caráter específico para o basquete - o videotape não é usado para esclarecer, por exemplo, se houve uma falta em determinado lance. As marcações dos juízes continuam soberanas. As imagens servem, justamente, para saber se uma bola quicou ou não na linha, tocou ou não no aro, bateu na mão de um ou outro jogador antes de sair...

Ou seja, dúvidas parecidas com a de ontem.

Os puristas - ou os velhinhos da FIFA - podem argumentar sobre a questão da emoção ou mesmo do benefício de polêmicas como estas para o futebol. Ou ainda sobre os efeitos que paralizações para a checagem do videotape poderiam surtir sobre o jogo.

Para todos esses argumentos e retrógrados, eu deixo uma só pergunta:

E se Inglaterra e Alemanha, ontem, estivessem novamente decidindo uma Copa do Mundo?

Já imaginaram o tamanho da vergonha?

* * *

Tive a informação sobre o goleiro Bruno na sexta-feira. Vi a cara de incrédulo de meu irmão quando lhe contei, no sábado. Hoje, a notícia está em todos os jornais do Rio.

Não me admiro, sinceramente, se a agora provável denúncia da polícia tiver fundamento. Bruno é autor de uma das frases mais infelizes dos últimos tempos, a famosa "quem nunca bateu numa mulher?", proferida simplesmente na véspera do dia internacional delas.

Penso que o caso não seja apenas de polícia, entretanto. É caso de vergonha para um clube que, há tempos, se transformou na casa-da-mãe-Joana. E que, agora, busca reencontrar, com Zico, uma identidade perdida lá pelo início da década de noventa.

Rezemos para que a moça apareça e bem.

E para que o novo Flamengo não tenha mais gente deste tipo vestindo sua camisa.

sábado, 26 de junho de 2010

Começou a Copa.

Uau, finalmente.

Chega de jogos como Argélia x Eslovênia, Nova Zelândia x Eslováquia ou Suíça x Honduras. Eu preferia a Copa com 24 seleções.

Chega também da França, com toda a loucura de Domenech (a quem Zidane chamou de, no máximo, "selecionador", nunca "técnico") e também da Itália, que até tinha treinador, não tinha mesmo era craque. Terá sido castigo pela final passada, a mais sem graça desde aquele empate sem gols de 94? Ou apenas soberba?

Agora, ao menos, temos a emoção dos jogos eliminatórios. Não acordei a tempo de ver a classificação uruguaia, culpa do Repórter África. Mas assisti a Gana eliminar os Estados Unidos numa partida muito boa, com direito a gol na prorrogação. Pena para os americanos, que até então tinham protagonizado o momento mais emocionante da Copa, com a classificação para as oitavas no último instante. Mérito para os africanos, pela primeira vez nas quartas.

Amanhã, um cardápio que não deve se repetir mais - num mesmo dia, o duelo entre ingleses e alemães e ainda a Argentina, de Maradona, novamente enfrentando o México, como em 2006. Apelo da tradição e de nomes de peso no primeiro e do melhor futebol praticado até aqui no segundo. E ainda por cima num domingo, para que o país não precise parar para ver.

Na sequência do feriadão, por falar nisso, tem Brasil mais uma vez. Agora pra valer. Com Kaká, com Robinho. Mas, talvez, também com Gilberto Silva e Josué. Favorito absoluto contra um Chile que tem em seu técnico a maior ameaça. Bielsa não é Dunga. É técnico de verdade. Que sabe explorar as deficiências do adversário, que soube levar o Chile à Copa com tranquilidade e autoridade. Que não se iludam os que acreditam no título. A partir de agora, a caminhada é árdua e não permite mais tombos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ou Estou Ficando Velho Ou A Copa Não É Mais A Mesma.

Uau, dia de estreia do Brasil em Copa.

Eu acordei atrasado e morto para o primeiro trabalho do dia - a que não fui. Sorte poder. Mais três horas de sono, até o meio-dia. Desperto com aquele joguinho chato entre Portugal e Costa do Marfim. Tinha outras três horas livres até o jogo.

Pois eu li muito sobre as finais da NBA. Eu lavei louça. Até roupa. Ouvi Doors e Nirvana. Tudo, claro, ao som de um vizinho qualquer que devia achar-se sul-africano, soprando uma vuvuzela ou similar a todo instante.

Era o que me lembrava do jogo.

É muito única essa relação com Copa do Mundo quando se trabalha com esporte. Via de regra, o profissional de jornalismo normal, principalmente se for homem, sonha cobrir uma. Mulheres sempre me mostraram ter um encantamento maior pelas olimpíadas, embora também conheça vários amigos que as prefiram. Eu fico com elas, muito por conta do basquete. Enfim, época de Copa é época que marca, dias e situações que se tornam memórias sempre muito frescas na cabeça de quem as vive. Eu já cobri uma, na Coreia, e trabalhei aqui em outra, na França. Na da Alemanha, fui espectador. A dos Estados Unidos se deu pouco antes de minha entrada no Sportv, com o teto próximo a uma das janelas da acanhada redação ainda manchado pelo champanhe estourado semanas antes.

No caminho até a TV Brasil, máquina numa mão registrando ruas desertas e volante na outra, pensava em como a estreia de hoje, ao contrário de todas as outras que vi, desde a da Espanha, não era capaz de mexer comigo. Ok, botei minha camisa amarela do Galinho, achei bacana a redação enfeitada e todo mundo na torcida. Mas eu não consigo. Eu não me identifico em nada com essa seleção brasileira e realmente acho que um eventual título pode ser maléfico para o futuro. Seria a vitória de uma maneira de pensar o futebol com a qual não concordo. A corrente de pensamento meso-militar-meso-religiosa que escala uma seleção brasileira, contra a Coreia do Norte, com um meio-campo que tem Gilberto Silva, Felipe Melo (!) e Elano. Que vai para o intervalo empatando por zero a zero. Que marca um gol meio espírita - embora Maicon tenha chutado de forma consciente - e outro num lampejo de Robinho completado com muita categoria por Elano. E ainda toma um gol da Coreia do Norte. Houvesse mais tempo de jogo, talvez ainda tomássemos pressão.

Se meu time jogasse assim, com toda essa precaução contra um adversário notoriamente mais fraco, eu já ficaria puto. Por que haveria de gostar de uma seleção brasileira assim?

Existem hoje dois caminhos para o futebol. Recuperar a arte de antigamente, quando se jogava pra frente, em busca do gol. Uma época em que perder um jogo era perder um jogo - e não lidar com possívels consequências que envolvam milhões de dólares. Parece romântico desprezar a realidade, mas é exatamente o que o Barcelona faz hoje em dia, graças a Pep Guardiola, discípulo da escola que Cruijff implementou no Barcelona, fazendo todos os times, da base ao profissional, jogarem da mesma forma - pra frente. Com esse pensamento, o Barça venceu e perdeu, é a vida. Mas se tornou a referência de bom futebol que é hoje.

O outro caminho é triunfar, como na última Copa, com um futebol defensivo. Calcio. Primeiro defender, depois atacar. É o time de Dunga. Quatro defensores – sem esquecer que os laterais de Dunga guardam posição e só sobem de forma alternada – e mais três volantes preocupados, antes de tudo, em proteger a defesa. “Um time que é mortal no contra-ataque”, dizem muitos. Eu acho uma vergonha para o futebol brasileiro.

Resultado, eu quero do meu time. Da seleção eu quero bola.

Só que essa não tem.

Se vai ser hexa, isso é outro post.

* * *

Hoje eu li, não me lembro onde, algo sobre a “incrível” audiência que os jogos da Copa estão tendo nos Estados Unidos – a estreia da seleção da casa, contra a Inglaterra, teve índice maior que os quatro primeiros jogos das finais da NBA. Ainda lembrava que, pelo fuso, os jogos do mundial passam à tarde, enquanto os de basquete são realizados em horário nobre. Concluía que, apesar dos números, futebol ainda é coisa de "imigrantes latinos" na América.

Visão tão preconceituosa quanto torta.

Os Estados Unidos são a nação que mais recebe imigrantes no planeta. Por ano, os EUA admitem mais novos residentes legais do que todos os países do mundo juntos. Estima-se em quarenta e dois milhões de imigrantes de primeira geração atualmente no país.

Se a audiência estimada da estreia dos EUA foi de 17 milhóes de pessoas, isso significa que bastaria menos da metade da população de imigrantes ter assistido à partida. Só que menos da metade dessa população é composta por latinos.

Futebol é o esporte do planeta. Nos últimos dias, ruas ficaram desertas pela Alemanha, Holanda, França, algumas até no Japão – como as que vi hoje. E pelas principais cidades americanas, onde os Índices de audiência recebem mais peso, milhões de alemães, franceses, holandeses e japoneses pararam para assistir suas seleções.

E brasileiros, claro. Alguém imagina um único que more nos EUA e não tenha vestido a camisa e torcido pela seleção hoje, mesmo com aquele futebolzinho modorrento?

domingo, 6 de junho de 2010

Os 12 Trabalhos de Zico.

O futebol não para. Neste fim de semana tivemos a sétima e última rodada do Campeonato Brasileiro antes da Copa. Que começa na próxima sexta e acaba num domingo, dia onze. Na quarta, dia 14, já acontece a oitava rodada, que para alegria do carioca terá mesmo um Flamengo x Botafogo no Maracanã.

Que Flamengo será esse, é a grande pergunta que a torcida rubro-negra se faz depois da inacreditável derrota para o Goiás. Tivesse vencido, o time poderia até mesmo passar esse mês de paralização num ambiente de paz e otimismo. Mas seria uma situação enganosa. E o que o Flamengo precisa, nesse momento, é admitir, como nunca antes, sua real condição.

Depois de uma espera de dezesete anos, o clube conquistou um improvável Hexa. Improvável e, por que não dizer, oportunista. Campanhas de anos recentes tinham sido até mais sólidas, faltando fôlego ao longo do caminho. No ano passado, mesmo com algumas derrapadas no fim - a mais notável delas, ironicamente, contra o Goiás - o time foi firme na reta de chegada. Time de decisão, como manda a tradição rubro-negra. E que ainda contou com uma conjunção dos astros favorável, que manteve, durante um determinado período, Adriano na linha, Pet em forma e motivado e o time, de modo geral, confiante.

Isso pode levar outros dezesete anos para acontecer. Ou nem se repetir.

A realidade atual é que o time do Hexa acabou. Uma geração vitoriosa parece ter encerrado seu ciclo na Gávea. Além disso, Adriano já foi. A Pet, mesmo ficando, não pode caber a responsabilidade pelo sucesso. Essa responsabilidade, agora, caberá a Zico - montar um novo time.

Quem trazer? Ronaldinho, Riquelme? Sério? Quanto tempo a torcida demoraria para pegar no pé de quem só quer bola no pé, como os ex-craques? Quem vender? Kléberson? Fierro, que pode estar sendo trocado pelo carrasco Montillo? E quanto a Bruno e Juan, jogadores que têm mercado e parecem não ter mais clima com a torcida? Léo Moura vai pro meio? E os mais jovens? Os de fora, como Ramon e Michael e os do clube, como Camacho e Diego Maurício?

Rapidamente, onze interrogações num só parágrafo. E Zico ainda tem outras, tão importantes quanto.

A maior delas, o CT. Já é sabido que será prioridade - Emerson, que deveria vir, não virá porque o milhão de dólares pedido pelos árabes é mais importante se investido no centro de treinamento. Dotar o clube de uma estrutura profissional de ponta - que ele não tem - é o primeiro passo para um novo Flamengo. Que não deve - ou deveria dizer logo não vai - brigar pelo título brasileiro. Num planejamento de três anos, tempo em que Zico estará à frente do comando do futebol do clube, é preciso estabelecer prazos, metas, um cronograma. E dentro da realidade atual, pensar no Hepta seria incoerente e enganoso. Coisas que o Galinho nunca foi. Palpável, sim, seria remontar esse time com o objetivo de uma nova participação na Libertadores, no ano que vem. Palpável e difícil, diga-se. Mas dentro de todas as especulações que prometem marcar o mês de junho por essas bandas, tudo é possível.

* * *

O TB andou meio parado, com motivo - estreia nesta quinta, às onze da noite, na TV Brasil, o programa "Repórter África - Copa 2010", uma revista eletrônica sobre o Mundial da África do Sul que pretende lançar um olhar diferente sobre a Copa, numa tabelinha entre futebol, música, cinema, literatura e arte - sem deixar de lado o que será notícia nos gramados sul-africanos. Promete.