segunda-feira, 6 de julho de 2009

Big Phil

Somos todos técnicos de futebol, correto?

Assim como agora somos todos jornalistas.

E é isso mesmo. São duas profissões em que não é absolutamente necessária uma formação técnica. Se bem que, pra ser técnico, até onde eu sei, tem que fazer um cursinho. O Dunga fez esse cursinho? Não sei. De repente nem precisa mais do cursinho também.

Será que era necessário no passado? Teria João Saldanha feito cursinho? Aliás, haveria algum cursinho capaz de ter João Saldanha? Duvido.

Ontem, na tv, Felipão explicava qual sua linha de pensamento para lidar com as "estrelas" Drogba e Ballack no Chelsea. Logo depois, Rivaldo deixava claro o que o ex-técnico do clube inglês não podia - que os dois haviam feito a cama de Felipe para sua saída. Entre o treinador campeão mundial e três de seus principais jogadores - Cech também fazia parte do grupo que o minava - o russo milionário preferiu, claro, quem vende ingressos e camisas. Pode-se dizer que os resultados sob o comando de Felipão eram questionáveis, mas a saída prematura dele deixou claro que não se tratou de uma demissão normal para os padrões do futebol europeu.

Hoje, na tv, vejo gente questionando as vaias da torcida do Flamengo a Juan. Em primeiro lugar, acho a vaia um direito inquestionável do torcedor. Ele gasta o dinheiro que não tem pra comprar ingresso, ele se arrisca indo aos estádios, onde vez por outra ocorrem casos absurdos de violência, então ele tem sim o direito sagrado de demonstrar sua insatisfação com o time ou determinado jogador. A vaia é tão antiga quanto o aplauso. Além de característica peculiar do carioca, diga-se.

No Flamengo, a primeira lição que todo jogador - criado no clube ou não - deve aprender é que a falta de garra é o maior pecado que se pode cometer. A torcida do Flamengo tem especial marcação sobre aqueles que não vão em toda bola, toda dividida, toda jogada. Juan foi vaiado, sábado, porque demonstrou do início ao fim um total desinteresse pelo jogo, pelo Flamengo e pelos companheiros. Como em outras partidas, seguiu se escondendo pela faixa intermediária esquerda do campo. Passes pro lado, prendendo demais a bola. Nenhuma jogada de linha de fundo ou drible. Na verdade, tirando o chute do gol, Juan errou tudo no primeiro tempo. Tanto que voltou a ser vaiado, antes do intervalo, justamente por não ter corrido numa bola. O tal pecado mortal.

Aí, no segundo tempo, o Vitória empata num cruzamento que veio, claro, da direita, onde Juan apenas acompanhou o lance de longe e em nenhum momento realmente chegou para tentar impedir o centro para a área.

E o torcedor não tem o direito de vaiar o Juan?

Faça-me um favor.

Mas nem é essa a questão, eu apenas não resisti a escrever sobre a vaia. A real questão é a substituição que Cuca fez logo depois. Porque mesmo que o técnico diga que tomou a decisão para preservar o jogador - até pra ficar bem com o próprio - na verdade ele o fez porque precisava ganhar o jogo. E com Juan em campo ficou claro que isso não aconteceria.

Felipão caiu porque barrou Drogba e Ballack quando estes não estavam bem. Porque proibiu que Cech tivesse um treinador de goleiros exclusivo para ele.

Alguma possibilidade de Cuca barrar Juan, que não está bem há tempos? Nenhuma.

Logo depois do título dos Lakers na NBA eu li um artigo muito interessante do Bill Simmons, um dos melhores, sobre Phil Jackson, que tinha acabado de superar o lendário Red Auerbach, técnico nove vezes campeão com os Celtics. Mestre Bill argumentava, com a razão de quem viu ambos os tempos, que o feito de Jackson era muito mais impressionante, pois na época de Red os treinadores tinham o poder de Deus sobre os atletas. Quem não se enquadrasse, fosse quem fosse, estava fora. Phil, entre outras coisas, teve que ensinar Michael Jordan a ser solidário, além de lidar com a guerra de egos entre Shaq e Kobe nos Lakers. Mas não tenham dúvida - se Mike tivesse algum dia batido de frente com ele, em vez de virar seu fã, seria o técnico a rodar. Idem com Kobe.

Treinador, hoje, tem que ter mais e diferenciadas habilidades.

Duvido que Saldanha teria saco pra jogador.

Porque é muito complicado, em qualquer tipo de organização, ter autoridade sobre comandados que ganham dez vezes mais que você. E, via de regra, pensam muito menos.

4 comentários:

renato disse...

e o juan não vende camisas (ok, se vendesse, só 5% iriam para o clube, mas isso é outra história - ou não). ou seja: um técnico do flamengo ter que ceder a um juan é mais uma prova do empobrecimento do futebol brasileiro. ou, como disse o d'alessandro, "se eu jogasse sempre bem, não estaria no brasil." o que é a pura verdade. ainda que venham a cair de pau no d'ale, como alguns pachecos devem vir.

Edu Mendonça disse...

Tanto ele sabe disso que não estrilhou quando o Tite o substituiu pelo Andrezinho, quando ainda estava zero a zero.

(Pra mim, se o jogador brasileiro tivesse o brio do argentino, teríamos ganho todas as Copas)

Veja só: ninguém nem fala do técnico do Real pra próxima temporada. Parece que nem existe o chileno Manuel Pellegrini. A única vantagem dele é que vai treinar Kaká e Cristiano Ronaldo, e não Juan ou D'Alessandro.

Mas o argentino jamais seria vaiado pela torcida, garanto.

Camilo Pinheiro Machado disse...

Falando em Felipão, o piti do R.M. Prado hoje no O Globo foi das coisas mais engraçadas dos'últimos tempos.

Esculachou o George Guilherme, simplesmente porque o repórter não lhe deu crédito na matéria do Felipão.

E o Jonatas hein...

Edu Mendonça disse...

Foi o George, é? Quando eu li, pensei que fosse pro Roberto Thomé, que fez matéria com o Felipão pro programa da Record.

Sobre o Jônatas, eu ainda não consegui parar de rir...