quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Visão.

Olá. Meu nome é João. Você não me conhece, mas eu sou o maior jogador de futebol do planeta desde Pelé, tri no México há 47 anos.

Isso mesmo, estamos em 2017.

Eu acabo de completar 24. Tinha 16 quando, em 2009, Kaká recusou a maior proposta já feita por/para um jogador até então. Foi justamente naquele ano que o Real Madrid comprou meus direitos federativos, como se chamava na época. Era já tão bom que, antes dos 17, marcava meu primeiro gol no Santiago Bernabeu.

O primeiro de quase 400 com a camisa merengue em quatro anos na Espanha. Como disse, sou o melhor desde Pelé.

Foi aos 21 que tudo aconteceu. Os principais clubes do mundo, afundados em dívidas por conta da crise mundial iniciada no fim da década passada, estavam à beira da falência. Apenas dois operavam no azul - Barcelona e Manchester. O Milan, depois que Silvio Berlusconi o vendeu, em 2010, brigava apenas nacionalmente com Juventus e Inter, não menos endividadas. Na Inglaterra, o Chelsea praticamente voltara a ser um clube corriqueiro depois do suicídio de Abramovic, quando de sua própria falência. Arsenal, Liverpool, Bayern de Munique, Lyon, todos quebrados.

Em 2014, ano em que conquistei o hexa sob o comando do velho Felipão (depois da derrota na final de 2010, para a Argentina, quando o técnico era Muricy), apenas um clube fazia frente ao poderio econômico de Barça e United.

O Aston Villa.

Time de tantas glórias no passado, havia sido comprado, dois anos antes, pelo filho e herdeiro do bilionário Paul Allen. Ao contrário do pai, um apaixonado pelo basquete, o jovem e ambicioso e um tanto desmiolado John, meu xará, gostava mesmo é de bola na rede, não na redinha.

Talvez por isso tenha me oferecido (quando eu tinha 21, como já disse), a montanha de 250 milhões de libras por um contrato de apenas três anos. E eu, que já tinha ganho um bom dinheiro em meu segundo contrato com o Real, me transformei, da noite pro dia, no atleta mais rico de todos os tempos e esportes.

Retribuí a John e ao Villa marcando mais de duzentos gols e levantando as taças de campeão inglês e da FA Cup.

Agora, com o passe novamente na mão, tinha ofertas dos dois super-potentes, Barça e United.

Mas meu nome é João. E eu resolvi mudar as regras do jogo. Simples assim, como meu nome.

Recusei as propostas. Chamei meus contadores. Somando tudo que ganhei nos últimos nove anos, entre contratos e publicidade, já acumulava uma fortuna quase bilionária (em euros, não em dólar, aquela moeda decadente). Eu disse “acumulava” porque gastei quase a metade de tudo que ganhei ontem. E não gastei sozinho – tive alguns parceiros na maior empreitada de minha carreira.

A compra do Milan.

O negócio começou a surgir numa conversa com Kaká, há alguns anos, na Granja Comary. Nunca vi jogador tão apaixonado por um clube. Mesmo depois da saída dos Berlusconi, ele permaneceu em Milão, onde se transformou no “segundo maior ídolo da história do Milan, depois de Paolo Maldini”.

“- Grande coisa”, disse eu, brincando. Foi quando Kaká me revelou seu sonho, de ver o clube reerguido, livre das dívidas e da ameaça de rebaixamento. Foi quando a pulga se instalou atrás de minha orelha.

Pagamos ontem, eu e meus sócios, mais de 500 milhões de euros pelo clube e suas dívidas. Mas não foi difícil, antes mesmo de fecharmos o negócio, arrumar os mais fortes patrocinadores.

Afinal, meus sócios são o próprio Kaká, além de Messi e Cristiano Ronaldo. Os três maiores astros da geração anterior à minha, que agora, respectivamente aos 34, 30 e 32 anos, sem nada a provar ou conquistar, embarcaram comigo nessa verdadeira transformação que propús – pela primeira vez um clube tem, como donos, seus próprios jogadores. Com nossa fama, nossas fortunas, as fortunas dos patrocinadores e um retorno de marketing e mídia nunca antes visto, pretendemos não só tirar o clube do vermelho, mas fazer dele a primeira real associação de jogadores de futebol.

Sócio-atleta, literalmente.

Nas vinte e quatro horas que já se seguem desde a assinatura da papelada toda, meu telefone tocou uma dezena de vezes. Craques, ex-craques, promessas, todos querem jogar no Milan de João, Ricardo, Lionel e Cristiano. Até Ronaldinho Gaúcho, recém-aposentado aos 36 anos (depois de seis temporadas brilhantes no clube) está pensando em voltar.

E meus contadores, já em meu primeiro dia como dono-dirigente-jogador, me avisam que o retorno do investimento será líquido e certo e rápido.

Como disse, eu sou o maior desde Pelé.

E não penso pequeno.

4 comentários:

Anônimo disse...

sensacional! e o engraçado: nesse fundo preto, que sempre me faz pensar em novos óculos, acabei lendo que "...apenas um clube fazia frente ao poderio de barça e UNIMED."

Bolinho disse...

Filho, essa merecia ser publicada em veículo de maior alcance de público. Só achei que no final o João fosse comprar o Mengão e encerrar a carreira na Gávea, jogando em nosso novo estádio com capacidade para 90.000, erguido depois da demolição da Selva de Pedra, ao lado.
abraço

Edu Mendonça disse...

Hmmm... vou mandar essa idéia ao pé do ouvido do João...

Anônimo disse...

O problema vai ser quando Elano, Vágner Love, Marcos Senna e Dudu Cearense juntarem suas fortunas e comprar uma dúzia de times. O Lúcio Flávio tá ganhando 140 mil do Santos pra bater aquelas faltinhas na entrada da área! Quanto o Zé Roberto tá levando por mês no Fla? Aqui dentro e principalmente lá fora, esses caras viraram empresas. Os clubes nunca...