terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Psiqué Alvi-Negra

No ano que passou, o Botafogo não levantou taça. Seu torcedor não botou faixa no peito, não gritou "é campeão!" (coisa que não faz desde o título carioca de 2006). Ainda assim, o Botafogo foi relevante durante toda a temporada, por um simples motivo - jogava bonito. Foi dessa forma que chegou à decisão estadual, contra o Flamengo, e foi assim que disputou a primeira metade do Campeonato Brasileiro, quando chegou a dar pinta de que brigaria, pelo menos, por uma vaga na Libertadores.

Meus amigos botafoguenses, no primeiro semestre, tinham nítido orgulho do time.

Mas o sonho da Libertadores não aconteceu. Como não aconteceu o próprio Botafogo, que se pareceu demais com aquela menina linda que desfila de biquíni pela praia, enlouquece a todos, te surpreende chamando pra um sorvete na saída mas, no fim, tá dá um beijinho no rosto e diz "tchau".

(Na próxima vez, na praia, você nem vai querer prestar atenção na tal menina - assim como a torcida fez com o time no segundo semestre do ano passado.)

Por quê?

Diriam os mais pragmáticos, pela falta do título. De que adianta jogar bonito sem levantar o caneco no fim?

Diriam os mais apaixonados, pela falta de atitude. De que adiante o time aguerrido em campo que chora depois no vestiário?

Sem o carioca, sem realmente acontecer no brasileiro, aconteceu o que acontece sempre - Cuca, responsável pelo jogo bonito do Bota, foi pra rua. Para seu lugar, Ney Franco.

Deus me livre, toc, toc, toc na madeira.

Ney é mau técnico? Não. Entende de futebol? Sim, claro. É técnico pro Botafogo? Não, de maneira alguma, menos ainda do que era pro Flamengo. Mas parece apropriado para a nova fase do clube, de presidente novo, novo teto salarial e novo time (essa não é a minha opinião, claro, mas sim a da nova diretoria, que o manteve).

Porque do elenco de 2009, saíram 14 jogadores. Entre eles, Lúcio Flávio, Renato Silva, Diguinho, Triguinho, Túlio, Wellington Paulista e Jorge Henrique. Quase todo o time titular.

Coube a Ney indicar os reforços para o seu novo time, montado à sua imagem e semelhança. Aí que a coisa começa a complicar. Lembram dos reforços indicados por Ney para o Fla? Pois é.

Com o aval dele, chegaram nomes tão desconhecidos quanto suspeitos - Fahel, Teco, Batista, Diego, Jean Carioca... você, botafoguense, sabe de onde eles vieram? Não, não eram todos do Ipatinga.

Entres os conhecidos, a diretoria resolveu apostar em Reinaldo, ex-Fla e São Paulo, que estava no Japão, Maicosuel, meio-campo que não vingou no muito mais bem organizado e treinado Palmeiras, Juninho, que também não vingou nem como reserva no tricolor paulista, e Victor Simões, bom atacante que defendeu o Figueirense em 2007 (minha única aposta como surpresa nesse time). Caberá a eles a responsabilidade de serem referência numa equipe que, no papel, parece modesta:

Renan, Alessandro, Juninho, Teco e Eduardo; Leandro Guerreiro, Fahel, Túlio Souza e Maicosuel; Victor Simões e Reinaldo.

No banco, os genéricos Castilho, Thiaguinho, Wellington, Alex, Gabriel, Léo Silva, Lucas Silva, Jean Carioca, Batista, Diego, Laio... todos comandados pelo Ney, um técnico que, perto do Cuca, parece ainda mais retranqueiro do que é.

Mas essa não é, de longe, a pior notícia para o torcedor botafoguense.

O pior é pensar que aquela relevância de que falei, se foi. Se foi junto com a paixão de Bebeto de Freitas pelo Botafogo. Se foi junto com a ousadia e o destempero de Cuca, que agiram para o bem e para o mal do clube em 2008. Sem Bebeto e sem Cuca - e com uma nova diretoria e um novo treinador que parecem pequenos diante da grandeza do Glorioso, 2009 não promete muitos motivos de orgulho para a torcida.

10 comentários:

Anônimo disse...

é isso aí mesmo. E o melhor do time é o Juninho. pra vocês verem o nível...

Anônimo disse...

não adianta: cada clube tem uma alma própria. para um botafoguense, a vida é difícil. um deles me disse: "a gente vai para o estádio esperando o pior. melhor dizendo: esperando a derrota." notou a diferenciação? "pior" e "derrota" não são a mesma coisa para ele. tudo bem, sou contra o positivismo e tenho ódio da idéia americana de separar o mundo entre perdedores e vencedores. mas, pô, isso não é a vida, é futebol. se não é para esperar o melhor, o que vou eu fazer num estádio?

Anônimo disse...

e só pra completar o post do flamengo: boa contratação a do zé roberto. o perigo é insistir que ele é meio-campo. ele é atacante. ele, carlos alberto, thiago neves - tudo filhote de rivaldo. não adianta esperar que eles pensem. e eu não estaria, preconceituosamente, falando em filosofia nem nada. falo em pensar o jogo, mesmo. toda jogada com eles começa do zero. "ih, a bola! e agora? acho que vou driblar esses dois e meter na gaveta". às vezes conseguem (o rivaldo muito mais que os outros juntos). mas não são meias. na copa de 2002, quando o ronaldinho gaúcho não jogava, o felipão cometia esse erro. escalava o edilson e recuava o rivaldo. transformava um atacante genial num meio-campo medíocre. o cara joga de cabeça baixa, como é que vai pensar o jogo? se o cuca deixar o zé roberto solto lá na frente, inventando coisa pro obina completar, pode dar certo.

Anônimo disse...

Zé Roberto joga muita bola. Chega pra pegar a 10 que a urubuzada queria pro Renato Augusto. E com o Cuca, Zé Roberto joga pela ponta-esquerda, solto, fingindo que marca o lateral adversário. O problema é q o cara realmente é viciado na noite. Se bem, que pra esse estadual aí... dá pra jogar de ressaca.

Edu Mendonça disse...

Hehehe... "dá pra jogar de ressaca" é ótima.

Eu não sei, sinceramente, se gostei da contratação do Zé Roberto. Acho que só pode dar certo se o Cuca realmente escalá-lo como atacante, deixando o Paraíba no meio, onde ele tem passe e visão e a velocidade não lhe faz tanta falta quanto no ataque. Resta saber se ele vai de 4-2-2 ou 3-5-2. E se o Bruno e o Zé Roberto vão virar melhores amigos...

Anônimo disse...

hahahaha... tem isso também. o Bruno seria um contato de festa "legal" em BH pro Zé.

O Flamengo tá com um time muito bom, Edu. Parece até uma equipe paulista no papel. Mas o clube é bem-bem carioca.

Anônimo disse...

o camilo acertou na mosca. se o flamengo ficasse em são paulo, ou se são paulo tivesse um flamengo, esse seria um dos maiores clubes do mundo.

Edu Mendonça disse...

Mas ele é. Só não fatura como tal, pois não é administrado como tal. E, pra isso, nem precisaria ficar em São Paulo, bastaria modificar o estatuto do clube e entregar sua admnistração a dirigentes profissionais, remunerados, como acontece no São Paulo.

Qual o salário do Kléber Leite, alguém sabe? Será parecido com o do Marco Aurélio Cunha?

Anônimo disse...

vou confessar uma coisa pros amigos: tenho medo do Flamengo sim. Medo de uns três ou quatro profissionais competentes tomarem conta. Já pensaram em uma campanha convincente de sócio-torcedor? de uma base com investimentos e que revele um craquinho por ano como faz o Inter? Um Flamengo com CT bem equipado, um museu bonito na sede da gávea, boas contratações, salários menos astronômicos para Kléberson e Jonatas... é muita ficção. Papai Noel não existe. Ou melhor, esse perigoso monstro não é real.

Anônimo disse...

mas aí é que está a graça. aqui no brasil nada pode ser perfeito. o sp tem estrutura, administração, dinheiro, mas não é aquele clube de massa. o flamengo é esse clube, mas não tem estrutura, administração e dinheiro. e assim a gente vai levando !!!!