O ano passado vai ficar para sempre marcado na memória do torcedor tricolor, mesmo tendo sido sem título - ou justamente por causa disso.
A prioridade, anunciada, foi a Libertadores. Por conta dessa decisão "estratégica" da "diretoria" do clube, em 2008 sua torcida viu o maior rival igualar o número de títulos estaduais e, pior, sofreu com o quase rebaixamento do time no Campeonato Brasileiro.
Tudo, na minha opinião, por conta da soberba geral tricolor.
Talvez esse sentimento tenha surgido na magistral exibição diante do Arsenal, o argentino, ainda na primeira fase. O clube nem seguiu adiante no torneio, mas aquele 6x0, diante do Maracanã lotado e com direito a um gol antológico de Dodô, elevou um sentimento que pareceu impregnar o restante da temporada - a confiança desmedida. Que, com o avanço do time na Libertadores, só aumentou, até virar soberba após a eliminação do Boca nas semifinais, que teve tons tão dramáticos quanto o triunfo sobre o São Paulo, na fase anterior.
Naquele momento, o Fluminense ocupava um lugar cativo na zona de rebaixamento do nacional. Dodô, insatisfeito com a reserva, era motivo de um clima ruim nas Laranjeiras, onde o técnico Renato Gaúcho afirmava que o Fluminense "ainda iria brincar no Brasileiro". E o torcedor tricolor, de modo geral, já cantava o título, achando que a LDU não seria um adversário à altura na final da Libertadores.
Acho desnecessário contar o que aconteceu depois.
Mas fundamental relatar um episódio que vivi no dia da decisão (em que, graças aos céus, não tive que trabalhar no Maracanã).
Fui assistir ao jogo na casa de um grande amigo rubro-negro, ao lado do meu irmão vascaíno. Torci, admito, contra, assim como eles. Só balancei um pouco na hora dos pênaltis, ao imaginar o estado de meu pai, tricolor, naquele momento no Maracanã. Mas curti, assim mesmo, o título equatoriano.
O que eu jamais esperava era uma reação como a que vi nas ruas da Tijuca e outros bairros no caminho de casa. Apito final e eis que uma chuva de fogos de artifício começa a pipocar no céu da cidade. Pessoas nas janelas, nos bares, nas ruas, todas comemorando a derrota tricolor. Um sentimento genuíno de prazer pela miséria alheia geralmente só sentido com relação ao Flamengo.
Por quê?
Teria sido a tal soberba?
Nem torcedor, nem diretoria, nem técnico e nem jogadores souberam lidar com a possibilidade (real, concreta, paupável, provável) de conquistar o título mais importante da história do clube. Agiram, todos, com uma superioridade que se mostrou inútil diante da vontade equatoriana. Uma derrota que ensina, mesmo que não se queira aprender.
O Flu não foi campeão mas também não caiu, salvo pelo mago das bolinhas de tênis, Renê Simões. Em retribuição, o manteve no comando para 2009. Mas objetivos, confiança e nem o time são parecidos com os do ano que passou.
Foram embora Thiago Silva, Júnior Cesar, Arouca e Washington, todos titulares, além de nomes como Dodô, Roger e Soares, importantes em determinados momentos da temporada. Isso sem falar de Thiago Neves, que foi logo depois da Libertadores.
Chegou um time de Leandros - o lateral do Palmeiras, os meias do Vasco (Bonfim) e do Vitória (Domingues), o atacante do Vasco (Amaral, de volta) e ainda pode vir mais um, o zagueiro do Atlético Mineiro (Almeida). Além deles, nomes como Xandão, zagueiro do Guarani, Roger, ex-Sport, e os volantes Jaílton, ex-Fla, e Diguinho, ex-Bota.
Botando na balança, me parece que o Flu perdeu. Basta ver o que deve ser o time titular para 2009:
Fernando Henrique, Wellington Monteiro, Luiz Alberto, Edcarlos e Leandro; Jaílton, Diguinho, Leandro Domingues e Dario Conca; Leandro Amaral e Roger.
É time para brigar pelo título carioca? Pode ser. Mas de forma alguma essa equipe entra na briga do Campeonato Brasileiro. Foi importante, fundamental mesmo, a manutenção de Conca, único a pensar nesse meio-campo. E também o retorno de Leandro Amaral, embora este, no segundo semestre, no Vasco, não tenha sido nem de longe o Leandro do primeiro, no Fluminense.
E, podem apostar, Renê não passa do estadual. Sabem como são as coisas no Flu de Horcades, o senhor bonachão que deu algumas das declarações mais lamentáveis dos últimos tempos. Mas também, querer o quê? Ele é médico... e médicos, geralmente, precisam de ajuda profissional até mesmo para administrar seus próprios consultórios.
5 comentários:
excelente texto. a primeira coisa que senti, no maracanã, assim que acabou a disputa de pênaltis, foi saudade. a libertadores tinha sido uma festa, desde o jogo contra o arsenal, lembrado no post. a cada noite, o encontro anônimo com a torcida e marcado com os amigos. no exato instante da derrota, o que doeu foi a clareza de que a festa tinha acabado. nunca mais a libertadores de 2008. como o título não veio, chegou a conta: lembra que, no morumbi, o renato gaúcho, um rinnus michels, concluiu que era melhor entrar sem o conca, o cara que tinha resolvido aquele meio-campo? ganhamos aquele jogo de 0 a 1. depois, veio a histórica burrice de deixar, durante 15 dias, o time num limbo. nem libertadores, parada entre a semifinal e a final, nem brasileiro, desprezado. o espírito foi pro caralho, e um time de zumbis perdeu a taça lá em quito. e o pior erro de todos: o caso dos ingressos para o jogo de volta, a mais vergonhosa atitude que um clube tomou contra a própria torcida em toda a história do futebol. ali eu vi que ia dar merda, era amadorismo demais. só mesmo o sufoco contra o rebaixamento para reacender a ligação da torcida com o time, senão estaríamos até hoje naquele vazio que a libertadores deixou. sobre torcer contra, sinto o mesmo que você. torço contra o flamengo, mas apenas para evitar o barulho da torcida de vocês nos meus ouvidos (vocês são muitos, e berram). acabado o jogo, acaba a minha torcida. comemorar? não entendo. não foi o meu time.
e concordo sobre o renê simões: ele é o flanders.
O Flu desse ano, sei lá, tá estranho. O Flamengo tá bom; o Botafogo, bem ruim. mas o fluminense... nÃO sei se o Leandro Amaral tem essa lenha toda pra queimar e o Roger nunca ficou um ano inteiro de titular absoluto de time algum (Ponte Preta não conta). Imprevisível esse time pra 2009.
Não acho que seja time pra brigar por nenhum título, tirando, talvez, o da Copa do Brasil, por ser mata-mata (e, às vezes, apresentar um adversário como o Figueirense na final).
O Horcades vai dar um jeito de vender o Tartá a preço de banana rapidinho e trazer alguém que não tá dando certo na Europa a peso de ouro...
o Flor só me deu alegrias em 2008!
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