Esqueçam também as comemorações coreografadas, os 54 gols em 17 jogos - incrível média de 3,17 - as goleadas com sabor de antigamente e até mesmo o golaço de Ganso, ontem, por cobertura, com o pé esquerdo e a classe de um Zidane, um Sócrates. Esqueçam tudo isso.
Lembrem-se apenas que o Santos, 41 pontos - onze a mais que o São Paulo, doze a mais que o Corinthians e dezesete a mais que o Palmeiras - pode ficar pelo caminho nas semifinais, depois de tão brilhante campanha, capaz de encantar, nestes primeiros meses de 2010, a todos que apreciam o bom futebol.
Toda essa superioridade valerá apenas a vantagem de jogar por dois resultados iguais nas semis, além de fazer a segunda partida em casa. E assim, num golpe do destino, num daqueles azares que povoam o futebol, o melhor time do campeonato pode ser eliminado pelo quarto colocado. Que pode ser o São Paulo, mas pode também ser o ilustre Grêmio Prudente, antigo Barueri.
E aí eu pergunto - é justa essa fórmula em que, depois de todos jogarem contra todos, um time como esse do Santos ainda precise se provar melhor que outros três que terminaram tão atrás?
Será lembrado como esse campeonato se outro, que não o Santos, for o campeão?
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Conheci Armando Nogueira em 1995, mesmo ano em que recebia meu primeiro salário como profissional de televisão. Trabalhamos juntos no programa Bola Q Rola, do Sportv, já nos anos 2000, em que eu era o editor-chefe e ele tinha uma coluna. Foi naquele contato semanal, durante mais de um ano, que aprendi a admirá-lo. Não apenas pelo texto ou pelas tiradas geniais que abrilhantavam o programa - a coluna do Seu Armando, no fim, era realmente o momento mais aguardado, o luxo do BQR. O que me fez dele fã e defensor, no entanto, foi sua personalidade única.
Em janeiro de 2007, quando completou 80 anos, eu estava retornando ao Sportv, depois de um ano longe de casa. Coube a mim fechar o programa especial, ao vivo, em que lhe prestamos uma bela homenagem, na sede náutica do Botafogo, com a presença de uma série de personalidades ligadas ao jornalismo, ao clube de coração e ao futebol.
Com tanta gente por aí que não é nada se achando o tal, Armando Nogueira, em sua simplicidade, nos ensinava que não éramos nada mesmo.
O jornalismo perde um ícone e o mundo, um tremendo ser humano.