sábado, 31 de janeiro de 2009

A escolha de Amauri.

Na segunda, Dunga deixou de convocar o atacante da Juventus. Justificou que jogar contra a Itália poderia ser uma pressão a mais e que por isso o deixara de fora da lista.

No sábado, Dunga convoca Amauri para o lugar do machucado Luis Fabiano.

E agora, Amauri?

Aceitas a primeira convocação para a amarelinha, o chamado de Dunga, pra ocupar a vaga aberta pela má sorte do LF?

Ou esperas sair o passaporte italiano e vai defender a Azzurra, onde o técnico Marcello Lippi, mesmo antes de sair a papelada, já disse que quer contar com você?

Queres brigar por vaga no ataque com Robinho, Luis Fabiano, Adriano, Pato, Ronaldinho Gaúcho ou preferes a concorrência de Gillardino, Del Piero, Luca Toni, Iaquinta... com Alessandro, você já joga na Juve.

Vestir uma camisa, mesmo que nesse amistoso, é dar adeus eterno à outra.

Apesar de incrível decisão de Dunga, a Juventus não deve liberar Amauri para a partida em Londres, pois a convocação foi feita depois do limite imposto pela FIFA. Será a melhor maneira de Amauri se livrar da responsabilidade dessa escolha, numa semana em que deve ter se sentido preterido e injustiçado, caso ele ainda não tenha a certeza de por qual seleção quer jogar.

E Dunga? O que será que se passa na cabeça do técnico da seleção brasileira? Chamou Amauri, depois de dizer que não era bom para ele próprio enfrentar a Itália, porque não dá a mínima para o homem?

Ou chamou o jogador para evitar um grande reforço para a seleção italiana no futuro?

Ou ambas as coisas?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Previsão É De Tempo Instável Com Possibilidade De Tempestades Ao Longo Do Período.

Uau, que dias estranhos... como o tempo no Rio.

Primeiro o Robinho. Acusação mais grave, há poucas. Mas acusações falsas, também há. Então é preciso dar tempo para que o caso seja investigado - e vai. Se ficar provada a culpa, é uma pena. Mas até que se saiba verdadeiramente o que ocorreu, não se pode sentenciá-lo.

Eu lembro que quando Kobe Bryant foi acusado de estupro, no fim ficou provado que o sexo foi consensual. Exames e perícia provaram que a suposta vítima, no mesmo dia, fez sexo com outros dois homens - horas depois do encontro com o jogador dos Lakers.

* * *

Sobre mais essa de um dos nossos "craques", Pelé foi duro:

"- Triste pelo Robinho? Sim, é uma coisa realmente muito triste, não só Robinho, como o que tem acontecido com o Ronaldo também. Nós lutamos tanto para abrir as portas para a nova geração e é triste ficar vendo que um jogador que poderia dar exemplo está fazendo isso não só com o futebol, mas com o próprio país. O mercado vai acabar fechando as portas para os brasileiros. Tem o caso do Robinho, do Adriano, do Ronaldo... vão fechar as portas."

Fechar as portas é um exagero típico do Rei. Mas numa coisa ele está coberto de razão - o trio deixou de ser exemplo, para qualquer coisa, há muito tempo.

* * *

E o JN, que deu assim a notícia de Robinho na escalada?

"IMPRENSA INGLESA ENVOLVE O NOME DE ROBINHO EM UM ESCÂNDALO SEXUAL"


Ora, não foi o próprio Robinho, em conversa por telefone com a repórter Joanna de Assis - da casa - quem confirmou, na hora do almoço, que foi depor à polícia, como estava acertado há uma semana, ao ser chamado pelo braço da lei?

Onde a imprensa inglesa entra nisso?

Um escândalo!!!

* * *

E já que falei de palavras alheias, quem você acha que foi mais infeliz?

"- Ele (ntb. o Roberto) foi um ídolo do passado e quem vive de passado é museu. A gente está aqui para provar que no futuro, os atletas que chegaram podem dar certo. Acho que todos podem virar ídolos aqui no Vasco - afirmou o jogador, logo após o treino em São Januário." - Rodrigo "Pimpão"

"- Fiquei irritado. O treinador chegou a entregar uma carta dizendo que não me adaptei. E não me liberam. Se não joguei em sete meses, vou jogar agora que o campeonato está no fim? Fizeram a mim e ao Léo (ntb. o Rabelo) de bobos. Vamos continuar tentando. Não deu na primeira, vamos para a segunda tentativa." - Thiago "Eu Não Penso" Neves.

Eu fico com a segunda.

* * *

Palavras alheias, parte III:

"- É importante olharem até pela questão da motivação dos jogadores brasileiros. Cada vez que convocam mais os caras de fora, aí é que todo mundo quer sair mesmo para chegar à seleção. Então, o trabalho que a gente está fazendo aqui não está valendo de nada para ser chamado." - Ramires

Ao contrário do TN, Ramires, além de jogar bola, pensa. E fala. É uma ofensa a convocação de Gilberto Silva, Josué e Felipe Mello por Dunga. Pior que isso, foi a justificativa dele, de que não quis prejudicar os clubes brasileiros, em início da temporada.

Vai convocar quando, então? Nas fases de mata-mata da Copa do Brasil ou da Libertadores? Bem no meio do Brasileiro?

Desde Sebastião Lazaroni não tínhamos um pensamento tão tosco no comando da seleção.

Hoje Guilherme virou ex-companheiro de Ramires, foi vendido ao Zaragoza. Quanto tempo até Dunga convocá-lo agora?

* * *

Quanto tempo até Neymar, 16 anos, promovido hoje aos profissionais do Santos, seguir o mesmo caminho?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Começou 2009.

Falar o quê de um campeonato em que:

1) o atual bi, diante de um Maracanã com 36 mil pessoas, mesmo debaixo de um sol senegalês, vence o Friburguense a) jogando mal b) roubado c) com os mesmos erros do ano passado?

2) o atual vice, num jogo de arbitragem não menos confusa, também só vence no maior aperto?

3) o atual "também favorito junto com o Fla" sai na frente mas perde, de 3x1, pra Cabofriense?

4) o atual motivo de chacota das demais grandes torcidas da cidade estreia sendo derrotado, em seu estádio, pelo Americano?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Visão.

Olá. Meu nome é João. Você não me conhece, mas eu sou o maior jogador de futebol do planeta desde Pelé, tri no México há 47 anos.

Isso mesmo, estamos em 2017.

Eu acabo de completar 24. Tinha 16 quando, em 2009, Kaká recusou a maior proposta já feita por/para um jogador até então. Foi justamente naquele ano que o Real Madrid comprou meus direitos federativos, como se chamava na época. Era já tão bom que, antes dos 17, marcava meu primeiro gol no Santiago Bernabeu.

O primeiro de quase 400 com a camisa merengue em quatro anos na Espanha. Como disse, sou o melhor desde Pelé.

Foi aos 21 que tudo aconteceu. Os principais clubes do mundo, afundados em dívidas por conta da crise mundial iniciada no fim da década passada, estavam à beira da falência. Apenas dois operavam no azul - Barcelona e Manchester. O Milan, depois que Silvio Berlusconi o vendeu, em 2010, brigava apenas nacionalmente com Juventus e Inter, não menos endividadas. Na Inglaterra, o Chelsea praticamente voltara a ser um clube corriqueiro depois do suicídio de Abramovic, quando de sua própria falência. Arsenal, Liverpool, Bayern de Munique, Lyon, todos quebrados.

Em 2014, ano em que conquistei o hexa sob o comando do velho Felipão (depois da derrota na final de 2010, para a Argentina, quando o técnico era Muricy), apenas um clube fazia frente ao poderio econômico de Barça e United.

O Aston Villa.

Time de tantas glórias no passado, havia sido comprado, dois anos antes, pelo filho e herdeiro do bilionário Paul Allen. Ao contrário do pai, um apaixonado pelo basquete, o jovem e ambicioso e um tanto desmiolado John, meu xará, gostava mesmo é de bola na rede, não na redinha.

Talvez por isso tenha me oferecido (quando eu tinha 21, como já disse), a montanha de 250 milhões de libras por um contrato de apenas três anos. E eu, que já tinha ganho um bom dinheiro em meu segundo contrato com o Real, me transformei, da noite pro dia, no atleta mais rico de todos os tempos e esportes.

Retribuí a John e ao Villa marcando mais de duzentos gols e levantando as taças de campeão inglês e da FA Cup.

Agora, com o passe novamente na mão, tinha ofertas dos dois super-potentes, Barça e United.

Mas meu nome é João. E eu resolvi mudar as regras do jogo. Simples assim, como meu nome.

Recusei as propostas. Chamei meus contadores. Somando tudo que ganhei nos últimos nove anos, entre contratos e publicidade, já acumulava uma fortuna quase bilionária (em euros, não em dólar, aquela moeda decadente). Eu disse “acumulava” porque gastei quase a metade de tudo que ganhei ontem. E não gastei sozinho – tive alguns parceiros na maior empreitada de minha carreira.

A compra do Milan.

O negócio começou a surgir numa conversa com Kaká, há alguns anos, na Granja Comary. Nunca vi jogador tão apaixonado por um clube. Mesmo depois da saída dos Berlusconi, ele permaneceu em Milão, onde se transformou no “segundo maior ídolo da história do Milan, depois de Paolo Maldini”.

“- Grande coisa”, disse eu, brincando. Foi quando Kaká me revelou seu sonho, de ver o clube reerguido, livre das dívidas e da ameaça de rebaixamento. Foi quando a pulga se instalou atrás de minha orelha.

Pagamos ontem, eu e meus sócios, mais de 500 milhões de euros pelo clube e suas dívidas. Mas não foi difícil, antes mesmo de fecharmos o negócio, arrumar os mais fortes patrocinadores.

Afinal, meus sócios são o próprio Kaká, além de Messi e Cristiano Ronaldo. Os três maiores astros da geração anterior à minha, que agora, respectivamente aos 34, 30 e 32 anos, sem nada a provar ou conquistar, embarcaram comigo nessa verdadeira transformação que propús – pela primeira vez um clube tem, como donos, seus próprios jogadores. Com nossa fama, nossas fortunas, as fortunas dos patrocinadores e um retorno de marketing e mídia nunca antes visto, pretendemos não só tirar o clube do vermelho, mas fazer dele a primeira real associação de jogadores de futebol.

Sócio-atleta, literalmente.

Nas vinte e quatro horas que já se seguem desde a assinatura da papelada toda, meu telefone tocou uma dezena de vezes. Craques, ex-craques, promessas, todos querem jogar no Milan de João, Ricardo, Lionel e Cristiano. Até Ronaldinho Gaúcho, recém-aposentado aos 36 anos (depois de seis temporadas brilhantes no clube) está pensando em voltar.

E meus contadores, já em meu primeiro dia como dono-dirigente-jogador, me avisam que o retorno do investimento será líquido e certo e rápido.

Como disse, eu sou o maior desde Pelé.

E não penso pequeno.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Berlusconi.


"- Kaká deu uma demonstração extraordinária de não ser alguém que pensa apenas nos lucros, com princípios e valores. Ele demonstrou ter valores como o de apego à bandeira e o reconhecimento a um clube e um presidente que impulsionaram sua carreira. Valores como a amizade com seus companheiros de equipe e carinho pelos torcedores do Milan, que tanto lhe deram e continuarão fazendo. Deixamos que ele tivesse liberdade de escolha, como fizemos com Shevchenko (ntb. em sua ida para o Chelsea). Por outro lado, um presidente irmão e pai não pode fazer outra coisa. Não pronunciei nem uma só palavra para fazê-lo aceitar. Pelo contrário, os pedidos para que ele ficasse surtiram efeito. Estamos contentes de ter conosco um menino cuja alma é igual ao seu rosto, que é belíssimo."

Ontem não houve brinde à mesa de jantar da casa dos Berlusconi, que deixaram de capitalizar, de uma só vez, em dinheiro vivo! a fortuna de 130 milhões de euros. Isso, no meio da maior crise econômica que o magnata italiano enfrenta desde que comprou o Milan (que, aliás, é também a maior e mais sombria crise que o mundo enfrenta em muito tempo).

Kaká, por sua vez, mostrou que projeta grandiosamente sua carreira, mesmo pensando tão pequeno para a vida - o teto da igreja que desabou e onde se casou, da seita que ele ajuda a sustentar os donos, que respondem por lavagem de dinheiro, caiu por falta de manutenção e de projeto adequado.

E assim segue girando esse delicioso mundo da bola.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

2008 pra esquecer

O ano passado vai ficar para sempre marcado na memória do torcedor tricolor, mesmo tendo sido sem título - ou justamente por causa disso.

A prioridade, anunciada, foi a Libertadores. Por conta dessa decisão "estratégica" da "diretoria" do clube, em 2008 sua torcida viu o maior rival igualar o número de títulos estaduais e, pior, sofreu com o quase rebaixamento do time no Campeonato Brasileiro.

Tudo, na minha opinião, por conta da soberba geral tricolor.

Talvez esse sentimento tenha surgido na magistral exibição diante do Arsenal, o argentino, ainda na primeira fase. O clube nem seguiu adiante no torneio, mas aquele 6x0, diante do Maracanã lotado e com direito a um gol antológico de Dodô, elevou um sentimento que pareceu impregnar o restante da temporada - a confiança desmedida. Que, com o avanço do time na Libertadores, só aumentou, até virar soberba após a eliminação do Boca nas semifinais, que teve tons tão dramáticos quanto o triunfo sobre o São Paulo, na fase anterior.

Naquele momento, o Fluminense ocupava um lugar cativo na zona de rebaixamento do nacional. Dodô, insatisfeito com a reserva, era motivo de um clima ruim nas Laranjeiras, onde o técnico Renato Gaúcho afirmava que o Fluminense "ainda iria brincar no Brasileiro". E o torcedor tricolor, de modo geral, já cantava o título, achando que a LDU não seria um adversário à altura na final da Libertadores.

Acho desnecessário contar o que aconteceu depois.

Mas fundamental relatar um episódio que vivi no dia da decisão (em que, graças aos céus, não tive que trabalhar no Maracanã).

Fui assistir ao jogo na casa de um grande amigo rubro-negro, ao lado do meu irmão vascaíno. Torci, admito, contra, assim como eles. Só balancei um pouco na hora dos pênaltis, ao imaginar o estado de meu pai, tricolor, naquele momento no Maracanã. Mas curti, assim mesmo, o título equatoriano.

O que eu jamais esperava era uma reação como a que vi nas ruas da Tijuca e outros bairros no caminho de casa. Apito final e eis que uma chuva de fogos de artifício começa a pipocar no céu da cidade. Pessoas nas janelas, nos bares, nas ruas, todas comemorando a derrota tricolor. Um sentimento genuíno de prazer pela miséria alheia geralmente só sentido com relação ao Flamengo.

Por quê?

Teria sido a tal soberba?

Nem torcedor, nem diretoria, nem técnico e nem jogadores souberam lidar com a possibilidade (real, concreta, paupável, provável) de conquistar o título mais importante da história do clube. Agiram, todos, com uma superioridade que se mostrou inútil diante da vontade equatoriana. Uma derrota que ensina, mesmo que não se queira aprender.

O Flu não foi campeão mas também não caiu, salvo pelo mago das bolinhas de tênis, Renê Simões. Em retribuição, o manteve no comando para 2009. Mas objetivos, confiança e nem o time são parecidos com os do ano que passou.

Foram embora Thiago Silva, Júnior Cesar, Arouca e Washington, todos titulares, além de nomes como Dodô, Roger e Soares, importantes em determinados momentos da temporada. Isso sem falar de Thiago Neves, que foi logo depois da Libertadores.

Chegou um time de Leandros - o lateral do Palmeiras, os meias do Vasco (Bonfim) e do Vitória (Domingues), o atacante do Vasco (Amaral, de volta) e ainda pode vir mais um, o zagueiro do Atlético Mineiro (Almeida). Além deles, nomes como Xandão, zagueiro do Guarani, Roger, ex-Sport, e os volantes Jaílton, ex-Fla, e Diguinho, ex-Bota.

Botando na balança, me parece que o Flu perdeu. Basta ver o que deve ser o time titular para 2009:

Fernando Henrique, Wellington Monteiro, Luiz Alberto, Edcarlos e Leandro; Jaílton, Diguinho, Leandro Domingues e Dario Conca; Leandro Amaral e Roger.

É time para brigar pelo título carioca? Pode ser. Mas de forma alguma essa equipe entra na briga do Campeonato Brasileiro. Foi importante, fundamental mesmo, a manutenção de Conca, único a pensar nesse meio-campo. E também o retorno de Leandro Amaral, embora este, no segundo semestre, no Vasco, não tenha sido nem de longe o Leandro do primeiro, no Fluminense.

E, podem apostar, Renê não passa do estadual. Sabem como são as coisas no Flu de Horcades, o senhor bonachão que deu algumas das declarações mais lamentáveis dos últimos tempos. Mas também, querer o quê? Ele é médico... e médicos, geralmente, precisam de ajuda profissional até mesmo para administrar seus próprios consultórios.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Psiqué Alvi-Negra

No ano que passou, o Botafogo não levantou taça. Seu torcedor não botou faixa no peito, não gritou "é campeão!" (coisa que não faz desde o título carioca de 2006). Ainda assim, o Botafogo foi relevante durante toda a temporada, por um simples motivo - jogava bonito. Foi dessa forma que chegou à decisão estadual, contra o Flamengo, e foi assim que disputou a primeira metade do Campeonato Brasileiro, quando chegou a dar pinta de que brigaria, pelo menos, por uma vaga na Libertadores.

Meus amigos botafoguenses, no primeiro semestre, tinham nítido orgulho do time.

Mas o sonho da Libertadores não aconteceu. Como não aconteceu o próprio Botafogo, que se pareceu demais com aquela menina linda que desfila de biquíni pela praia, enlouquece a todos, te surpreende chamando pra um sorvete na saída mas, no fim, tá dá um beijinho no rosto e diz "tchau".

(Na próxima vez, na praia, você nem vai querer prestar atenção na tal menina - assim como a torcida fez com o time no segundo semestre do ano passado.)

Por quê?

Diriam os mais pragmáticos, pela falta do título. De que adianta jogar bonito sem levantar o caneco no fim?

Diriam os mais apaixonados, pela falta de atitude. De que adiante o time aguerrido em campo que chora depois no vestiário?

Sem o carioca, sem realmente acontecer no brasileiro, aconteceu o que acontece sempre - Cuca, responsável pelo jogo bonito do Bota, foi pra rua. Para seu lugar, Ney Franco.

Deus me livre, toc, toc, toc na madeira.

Ney é mau técnico? Não. Entende de futebol? Sim, claro. É técnico pro Botafogo? Não, de maneira alguma, menos ainda do que era pro Flamengo. Mas parece apropriado para a nova fase do clube, de presidente novo, novo teto salarial e novo time (essa não é a minha opinião, claro, mas sim a da nova diretoria, que o manteve).

Porque do elenco de 2009, saíram 14 jogadores. Entre eles, Lúcio Flávio, Renato Silva, Diguinho, Triguinho, Túlio, Wellington Paulista e Jorge Henrique. Quase todo o time titular.

Coube a Ney indicar os reforços para o seu novo time, montado à sua imagem e semelhança. Aí que a coisa começa a complicar. Lembram dos reforços indicados por Ney para o Fla? Pois é.

Com o aval dele, chegaram nomes tão desconhecidos quanto suspeitos - Fahel, Teco, Batista, Diego, Jean Carioca... você, botafoguense, sabe de onde eles vieram? Não, não eram todos do Ipatinga.

Entres os conhecidos, a diretoria resolveu apostar em Reinaldo, ex-Fla e São Paulo, que estava no Japão, Maicosuel, meio-campo que não vingou no muito mais bem organizado e treinado Palmeiras, Juninho, que também não vingou nem como reserva no tricolor paulista, e Victor Simões, bom atacante que defendeu o Figueirense em 2007 (minha única aposta como surpresa nesse time). Caberá a eles a responsabilidade de serem referência numa equipe que, no papel, parece modesta:

Renan, Alessandro, Juninho, Teco e Eduardo; Leandro Guerreiro, Fahel, Túlio Souza e Maicosuel; Victor Simões e Reinaldo.

No banco, os genéricos Castilho, Thiaguinho, Wellington, Alex, Gabriel, Léo Silva, Lucas Silva, Jean Carioca, Batista, Diego, Laio... todos comandados pelo Ney, um técnico que, perto do Cuca, parece ainda mais retranqueiro do que é.

Mas essa não é, de longe, a pior notícia para o torcedor botafoguense.

O pior é pensar que aquela relevância de que falei, se foi. Se foi junto com a paixão de Bebeto de Freitas pelo Botafogo. Se foi junto com a ousadia e o destempero de Cuca, que agiram para o bem e para o mal do clube em 2008. Sem Bebeto e sem Cuca - e com uma nova diretoria e um novo treinador que parecem pequenos diante da grandeza do Glorioso, 2009 não promete muitos motivos de orgulho para a torcida.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Feliz 2009?

Será mesmo?

Pode ser. Em São Paulo, para alguns. Em Porto Alegre, para outros. Em Belo Horizonte? Não sei, quem sabe 2009 marcará a reação do Galo. Em Recife, o Sport se prepara para a Libertadores.

Mas e o Rio?

O Rio que teve um clube rebaixado para a série B e nenhum classificado para o torneio que é a menina dos olhos do continente.

O que será do futebol carioca em 2009?

A partir de hoje o Tudo Bola faz uma despretensiosa porém sagaz análise dos quatro grandes clubes do outrora glorioso futebol daqui. Começando pelo Flamengo.

O ano passado foi dos mais frustrantes na história recente do clube, que na era dos pontos corridos acostumou sua torcida a torcer contra o rebaixamento. Depois da decepção na Libertadores de 2007, quando acabou eliminado debaixo de palmas de um Maracanã lotado, a diretoria apostava tudo no retorno ao torneio, verdadeira fixação do clube desde a primeira e única conquista, quando Zico, Júnior, Leandro, Adílio e Andrade ainda vestiam a camisa rubro-negra. E 2008 se desenhou, no início, de forma bela, com o bi estadual em cima do Botafogo e um ótimo início de campanha na Libertadores.

Mas veio então o desastre, a tragédia, a página mais triste da folhinha do ano que passou - o vexame do dia sete de maio, com a eliminação para o América do México, no Maracanã. Joel, recém-acertado com a seleção sul-africana, deixava o comando para o jovem e promissor Caio Júnior, que confirmou a boa expectativa em torno de seu nome reerguendo um time que tinha tudo, mas tudo mesmo para começar o campeonato brasileiro de cabeça baixa, envergonhado. Pois esse mesmo time liderou a competição de forma arrasadora em seu início, mostrando bom futebol além dos bons resultados.

Aí veio a janela de transferências, em que saíram Renato Augusto, Marcinho, Souza. Dos vinte e um pontos seguintes, o time conquistou dois. Perdeu a liderança e o embalo. Para minha surpresa, o Homem Flúido ainda conseguiu promover uma campanha de recuperação, que manteve o Fla na briga por uma vaga na Libertadores até a última rodada. Mas Caio Júnior se perdeu nessa reta final. Não soube aproveitar bem os reforços que ele mesmo indicou. Não soube definir um time titular. Cedeu e trouxe Jaílton de volta ao time. Mexeu mal. Não soube administrar as oportunidades aos jogadores. E acabou indo para a Arábia, que havia recusado no meio do campeonato, seduzido então pelo prazer de ter moral com toda uma nação.

Para seu lugar, depois de muita especulação e espera, o clube trouxe de volta Cuca. O mesmo Cuca que não durou quase nada em 2005. O Cuca tão identificado com o rival Botafogo. O Cuca que continua sendo um dos melhores arrumadores de time por essas bandas. O Cuca que continua sem título no currículo.

Além de Cuca, nada. A menos, claro, que você considere o zagueiro Douglas e o volante Willians como reais reforços. Enquanto todo o mercado se mexe para contratar, o Flamengo segue na direção contrária - enxuga o elenco e mantém a base de 2008. Voltam jovens que estavam emprestados, agora mais experientes, como o zagueiro Fabrício e o volante Rômulo. Saem Luizinho, Dininho, Leonardo, Fernando, Fernandão, Vandinho, Sambueza e Jaílton. Destes, só os três últimos tiveram real participação na campanha do ano que passou. Mesmo assim, apenas Jaílton atuou em mais de dez jogos. Cuca pediu um grupo enxuto, de 28 jogadores.

É, sem dúvida, uma aposta rara. Não somente no futebol brasileiro mas, principalmente, no Flamengo. A torcida até se acostumou - Entrava ano e saía ano, Kléber Leite contratava, contratava, contratava. Mas 2009 será diferente. A aposta é no time de 2008. Que era bom. Melhor antes da janela, mas ainda bom depois dela.

Enquanto a concorrência monta equipes novas para a temporada, Cuca terá um grupo entrosado (dentro de campo) e com problemas (fora dele) para trabalhar. Resta saber que cara o treinador dará a esse time.

O Botafogo de Cuca jogava num 3-4-3 ofensivo e bonito de se ver. O Flamengo de Caio, num 3-5-2 apoiado em Léo e Juan, que continuam sendo os melhores homens de criação de que o novo técnico pode dispor. O problema é que nenhum dos dois joga nada há tempos, como toda a torcida do Flamengo sabe. E um - ou mesmo ambos - ainda pode sair para o exterior (coisa que eu duvido).

A base com que Cuca vai trabalhar é:

GOLEIROS - Bruno, Diego, Marcelo Lomba e Paulo Víctor
LATERAIS - Léo Moura, Juan e Egídio
ZAGUEIROS - Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Thiago Salles, Douglas e Fabrício
VOLANTES E MEIAS - Aírton, Rômulo, Toró, Jônatas, Íbson, Kléberson, Willians, Fierro, Éverton e Erick Flores
ATACANTES - Marcelinho Paraíba, Obina, Maxi, Diego Tardelli, Josiel e Paulo Sérgio.

Esse é, basicamente, o grupo que sobe a serra para a pré-temporada na Granja Comary, a partir do dia 9, muitas vezes com treinos em três períodos - o primeiro deles, vejam só, às sete da manhã.

Essa é, de cara, a primeira novidade com Cuca. O novo comandante gosta de treino. Gosta de ver seu time jogando como ele quer. E, pra isso, vai submeter os jogadores rubro-negros à uma preparação que muitos não tiveram ainda na carreira. Não que o Homem Flúido não trabalhasse. Mas Cuca é daqueles que, acertadamente, acreditam que jogador treina pouco.

Afinal, ele jogou. E, como não era craque, teve boa carreira porque se dedicou ao máximo nos treinos. Cuca era um guerreiro, acima de tudo. A torcida não vai ver Juan voltando para a defesa como se estivesse passeando no calçadão da Barra em 2009.

Também não vai ver mexidas mirabolantes no time, pois Cuca me parece aprender com seus erros (e os dos outros, porque observa). Tampouco explosões temperamentais ou choradeira no vestiário.

Mas e no campo? Como será o Flamengo de Cuca?

Isso, só a pré-temporada em Teresópolis vai responder. Mas eu deixo aqui meus humildes conselhos ao "novo" treinador do Flamengo:

Jogue pra frente. Como era o seu Botafogo, Cuca. Como exige a torcida rubro-negra.

Quem sabe um 3-4-1-2. Experimente Aírton ou Rômulo como terceiro zagueiro, na função que era do Jaílton. Eles são altos e muito melhores de bola que ele.

Libere os laterais, mas não pague um preço muito alto por isso, escalando Jaíltons para compensar. Aposte no talento. Íbson e Kléberson são volantes, não meias de criação. Podem e devem jogar à frente dessa zaga. Sabem marcar sem apelar para faltas na frente da área e sabem sair jogando, o que é fundamental para um time que sai bem nos contra-ataques.

Tente marcelinho na função do "1". Na única vez em que jogou nessa posição em 2008, na última rodada, ele fez três gols e foi o destaque do time.

Não escale dois homens pesados na frente. Acho que nem preciso dizer isso, mas é bom reforçar. É preciso um homem de área - pode ser Obina ou Josiel - e outro que se movimente, caindo pelas pontas para jogar com os laterais - pode ser Éverton, Tardelli (...) ou mesmo o Erick, que tem sim futuro.

Um time com Bruno, Fábio Luciano, Angelim e Aírton; Léo Moura, Íbson, Kléberson e Juan; Marcelinho Paraíba; Éverton e Obina.

Um banco com Marcelo Lomba, Thiago Salles, Toró, Jônatas, Fierro, Erick Flores, Tardelli, Josiel e Maxi.

É um bom começo. Com a vantagem de que, na verdade, não é o começo para esse time.