Este será um post curto e grosso, porque o assunto, só de pensar, só de lembrar, já me levou às lágrimas mais de uma vez. E, como vou ao Engenhão semana sim, semana também, confesso que trata-se de algo que povoa minha mente com frequência bem maior que gostaria.
Que o Maracanã, como nós o conhecíamos e amávamos, acabou, todo mundo sabe. Aquele gigante, que na final da Copa de 50 abrigou 199.854 torcedores, não existe mais há tempos. Sucessivas reformas e maquiagens já faziam dele, antes das obras para o Mundial de 2014, uma sombra do que um dia fora - mas, pelo menos, sabíamos que ainda era o bom e velho Maraca, só que com um lifting.
Depois de fechado para obras, foram surgindo, aos poucos, notícias cada vez piores. Primeiro, a de que a nova capacidade ficaria em torno de 76 mil lugares, o que o torna apenas o vigésimo-quinto do mundo em tamanho. Eu assisti a um Brasil x Paraguai, pelas eliminatórias da Copa de 86, junto a outras 139.922 pessoas.
Em seguida, a diminuição do tamanho do gramado, determinada pela FIFA - dos 110 x 75 metros de outrora para 105 x 68 metros, mesmas medidas do Engenhão (só para efeitos de comparação, o campo da Vila Belmiro tem 106 x 70 metros - o olho já se enche de lágrimas).
Agora o escritório Fernandes Arquitetos e Associados divulga imagens mais esclarecedoras de como será o estádio por dentro. Lembram-se do que foi alardeado? Que as arquibas seriam únicas, de cima a baixo, até o gramado? Pois não será bem assim.
A imagem acima mostra um trecho onde a arquibancada, já na sua porção superior, será dividida em duas - duas bem pequenas partes, como mostram as setas toscamente feitas por mim, no Gimp. Logo abaixo, um espaço enorme que deve compreender os 108 camarotes do projeto (cliquem na foto para ampliá-la - o Blogger está cada vez melhor).
Esta foto das obras, recente, mostra como apenas um dos lados terá esta divisão - o outro, também destacado, sugere que, atrás dos gols, a arquibancada será um espaço único, sem divisão. Como também deve ser do lado oposto às cabines de transmissão e camarotes, como mostra a outra imagem divulgada ontem, esta aqui embaixo.
Notem como, pelas imagens, o estádio perderá qualquer semelhança com o que um dia foi - um gigante belo e imponente, acolhedor e espaçoso para multidões que ali tinham momentos da mais pura paixão pelo futebol, fosse num clássico lotado, fosse num Flamengo x Blumenau, pela Copa do Brasil de 1989, onde apenas 3.567 pessoas, além de mim, viram Bujica marcar duas vezes, num time que tinha acabado de perder Bebeto para o Vasco, em que Zico vestia a camisa dez. Cheio ou vazio, o Maraca era uma casa para mim.
Hoje, 23 anos depois, sou um sem-teto.
* * *
Só para lembrar, o custo das obras - de reforma, vale sempre lembrar - tocadas pelo consórcio Andrade Gutierrez, Odebrecht e Delta, no momento, está 883,5 milhões de reais. A Allianz Arena, em Munique, palco da abertura da Copa de 2006, custou 850 milhões, da pedra fundamental ao resultado final divino.
3 comentários:
Todo flamenguista é sem teto.
vai ficar escroto, cheio de espaços. vai perder aquela coisa de MASSA COMPACTA. e não entendo como ainda náo há planta disponível dos assentos se já tá 40% pronto.
Thiago, o pior, pra mim, é o que querem fazer pós-Copa - empurrar goela abaixo do torcedor brasileiro uma cultura europeia de lugar marcado. Na boa, aqui não funciona. Não mostramos organização ainda nem para VENDER ingressos. Imagine a seguinte cena: eu, meu irmão e amigos de Maraca combinamos de ir a um determinado jogo, no mesmo setor. Mas cada um compra o seu ingresso. Pronto: nunca mais podermos assistir a um jogo juntos. Atender às imposições da FIFA para o mundial é uma coisa; mudar a forma de torcer de um povo, outra. Daqui a pouco vão querer que realmente vejamos o jogo sentados...
Postar um comentário