quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Furo, A Barriga, A Tonta E O Burro.

Eu não exatamente aprecio a figura do Vanderlei Luxemburgo, faço logo questão de dizer. Corria o ano de 1998 e, pouco antes de a equipe do Sportv viajar para a França, participei de uma reunião com meu chefe de redação, o co-editor-chefe do jornal que também fecharia durante a Copa e ele, Vanderlei. Participei em termos - depois de apenas alguns minutos na sala, o técnico, então já bicampeão brasileiro, tinha contado tanta vantagem que comecei a ter náuseas. O fim da picada, quer dizer, da reunião, foi quando contou que o relógio que ostentava no pulso custara mais de 60 mil dinheiros da época. Pedi licença para ir ao banheiro e nunca mais voltei.

Depois daquele dia, Luxemburgo ainda conquistaria mais três campeonatos brasileiros, seria treinador da seleção e do Real Madrid e colecionaria escândalos, acusações e desafetos.

Seria demitido onze vezes.

A décima-segunda, dizem, seria ontem. Mas a vitória sobre o Potosí, que levou o Fla à fase de grupos da Libertadores, deixou sua situação em suspenso. Coisas do futebol, como disse o próprio na coletiva após o jogo (diga-se, uma das mais sagazes que vi em dezoito anos de carreira).

Não acho que Luxa tenha feito um bom trabalho nesse um ano e quatro meses à frente do Fla. O time não tem padrão, joga com muitos volantes, não se acerta na defesa e carece de uma movimentação fundamental hoje no futebol. É incrível que um treinador como ele não consiga fazer os jogadores entenderem e obedecerem conceitos básicos como aproximação, ultrapassagem, cobertura, marcação ao homem e não à bola...

Como também é incrível que, ainda hoje, um treinador de futebol se dirija a seus comandados, em treinos e jogos, como "filho-da-puta". Quem já prestou atenção ao trabalho de beira de campo do Vanderlei sabe que xingamentos e palavrões são as vírgulas entre as orientações aos jogadores.

Não deve ser fácil trabalhar com um cara assim. Alguém que, no auge de uma queda de braço com a estrela do time, decide perder horas na frente de um computador procurando imagens de uma suposta transgressão às suas regras. Assim como foi com Romário, Luxa mostrou, com Ronaldinho, que não é afeito a estrelas com personalidades maiores que a dele.

Podemos somar a isso tudo o fato do técnico ter perdido parte da antiga motivação; ter parado no tempo ao não apresentar nada novo desde 2003, há quase uma década, portanto; e, principal, ter envelhecido - prestes a completar sessenta anos, eu não sei se esse Luxa de hoje é mais sábio ou mais intolerante.


Fato é que, clima, não há. Fica claro que o grupo não o quer mais. Mas também é fato que há uma multa de quatro milhões no caso de demissão. E a atual mandatária do Flamengo, como todos sabem, não é muito boa na arte de tomar decisões. Patrícia é a principal responsável pela mágoa de Zico com o clube - sua atuação, no episódio da saída do Galinho, foi lamentável. Assim como é lamentável o clube ter praticamente institucionalizado a política do beiço - devendo a meio mundo, não é de se admirar que o clube não tenha hoje patrocínio master na camisa. Quem quer associar sua marca a tão grande sinônimo de desmando, incompetência e desonestidade? E as ações na justiça estão apenas começando a pipocar, com Alex Silva e Deivid.

Estão errados os jogadores em cobrar desta forma? Não.

Assim como não é culpa do técnico o atual estado das coisas do time. No fim das contas, Luxemburgo cumpriu o que prometeu e planejou - levou o Fla à Libertadores.

A presidente, no entanto, não cumpre praticamente nada que promete.

Nenhuma surpresa. Políticos sempre serão assim.


* * *

Também corria o ano de 1998 quando, por merecimento, tomei uma imensa chupada do mesmo chefe de redação do início deste post - diga-se, o melhor com quem trabelhei na vida, José Olívio Petit. Bem antes da tal reunião com Luxa, ainda no início do ano, o Fluminense procurava um técnico para assumir o comando do time. Era uma segunda-feira. Uma fonte graúda do clube me passara a informação, logo cedo, de que haviam não só chegado a um nome de consenso nas Laranjeiras, como acertado tudo com ele. Era Edinho, ídolo tricolor. Mas nada do anúncio oficial.

Vinte e cinco anos de idade, editor-chefe do telejornal da hora do almoço, decidi bancar minha fonte e dei a notícia. Ninguém tinha. O Globo Esporte não havia dado, a Manchete Esportiva também não. Furo nosso. Não, meu.

Vieram a tarde, a noite e nada de Edinho ser anunciado como o novo treinador do clube. No dia seguinte, claro, tive que dar explicações sobre as circunstâncias de minha "barriga".

Algumas horas depois, na tarde de terça, Edinho foi apresentado oficialmente.

Foi inevitável lembrar disso ontem, quando o globoesporte.com noticiou a demissão do Luxa, o acerto com Joel e até uma reunião de dirigente com jogadores para comunicar a saída do treinador. Quatro jornalistas assinaram a matéria. Não conheço todos, mas posso garantir que os que conheço são profissionais sérios e imagino que os outros também.

Mas furo é furo. E barriga é barriga.

Só não dá furo ou barriga quem não corre incessantemente atrás da notícia em primeira mão, essa é a moral das duas histórias.

4 comentários:

Thiago disse...

Cara, quando surgiu aquela notícia de que o Flamengo tinha acertado com a Globo por cento e poucos milhões, logo pensei na roubalheira que rolaria desmedida na Gávea. Lá, são as mesmas figuras fantasmas que circulam há anos, de Helio ferraz a Veloso, todos péssimos presidentes. E me parece que a patríca tem rabo preso com toda essa gente, como todo mundo lá. Eu realmente acho que a solução do Flamengo passa por uma mudança no estatuto, para que possam ser retirados esses e muitos que do Flamengo vivem.

Quanto ao Luxa...

Edu Mendonça disse...

E, no fim das contas, Luxa caiu e os quatro jornalistas tinham razão - a fonte era quente, só deixaram o assunto esfriar até o dia seguinte. Como eu disse, terra de ninguém.

Que tem o Luxa mesmo, Thiago?

Thiago disse...

A palavra da presidente:

"Antes do jogo tivemos algumas notícias. Não tínhamos contratado nenhum treinador ontem (quarta-feira). Até hoje (quinta-feira) era o Luxemburgo. Fui pega de surpresa. De maneira nenhuma desmenti. Foi um mal entendido de comunicação."

É nois! disse...

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Abraço.

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