Esqueçam mais essa convocação do Mano (que é pra ser esquecida mesmo). Esqueçam também a estreia do Fla na Libertadores, a possível renúncia de Ricardo Teixeira e a arbitragem do clássico de domingo.
Todos só querem saber dele.
Jeremy Lin.
A imagem acima é de ontem. Faltando 0.5 segundo para o fim, Lin fez a cesta de três que deu a vitória ao New York Knicks sobre os Raptors, em Toronto. Nada demais, por um lado - o time canadense é um dos piores da liga. Mas, por outro, foi a cesta que levou os Knicks à sexta vitória seguida. Nas últimas cinco, Lin foi o armador titular. Quebrou recordes sem tanta significância - comparar suas cinco primeiras partidas como titular às cinco primeiras de nomes como Jordan e LeBron chega a ser piada, dada a experiência deles à época, recém-saídos da universidade e do colegial, com a rodagem que Lin já possuía: 39 jogos só na NBA antes dessa titularidade. O que em nada diminuiu os méritos do mais novo ídolo de NY - nessas cinco vitórias, cinco saídas como titular, Lin teve médias de 27,2 pontos, 8,8 assistências, quarenta minutos em quadra e ainda cinquenta por cento de aproveitamento nos arremessos. Como dizem os ianques, Lin is for real.
E é descendente de asiáticos, apesar de ter nascido em Palo Alto, na Califórnia. Tão americano quanto LeBron.
A "Linsanity" que a imprensa americana vende não é fabricada. Surgiu espontaneamente, nas arquibancadas do Madison Square Garden, templo do basquete. Da desesperança de uma das torcidas mais apaixonadas da NBA - a mais exigente, certamente - surgiu esse anjo salvador, de pele amarela. No dia seis de fevereiro, data do primeiro jogo de Lin como titular, os Knicks amargavam um retrospecto de oito derrotas nos onze jogos anteriores. Estavam longe dos playoffs da Conferência Leste e sem nenhuma perspectiva de recuperação, por conta das ausências dos astros Carmello Anthony e Amare Stoudamire, contundidos. Mais uma típica temporada frustrante na história recente do time de Nova York, em jejum de títulos desde 1973.
Aí, Mike D'Antoni, o técnico - o mesmo que por tantas temporadas fez os Suns de Nash e do próprio Stoudamire serem um dos times mais divertidos de se ver jogar - resolveu apostar no armador rápido, mas sem nenhum pedigree, que poderia acelerar o pace do time. Deu certo. E não foi apenas resultado das circunstâncias. Com Lin no time, os Knicks venceram os Jazz em casa (28 pontos e 8 assistências), o sofrível Washington Wizards fora (23 e 10), os Lakers no MSG (38 e 7, roubando os holofotes de Kobe Bryant), além do Minnesota fora (20 e 8 diante de Ricky Rubio, outro queridinho do momento na NBA).
Mas, claro, nada disso é tão relevante quanto o fato de Jeremy Lin ser asiático. Pele amarela. Gente do outro lado do planeta que, supostamente, não sabe jogar basquete.
Yao Ming? Um fracasso, fenômeno que nunca atingiu seu potencial devido às inúmeras e graves contusões que o fizeram abandonar as quadras precocemente.
Mais alguém? Alguém?
(Não me venham com papo de Wang Zhizhi).
Pra deixar tudo um pouco mais improvável, Lin se formou em Harvard, a universidade acostumada a formar presidentes americanos, não jogadores da NBA.
Lin tem um diploma de economia em Harvard.
Tudo isso somado faz o New York Daily News de hoje dar manchete sobre Lin ter abandonado o sofá da sala do irmão, onde vinha dormindo desde que chegou aos Knicks, por um apartamento nos subúrbios de Nova Iorque. Esse Jeremy Lin é o mesmo que passou na temporada passada pelo Golden State Warriors sem impressionar ninguém. O mesmo filho de tailandeses que amargou tempo no fim do banco de reservas dos Knicks no primeiro mês com o time, quando esteve em quadra por apenas 22 minutos.
Daria um filme.
Mas tem gente que acha que não. Que tudo se resuma à raça.
Ontem, Floyd Mayweather, ídolo do boxe, usou o Twitter para mandar a seguinte:
"Jeremy Lin é um bom jogador, mas toda essa promoção exagerada é porque ele é asiático. Jogadores negros fazem o que ele faz toda noite e não recebem os mesmos elogios".
Depois da repercussão de suas palavras, foi além, novamente via Twitter:
"Tudo bem que a ESPN dê sua opinião, mas quando eu digo algo todos questionam Floyd Mayweather. Eu falo em nome de outros jogadores da NBA. Eles são programados para serem politicamente corretos e serão penalizados se derem suas opiniões. Outros países dão suporte e torcem por seus atletas e está tudo ok. Mas assim que eu dou suporte a um atleta negro americano, eu sou criticado."
Hmmmm.
Mayweather, supremo boxeador, com 42 vitórias e nunca derrotado, é o mesmo que, em 2010, quando da luta contra Manny Pacquiao, botou um vídeo na web em que mandava o filipino "fazer alguns enroladinhos de sushi e cozinhar arroz", para depois emendar um "eu vou cozinhá-lo com alguns gatos e cachorros."
Donde se conclui que:
1) Sim, Mayweather é racista. Como muitos que sofrem com o racismo ao longo da vida.
2) Não, Mayweather não entende muito de basquete. Lin é tudo, menos produto da mídia - o produto da mídia, sim, é resultado de seu jogo recente.
3) Muita gente transforma o Twitter (e até o Facebook) em ferramentas para disseminar algumas das opiniões mais babacas que tenho ouvido.
Jeremy Lin, 23 anos, californiano de pais tailandeses, poderia se chamar John Wayne, ser loiro de olhos azúis e, ainda assim, seria notícia pelo fato de ter estudado em Harvard, ter se formado em economia e chegado à NBA sem despertar a atenção de olheiros que ganham muito bem para descobrir talentos como ele.
* * *
O próximo jogo de Lin é hoje, às 22h30, no MSG, contra os Kings.
Mesmo com o Fla jogando no mesmo horário, darei um jeito de ver o anúncio dos titulares dos Knicks e a festa da torcida para o wonderboy Lin.
2 comentários:
se ele fosse negro e do nada começasse a jogar assim já seria notícia por ser graduado em Harvard.
Acho que vai apagar rápido...
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