terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

The Twilight Zone

Nesta quarta, dois de fevereiro, milhões de rubro-negros - além de um bom bocado de torcedores de outras equipes - serão testemunhas de uma história com cara de episódio da série Além da Imaginação:

Ronaldinho Gaúcho, duas vezes eleito o melhor do mundo, pentacampeão mundial com a seleção brasileira, eleito o melhor jogador da década passada, estreia no Flamengo, no Engenhão, contra o Nova Iguaçu, pela quinta rodada do Campeonato Carioca.

Até ouço a inesquecível trilha de abertura enquanto releio o parágrafo acima.

Imponderável - não há Maraca - e questionável - o adversário de estreia - à parte, ninguém, absolutamente ninguém em sã consciência seria capaz de imaginar que, aos trinta anos de idade, Ronaldinho acabaria no Flamengo; não como Romário, que retornou ao Brasil, em 95, no auge, e sim como seu xará mais pesado e laureado, outro penta mundial que também preferiu pendurar as chuteiras por aqui.

Que Ronaldinho esperar? O genial, de 2004 e 2005? Ou o boêmio, de 2010 e... 2003. Já naquele ano, o técnico do Paris Saint Germain, Luis Fernández, meio-campo da seleção francesa durante uma década, criticava o brasileiro por conta de seu gosto exagerado pela vida noturna. Paris, Barcelona, Milão, 30 ou 23 anos, não importa - Ronaldinho não mudou com o tempo, não se deixou deslumbrar pelo sucesso. Ele sempre curtiu a fama da melhor forma possível. Quem se impressionou, agora, pelo oba-oba em torno de sua vinda para o Flamengo, pelas idas e vindas promovidas pelo irmão-empresário Assis, não deve se lembrar que, entre fevereiro e agosto de 2001 - oito meses, portanto - Ronaldinho ficou parado, impossibilitado de jogar, por conta da disputa judicial entre o Grêmio, time que ele abandonou, e o PSG.


Estes talvez também não lembrem que, em julho de 2008, há apenas dois anos e meio, era a torcida do Milan que vivia a expectativa que a nação rubro-negra vive agora. A mesma que toda a torcida brasileira viveu em 2006, no Mundial da Alemanha, quando Ronaldinho já não demonstrava interesse pelo futebol. Ou dois anos depois, nas Olimpíadas de Pequim, quando o Gaúcho, no meio de garotos, nenhuma diferença fez, selando de vez seu destino enquanto Dunga fosse o técnico da seleção. Acabou vendo a Copa de 2010 pela tv. Ou não. Ronaldinho sempre disse que não gosta de assistir a jogos de futebol (embora tenha estado nos últimos do Fla, sempre no camarote da presidente Patrícia Amorim).

Fadado ao fracasso, então?

Depende. Basicamente, de uma questão de vontade.


Ronaldinho conquistou tudo que um jogador profissional pode querer. Mas não conquistou tanto. Com a seleção, foi campeão do Mundo, das Copas América e das Confederações. Pelo Barcelona, foi eleito o melhor do mundo duaz vezes, campeão da Liga dos Campeões e espanhol. Por estas bandas, só o título gaúcho de 99.

Aos trinta anos, ainda poderia querer muito mais. A questão retorna: ele quer?

Porque o querer depende, basicamente, daquela vontade de ser o número um, estar sempre no topo. Como escrevi aqui em outro texto, trata-se daquela obsessão que une nomes como Jordan, Schumacher, Valentino e outros. Algo que, todos concordam, o Gaúcho perdeu pelo meio do caminho.

E se jogar no Barça um dia já não mais o motivou, se ser ídolo em Milão não fez sua cabeça, que oportunidade melhor para quem precisa de motivação do que jogar no clube de maior torcida do país? Ronaldinho não precisa ter nascido em Quintino, nem ser torcedor do Flamengo desde criancinha para saber o que significa defender suas cores, como o próprio disse, em sua apresentação.

E que chance melhor que estar num clube que se renova de esperança, após um 2010 pífio, quando todos ainda comemoravam o fim do jejum de 17 anos sem título brasileiro? Que situação melhor que estar sob o comando do treinador que o levou para a seleção brasileira? Tudo conspira a favor dele.

Basta querer. E é aí que a porca torce o rabo e eu tiro de campo minhas impressões como jornalista para explicar, através de meus quase trinta anos de arquibancada, aquilo que é mais importante Ronaldinho saber, a partir de amanhã:

Essa torcida não perdoa a falta de vontade.

Essa torcida ignora até a falta de talento se o sujeito deixar o sangue em campo. Perguntem a Willians, ou mesmo ao Toró, porque eles nunca foram vaiados (ou perguntem ao Juan, agora no São Paulo, como é cair em desgraça por conta da falta deste sangue).

Essa torcida elege ídolos eternos por conta da identificação com esse espírito, sejam eles vencedores, como Zico e Pet, ou nem tanto, como Romário (que quase nada conquistou pelo clube). Assim como não perdoa traidores, mesmo que, um dia, tenham se imbuído desse espírito (como Renato Gaúcho e Bebeto, por exemplo).

Eu, como profissional, me mantenho cético - assim como cético fui quando Adriano retornou, em 2009, e nós acabamos campeões brasileiros.

Eu, como torcedor, vou apoiar e incentivar qualquer um que vista o manto. E vaiar e cobrar e exigir daqueles que não entendem o que é defender o Flamengo.

* * *

Se o espírito de Ronaldinho, o mesmo espírito que perdeu o viço lá pelos vinte e cinco anos de idade, não se renovar, não se deixar contaminar por esse sentimento, então será o fim.

E, assim como outros que deixaram de encarar o futebol como paixão para tê-lo apenas como profissão, ele poderá angariar mais alguns milhões na MLS ao lado de ex-parceiros e adversários como Henry e Beckham. O que seria um capítulo final nada glorioso para quem, um dia, foi comparado a Pelé e Maradona.

5 comentários:

Anônimo disse...

Não acho que ele vá reencontrar na Gávea o interesse que perdeu pelo futebol. Pra mim é mais um que tá aí enganando todos. Não dou um ano pra sair do Flamengo.

Thiago disse...

Eu levo fé, porque pro nível do futebol daqui, se ele correr um pouquinho de nada ainda sobra no meio de tanto perna-de-pau. Mas com um pé atrás, como você, porque tem muito tempo que ele não corre nem se esforça nem um pouquinho...

Edu Mendonça disse...

Talento do Ronaldinho + vontade do Wanderley (não o Luxa...) = ídolo da Nação Rubro-Negra.

Gostei da estreia. Me pareceu ter entendido o que representa jogar no Flamengo, demonstrou em campo e fora dele, no fim.

Anônimo disse...

Tomara que ele tenha entendido mesmo... e concordo com o comentário acima sobre o nível do futebol aqui... é só o Ronaldinho se esforçar um pouquinho que ele pode até reencontrar um brilho.

Vascão74 disse...

No Milan foi a mesma coisa. Começou bem e depois foi apagando, apagando... abram o olho porque o Vascão tpá chegando!