Nascido em 73, infância entre a Tijuca e Botafogo, eu realmente não cheguei a ser bom na bolinha de gude ou na pipa, mas no botão... Torneios no colégio - no Anglo-Americano ou no Marista São José -, na faculdade - ok, na ECO preferíamos o totó e a sueca -, ou no trabalho, nada me escapava. Afinal de contas, meu background era forte.
Não sou do tipo de pessoa que tem ricas e coloridas memórias de infância. Nem sonho em me lembrar de nada que tenha acontecido antes dos meus cinco, seis anos, tirando um ou outro flash desbotado. Mas jamais esquecerei das pequenas luzes estroboscópicas adaptadas, das faixas e bandeiras de papel imitando as torcidas, dos cotonetes embebidos em álcool, em chamas, colados na lateral da mesa, e do papel picado atirado para o alto por um canhão do forte apache playmobil - era o Flamengo entrando em campo, para uma final de campeonato, no momento em que minha mãe entrava no quarto, horrorizada com todo aquele arsenal em torno da mesa de botão. Eu tinha dez anos e emulava a decisão de 83, entre Flamengo e Santos.

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Todo esse preâmbulo tem razão de ser. Ontem eu corri da tv para casa, assim que pude, para instalar em minha máquina o PES 2011 - o Pro Evolution Soccer, melhor (para mim) game de futebol do mercado.

Não é tão lúdico quanto o futebol de botão, é verdade. Mas não adianta resistir ao tempo, senhor de todas as coisas. Hoje, quando sento no sofá com meus amigos para jogar, me divirto mais do que quando impulsionava com uma palheta um botão de acrílico ou galalite contra um dadinho, mirando o gol. Não há comparação. Os anos 2000 trouxeram um realismo e dinamismo aos games que jamais imaginei serem possíveis lá nos distantes anos 80, quando sonhava sobre como seriam as coisas no novo milênio.

Praticamente todos os times do planeta. Gráficos e movimentos de um realismo a cada ano mais assustador. Possibilidades infinitas, como ser um jogador, desde a base até chegar à seleção nacional, ou, quem sabe, o técnico do Flamengo, na disputa de uma Libertadores. E a melhor de todas - assumir o papel de manager, montar seu próprio time e disputar sucessivas temporadas, acompanhando o crescimento do clube e o desenvolvimento dos jogadores. Tudo com um olho nas finanças - gastar dinheiro demais em negociações e contratos pode levá-lo à falência - e outro naquele garoto de 19 anos que joga no AEK e pode ser seu próximo grande craque.
Não dá pra competir. Tem uns bons dois ou três anos que não empunho uma palheta

Às cinco da manhã, o time estava montado. O Rubro-Negro tem uniforme, claro, à imagem e semelhança. Sua casa é a Amsterdam Arena, rebatizada Ninho do Urubu, mas ele jogará o campeonato espanhol - começando pela segunda divisão. Vai num 4-2-3-1, muito parecido com o Real Madrid de Mourinho. Se nenhum problema físico atrapalhar, vai a campo hoje à noite, em sua estreia, com Mandanda, Rafael, Cristian Zapata, Onuoha e De Ceglie; Schweinsteiger e Hamsik; David Silva, eu e Cláudio Rodríguez; Lavezzi.
O "eu", claro, à perfeita imagem. Mas não semelhança. Porque no mundo real, meu esporte é mesmo o basquete. Sou ruim toda vida com a bola no pé.
Nada como os tempos modernos.