Acabo de saber da notícia. Zico não é mais técnico do Olympiacos. Foi demitido por conta do empate com o Kavala, time de pouca expressão, que deixou o clube a sete pontos do arqui-rival Panathinaikos no campeonato grego.
De nada valeu a boa campanha na Champions League, em que o Olympiacos vai enfrentar o Bordeaux nas oitavas-de-final, depois de se classificar em segundo no grupo que tinha Arsenal, Standard Liége e AZ Alkmaar. Na Grécia, como eu pude presenciar inúmeras vezes, a rivalidade entre vermelhos e verdes é maior que qualquer parâmetro imaginável.
Quando aceitou dirigir o desconhecido Bunyodkor, do Uzbequistão, em 2008, Zico afirmou com sua habitual humildade - "para ser treinador, a gente tem que rodar, tem que viver as experiências para aprender mais."
O Galinho recebeu sua demissão em casa, através de carta entregue por um oficial de justiça. Imaginem só.
Nesse momento, está aprendendo mais um pouco da diferença entre ser ídolo e técnico de futebol. Aliás, qual técnico, no futebol, pode ser considerado ídolo de alguém? Nenhum. Zico é de uma época em que os gregos ainda nem sonhavam com as proporções que o esporte tem hoje no país. Na década de 80, torcedores de Olympiacos e Panathinaikos se espancavam, apedrejavam e odiavam nos clássicos de basquete entre os dois clubes. Até hoje, o futebol fica atrás da bola ao cesto, do levantamento de peso e do atletismo na preferência do povo daquela terra de que eu tanto gosto.
Foi a segunda demissão em menos de cinco meses - em setembro, Zico ganhou o bilhete azul do CSKA. Com o fim do ciclo grego, ainda pode-se dizer que o melhor trabalho desenvolvido pelo técnico foi no Fenerbahçe, que Zico levou às quartas-de-final da Champions League em 2008, num resultado inédito para o clube, que acabou eliminado pelo Chelsea no saldo de gols.
E agora? Bem, agora eu imagino que Zico deve estar se perguntando "por quê?"
Por que continuar numa carreira em que objetivos maiores são ofuscados por ódios menores, como no caso do Olympíacos? Em que temporadas brilhantes, como a de 2008, no Fener, não são valorizadas e continuadas (a torcida até hoje sente saudades de Zico)? Uma carreira em que um craque do respeito, da boa educação e da humildade é demitido através de uma carta entregue em casa?
Eu, sinceramente, não sei.
* * *
Ronaldinho Gaúcho deve ter se perguntado a mesma coisa quando trocou Barcelona por Milão. Mas no caso deste camisa dez, a resposta é bem mais fácil.
Nesta semana em que todos passam a defender, em coro, a volta do dentuço à seleção, eu me pego pensando em nomes como Vince Carter, Tracy McGrady e Kobe Bryant. Explico e faço o paralelo - desde que Michael Jordan parou, esses três foram apontados como os mais prováveis substitutos. Não apenas na idolatria, na venda de tênis ou qualquer outro produto, mas na condição de "O cara". Há muito pouca diferença técnica entre Vince, Tracy e Kobe. São três jogadores excepcionais, capazes de qualquer coisa em quadra, como provaram ao longo de suas carreiras que, agora, começam a vislumbrar o fim. A diferença básica entre eles está num número: 4. É a quantidade de títulos da NBA conquistados por Kobe. Os outros dois nem chegaram perto. Nunca tiveram a mesma motivação que ele pela vitória.
Ronaldinho, do alto de seus trinta anos, também venceu tudo, como Kobe. Tudo que um jogador de futebol pode querer, na verdade - Copa, Champions, FIFA, fortuna e fama. Mas, ao longo da jornada, perdeu o olhar matador do armador dos Lakers. Deixou-se levar pelas baladas, pagodes, noites viradas... Perdeu, acima de tudo, a objetividade. Não bastava mais o gol, tinha que ser golaço. Qualquer passe, por mais simples, não bastava se não tivesse uma trivela, uma letra, um rabisco com a assinatura do craque. Que, desta forma, rapidamente deixou de o ser.
Domingo eu troquei o jogo de minha Juve (ok, nada demais por esses dias) pelo do Milan, especificamente para ver Ronaldinho. E concordo com todos aqueles que inflam agora suas colunas, blogs e programas de tv com a defesa de que ele voltou a lembrar o jogador que encantou o mundo com a camisa do Barça; voltou mesmo, porque a exibição de Ronaldo no domingo não fica a dever em nada às suas magistrais atuações pelo time catalão. Ronaldinho acabou com o jogo e eu agora espero pelo próximo domingo, pelo clássico com a Inter, pra ver se o fogo nos olhos, aquele que nunca saiu dos de Kobe, voltou aos do camisa 80 do Milan.
Seleção? Pode até ser, porque na lista usual de Dunga tem vários que podem dar lugar a Ronaldinho.
Mas é preciso mais do que um ou dois meses de foco para me provar que ele quer novamente ser "O" cara. Porque, para isso, não basta apenas o talento.
Não é, Vince?
Tracy?
5 comentários:
Não acompanho a Serie A de perto, mas a impressão que dá é que a maior pte da recente empolgação com RG se apóia em dois jogos - Juventus e Siena. Mas a Juventus tá em crise e Siena é lanterna, confere? Não que Robinho, Nilmar, Kaká et al estejam fazendo melhor (ou sequer 1/3 disso), mas ele rende bem assim contra times mais bem organizados/com boa marcação, ou desaparece?
Eu realmente deveria ver + jogos da Serie A. :/
camarada, vendo o jogo do milan, me lembrei do zé maria de aquino. antes da copa de 2002, que tinha como favoritos óbvios a frança e a argentina, com o brasil do felipão capengando no fim das eliminatórias, ele me disse que a seleção ia ser campeã. diante da serenidade que embalava a afirmação dele, me limitei a simplesmente perguntar por quê. e ele, do alto da experiência, e no mesmo tom de voz, respondeu:
porque jogador de futebol é tudo filha da puta. se uma seleção brasileira, que costuma ter os melhores, resolver levar a vida a sério por um mês, ganha a copa. e é o que o felipão saber fazer: botar os caras pra levar a vida a sério um mezinho só.
o ronaldinho, um filha da puta, resolveu jogar a copa. aliás, sorte da copa, porque ele é mesmo diferente dos outros.
Grande Zé. Ele tinha e tem toda a razão, Renatin. Por isso mesmo eu ainda não compro essa idéia de um "Ronaldinho recuperado". Vamos ver como será diante da Inter - e não do lanterna ou da minha destroçada Juve, como bem disse a Anna -, como serão os próximos meses, como ele se sairá na Champions, contra o United... aí sim, posso me convencer de que esse fdpcraque recuperou a gana de outros tempos.
E Anna, conselho de quem tem visto mais futebol do que nunca nos últimos meses - pode passar o Calcio sem remorsos...
Olha o que o Zico disse: "- Vou confessar que não sei até quando aguentarei viver dentro do futebol dessa forma, quanto tempo ainda sigo como treinador. Ao longo de quase 40 anos dentro deste mundo da bola poucas vezes me peguei tão decepcionado e descrente.
Me entristeceu ler isso.
Torço pra que ele realmente tire um tempo pra família, como já disse que deve fazer. E que, caso volte, não faça mais negócio com russos, gregos, turcos, esses povos notoriamente tão parecidos conosco em certos aspectos lamentáveis.
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