segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A Incrível Saga do Hexa (ou "Nunca Mais Venha Me Dizer Que VOCÊ É Muito Rubro-Negro, parte I")

Quarta-feira, 25 de novembro. Menos de vinte e quatro horas depois de momentos de sofrimento e angústia, por conta da Missão Quase Impossível de conseguir ingresso para o jogo contra o Grêmio, recebo a notícia devastadora - Adriano estava fora da partida contra o Corinthians. E eu, com ingresso para o Brinco de Ouro numa mão, e-ticket da TAM (Tamo Aqui Mengão) na outra e um imenso ódio do nosso artilheiro, um perfeito moleque. "Não há de ser nada", penso, mais confiante que nunca.

Ser rubro-negro, em determinadas (poucas) horas, não é fácil; da mesma forma que emociona estar em Fortaleza e ver um jogo no boteco como se estivesse no Leblon, cheio de rubro-negros (que fique claro que não vejo jogo no Leblon), é complicado encarar o fato de que, além de mim, há outros 35 milhões com a mesma paixão, muitos destes milhões na minha cidade. Assim como os ingressos para a partida contra o Grêmio, rapidamente começaram a se esgotar também os voos e ônibus para Campinas, mesmo depois da queimadura imperial.

Sobraram uma ida de avião e uma volta de busão, numa tal de viação Motta. Hmmm. Nada poderia ser mais diametralmente oposto.

Chego ao Galeão, com meu irmão e um amigo, e lá estão outras dezenas de rubro-negros - a fila do check-in parecia a da bilheteria. Ou quase. Só tinha um negro e a maioria absoluta era formada por marmanjos bem alimentados e fortes, daqueles que de fato assistem aos jogos no Leblon quando não vão ao estádio e cresceram à base de Sustagem. Tudo muito dentro dos padrões de educação que se espera dessa gente num aeroporto - sim, porque classe média até hoje tem aquele conceito de que viajar de avião não é como pegar um ônibus. Até o embarque.

Mais da metade dos passageiros do voo 3831 era de torcedores. Que, antes mesmo de decolar, começaram a cantar. Nada ofensivo, nenhum palavrão, que me lembre. O que sobrava, sim, eram o bom-humor e a irreverência típicos do carioca. Só mesmo um bando deles para puxar uma ola e pegar o panfleto vermelho do assento da frente e formar um mosáico dentro do avião, com direito a coreografia, risos de quem fazia e sorrisos daqueles que assistiam a tudo, sem nunca parecerem incomodados, o que é raro.

Momentos assim ficam pra sempre na memória. Pena que, destes, não tenha tirado nenhuma foto. Mas ao longo da semana, nos próximos capítulos, elas virão.

Assim como o hexa.

* * *

E o ano pode terminar com as cinco maiores torcidas do Rio tendo motivos para comemorar. Que incrível é o futebol.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Flu errou? (de novo)

Segunda, no Linha de Passe, da ESPN Brasil, Juca Kfouri foi prudente em fazer um alerta antes de seu comentário, antecipando-se às críticas tricolores que viriam depois, por email: "Se eu fosse o presidente do Fluminense, levaria um time de reservas e garotos para Quito. É fato que o tricolor, seja com o time que for, será goleado pela LDU."

Quem assiste ao programa, sabe que Juca não tem nada de profeta, muito pelo contrário - já se cansou de perder braços e pernas quando os apostou na vitória de a, b ou c. Mas, desta vez, Juca estava certo.

Temia ele pela quebra do encanto, pelo fim desse casamento time/torcida que vinha sendo tão importante nos últimos jogos; "se levar um time reserva e perder, não faz diferença, mas se o titular for goleado..."

E foi. De cinco.

Se eu fosse o presidente do Fluminense (Deus me livre, que horror escrever isso).

De novo - se eu fosse o presidente do Fluminense (agora foi), eu pensaria como o Juca, sem dúvida.

De que vale o título da Sul-Americana se o time for rebaixado para a série B? Aliás, de que vale o título da Sul-Americana, anyway?

Como a goleada sofrida pelos titulares, não esperem mais casa lotada nem domingo, nem quarta. Mais um erro dessa turma que afunda o Flu sem dó.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Noah sim, Gordon não. Nem Juan.

Faltam só duas rodadas agora.

E o São Paulo (62), que perdeu para o Bota, só precisa vencer Goiás e Sport. O Goiás que tirou dois pontos do Fla diante de um Maracanã lotado e o Sport, lanterna, rebaixado, derrotado pelo Flu.

O Fla de Andrade (61), que podia ser líder nesse momento em que escrevo, ainda tem Corinthians e Grêmio pela frente. Vai precisar jogar bem mais do que ontem para vencer ambos. E o rubro-negro não tem jogado bem.

Enquanto isso, Internacional (59) e Palmeiras (59) ainda sonham com (perfeitamente possíveis) tropeços dos dois. O que não seria, claro, nenhuma surpresa. Aos mineiros, resta a briga por uma vaga na Libertadores, embora ache difícil que cheguem.

Enfim, nenhuma novidade num campeonato cantado e versado por sua irregularidade e equilíbrio de (fracas) forças, diante de tantos tropeços dos líderes na hora em que mais precisavam se afirmar - aconteceu com Atlético, depois Inter, Palmeiras, São Paulo e, agora, Flamengo.

A grande novidade da rodada, esta sim, é que o Fluminense, dado por rebaixado por muitos, agora depende apenas de si, já que na última rodada enfrenta o Coritiba, que tem apenas dois pontos a mais que ele - assim como Botafogo e Atlético Paranaense. Quem diria.

E quem se arrisca a dizer quem levanta taça e quem sobe nesse momento...

* * *

Sou frequentador do Maracanã desde moleque. E sempre disse que há, sim, uma distância imensa entre os diferentes tipos de torcedor: a) o que vai aos jogos no estádios, b) o que assiste aos jogos pela tv e c) o eventual torcedor, aquele que vez na vida, vez na morte, vai ao estádio e, vez em quando, acompanha o time pela telinha.

Vou usar o basquete, especificamente meus Bulls, para explicar melhor. Até o ano passado, havia no time um armador chamado Ben Gordon. Um tanto baixinho pra posição dois, um tanto preguiçoso na defesa mas, sem dúvida, um grande arremessador, capaz de cestas incríveis, principalmente nos instantes finais, nos momentos de decisão.

Ben Gordon foi o cestinha e ponto de referência do ataque do time por quatro temporadas seguidas. Mas quando seu contrato acabou, no meio deste ano, a diretoria dos Bulls simplesmente o deixou ir, sem nada ganhar em troca. Muitos não entenderam. Mas a resposta é simples - BG jogava para si. Sem ele, o Chicago se transforma, a cada dia, num time mais coeso do que jamais foi nos últimos anos. E, para surpresa geral, um dos maiores motivos é Joaquim Noah, pivô alto, cabeludo e desengonçado, dono de um dos arremessos mais esquisitos e feios que já vi, filho do grande Yannick Noah, tenista das antigas.

Pra quem não assiste aos jogos dos Bulls, Gordon era o craque que a diretoria deixou ir embora e Noah, o cabeça-de-bagre que virou titular.

Pra quem acompanha o time, Gordon era o câncer que foi embora e Noah, a principal fonte de energia e motivação da equipe. Não é, nem jamais será um craque. Mas deixa a alma em quadra, jogo após jogos. Entrega total ao time.

Eu dei essa volta toda pra chegar ao Juan, lateral-esquerdo do Flamengo.

Porque eu confesso: NÃO AGUENTO MAIS O JUAN com a camisa rubro-negra. Seu jeito displicente, sua disposição para correr no ataque e sua preguiça de voltar para a defesa, sua indolência nessa volta, sempre naquele trotezinho de velho correndo no calçadão de Copa, enquanto outros se matam por ele.

Juan e Ben Gordon são iguais.

Mas só quem vai ao estádio sabe disso. Porque a tv jamais mostra Juan quando ele não está na jogada.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quem é O craque?

Talvez a lenga-lenga mais comum originada deste brasileirão 2009, depois, claro, do mantra "não há um time realmente bom", seja a da ausência de craques. Ou melhor, de UM CRAQUE. O tal. O bam-bam-bam. O pica, na linguagem dos boleiros.

Quando o Palmeiras liderava com folgas - sem jogar bem, diga-se - a crônica esportiva em geral não se cansava de massagear o ego de Diego Souza. O mesmo Diego que eu tanto xinguei em sua passagem pelo Flamengo, o mesmo de tantas confusões e atitudes descabidas por onde passou. Aliás, o mesmo que tem ainda um enorme gancho a cumprir no próximo campeonato paulista, ônus de uma agressão covarde que, claro, não condiz com a condição de craque que ele nunca teve. Mas, sabem como é parte da "imprensa" paulista, aquela de gente como Mílton Neves, Neto... (se bem que, à época, teve muita gente boa também enchendo a bola do rapaz).

O tempo passou, a liderança folgada do Palmeiras se foi e, com ela, a dita boa fase de Diego. Nada melhor para testar um verdadeiro craque que a adversidade. É nessa hora que ele se eleva e garante que o barco continue no rumo, que a tripulação siga motivada e alerta, e que os ventos de través não diminuam o ritmo da velejada. Diego não fez nada disso. Se perdeu juntamente com todo o time, mesmo contando com um navegador como Muricy. Tudo, claro, porque não é, nem nunca foi, craque.

Mas todo campeonato precisa de um, certo? Quem seria ele então?

Com a briga pelo título cada vez mais restrita a São Paulo e Flamengo, é natural que se olhe para o elenco destes dois times para se obter a resposta.

Rogério Ceni, se o tricolor for tetra/hepta? Não, Rogério jogou pouco - perdeu boa parte do campeonato se recuperando de lesão - e, quando jogou, não foi o Rogério do ano passado, por exemplo. Hernanes? Sem bola pra isso. Dagoberto, Jorge Wagner, Washington? Nem pensar.

Adriano, se o Flamengo for hexa? Pode ser. Adriano também chegou com o campeonato em andamento, num time que vinha mal das pernas... com ele, o Fla subiu e entrou na briga, muito graças a seus gols. Se terminar como artilheiro, quem sabe até superando a marca histórica de Zico pelo clube, o Imperador terá um bom argumento para reivindiar o posto de craque deste brasileirão.

Mas tem aquele sérvio.

O veterano de 37 anos que acertou com o clube para que este lhe quitasse uma dívida. Que foi motivo de piadas e desconfiança quando retornou à Gávea (minha, inclusive). Que, sob o comando de Cuca, entrava faltando cinco minutos pro fim dos jogos, quando entrava.

Sob o comando de Andrade, a partir da décima-quarta rodada, tudo mudou. Petkovic passou três jogos sem ver bola, apurando a forma física. Na derrota para o Goiás por 3x2, entrou no lugar do contundido Kléberson para marcar um gol e nunca mais sair do time titular. Dali em diante, o Flamengo ficou quatro jogos sem ele - quatro derrotas, para Grêmio, Cruzeiro, Avaí (estas três, seguidas, quando o time, cheio de desfalques, ficou cheio de garotos) e Barueri, recentemente.

Nos 14 jogos em que atuou como titular, o Flamengo venceu onze e empatou três. E Pet marcou oito gols. Quatro deles nos jogos decisivos contra São Paulo, Palmeiras e Atlético Mineiro.

Ao contrário de Diego Souza, Pet, que é craque, elevou seu futebol nos momentos em que o Fla mais precisou. Como titular, tem aproveitamento superior ao de Adriano. Pode ter marcado menos que este, mas também jogou menos, atua em posição mais recuada e, no fim das contas, foi o responsável direto por vários dos 19 gols do Imperador.

Então, se o Fla for campeão, entreguem o troféu de craque do campeonato ao gringo. Ele merece.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pra botar fogo na reta final.

Os tropeços de São Paulo e Palmeiras e a vitória do Flamengo embolaram de vez a briga pelo título brasileiro - e ainda há o Atlético Mineiro, que se tivesse vencido seria o novo líder. Cruzeiro e Inter, pela distância para a ponta da tabela e também para o fim do campeonato, me parecem ter ficado pelo caminho da Libertadores apenas.

Faltando quatro rodadas, teremos apenas um confronto direto entre os postulantes ao caneco - Palmeiras x Atlético, na penúltima. O time mineiro também ainda terá pela frente Inter e Corinthians, logo, teoricamente, o caminho mais árduo.

O Fla, protagonista da arrancada que incendeia o campeonato, vai ter que suar sangue no domingo que vem para vencer o Náutico, nos Aflitos, com importantes desfalques. Depois, contra Goiás, Corinthians e Grêmio, pode até mesmo acabar tendo pela frente, por conta das circunstâncias, adversários desinteressados, quase de fato de férias.

Dou essa volta toda para chegar ao Botafogo. Sim, o Botafogo. É ele quem vai decidir o campeão brasileiro de 2009.

Ontem, mostrou personalidade ao vencer o Coritiba, na sua casa, igualando-se a este nos 41 pontos e se mantendo cinco à frente do Flu, o primeiro da zona de degola. Imaginem a crise hoje no clube se esta vitória não tivesse se consumado.

Mas fato é que o Bota ainda não se livrou matematicamente, apesar desta distância e, principalmente, porque o tricolor vive, ao lado do Fla, o melhor momento entre os vinte times do campeonato. E a perspectiva é de que o tricolor continue enchendo o Maracanâ em casa (Atlético PR domingo que vem e Vitória na penúltima rodada) e se enchendo de brios fora (Sport, daqui duas semanas, provavelmente já rebaixado, e Coritiba, na última rodada).

É por isso que o Botafogo vai permanecer com o sinal de alerta ligado.

E o alvinegro ainda será adversário de São Paulo (36a rodada) e Palmeiras (última).

Aí se descortinam alguns cenários bem interessantes.

Porque se diante do São Paulo o time pode chegar precisando apenas de um empate para se livrar matematicamente (caso vença o Barueri, domingo que vem, e o Flu perca seu jogo), contra o Palmeiras, no encerramento do campeonato, pode já estar livre da segundona e de qualquer obrigação de esforço, que poderia ser fundamental para que seu maior rival, o Flamengo, chegue ao título.

Ou não, porque o Palmeiras pode tropeçar antes disto, contra o Atlético Mineiro.

Então tomem nota - 22 de novembro, um domingo, tem Botafogo x São Paulo no Engenhão. É o jogo que pode decidir o campeonato. Porque afinal, os demais adversários do tricolor serão Vitória, antes, Goiás e Sport, depois. Jogos em que um tropeço será bem mais improvável.

* * *

E o Simon, hein? O que ainda faz com um apito na boca?

* * *

E o Pato e o Diego, hein? O que ainda fazem fora do escrete do Dunga?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Onde está a emoção?

Eu sou fanático por basquete. Se tem um jogo passando na tv, eu assisto. Se tem uma peladinha com quatro moleques aqui na Lagoa, eu paro e vejo. Simples assim. Joguei a vida toda e sei que pode haver mais emoção até num racha entre amigos do que numa partida da NBA. Qualidade técnica, claro, são outros quinhentos.

É por isso que me espanta que tanta gente dita entendida no esporte não saiba diferenciar as duas coisas na hora de falar sobre este campeonato brasileiro.

"- Ah, mas é equilibrado porque ninguém se destaca, os times se nivelam por baixo."

"- É emocionante porque várias equipes disputam o título, mas não são bons times."


É verdade. São verdades.

Chegaram à trigésima-terceira de trinta e oito rodadas nada menos que seis pretendentes ao título porque, a rigor, nenhum deles foi capaz de disparar na liderança (ou, no caso de Flamengo e Cruzeiro, serem capazes de evitar longas sequências de maus resultados ao longo do caminho).

Realmente, o nivelamento é feito por baixo. Veteranos como Petkovic e Marcelinho Paraíba estão entre aqueles que têm mostrado o melhor futebol até aqui, ao lado de nomes que nunca se firmaram como craques - como os Diegos Souza e Tardelli -, repatriados do futebol europeu que buscam a redenção - como Adriano e Ronaldo -, e algumas poucas revelações que não chegam a empolgar, como Fernandinho, do Barueri, e Marquinhos, do Avaí.

Quando, entre os dez principais artilheiros, estão Obina, Val Baiano e Wellington Paulista, não é preciso dizer mais nada.

Mas e daí?

E daí que não temos aqui um Kaká, um Ronaldo, um Gerard, um Messi? São realmente nossos jogos tão menos emocionantes assim?

Faltou emoção na virada épica do Fluminense sobre o Cruzeiro? A incompetência mineira e a reação tardia carioca fizeram do jogo menos emocionante? Será que quem tanto critica tem mesmo assistido ao futebol que se joga por outras bandas?

É mais emocionante ter seis times de massa brigando por um título, apesar de sua mediocridade, ou um chatérrimo campeonato polarizado entre Real e Barça, mesmo recheados de estrelas?

Emoção e qualidade técnica, é verdade, se encontram na Premier League e, sobretudo, na Champions. Porque na Itália, as partidas têm sido de doer... e mesmo na Inglaterra, após apenas onze rodadas, o Liverpool já ficou pelo caminho e, de novo, a briga deve ser entre United e Chelsea, com o irresistível Arsenal tentando seguir os dois gigantes.

Enquanto isso, por aqui, a emoção é menosprezada em função da falta de craques, de dinheiro, de organização... uma pena. Porque a emoção do jogo de futebol não atenta necessariamente para nada disso.

* * *

Claro que, dentro da nossa estrutura, tudo que puder ser feito para atrapalhar, será.

Nem nas arquibancadas em Ribeirão Preto se aguentava o calor absurdo do sol das três da tarde. Porque, claro, a CBF igonora o horário de verão que contraria a TV.

Nem numa reta final de campeonato um jogo decisivo deixa de ser puxado para o meio da semana, apenas ele, para satisfazer a grade da TV.

Isso sem falar das arbitragens pífias, das malas brancas e sabe-se mais o que virá até o fim.

* * *

Mas é só aqui que o lanterna do campeonato - um clube que já foi campeão nacional, diga-se - é capaz de vencer, em sequência, dois dos primeiros quatro colocados na tabela, nos deliciando com a simples imagem de um Muricy perdendo o sono por conta de quem, há apenas duas rodadas, era cavalo morto.

Emocionante, sim.