Acho que a molecada de hoje só associa o termo ao jornal criado para nos dar a impressão de que a cidade tem mais de um veículo diário impresso (pouca coisa poderia ter sido pior que o fim do JB para o jornalismo no Rio de Janeiro).
Mas, antigamente, "extra!" era o bordão usado para anunciar nas ruas uma edição extra (ora bolas) de qualquer periódico, como os conhecíamos antigamente. Ou, pelo menos, alguma notícia bombástica de primeira página.
O que seria muito apropriado para esta:
Teixeira e Havelange receberam R$ 29,4 mi da ISL, mostra relatório - Documentos divulgados por Justiça Suíça mostram que ex-dirigentes ganharam comissões de extinta agência de marketing parceira da Fifa.
Como era de se esperar, já nem aparece mais entre os destaques do globoesporte.com.
Mas tem o Juca.
Tem a Folha.
O UOL.
E, claro, a Record, mesmo como parte interessada no imbróglio.
Tudo como antecipamos aqui, em março, quando Ricardo Teixeira saiu correndo da CBF, ao concluir que, inevitavelmente, a casa cairia.
Caiu.
Mas caiu num país em que o Maluf anda solto na rua, o Collor ainda está na política e a trinca Nuzman/Cabral/Paes faz miséria por conta de 2016.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
quinta-feira, 22 de março de 2012
O Maior Do Mundo Nunca Mais.
Este será um post curto e grosso, porque o assunto, só de pensar, só de lembrar, já me levou às lágrimas mais de uma vez. E, como vou ao Engenhão semana sim, semana também, confesso que trata-se de algo que povoa minha mente com frequência bem maior que gostaria.
Que o Maracanã, como nós o conhecíamos e amávamos, acabou, todo mundo sabe. Aquele gigante, que na final da Copa de 50 abrigou 199.854 torcedores, não existe mais há tempos. Sucessivas reformas e maquiagens já faziam dele, antes das obras para o Mundial de 2014, uma sombra do que um dia fora - mas, pelo menos, sabíamos que ainda era o bom e velho Maraca, só que com um lifting.
Depois de fechado para obras, foram surgindo, aos poucos, notícias cada vez piores. Primeiro, a de que a nova capacidade ficaria em torno de 76 mil lugares, o que o torna apenas o vigésimo-quinto do mundo em tamanho. Eu assisti a um Brasil x Paraguai, pelas eliminatórias da Copa de 86, junto a outras 139.922 pessoas.
Em seguida, a diminuição do tamanho do gramado, determinada pela FIFA - dos 110 x 75 metros de outrora para 105 x 68 metros, mesmas medidas do Engenhão (só para efeitos de comparação, o campo da Vila Belmiro tem 106 x 70 metros - o olho já se enche de lágrimas).
Agora o escritório Fernandes Arquitetos e Associados divulga imagens mais esclarecedoras de como será o estádio por dentro. Lembram-se do que foi alardeado? Que as arquibas seriam únicas, de cima a baixo, até o gramado? Pois não será bem assim.
A imagem acima mostra um trecho onde a arquibancada, já na sua porção superior, será dividida em duas - duas bem pequenas partes, como mostram as setas toscamente feitas por mim, no Gimp. Logo abaixo, um espaço enorme que deve compreender os 108 camarotes do projeto (cliquem na foto para ampliá-la - o Blogger está cada vez melhor).
Esta foto das obras, recente, mostra como apenas um dos lados terá esta divisão - o outro, também destacado, sugere que, atrás dos gols, a arquibancada será um espaço único, sem divisão. Como também deve ser do lado oposto às cabines de transmissão e camarotes, como mostra a outra imagem divulgada ontem, esta aqui embaixo.
Notem como, pelas imagens, o estádio perderá qualquer semelhança com o que um dia foi - um gigante belo e imponente, acolhedor e espaçoso para multidões que ali tinham momentos da mais pura paixão pelo futebol, fosse num clássico lotado, fosse num Flamengo x Blumenau, pela Copa do Brasil de 1989, onde apenas 3.567 pessoas, além de mim, viram Bujica marcar duas vezes, num time que tinha acabado de perder Bebeto para o Vasco, em que Zico vestia a camisa dez. Cheio ou vazio, o Maraca era uma casa para mim.
Hoje, 23 anos depois, sou um sem-teto.
* * *
Só para lembrar, o custo das obras - de reforma, vale sempre lembrar - tocadas pelo consórcio Andrade Gutierrez, Odebrecht e Delta, no momento, está 883,5 milhões de reais. A Allianz Arena, em Munique, palco da abertura da Copa de 2006, custou 850 milhões, da pedra fundamental ao resultado final divino.
Que o Maracanã, como nós o conhecíamos e amávamos, acabou, todo mundo sabe. Aquele gigante, que na final da Copa de 50 abrigou 199.854 torcedores, não existe mais há tempos. Sucessivas reformas e maquiagens já faziam dele, antes das obras para o Mundial de 2014, uma sombra do que um dia fora - mas, pelo menos, sabíamos que ainda era o bom e velho Maraca, só que com um lifting.
Depois de fechado para obras, foram surgindo, aos poucos, notícias cada vez piores. Primeiro, a de que a nova capacidade ficaria em torno de 76 mil lugares, o que o torna apenas o vigésimo-quinto do mundo em tamanho. Eu assisti a um Brasil x Paraguai, pelas eliminatórias da Copa de 86, junto a outras 139.922 pessoas.
Em seguida, a diminuição do tamanho do gramado, determinada pela FIFA - dos 110 x 75 metros de outrora para 105 x 68 metros, mesmas medidas do Engenhão (só para efeitos de comparação, o campo da Vila Belmiro tem 106 x 70 metros - o olho já se enche de lágrimas).
Agora o escritório Fernandes Arquitetos e Associados divulga imagens mais esclarecedoras de como será o estádio por dentro. Lembram-se do que foi alardeado? Que as arquibas seriam únicas, de cima a baixo, até o gramado? Pois não será bem assim.
A imagem acima mostra um trecho onde a arquibancada, já na sua porção superior, será dividida em duas - duas bem pequenas partes, como mostram as setas toscamente feitas por mim, no Gimp. Logo abaixo, um espaço enorme que deve compreender os 108 camarotes do projeto (cliquem na foto para ampliá-la - o Blogger está cada vez melhor).
Esta foto das obras, recente, mostra como apenas um dos lados terá esta divisão - o outro, também destacado, sugere que, atrás dos gols, a arquibancada será um espaço único, sem divisão. Como também deve ser do lado oposto às cabines de transmissão e camarotes, como mostra a outra imagem divulgada ontem, esta aqui embaixo.
Notem como, pelas imagens, o estádio perderá qualquer semelhança com o que um dia foi - um gigante belo e imponente, acolhedor e espaçoso para multidões que ali tinham momentos da mais pura paixão pelo futebol, fosse num clássico lotado, fosse num Flamengo x Blumenau, pela Copa do Brasil de 1989, onde apenas 3.567 pessoas, além de mim, viram Bujica marcar duas vezes, num time que tinha acabado de perder Bebeto para o Vasco, em que Zico vestia a camisa dez. Cheio ou vazio, o Maraca era uma casa para mim.
Hoje, 23 anos depois, sou um sem-teto.
* * *
Só para lembrar, o custo das obras - de reforma, vale sempre lembrar - tocadas pelo consórcio Andrade Gutierrez, Odebrecht e Delta, no momento, está 883,5 milhões de reais. A Allianz Arena, em Munique, palco da abertura da Copa de 2006, custou 850 milhões, da pedra fundamental ao resultado final divino.
terça-feira, 13 de março de 2012
Correu.
Há muito eu não via uma mesma notícia ser dada e analisada de tantas formas diferentes quanto essa fuga-renúncia de Ricardo Teixeira. Considerados o personagem e sua história nada honrosa, chega a ser nojenta a maneira como indivíduos e corporações têm se posicionado desde ontem.
Vale e muito ressaltar que, mesmo em seu derradeiro ato como presidente da CBF, Ricardo Teixeira manteve-se fiel ao que sempre foi - um homem escuso. Há duas semanas, quando sua saída já era dada como certa, nenhuma palavra sobre o assunto foi dita na Assembleia Geral Extraordinária da entidade, quando presidentes das federações vieram ao Rio apenas para ouvir que Teixeira entraria de licença médica. Ontem, esses presidentes souberam da mentira da mesma maneira que eu e você - através da leitura da carta de renúncia por José Maria Marin, que também ocupará o posto deixado vago no Comitê Organizador Local da Copa.
"Fiz, nestes anos, o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde, renunciando ao insubstituível convívio familiar. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Mas isso é muito pouco, pois tive a honra de administrar não somente a Confederação de Futebol mais vencedora do mundo, mas também o que o ser humano tem de mais humano: seus sonhos, seu orgulho, seu sentimento de pertencer a uma grande torcida, que se confunde com o país." - Ricardo Teixeira
É muita cara de pau.
Nada que surpreenda, claro, desde que a revista Piauí publicou a aclamada e determinante reportagem de Daniela Pinheiro em julho do ano passado. Ela acompanhou Teixeira durante um congresso da FIFA, em Zurique, na Suíça, quando o então presidente da CBF soltou a língua sobre diversos assuntos.
"Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou."
Não à toa, essa frase fecha a reportagem de 8 páginas-tamanho-Piauí. Nela, Ricardo Teixeira atacou imprensa("É tudo coisa da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas merdas."), defendeu a Rede Globo ("Só vou ficar preocupado quando sair no Jornal Nacional."), afirmou não ligar para as denúncias de corrupção ("Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão.") e jurou perseguição à BBC ("Enquanto eu estiver na CBF, na FIFA, onde for, eles não entram.")
É na BBC que trabalha Andrew Jennings, jornalista que fez a denúncia sobre o esquema de propina que teria rendido a nomes como Teixeira e João Havelange cerca de 100 milhões de dólares nos anos 90, através da extinta ISL. E é essa história, que tem uma bomba de nêutrons prestes a explodir, a real motivadora da renúncia de ontem. Segundo o jonalista suiço Jean François Tanda, trata-se apenas de uma questão de tempo até que a Justiça do país divulgue a documentação levantada durante a investigação do escândalo ISL. Tanda e Jennings são parte da ação. Quando essa documentação for divulgada, os jornalistas odiados por Teixeira em todo o planeta terão acesso. Surgirão então os nomes dos verdadeiros donos de empresas como a Sanud, que foi sócia da RLJ Participações, de Teixeira, no Rio de Janeiro. E outras, como Ovada, Wando, Sicuretta, Beleza. Juntas, teriam liberado quase 54 milhões de dólares em propina, entre 1989 e 1997. Todas elas, empresas de fachada - o irmão de Ricardo Teixeira, Guilherme, por exemplo, aparece como procurador da Sanud no Brasil.
Enquanto isso, como era de se esperar, os mais diferentes tratamentos são dados ao ex-presidente da CBF.
O Jornal Nacional de ontem o exaltou como um dos maiores responsáveis pelo sucesso da seleção brasileira, duas vezes campeã do mundo enquanto ele presidiu a CBF. Destacou os 112 títulos conquistados durante sua gestão, a padronização da forma de disputa do campeonato brasileiro - como se ele próprio não tivesse sido um dos maiores opositores ao sistema de pontos corridos, só adotado após 14 anos de mandato. Pra completar, cita que todos os processos contra ele foram arquivados pela Justiça.
(Aqui vale uma volta no tempo. Em 2001, no auge da CPI da Nike, a Globo botou no ar um Globo Repórter que, entre outras coisas, sustentava que a renda de Ricardo Teixeira era incompatível com seu patrimônio. Poucos dias depois, a CBF anuncinou a mudança de horário de um Brasil x Argentina - em vez do horário-padrão-depois-da-novela, o jogo passou para as 19h45. "Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?", disse Teixeira à jornalista Daniela Pinheiro em sua reportagem para a Piauí, quando o caso foi relembrado. A partir deste episódio, nunca mais a Globo contrariou o mandatário da CBF)
A Record, claro, caiu em cima ontem, como também era de se esperar. Nunca teve da CBF o mesmo tratamento dispensado à Globo nas negociações sobre direitos de transmissão. A entidade deu apoio à emissora do Rio em 2010, quando esta negociou diretamente com os clubes os direitos do campeonato brasileiro. Record e Rede TV - que chegou a vencer uma patética concorrência promovida pelo Clube dos 13 - ficaram a ver navios. Os dois primeiros clubes a acertar com a Globo? Corinthians e Flamengo, cujos presidentes têm estreitas relações com Ricardo Teixeira.
Mesmo O Globo, que questiona o porquê de sua saída após 23 anos de acusações justamente nesse momento, a dois anos da Copa, cita pressão familiar, saúde debilitada e até a exposição da filha mais nova, que teria ouvido comentários constrangedoras sobre o pai na escola. Sério?
No meio disso tudo, ainda há as opiniões pessoais de quem vive o futebol. Opiniões não menos discrepantes que as dos veículos de comunicação.
"Hoje podemos comemorar. Exterminamos um câncer do futebol brasileiro. Finalmente, Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF." - Romário
"O ideal seria que ele não saísse. Mas, se a saúde o impediu de continuar na presidência da CBF, o importante é lembrar que em seu mandato a Seleção Brasileira conquistou duas Copas do Mundo e ainda o direito de sediar o Mundial de 2014." - Peter Siemsen, presidente do Fluminense
"Foram mais de 10 anos de impunidade e de cumplicidade de autoridades do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e principalmente de dirigentes de federações" - Álvaro Dias, senador do PSDB-PR
Agora Ricardo Teixeira vai esperar, em Boca Raton, na Flórida, os próximos passos da justiça suíça.
Enquanto isso, por aqui, a Corregedoria da Justiça vai investigar o Tribunal Regional Federal da segunda região (TRF-2), que trancou a investigação por lavagem de dinheiro sobre Teixeira por habeas corpus. O despacho de trancamento da desembargadora Nizete Rodrigues Carmo, favorável ao habeas corpus pedido por Teixeira, diz que "não há provas novas que sustentem um processo” contra o dirigente e sua família." A inspeção dos corregedores federais vai de 18 a 28 de março.
Como se vê, o cerco se fecha, aqui e na Suíça. E é por isso, apenas por isso, que Ricardo Teixeira, depois de 23 anos de mandos, desmandos e enriquecimento, correu.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Ei, mano.
Ontem eu perdi quase duas horas de minha vida assistindo à seleção brasileira de Mano Menezes, aquele que só foi chamado pela CBF porque o Muricy recusou o convite e, ainda assim, já está há mais tempo do que deveria no comando do escrete canarinho.
(como se vê, nem sempre eu uso o monte de tempo livre que tenho tido de forma inteligente)
Ontem, Mano Menezes perdeu mais uma chance de tentar dar cara ao seu trabalho e à nossa seleção, seja ela a olímpica ou a da próxima Copa do Mundo. Como nem ele nem eu e nem você fazemos ideia do time para Londres, vamos pensar apenas no que realmente interessa, que é o mundial de 2014.
Ser convidado para o cargo de técnico da seleção brasileira é mais ou menos como ser chamado para dirigir um filme podendo escolher roteiro e atores ao seu gosto (não virão metáforas oscarianas, pode ficar tranquilo). É algo bem diferente de assumir o comando de um clube, quando o técnico recebe um elenco já montado e, no máximo, vai ganhar um ou outro reforço que tiver pedido. Dependendo do clube, do elenco e do seu próprio prestígio, o técnico vai escolher como seu time jogará e quais jogadores vai utilizar. O elenco tem bons volantes, como o Corinthians de Tite? Arma-se um esquema específico. Tem abundância de jogadores do meio para frente, como o Flu de Abel? Arma-se outro esquema, que os valorize. E assim é. Assumir uma equipe - em qualquer área, seja futebol, cinema ou jornalismo - é identificar pontos fortes e fracos de seus comandados e saber utilizá-los da melhor forma possível, maximizando virtudes e minimizando deficiências.
Quando se é convidado para dirigir uma seleção - a seleção brasileira, não menos - a história é completamente diferente.
Não há alguém acima do técnico dizendo "quero que o time jogue assim". Como se sabe, Ricardo Teixeira adora dinheiro e poder, mas detesta futebol.
Também não há uma tradição que diga que a seleção deve jogar de determinada forma. Isso já até existiu, como lembrou Pepe Guardiola depois da final contra o Santos, mas não mais. Desde a Copa da Itália, em 90, o Brasil alternou times retranqueiros e sem suficiente talento com equipes talentosas e mal armadas a gosto do comandante (e, desde 90, tivemos Lazaroni, Parreira, Zagallo, Felipão e Dunga, todos retranqueiros).
Há apenas a consciência do técnico. Ou a falta dela.
Mano, quando assumiu, fez um discurso lindo de se ouvir, que entusiasmou a todos nós que amamamos o futebol. Falou sobre resgatar o espírito da seleção brasileira, de jogar sempre pra frente, sempre bonito. Falou o que todos queríamos ouvir depois daqueles tempos sombrios em que Dunga esteve no comando.
De lá para cá, pouco ou nada se viu deste discurso. Mano sequer armou um time. Convocou 81 jogadores. Ninguém sabe o time titular, tirando uma ou outra posição. Ninguém sabe exatamente a maneira de jogar da seleção. Sabe-se, apenas, que não tem sido belo ou eficiente o seu futebol.
E aí, Mano?
Tem o melhor futebol do mundo (ainda, sim, certamente, em talento e quantidade) à sua disposição, pode chamar quem bem entender e armar o time como bem quiser.
E não faz uso dessa benção, desse presente divido que caiu em seu colo?
Vamos por partes:
O Goleiro - Nosso mano chamou dez jogadores pra posição. Dez. Depois de umas férias pós-África do Sul, Júlio César reassumiu o posto de titular. Merecido? Talvez sim. Júlio ainda é um dos melhores do mundo na posição e está na idade que, para um goleiro, é o auge - 32 anos. Novo e experiente. Apesar das últimas falhas, aqui e na Inter. Jefferson, do Botafogo, é o melhor em atividade no Brasil. E Diego Alves, do Valência, o que tem jogado melhor lá fora. Fechemos com esses três, pois.
Laterais - Foram doze chamados por Mano. Daniel Alves e Marcelo, com atraso, parecem finalmente ter assumido a condição de "novos titulares" pós-2010. Eu não dispensaria a experiência de Maicon e Adriano (do Barça) para a reserva; dois jogadores que, se preciso, podem entrar no time e dar conta do recado, mesmo em 2014.
Zagueiros - Há muito não tínhamos uma safra tão boa. Thiago Silva, David Luiz e Dedé são os nomes óbvios. Todos jovens, talentosos e cheios de disposição. Eu teria o Lúcio como o quarto zagueiro, pela experiência que poderia passar aos demais.
Volantes - Treze foram convocados. Vamos assumir que precisemos de quatro para a Copa, num esquema com dois deles - Hernanes, Lucas Leiva, Elias e Ramires. Explico adiante.
Meias - Ganso, Oscar do Inter, Kaká e Lucas do São Paulo.
Atacantes - Neymar, Pato, Leandro Damião e Nilmar.
Temos então uma lista de 23 nomes. São os meus, diga-se, mas também são os do Mano, pois todos foram, em algum momento, convocados por ele.
Falta então o fundamental, muito mais importante que os nomes - O SISTEMA DE JOGO.
Ora, como eu já disse, não se trata de jogar de acordo com o material humano que se tem - este é quase ilimitado, em se tratando da seleção brasileira. Se trata, sim, de pensar esse material humano da maneira como se quer jogar. Coisa que Mano não fez, desde o início.
Quatro...
Jefferson, Dani Alves, Dedé, Thiago Silva e Marcelo...
Dois...
Hernanes e Ramires, Lucas Leiva e Hernanes, Elias e Hernanes, tanto faz - todos sabem o ofício de marcar e jogar bola.
Dois...
Ganso e mais um - pode ser Kaká, se voltar a ser o que era, pode ser o jovem Lucas, do São Paulo ou até o mais jovem ainda Oscar.
Dois...
Neymar e Pato.
Um 4-2-2-2, com uma defesa e tanto, com os três melhores do mundo em suas posições (Thiago Silva, Dani Alves e Marcelo); dois volantes que saem pro jogo e saber jogar; dois meias de criação e dois atacantes genuinamente brasileiros.
Com tanto talento, qualquer mano poderia fazer um time ofensivo, com muito toque (posse) de bola, criatividade, velocidade, drible e, sobretudo, vocação ofensiva.
Eu, se fosse o tal mano da vez, iria além - um só volante e três meias, sendo Hernanes um deles. Mas aí é querer demais.
Principalmente quando o mano da vez escala Sandro, Fernandinho e R10, deixando Ganso e Lucas no banco. E sem saber como organizar os caras em campo. Hernanes esteve perdido, R10 só trocou a faixa de campo onde tem se arrastado e os atacantes não tiveram com quem jogar.
Ah, se a gente tivesse a visão e a humildade de chamar um gringo pra tocar nosso time...
Pep?
(como se vê, nem sempre eu uso o monte de tempo livre que tenho tido de forma inteligente)
Ontem, Mano Menezes perdeu mais uma chance de tentar dar cara ao seu trabalho e à nossa seleção, seja ela a olímpica ou a da próxima Copa do Mundo. Como nem ele nem eu e nem você fazemos ideia do time para Londres, vamos pensar apenas no que realmente interessa, que é o mundial de 2014.
Ser convidado para o cargo de técnico da seleção brasileira é mais ou menos como ser chamado para dirigir um filme podendo escolher roteiro e atores ao seu gosto (não virão metáforas oscarianas, pode ficar tranquilo). É algo bem diferente de assumir o comando de um clube, quando o técnico recebe um elenco já montado e, no máximo, vai ganhar um ou outro reforço que tiver pedido. Dependendo do clube, do elenco e do seu próprio prestígio, o técnico vai escolher como seu time jogará e quais jogadores vai utilizar. O elenco tem bons volantes, como o Corinthians de Tite? Arma-se um esquema específico. Tem abundância de jogadores do meio para frente, como o Flu de Abel? Arma-se outro esquema, que os valorize. E assim é. Assumir uma equipe - em qualquer área, seja futebol, cinema ou jornalismo - é identificar pontos fortes e fracos de seus comandados e saber utilizá-los da melhor forma possível, maximizando virtudes e minimizando deficiências.
Quando se é convidado para dirigir uma seleção - a seleção brasileira, não menos - a história é completamente diferente.
Não há alguém acima do técnico dizendo "quero que o time jogue assim". Como se sabe, Ricardo Teixeira adora dinheiro e poder, mas detesta futebol.
Também não há uma tradição que diga que a seleção deve jogar de determinada forma. Isso já até existiu, como lembrou Pepe Guardiola depois da final contra o Santos, mas não mais. Desde a Copa da Itália, em 90, o Brasil alternou times retranqueiros e sem suficiente talento com equipes talentosas e mal armadas a gosto do comandante (e, desde 90, tivemos Lazaroni, Parreira, Zagallo, Felipão e Dunga, todos retranqueiros).
Há apenas a consciência do técnico. Ou a falta dela.
Mano, quando assumiu, fez um discurso lindo de se ouvir, que entusiasmou a todos nós que amamamos o futebol. Falou sobre resgatar o espírito da seleção brasileira, de jogar sempre pra frente, sempre bonito. Falou o que todos queríamos ouvir depois daqueles tempos sombrios em que Dunga esteve no comando.
De lá para cá, pouco ou nada se viu deste discurso. Mano sequer armou um time. Convocou 81 jogadores. Ninguém sabe o time titular, tirando uma ou outra posição. Ninguém sabe exatamente a maneira de jogar da seleção. Sabe-se, apenas, que não tem sido belo ou eficiente o seu futebol.
E aí, Mano?
Tem o melhor futebol do mundo (ainda, sim, certamente, em talento e quantidade) à sua disposição, pode chamar quem bem entender e armar o time como bem quiser.
E não faz uso dessa benção, desse presente divido que caiu em seu colo?
Vamos por partes:
O Goleiro - Nosso mano chamou dez jogadores pra posição. Dez. Depois de umas férias pós-África do Sul, Júlio César reassumiu o posto de titular. Merecido? Talvez sim. Júlio ainda é um dos melhores do mundo na posição e está na idade que, para um goleiro, é o auge - 32 anos. Novo e experiente. Apesar das últimas falhas, aqui e na Inter. Jefferson, do Botafogo, é o melhor em atividade no Brasil. E Diego Alves, do Valência, o que tem jogado melhor lá fora. Fechemos com esses três, pois.
Laterais - Foram doze chamados por Mano. Daniel Alves e Marcelo, com atraso, parecem finalmente ter assumido a condição de "novos titulares" pós-2010. Eu não dispensaria a experiência de Maicon e Adriano (do Barça) para a reserva; dois jogadores que, se preciso, podem entrar no time e dar conta do recado, mesmo em 2014.
Zagueiros - Há muito não tínhamos uma safra tão boa. Thiago Silva, David Luiz e Dedé são os nomes óbvios. Todos jovens, talentosos e cheios de disposição. Eu teria o Lúcio como o quarto zagueiro, pela experiência que poderia passar aos demais.
Volantes - Treze foram convocados. Vamos assumir que precisemos de quatro para a Copa, num esquema com dois deles - Hernanes, Lucas Leiva, Elias e Ramires. Explico adiante.
Meias - Ganso, Oscar do Inter, Kaká e Lucas do São Paulo.
Atacantes - Neymar, Pato, Leandro Damião e Nilmar.
Temos então uma lista de 23 nomes. São os meus, diga-se, mas também são os do Mano, pois todos foram, em algum momento, convocados por ele.
Falta então o fundamental, muito mais importante que os nomes - O SISTEMA DE JOGO.
Ora, como eu já disse, não se trata de jogar de acordo com o material humano que se tem - este é quase ilimitado, em se tratando da seleção brasileira. Se trata, sim, de pensar esse material humano da maneira como se quer jogar. Coisa que Mano não fez, desde o início.
Quatro...
Jefferson, Dani Alves, Dedé, Thiago Silva e Marcelo...
Dois...
Hernanes e Ramires, Lucas Leiva e Hernanes, Elias e Hernanes, tanto faz - todos sabem o ofício de marcar e jogar bola.
Dois...
Ganso e mais um - pode ser Kaká, se voltar a ser o que era, pode ser o jovem Lucas, do São Paulo ou até o mais jovem ainda Oscar.
Dois...
Neymar e Pato.
Um 4-2-2-2, com uma defesa e tanto, com os três melhores do mundo em suas posições (Thiago Silva, Dani Alves e Marcelo); dois volantes que saem pro jogo e saber jogar; dois meias de criação e dois atacantes genuinamente brasileiros.
Com tanto talento, qualquer mano poderia fazer um time ofensivo, com muito toque (posse) de bola, criatividade, velocidade, drible e, sobretudo, vocação ofensiva.
Eu, se fosse o tal mano da vez, iria além - um só volante e três meias, sendo Hernanes um deles. Mas aí é querer demais.
Principalmente quando o mano da vez escala Sandro, Fernandinho e R10, deixando Ganso e Lucas no banco. E sem saber como organizar os caras em campo. Hernanes esteve perdido, R10 só trocou a faixa de campo onde tem se arrastado e os atacantes não tiveram com quem jogar.
Ah, se a gente tivesse a visão e a humildade de chamar um gringo pra tocar nosso time...
Pep?
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Fight The Power.
Esqueçam mais essa convocação do Mano (que é pra ser esquecida mesmo). Esqueçam também a estreia do Fla na Libertadores, a possível renúncia de Ricardo Teixeira e a arbitragem do clássico de domingo.
Todos só querem saber dele.
Jeremy Lin.
A imagem acima é de ontem. Faltando 0.5 segundo para o fim, Lin fez a cesta de três que deu a vitória ao New York Knicks sobre os Raptors, em Toronto. Nada demais, por um lado - o time canadense é um dos piores da liga. Mas, por outro, foi a cesta que levou os Knicks à sexta vitória seguida. Nas últimas cinco, Lin foi o armador titular. Quebrou recordes sem tanta significância - comparar suas cinco primeiras partidas como titular às cinco primeiras de nomes como Jordan e LeBron chega a ser piada, dada a experiência deles à época, recém-saídos da universidade e do colegial, com a rodagem que Lin já possuía: 39 jogos só na NBA antes dessa titularidade. O que em nada diminuiu os méritos do mais novo ídolo de NY - nessas cinco vitórias, cinco saídas como titular, Lin teve médias de 27,2 pontos, 8,8 assistências, quarenta minutos em quadra e ainda cinquenta por cento de aproveitamento nos arremessos. Como dizem os ianques, Lin is for real.
E é descendente de asiáticos, apesar de ter nascido em Palo Alto, na Califórnia. Tão americano quanto LeBron.
A "Linsanity" que a imprensa americana vende não é fabricada. Surgiu espontaneamente, nas arquibancadas do Madison Square Garden, templo do basquete. Da desesperança de uma das torcidas mais apaixonadas da NBA - a mais exigente, certamente - surgiu esse anjo salvador, de pele amarela. No dia seis de fevereiro, data do primeiro jogo de Lin como titular, os Knicks amargavam um retrospecto de oito derrotas nos onze jogos anteriores. Estavam longe dos playoffs da Conferência Leste e sem nenhuma perspectiva de recuperação, por conta das ausências dos astros Carmello Anthony e Amare Stoudamire, contundidos. Mais uma típica temporada frustrante na história recente do time de Nova York, em jejum de títulos desde 1973.
Aí, Mike D'Antoni, o técnico - o mesmo que por tantas temporadas fez os Suns de Nash e do próprio Stoudamire serem um dos times mais divertidos de se ver jogar - resolveu apostar no armador rápido, mas sem nenhum pedigree, que poderia acelerar o pace do time. Deu certo. E não foi apenas resultado das circunstâncias. Com Lin no time, os Knicks venceram os Jazz em casa (28 pontos e 8 assistências), o sofrível Washington Wizards fora (23 e 10), os Lakers no MSG (38 e 7, roubando os holofotes de Kobe Bryant), além do Minnesota fora (20 e 8 diante de Ricky Rubio, outro queridinho do momento na NBA).
Mas, claro, nada disso é tão relevante quanto o fato de Jeremy Lin ser asiático. Pele amarela. Gente do outro lado do planeta que, supostamente, não sabe jogar basquete.
Yao Ming? Um fracasso, fenômeno que nunca atingiu seu potencial devido às inúmeras e graves contusões que o fizeram abandonar as quadras precocemente.
Mais alguém? Alguém?
(Não me venham com papo de Wang Zhizhi).
Pra deixar tudo um pouco mais improvável, Lin se formou em Harvard, a universidade acostumada a formar presidentes americanos, não jogadores da NBA.
Lin tem um diploma de economia em Harvard.
Tudo isso somado faz o New York Daily News de hoje dar manchete sobre Lin ter abandonado o sofá da sala do irmão, onde vinha dormindo desde que chegou aos Knicks, por um apartamento nos subúrbios de Nova Iorque. Esse Jeremy Lin é o mesmo que passou na temporada passada pelo Golden State Warriors sem impressionar ninguém. O mesmo filho de tailandeses que amargou tempo no fim do banco de reservas dos Knicks no primeiro mês com o time, quando esteve em quadra por apenas 22 minutos.
Daria um filme.
Mas tem gente que acha que não. Que tudo se resuma à raça.
Ontem, Floyd Mayweather, ídolo do boxe, usou o Twitter para mandar a seguinte:
"Jeremy Lin é um bom jogador, mas toda essa promoção exagerada é porque ele é asiático. Jogadores negros fazem o que ele faz toda noite e não recebem os mesmos elogios".
Depois da repercussão de suas palavras, foi além, novamente via Twitter:
"Tudo bem que a ESPN dê sua opinião, mas quando eu digo algo todos questionam Floyd Mayweather. Eu falo em nome de outros jogadores da NBA. Eles são programados para serem politicamente corretos e serão penalizados se derem suas opiniões. Outros países dão suporte e torcem por seus atletas e está tudo ok. Mas assim que eu dou suporte a um atleta negro americano, eu sou criticado."
Hmmmm.
Mayweather, supremo boxeador, com 42 vitórias e nunca derrotado, é o mesmo que, em 2010, quando da luta contra Manny Pacquiao, botou um vídeo na web em que mandava o filipino "fazer alguns enroladinhos de sushi e cozinhar arroz", para depois emendar um "eu vou cozinhá-lo com alguns gatos e cachorros."
Donde se conclui que:
1) Sim, Mayweather é racista. Como muitos que sofrem com o racismo ao longo da vida.
2) Não, Mayweather não entende muito de basquete. Lin é tudo, menos produto da mídia - o produto da mídia, sim, é resultado de seu jogo recente.
3) Muita gente transforma o Twitter (e até o Facebook) em ferramentas para disseminar algumas das opiniões mais babacas que tenho ouvido.
Jeremy Lin, 23 anos, californiano de pais tailandeses, poderia se chamar John Wayne, ser loiro de olhos azúis e, ainda assim, seria notícia pelo fato de ter estudado em Harvard, ter se formado em economia e chegado à NBA sem despertar a atenção de olheiros que ganham muito bem para descobrir talentos como ele.
* * *
O próximo jogo de Lin é hoje, às 22h30, no MSG, contra os Kings.
Mesmo com o Fla jogando no mesmo horário, darei um jeito de ver o anúncio dos titulares dos Knicks e a festa da torcida para o wonderboy Lin.
Todos só querem saber dele.
Jeremy Lin.
A imagem acima é de ontem. Faltando 0.5 segundo para o fim, Lin fez a cesta de três que deu a vitória ao New York Knicks sobre os Raptors, em Toronto. Nada demais, por um lado - o time canadense é um dos piores da liga. Mas, por outro, foi a cesta que levou os Knicks à sexta vitória seguida. Nas últimas cinco, Lin foi o armador titular. Quebrou recordes sem tanta significância - comparar suas cinco primeiras partidas como titular às cinco primeiras de nomes como Jordan e LeBron chega a ser piada, dada a experiência deles à época, recém-saídos da universidade e do colegial, com a rodagem que Lin já possuía: 39 jogos só na NBA antes dessa titularidade. O que em nada diminuiu os méritos do mais novo ídolo de NY - nessas cinco vitórias, cinco saídas como titular, Lin teve médias de 27,2 pontos, 8,8 assistências, quarenta minutos em quadra e ainda cinquenta por cento de aproveitamento nos arremessos. Como dizem os ianques, Lin is for real.
E é descendente de asiáticos, apesar de ter nascido em Palo Alto, na Califórnia. Tão americano quanto LeBron.
A "Linsanity" que a imprensa americana vende não é fabricada. Surgiu espontaneamente, nas arquibancadas do Madison Square Garden, templo do basquete. Da desesperança de uma das torcidas mais apaixonadas da NBA - a mais exigente, certamente - surgiu esse anjo salvador, de pele amarela. No dia seis de fevereiro, data do primeiro jogo de Lin como titular, os Knicks amargavam um retrospecto de oito derrotas nos onze jogos anteriores. Estavam longe dos playoffs da Conferência Leste e sem nenhuma perspectiva de recuperação, por conta das ausências dos astros Carmello Anthony e Amare Stoudamire, contundidos. Mais uma típica temporada frustrante na história recente do time de Nova York, em jejum de títulos desde 1973.
Aí, Mike D'Antoni, o técnico - o mesmo que por tantas temporadas fez os Suns de Nash e do próprio Stoudamire serem um dos times mais divertidos de se ver jogar - resolveu apostar no armador rápido, mas sem nenhum pedigree, que poderia acelerar o pace do time. Deu certo. E não foi apenas resultado das circunstâncias. Com Lin no time, os Knicks venceram os Jazz em casa (28 pontos e 8 assistências), o sofrível Washington Wizards fora (23 e 10), os Lakers no MSG (38 e 7, roubando os holofotes de Kobe Bryant), além do Minnesota fora (20 e 8 diante de Ricky Rubio, outro queridinho do momento na NBA).
Mas, claro, nada disso é tão relevante quanto o fato de Jeremy Lin ser asiático. Pele amarela. Gente do outro lado do planeta que, supostamente, não sabe jogar basquete.
Yao Ming? Um fracasso, fenômeno que nunca atingiu seu potencial devido às inúmeras e graves contusões que o fizeram abandonar as quadras precocemente.
Mais alguém? Alguém?
(Não me venham com papo de Wang Zhizhi).
Pra deixar tudo um pouco mais improvável, Lin se formou em Harvard, a universidade acostumada a formar presidentes americanos, não jogadores da NBA.
Lin tem um diploma de economia em Harvard.
Tudo isso somado faz o New York Daily News de hoje dar manchete sobre Lin ter abandonado o sofá da sala do irmão, onde vinha dormindo desde que chegou aos Knicks, por um apartamento nos subúrbios de Nova Iorque. Esse Jeremy Lin é o mesmo que passou na temporada passada pelo Golden State Warriors sem impressionar ninguém. O mesmo filho de tailandeses que amargou tempo no fim do banco de reservas dos Knicks no primeiro mês com o time, quando esteve em quadra por apenas 22 minutos.
Daria um filme.
Mas tem gente que acha que não. Que tudo se resuma à raça.
Ontem, Floyd Mayweather, ídolo do boxe, usou o Twitter para mandar a seguinte:
"Jeremy Lin é um bom jogador, mas toda essa promoção exagerada é porque ele é asiático. Jogadores negros fazem o que ele faz toda noite e não recebem os mesmos elogios".
Depois da repercussão de suas palavras, foi além, novamente via Twitter:
"Tudo bem que a ESPN dê sua opinião, mas quando eu digo algo todos questionam Floyd Mayweather. Eu falo em nome de outros jogadores da NBA. Eles são programados para serem politicamente corretos e serão penalizados se derem suas opiniões. Outros países dão suporte e torcem por seus atletas e está tudo ok. Mas assim que eu dou suporte a um atleta negro americano, eu sou criticado."
Hmmmm.
Mayweather, supremo boxeador, com 42 vitórias e nunca derrotado, é o mesmo que, em 2010, quando da luta contra Manny Pacquiao, botou um vídeo na web em que mandava o filipino "fazer alguns enroladinhos de sushi e cozinhar arroz", para depois emendar um "eu vou cozinhá-lo com alguns gatos e cachorros."
Donde se conclui que:
1) Sim, Mayweather é racista. Como muitos que sofrem com o racismo ao longo da vida.
2) Não, Mayweather não entende muito de basquete. Lin é tudo, menos produto da mídia - o produto da mídia, sim, é resultado de seu jogo recente.
3) Muita gente transforma o Twitter (e até o Facebook) em ferramentas para disseminar algumas das opiniões mais babacas que tenho ouvido.
Jeremy Lin, 23 anos, californiano de pais tailandeses, poderia se chamar John Wayne, ser loiro de olhos azúis e, ainda assim, seria notícia pelo fato de ter estudado em Harvard, ter se formado em economia e chegado à NBA sem despertar a atenção de olheiros que ganham muito bem para descobrir talentos como ele.
* * *
O próximo jogo de Lin é hoje, às 22h30, no MSG, contra os Kings.
Mesmo com o Fla jogando no mesmo horário, darei um jeito de ver o anúncio dos titulares dos Knicks e a festa da torcida para o wonderboy Lin.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
O Furo, A Barriga, A Tonta E O Burro.
Eu não exatamente aprecio a figura do Vanderlei Luxemburgo, faço logo questão de dizer. Corria o ano de 1998 e, pouco antes de a equipe do Sportv viajar para a França, participei de uma reunião com meu chefe de redação, o co-editor-chefe do jornal que também fecharia durante a Copa e ele, Vanderlei. Participei em termos - depois de apenas alguns minutos na sala, o técnico, então já bicampeão brasileiro, tinha contado tanta vantagem que comecei a ter náuseas. O fim da picada, quer dizer, da reunião, foi quando contou que o relógio que ostentava no pulso custara mais de 60 mil dinheiros da época. Pedi licença para ir ao banheiro e nunca mais voltei.
Depois daquele dia, Luxemburgo ainda conquistaria mais três campeonatos brasileiros, seria treinador da seleção e do Real Madrid e colecionaria escândalos, acusações e desafetos.
Seria demitido onze vezes.
A décima-segunda, dizem, seria ontem. Mas a vitória sobre o Potosí, que levou o Fla à fase de grupos da Libertadores, deixou sua situação em suspenso. Coisas do futebol, como disse o próprio na coletiva após o jogo (diga-se, uma das mais sagazes que vi em dezoito anos de carreira).
Não acho que Luxa tenha feito um bom trabalho nesse um ano e quatro meses à frente do Fla. O time não tem padrão, joga com muitos volantes, não se acerta na defesa e carece de uma movimentação fundamental hoje no futebol. É incrível que um treinador como ele não consiga fazer os jogadores entenderem e obedecerem conceitos básicos como aproximação, ultrapassagem, cobertura, marcação ao homem e não à bola...
Como também é incrível que, ainda hoje, um treinador de futebol se dirija a seus comandados, em treinos e jogos, como "filho-da-puta". Quem já prestou atenção ao trabalho de beira de campo do Vanderlei sabe que xingamentos e palavrões são as vírgulas entre as orientações aos jogadores.
Não deve ser fácil trabalhar com um cara assim. Alguém que, no auge de uma queda de braço com a estrela do time, decide perder horas na frente de um computador procurando imagens de uma suposta transgressão às suas regras. Assim como foi com Romário, Luxa mostrou, com Ronaldinho, que não é afeito a estrelas com personalidades maiores que a dele.
Podemos somar a isso tudo o fato do técnico ter perdido parte da antiga motivação; ter parado no tempo ao não apresentar nada novo desde 2003, há quase uma década, portanto; e, principal, ter envelhecido - prestes a completar sessenta anos, eu não sei se esse Luxa de hoje é mais sábio ou mais intolerante.
Fato é que, clima, não há. Fica claro que o grupo não o quer mais. Mas também é fato que há uma multa de quatro milhões no caso de demissão. E a atual mandatária do Flamengo, como todos sabem, não é muito boa na arte de tomar decisões. Patrícia é a principal responsável pela mágoa de Zico com o clube - sua atuação, no episódio da saída do Galinho, foi lamentável. Assim como é lamentável o clube ter praticamente institucionalizado a política do beiço - devendo a meio mundo, não é de se admirar que o clube não tenha hoje patrocínio master na camisa. Quem quer associar sua marca a tão grande sinônimo de desmando, incompetência e desonestidade? E as ações na justiça estão apenas começando a pipocar, com Alex Silva e Deivid.
Estão errados os jogadores em cobrar desta forma? Não.
Assim como não é culpa do técnico o atual estado das coisas do time. No fim das contas, Luxemburgo cumpriu o que prometeu e planejou - levou o Fla à Libertadores.
A presidente, no entanto, não cumpre praticamente nada que promete.
Nenhuma surpresa. Políticos sempre serão assim.
* * *
Também corria o ano de 1998 quando, por merecimento, tomei uma imensa chupada do mesmo chefe de redação do início deste post - diga-se, o melhor com quem trabelhei na vida, José Olívio Petit. Bem antes da tal reunião com Luxa, ainda no início do ano, o Fluminense procurava um técnico para assumir o comando do time. Era uma segunda-feira. Uma fonte graúda do clube me passara a informação, logo cedo, de que haviam não só chegado a um nome de consenso nas Laranjeiras, como acertado tudo com ele. Era Edinho, ídolo tricolor. Mas nada do anúncio oficial.
Vinte e cinco anos de idade, editor-chefe do telejornal da hora do almoço, decidi bancar minha fonte e dei a notícia. Ninguém tinha. O Globo Esporte não havia dado, a Manchete Esportiva também não. Furo nosso. Não, meu.
Vieram a tarde, a noite e nada de Edinho ser anunciado como o novo treinador do clube. No dia seguinte, claro, tive que dar explicações sobre as circunstâncias de minha "barriga".
Algumas horas depois, na tarde de terça, Edinho foi apresentado oficialmente.
Foi inevitável lembrar disso ontem, quando o globoesporte.com noticiou a demissão do Luxa, o acerto com Joel e até uma reunião de dirigente com jogadores para comunicar a saída do treinador. Quatro jornalistas assinaram a matéria. Não conheço todos, mas posso garantir que os que conheço são profissionais sérios e imagino que os outros também.
Mas furo é furo. E barriga é barriga.
Só não dá furo ou barriga quem não corre incessantemente atrás da notícia em primeira mão, essa é a moral das duas histórias.
Depois daquele dia, Luxemburgo ainda conquistaria mais três campeonatos brasileiros, seria treinador da seleção e do Real Madrid e colecionaria escândalos, acusações e desafetos.
Seria demitido onze vezes.
A décima-segunda, dizem, seria ontem. Mas a vitória sobre o Potosí, que levou o Fla à fase de grupos da Libertadores, deixou sua situação em suspenso. Coisas do futebol, como disse o próprio na coletiva após o jogo (diga-se, uma das mais sagazes que vi em dezoito anos de carreira).
Não acho que Luxa tenha feito um bom trabalho nesse um ano e quatro meses à frente do Fla. O time não tem padrão, joga com muitos volantes, não se acerta na defesa e carece de uma movimentação fundamental hoje no futebol. É incrível que um treinador como ele não consiga fazer os jogadores entenderem e obedecerem conceitos básicos como aproximação, ultrapassagem, cobertura, marcação ao homem e não à bola...
Como também é incrível que, ainda hoje, um treinador de futebol se dirija a seus comandados, em treinos e jogos, como "filho-da-puta". Quem já prestou atenção ao trabalho de beira de campo do Vanderlei sabe que xingamentos e palavrões são as vírgulas entre as orientações aos jogadores.
Não deve ser fácil trabalhar com um cara assim. Alguém que, no auge de uma queda de braço com a estrela do time, decide perder horas na frente de um computador procurando imagens de uma suposta transgressão às suas regras. Assim como foi com Romário, Luxa mostrou, com Ronaldinho, que não é afeito a estrelas com personalidades maiores que a dele.
Podemos somar a isso tudo o fato do técnico ter perdido parte da antiga motivação; ter parado no tempo ao não apresentar nada novo desde 2003, há quase uma década, portanto; e, principal, ter envelhecido - prestes a completar sessenta anos, eu não sei se esse Luxa de hoje é mais sábio ou mais intolerante.
Fato é que, clima, não há. Fica claro que o grupo não o quer mais. Mas também é fato que há uma multa de quatro milhões no caso de demissão. E a atual mandatária do Flamengo, como todos sabem, não é muito boa na arte de tomar decisões. Patrícia é a principal responsável pela mágoa de Zico com o clube - sua atuação, no episódio da saída do Galinho, foi lamentável. Assim como é lamentável o clube ter praticamente institucionalizado a política do beiço - devendo a meio mundo, não é de se admirar que o clube não tenha hoje patrocínio master na camisa. Quem quer associar sua marca a tão grande sinônimo de desmando, incompetência e desonestidade? E as ações na justiça estão apenas começando a pipocar, com Alex Silva e Deivid.
Estão errados os jogadores em cobrar desta forma? Não.
Assim como não é culpa do técnico o atual estado das coisas do time. No fim das contas, Luxemburgo cumpriu o que prometeu e planejou - levou o Fla à Libertadores.
A presidente, no entanto, não cumpre praticamente nada que promete.
Nenhuma surpresa. Políticos sempre serão assim.
* * *
Também corria o ano de 1998 quando, por merecimento, tomei uma imensa chupada do mesmo chefe de redação do início deste post - diga-se, o melhor com quem trabelhei na vida, José Olívio Petit. Bem antes da tal reunião com Luxa, ainda no início do ano, o Fluminense procurava um técnico para assumir o comando do time. Era uma segunda-feira. Uma fonte graúda do clube me passara a informação, logo cedo, de que haviam não só chegado a um nome de consenso nas Laranjeiras, como acertado tudo com ele. Era Edinho, ídolo tricolor. Mas nada do anúncio oficial.
Vinte e cinco anos de idade, editor-chefe do telejornal da hora do almoço, decidi bancar minha fonte e dei a notícia. Ninguém tinha. O Globo Esporte não havia dado, a Manchete Esportiva também não. Furo nosso. Não, meu.
Vieram a tarde, a noite e nada de Edinho ser anunciado como o novo treinador do clube. No dia seguinte, claro, tive que dar explicações sobre as circunstâncias de minha "barriga".
Algumas horas depois, na tarde de terça, Edinho foi apresentado oficialmente.
Foi inevitável lembrar disso ontem, quando o globoesporte.com noticiou a demissão do Luxa, o acerto com Joel e até uma reunião de dirigente com jogadores para comunicar a saída do treinador. Quatro jornalistas assinaram a matéria. Não conheço todos, mas posso garantir que os que conheço são profissionais sérios e imagino que os outros também.
Mas furo é furo. E barriga é barriga.
Só não dá furo ou barriga quem não corre incessantemente atrás da notícia em primeira mão, essa é a moral das duas histórias.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
2012 Pode Ser Mesmo O Fim.
Afinal de contas, ao que parece, o fim da linha, o fundo do poço, o fim da picada - estão todos ali, no virar da esquina. Senão, vejamos.
Nesses vinte e poucos primeiros dias de 2012, vimos governantes do Rio e de Minas, principalmente, terem a cara de pau de, novamente, botar a culpa das enchentes e deslizamentos e mortes no clima. Um ano se passou desde a tragédia de 2011 e nada, absolutamente nada foi feito. Ainda assim, Cabral deve se reeleger com folgas quando chegar a hora; antes dele, o prefeito bufão da Maravilhosa fará o mesmo. Em São Paulo, ainda não me decidi sobre o que foi/é pior - a ação do Estado na cracolândia ou a desocupação do Pinheirinho, onde quase nove mil pessoas foram postas à força para fora de suas casas pela PM para que o Estado, sempre ele, garanta o direito de posse do terreno a ninguém menos que Naji Nahas, aquele criminoso que pegava dinheiro emprestado com bancos para fazer negócio com ele mesmo na Bolsa, através de seus laranjas. E, vejam só, o desgraçado foi absolvido pela Justiça de todos os crimes de que foi acusado - lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Pra completar, ainda tivemos o primeiro caso de estupro em rede nacional na TV brasileira - com Pedro Bial fazendo o papel de cereja do bolo ao afirmar, diante da cena editada no melhor estilo-melhores-momentos, que "o amor é lindo". E nada acontece diante disso tudo.
Mas o que todo esse lixo tem a ver com o Tudo Bola?
Tudo, infelizmente.
O ano que se passou não foi exatamente animador. Números não mentem - em 2011, escrevi somente 10 posts. Em 2010, foram 52, e em 2009, 104. Considerando que no ano passado eu praticamente não trabalhei em televisão, posso afirmar que foi quando tive mais tempo livre para escrever sobre minha grande paixão, o esporte. Paixão, profissão, comida e arte - porque o esporte pode ser isso tudo e muito mais. Porém, não foi.
Relembremos algumas, recentes:
- depois de semanas de excitação, expectativa e até uma certa debilidade nacionalista em relação ao assunto, o Santos foi ao Japão para, no fim, na final, ser goleado e humilhado pelo Barcelona. Pior que o placar, foi a forma da derrota - abdicando do direito de jogar para passar a maior parte dos noventa minutos observando o jogo do outro, de pé em pé, toque em toque. E pior que tudo foram ainda a postura e as declarações do "professor" Muricy após a partida. Não foi apenas a torcida do Santos que terminou o ano desiludida - todos que acreditamos na arte do futebol encerramos a temporada assim, descrentes de que dias melhores virão por aqui.
- após meses de um campeonato brasileiro alardeado como "o mais emocionante dos pontos corridos", tivemos um Corinthians campeão sem brilho, cheio de suspeitas fundamentadas (Itaquerão, Andrés na CBF, arbitragens estranhas) e com uma escalação que, cá entre nós, ficará na cabeça apenas dos corintianos mesmo. O Vasco, história mais bela da competição, ficou pelo caminho, como se previa para quem decidiu esgoelar o time (que já é velho) na reta final da temporada. Fla e Flu, então, sequer chegaram realmente a brigar pelo título nas rodadas finais - o Fla do time sem esquema e sem pênaltis a seu favor e o Flu do artilheiro boêmio, do meia capenga e do presidente que manda menos que o mecenas.
- Passado mais de ano e meio desde a pífia Copa de 2010, ainda não temos uma seleção brasileira. Na verdade, nem um esboço dela parecemos ter. Aquele Mano da primeira coletiva, que deixou entusiasmo e esperança no ar, sucumbiu à pressão por resultados, como se apenas eles fossem capazes de manter um técnico de seleção no cargo. E o resultado foi o pior possível - não tivemos nem o prazer do bom futebol, nem os tais bons resultados de uma seleção que começa a ficar conhecida por não vencer as demais grandes. Some a isso o papelão do Santos e a declaração de Pep Guardiola lembrando como jogávamos antigamente e chegamos ao panorama sombrio de 2011.
- Pra começar 2012, que tal o Fluminense aliciar Rodrigo Caetano e Thiago Neves; Adriano continuar quase tão gordo quanto Ronaldo; Kléber ainda ser a esperança de alguém e o Flamengo investir dez milhões de euros em Vágner Love, depois de vexame após vexame nessas primeiras semanas na terra de ninguém chamada Gávea?
E aí, qual minha motivação pra escrever?
Será que finalmente cheguei à conclusão de que nosso futebol, falando assim, de maneira ampla, da mesma forma que nossa televisão, nossos governantes e nossa política, em geral, são todos uma merda? Um bando de gente sem capacidade ou vontade que não sejam a capacidade e vontade de agir em benefício próprio?
É difícil dissociar o jogo de tudo que o envolve. Mas vou continuar tentando.
* * *
Hoje tem Flamengo abrindo a temporada em Potosí. No banco, um técnico que, dizem, amanhã já não o será. Em campo, um camisa dez que, dizem, está na melhor forma física desde que chegou ao clube (além de quatro, eu disse quatro volantes). Um ou outro precisa mostrar hoje que é o cara certo pro clube.
* * *
Nas próximas semanas, de (ainda) pouco futebol e (muita) apatia pelo cenário que o cerca, sobram o Superbowl repleto de histórias do próximo dia 5 (!) e a temporada da NBA, onde o Chicago Bulls fará história nesse ano. Mas isso fica pra já, já.
* * *
Love ou Thiago Neves? E aí, rubro-negros?
Assinar:
Postagens (Atom)