
Relendo alguns posts recentes e outros nem tanto, percebi que há um tema aqui nesse espaço tão recorrente quanto o tempo.
A importância da vitória.
Justificativa-mor para algumas das decisões mais equivocadas da história do esporte, a busca pela vitória a qualquer preço também forjou campeões inigualáveis. A obsessão por ser o primeiro une nomes como Jordan, Schumacher, Valentino, Bolt, Phelps, Bernardinho, só para citar os mais dependentes desta condição.
Acabamos de assistir à uma Copa em que a seleção brasileira abandonou suas principais características em função do resultado. Onde a Espanha, que se manteve fiel a seus princípios, provou que aprendeu a vencer sem se violentar. Coisa que a Holanda não entendeu muito bem e, por isso, não só ficou em segundo como terminou deixando péssima impressão - pois achou que, para vencer a final, valia tudo, até mesmo bater muito.
Qual será o ponto de equilíbrio? Se o esporte é a grande metáfora da vida, vale a pena abrir mão das próprias convicções para atingir um objetivo? A jornada não deveria ser tão importante quanto o resultado em si? Ou alguém pensa que uruguaios e holandeses, nesse momento, não se sentem orgulhosos? Mas e os alemães, teriam agora o mesmo sentimento, depois de chegar tão perto em duas Copas seguidas mas... não vencê-las?
Afinal, qual a importância da vitória?
Nesses dias pós-Copa, além do retorno do campeonato brasileiro, temos a definição de como serão as próximas temporadas do futebol europeu e da NBA. Na América e no velho continente, times fazem contas, contatos e mais contas para tentar formar as equipes mais capacitadas para conquistar vitórias e títulos. E nesses gloriosos tempos modernos em que o atleta é dono do próprio nariz, fica muito mais fácil decidir qual prioridade para a carreira. Vitória? Dinheiro? Fama?
Qual terá sido a principal motivação para David Villa ter trocado o Valência pelo Barcelona, por exemplo? Claro que ele ganhará mais fortuna e visibilidade no clube catalão. Mas sabem quando foi a última vez que o Valência conquistou um título? Há seis anos.
E Ibrahimovic, que depois de seguidos
scudettos na Itália, viu a Inter ganhar
tudo - e por "tudo", leia-se Champions - justamente depois dele sair do clube? Será que o sueco pensa agora em mais dinheiro ou faixa no peito? Mesmo com a chegada de Villa, declarou, na semana passada, que gostaria de permanecer no Barça. Me parece clara sua opção.
No mundo da bola, em que os campeonatos são variados e a chance de sucesso maior, há bolo para todos. Mas na NBA, de apenas um campeão por temporada - e outros 29 times frustrados - a aposta precisa ser certa. Depois de muito suspense, LeBron James e Chris Bosh, duas estrelas da seleção americana campeã olímpica, decidiram não renovar com seus clubes e se juntar a Dwyane Wade no Miami Heat. LeBron e Bosh jamais foram campeões de coisa alguma, tirando o ouro em Pequim, ao lado de Wade. Trocaram salários maiores que poderiam receber nos Cavs e Raptors, respectivamente, pela chance de conquistar o sonhado título, que Wade já tem. Iniciaram, com sua decisão, uma avalanche de outros jogadores que cavam um lugar no time da Flórida, mesmo que ganhando o salário mínimo da liga, em busca do anel de campeão. Em menos de duas semanas, a equipe praticamente foi remontada. Mas não sem a desaprovação de alguns.
"Eu jamais teria chamado Larry Bird e Magic Johnson e dito, ei, vamos nos juntar e jogar no mesmo time. Não posso dizer que é ruim, é uma oportunidade que esses garotos têm hoje. Mas, para ser honesto, eu estava tentando superar aqueles caras."Nem preciso dizer o autor da frase acima. Mas lembro que, quando LeBron anunciou sua decisão naquele patético programa ao vivo na ESPN americana, pensei: "uau, Jordan
jamais teria feito isso". E não me refiro só ao programa.
Agora, mesmo que LeBron ganhe seis títulos da NBA - como MJ - ele sempre terá um a menos que Wade, com quem sempre será comparado, pois se tornaram profissionais no mesmo ano. Mais que isso - todos lembrarão que LeBron precisou da ajuda de outros dois craques para chegar à terra prometida.
Vale tudo pela vitória?
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É necessária uma distinção entre os exemplos que dei.
LeBron, Wade, Villa, Ibra, nenhum desses caras, mesmo querendo vencer sempre, jamais deixou claro ter como motivação o desejo de se tornar o maior de todos os tempos.
Coisa que Jordan, Schumi, Valentino, Bolt, Phelps e Bernardinho sempre demonstraram ao longo de suas carreiras - e acabaram conseguindo.
Algo que Ronaldinho Gaúcho, no auge, não quis. Contentou-se com as vitórias - todas as possíveis, é verdade - que já tinha alcançado.
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É o que falta, também, a atletas como Valtinho. Ontem, o armador, que acaba de trocar o Brasília por Uberlândia, onde teve a melhor fase de sua carreira, mais uma vez abandonou a seleção brasileira. Na verdade, nem mesmo chegou a ser apresentar ao grupo, no Rio. Mas "abandonar", no caso, é o verbo mais preciso.
Não é a primeira, nem a segunda vez que Valtinho, um puta cara e baita jogador, demonstra total desapego ao orgulho que deveria ser vestir a camisa da seleção brasileira.
Mas, certamente, foi a última.