terça-feira, 25 de maio de 2010

LOST

Não, eu não vou escrever sobre a série do J.J.Abrams, a que eu parei de assistir ao fim da terceira temporada, quando soube que haveria mais três.

Mas vou usar seu principal argumento - a existência de realidades paralelas - para imaginar uma em que, vejam só, Adriano, atormentado ex-atacante da seleção brasileira, é amigo de Steve Nash, armador do Phoenix Suns. Nash é peladeiro, fã de futebol, já até viu jogo no Maracanã... vamos conceber que eles tenham se conhecido nessa visita do canadense ao Rio e se tornado grandes amigos, desses que se falam ao telefone toda semana:

ADRIANO - E aí, parceiro? Tô ligando pra saber como é que tu tá, fiquei sabendo aí que se contundiu...

NASH - Pois é, man, nada demais. Terminei de quebrar meu nariz domingo, numa trombada com o Fisher, dos Lakers...

ADRIANO - Pô, que azar, quebrar o nariz logo num jogo decisivo, deixar o time na mão...

NASH - Eu não deixei meu time na mão. Na verdade, voltei pra quadra, joguei até o fim, fiz seis pontos nos três minutos finais e ganhamos a partida. Agora tá dois a um pra eles, mas vamos atrás do prejuízo, como vocês dizem aí no Brasil...

ADRIANO - Mas parceiro, tu continuou jogando com o nariz quebrado? Que perigo, cara... Bom, mas basquete dá, né? Se fosse futebol, tinha que sair, como ía cabeçear uma bola?...

NASH - Man, na verdade basquete tem bem mais contato físico que futebol. Toda hora eu estou trombando de cara com um gigante fazendo o bloqueio, fora as cotoveladas... Mas, sabe como é, na hora da decisão, a gente se supera.

ADRIANO - Sei, sei... ano passado eu tive um probleminha parecido... Mas e aí, parceiro, vai ter que operar pra botar no lugar?

NASH - Tive. Foi ontem mesmo. Depois do treino da tarde, fui direto para o hospital, lá botaram a cartilagem no lugar.

ADRIANO - (depois de longa pausa). Peraí. Tu treinou com o nariz quebrado e depois foi direto pra cirurgia? Que isso, parceiro? Tá querendo ser o funcionário do mês do Lakers?

NASH - Eu jogo nos Suns, man. E não se trata disso, mas de respeito com minha torcida e com aqueles que pagam meu salário.

ADRIANO - Ah, mas seu eu ganhasse treze milhão de dólar por ano eu jogava até com bolha no calcanhar...

NASH - Mas você ganha isso, man. Ou ganhava, na Itália.

ADRIANO - Pois é, parceiro, tô voltando pra lá. Pra mim chega disso aqui, dessa bagunça, dessa cobrança toda. Tô me sentindo vigiado, perseguido. Até a torcida andou me xingando, tô na maior deprê por conta daquela vagabunda ainda. Preciso de novos ares, por isso tô indo pra Roma.

NASH - Pro Roma?

ADRIANO - É, pra Roma.

NASH - Mas man... Você sabe que a cobrança lá é maior... e ainda tem a Lazio e sua torcida ultra-racista... fora o imbecil do Totti...

ADRIANO - Alemão tem em tudo que é lugar, parceiro.

NASH - Não entendi.

ADRIANO - Deixa pra lá.

NASH - Bom, então essa semana é de despedida, né? Fiquei sabendo que tem Flu-Fla amanhã.

ADRIANO - Fla-Flu, cara, já te disse que é Fla-Flu. Tem sim, mas não vou jogar não. Sabe como é, numa dessas me machuco, vai que eu quebro o nariz...

NASH - Mas na semana passada você me disse que tinha contrato até dia 31, como fica?

ADRIANO - Ah, não fica. Já avisei que tô fora, nem joguei nesse domingo, mandei um caô. Já era, fui.

NASH - Mas o clube não pode te multar por causa disso?

ADRIANO - Poder, pode.

NASH - (silêncio)

ADRIANO - Mas e você, parceiro? Quanto tempo de molho, agora que operou o nariz?

NASH - Molho?

ADRIANO - É, quanto tempo se jogar basquete?

NASH - Eu entro em quadra logo mais, quarta partida contra os Lakers. É aqui em Phoenix, vamos dar o sangue pra empatar a série.

ADRIANO - Mas e o nariz quebrado e operado, parceiro???

NASH - Nada que uma máscara não resolva, man. Se bem que eu já quebrei-o tantas vezes que acho que vou pro jogo sem nenhuma proteção. Não quero ficar parecendo o Ginóbili...

ADRIANO - Vou pedir pros parceiro tentar sintonizar lá na Chatuba, comprei uma parabólica pro barraco do... deixa pra lá. Bom, bom jogo pra ti, parceirão.

NASH - Thanks, man. Vê se não toma todas aí. E aproveita a vida em Roma, é uma cidade fantástica, repleta de cultura - monumentos, museus, História pra todo lado.

ADRIANO - Pois é, já tô até vendo. Vai ser só eu chegar pra começar a pipocar história pra todo lado...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ele Não Está Sozinho.

Passada mais de uma semana da divulgação da lista do Dunga, ainda é possível sentir a indignação pela ausência, sobretudo, de PH Ganso. O recital de quarta, diante do Grêmio, deve ter deixado o técnico da seleção brasileira furioso. Dunga não gosta de ser contestado e o garoto da camisa dez do Santos só pode estar jogando assim para afrontá-lo, ele deve imaginar.

Mas e nós, a quem Dunga afronta? Com quem reclamamos? Ou será que sequer temos o direito de reclamar? Quem está com nós, como gosta de dizer o treinador?

Eu não consido imaginar o que Dunga lê, a que assiste ou ouve. Por algumas pérolas soltas na coletiva da semana passada, posso até conceber que ele não leia, assista ou ouça nada. Afinal de contas, disse desconhecer o clamor popular pela convocação dos meninos do Santos. "Coisa da imprensa, lobby". Mas se olhasse um pouco além de si, se em vez de raiva tivesse pela tal imprensa respeito e agradecimento até, Dunga se sentiria menos sozinho nessa guerra particular contra todo o mal e pelo resgate do patriotismo perdido por nós, jornalistas e torcedores em geral, que só pensamos em beleza e talento, em detrimento do resultado e do tal comprometimento. Dunga não está só.

Repercutiu muito a lista final da Argentina. Uau, Maradona vai levar seis atacantes, foi o consenso geral. Lá, ninguém ficou muito indignado, como aqui, pois não havia um Ganso, um Neymar. No máximo um Ezequiel Lavezzi, tão mais craque que Palermo quanto Neymar é pra Grafite. Mas o atacante do Nápoli, ex-San Lorenzo, foi cortado - em seu lugar vai o lendário atacante do Boca de Diego, que está com 37 anos. Mais do que fazer média com o clube e a torcida do coração, a convocação de Palermo foi outra alfinetada no desafeto de ambos, Juan Róman Riquelme. Que desprezou a seleção, que é desprezado por Diego, que não fala com Palermo fora de campo... Cenas de um tango que era um tanto previsível quando entregaram o comando da Argentina a seu ídolo maldito e louco. Maradona tem coragem, há que se admitir. Mesmo depois de tantos outros tangos sobre drogas e confusões mil, teve peito de descer de seu lugar no Olimpo - de onde os argentinos nunca o tiraram - para se colocar na posição mais humana possível, a de técnico da seleção nacional. Uma aposta e tanto.

Para registro, Maradona chamou Verón, Messi, Higuaín, Tevez, Aguero e Diego Milito. Convocou pelo talento, tirando o caso de Lavezzi. Por isso, tem mais mérito que Dunga. Mesmo que as preferências deles tenham mais a ver com seus DNAs de craque e carregador de piano.

Na França, menos drama, mais intriga e até mesmo uma pitada de exoterismo. Raymond Domenech simplesmente deixou de fora da Copa os talentos Benzema, do Real, e Nasri, do Arsenal. A imprensa francesa diz que os dois seriam vozes discontentes no vestiário, insatisfeitos com a falta de esquema tático do técnico, contestado também pela torcida. A não-convocação do primeiro nada tem a ver com o escândalo envolvendo prostituição, visto que Ribéry foi chamado e já é réu confesso no caso. Benzema é o maior ídolo da atualidade no futebol francês, apesar da temporada irregular na Espanha (na verdade, o azar do jovem atacante se chama Gonzalo Higuaín...).

Também para registro, Domenech é aquele que foi acusado pelo campeão do mundo Robert Pirés de não convocá-lo porque não trabalha com jogadores do signo de escorpião. Sério.

Quer dizer... Dunga... Maradona... Domenech...

Nem tão sério assim.


O Flamengo?

O Flamengo pode tirar duas lições, agora.

A primeira, sobre como é jogar como o Flamengo. Lembrar disso. Foi só a segunda vez que o Flamengo, como Flamengo, entrou em campo em 2010.

A segunda, que é preciso renovar. Alguns já não tem mais o mesmo comprometimento, já não levam tão a sério. E ficam cada vez mais sem clima com a torcida.

* * *

Grande comercial da Nike pra Copa.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Personagem É Outro.

Esqueçam a fábula dos anões, apesar do apelido. O técnico da seleção brasileira tem muito mais em comum com aquele personagem carismático de Shrek. Sem a sagacidade e a irreverência, claro, além do carisma.

Se a lista não surpreendeu a ninguém, tirando o Grafite - de quem falarei daqui a pouco - a coletiva que se seguiu foi, no mínimo, impagável. E por aspectos totalmente negativos, vindos de todos os lados.

Dunga é o mais limitado comandante que a seleção brasileira já teve. De longe. Intelectualmente, culturalmente. Foram quase oitenta minutos de amargura, de incontáveis erros de português de toda forma, de pensamentos e tentativas de pensamentos confusos, equivocados mesmo. Dunga tentou falar de ditadura, de apartheid, de lobby, de teorias da conspiração, tudo com o mesmo conhecimento de causa que tem para convocar, escalar e montar o time brasileiro.

Deixou muito claro, claríssimo mesmo, que cada jogador convocado por ele ao longo destes quatro anos teve a sua chance de "mostrar que é jogador da seleção". E isso, para o técnico, envolve uma série de variáveis, sendo jogar futebol de seleção, em si, apenas uma delas. E certamente não a mais importante.

Já no fim da coletiva, foi explícito ao citar os nomes de Carlos Eduardo e Grafite. Para justificar o segundo - que atuou exatos 27 minutos com a camisa da seleção sob seu comando - lembrou que o primeiro, quando convocado, chegou e entrou no grupo "como um veterano", mostrando postura e "vontade" de estar no grupo como tal. "Grafite fez o mesmo", disse ele - "chegou e mostrou que é jogador de seleção".

Ora bolas, em 27 minutos é que não foi. Foi onde, então? Nos treinos? Naqueles treinos do Dunga? Claro que não.

Foi na panela.

Porque muito mais importante para o Dunga do que jogar futebol é ter o perfil do grupo. Que é o perfil dele próprio. Jogadores dispostos a dar o sangue pela camisa, como o Felipe Melo. Que unam os demais e tragam uma atitude positiva, como Josué e Kléberson. Que sejam totalmente disciplinados, obedientes, como Gilberto Silva, como Elano. Atletas que se sacrifiquem, doem pelo time... como Dunga.

Quem coloca o individual acima do coletivo, está fora.

E fora isso tudo, ainda há o fator Atletas de Cristo. Há muitos deles no grupo. Jorginho, braço direito do técnico, é o presidente do grupo no Brasil. Grafite, por exemplo, ainda não é integrante. Mas, na seleção, se reúne para rezar com os demais.

É com esse grupo fechado - que começa lá em cima, com Ricardo Teixeira, passa por Dunga, Jorginho e Américo Faria (que era supervisor da baderna de 2006) e termina com nomes como Felipe Melo, Josué e Júlio Baptista, que a seleção brasileira pode ou não fracassar na Copa. Como pode ou não voltar com o caneco.

O X da questão é o "como". E isso, para Dunga, pouco importa. Importam o resultado, acima de tudo, o comprometimento com o grupo e o tal amor à camisa.

E Lá Vamos Nós.

Dunga perdeu a chance.

Bastava ceder um pouquinho aqui e ali. Deixar de lado, mesmo que brevemente, sua auto-proclamada coerência - que como o craque Tostão escreveu em sua coluna, não é virtude. Tivesse aberto mão de uma ou duas peças que provavelmente sequer entrarão em campo na África do Sul, e teria trazido para si a simpatia e torcida de toda uma nação. Mas não fez isso. E agora vai para a Copa com a cobrança de cento e noventa milhões de pessoas na ponta da língua. Ao primeiro insucesso - possível já na fase de grupos - o coro será ensurdecedor.

Para uma Copa quase militarizada - pelas campanhas publicitárias, mais parece que vamos para a guerra - Dunga manteve sua linha de comando, valorizando conceitos como fidelidade em detrimento do talento. Como eu já havia escrito aqui, achava difícil que ele, no fim de uma jornada de quase quatro anos, levasse quem jamais lhe deu uma gota de suor. Lembrem sempre que Dunga é aquele que, quando levantou a taça, em 94, vociferou palavrões. Um homem ressentido e magoado pelo fracasso de 90, marcado pela alcunha de "Era Dunga". Flagrado pelas câmeras, em 98, dando uma cabeçada no companheiro Bebeto. Alguém que, ainda hoje, precisa provar para todos que é possível vencer dentro de suas convicções, do seu jeito.

E assim vamos para a África do Sul com Josué, Felipe Melo (quantos minutos de mundial até ser expulso?), Gilberto Silva, Júlio Baptista, Kléberson... e até Grafite.

...e sem Ganso. Nem Neymar. Sequer um Ronaldinho Gaúcho.

Dunga foi chamado para "limpar a casa" após a bagunça e o fracasso na Alemanha e "restaurar o amor pela seleção".



Meu amor ela não terá.

Pois temo - temo mesmo - pelo que pode significar para o futebol uma vitória brasileira com um time assim, um pensamento como esse e um "técnico" como Dunga.

* * *

A foto que ilustra este post ilustra também a situação absurdamente parecida com a atual, só que vivida em 1978 - o jovem Falcão, bicampeão brasileiro pelo Internacional, fora deixado de fora da lista da Copa pelo não menos teimoso Cláudio Coutinho. Naquele mesmo mundial, aliás, Menotti também deixou de levar um tal Diego.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Corinthians x Flamengo - Liveblog

Eu não tenho a menor dúvida de que o tempo, hoje, passou mais lentamente.

A ansiedade por um jogo como esse mexe com a cabeça de quem é apaixonado por seu clube, pelo futebol. Desde cedo, ficou claro. E nada foi capaz de controlar a ansiedade. Nem mesmo o futebol dos outros. A Inter, de Mourinho, campeã da Copa Itália, ma fazia pensar o quanto o Flamengo vai ou não jogar atrás hoje. A decepção da torcida do City, que perdeu a vaga na Champions do ano que vem nos minutos finais contra o Tottenham, me causou calafrios. Por conta de uma virose, ainda fui forçado a ficar em casa, impossibilitado de uma volta para espairecer. Tentei ocupar a mente com tarefas como organizar a bagunça dos HDs, renomeando filmes da Monica Mattos e unzipando toneladas de músicas baixadas e esquecidas (como é bom Black Rebel Motorcycle Club!). Nada funcionou. Nada.

Mas finalmente vai começar. O juiz apitou.

• E começou mal. Cléber Machado. Meu Deus. Pelo menos tem Júnior e Casão.

• Ainda bem que essa bola sobrou pro Gordo.

• Ronaldo já perdeu um gol, Adriano, o tempo de uma bola. E os dois perderam o bonde da seleção. O Corinthians já deu três chutes pra gol.

• Juan, você é moleque!

• A expressão "caiu de maduro" acaba de virar "caiu de gordo"...

• Barreira de quatro, ninguém teve coragem de ficar na frente da bola chutada pelo RC... e o Corinthians finaliza pela sétima vez com Dentinho...

• Bem, Deivid fez o que os corintianos tentaram oito vezes e não conseguiram. Um a zero, agora começa outro jogo - espero que o Flamengo jogue como o Flamengo.

• Ronaldo, hoje, deve ter uns 15 cm de impulsão. Mais um gol feito perdido na conta da balança.

• Havia só Deivid e Ronaldo na área do Flamengo. Deivid acha que, numa situação dessas, tem que marcar a bola. Falta QI a esse time do Flamengo. E o Corinthians abre dois a zero logo após o Fla perder duas chances de ouro, uma com Love, outra com Adriano. De qualquer maneira, o rubro-negro só precisa de um gol.

• Fim do terceiro tempo. Pet, por favor.

• Kléberson? Kléberson??? KLÉBERSON?

• Bem, chegou a hora de Kléberson carimbar seu passaporte para a Copa.

• Kléberson! Que bola! Que visão! Que categoria!

• Será que o Júnior vibrou na cabine da Globo?

• O Corinthians esmoreceu, dá até espaços na marcação. O Fla melhorou a sua. O problema é que um gol, pra qualquer lado, praticamente decide o jogo. Lembra do dia, que passou lentamente? Imagine os 25 minutos finais como passarão...

• Entrou Iarley. Pela primeira vez agradeço por ser o horroroso do CM narrando, e não o Luís Roberto. Se bem que LR não confundiria Kléberson com Maldonado.

• Bruno, decisivo, craque num lance. Acabou. E o time do Fla faz Chatuba no Pacaembu.

Jogão. Um jogão que só reafirma minha maneira de enxergar o futebol. Porque o Corinthians, enquanto partiu pra cima em busca da vantagem de dois gols, dominou a partida, criou uma dezena de chances e atingiu seu objetivo. Aí abdicou de jogar pra frente, de buscar mais. O Flamengo, por sua vez, enquanto jogou com o resultado na cabeça, nem pareceu o Flamengo. Tomou sufoco, apanhou na bola vergonhosamente. Aí precisou jogar pra frente. E com seu toque de bola, com calma, fez o gol que precisava.

Eu fico com Cruijff. Não me importa apenas o resultado.