quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Valores.


Antes de entrar no mérito (ou na falta de) da demissão de Dorival Júnior, é preciso saber, com precisão, se os fatos divulgados após o anúncio oficial de sua saída correspondem à verdade. O próprio ainda não se pronunciou.

Segundo a diretoria santista, havia sido decidido, de comum acordo, que Neymar ficaria fora do jogo contra o Guarani, por conta de suas atitudes na vitória sobre o Atlético Goianiense, quando xingou técnico e companheiros por ter sido impedido de cobrar um pênalti que ele mesmo sofrera. Para o clássico contra o Corinthias, hoje, o menino de ouro da Vila seria reintegrado, segundo palavras do presidente do clube, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, citando reunião com o treinador na segunda-feira. Só que, na coletiva de ontem, após o treino, Dorival anunciou que Neymar continuaria fora do time e que tinha o respaldo da diretoria para tomar tal decisão.

É, respaldo ele não teve, isso já sabemos.

Mas por que Dorival Júnior, que me parece dos mais corretos e éticos em sua profissão, decidiu passar por cima do que haveria combinado com o presidente (veja o comunicado oficial do Santos) em relação ao retorno de Neymar ao time?

(Corta para 21 de agosto, na França)

Foi nesta data - sete dias antes do início do Mundial da Turquia - que o técnico da seleção brasileira de basquete, o argentino Rubén Magnano, cortou Nenê por conta de um estiramento muscular no músculo sóleo. Segundo os médicos, uma contusão que exigiria entre cinco e dez dias sem atividade física, tornando perfeitamente possível sua manutenção no grupo para que tivéssemos o pivô na fase decisiva do campeonato. Nenê provavelmente estaria apto para atuar nas oitavas, contra a Argentina, e certamente teria feito diferença naquele jogo. Mas não fez, não estava mais lá. Por quê?

Segundo minha percepção, porque Magnano não quis. E não por conta da contusão, que acabou sendo pretexto perfeito para o corte, mas sim porque não engolia a postura de Nenê e sua atitude nos treinamentos. Afinal, Nenê não gosta de treinar e demonstra isso. Magnano acabou de chegar ao comando, fez o grupo treinar duro e conquistou sua confiança. Coisa que o pivô nunca teve dele.

(Corta para a Vila Belmiro, ontem)

Em meio ao turbilhão dos últimos dias, Dorival Júnior comanda o treino do Santos. A poucos metros dele está Neymar, epicentro dos tremores. Eu não vi o treino, não posso saber. Mas vi como o atacante se comportou depois daquele pênalti que não bateu. Foram quase dez minutos em campo até o fim do jogo, dez minutos de firulas descabidas, de gestos exagerados, de mais palavrões e reclamações, mesmo com a vitória garantida. Foi um deboche.

Como terá se comportado Neymar ontem, no treino?

(Corta para o Morumbi, daqui a alguns meses)

Dorival Júnior comemora a classificação do São Paulo à Libertadores, garantida apenas na última rodada do campeonato, com a vitória sobre o rebaixado Atlético Mineiro de Luxemburgo. Ele é abraçado por seus comandados e festejado pela torcida. Na coletiva após o jogo, a diretoria comunica que, já na semana seguinte, vai se reunir com o treinador para planejar a temporada 2011.

Dorival jamais voltou a tocar no assunto. Quando assumiu o São Paulo, uma semana depois, disse que estava contente por ter a chance de trabalhar num clube com estrutura profissional, hierarquia bem definida e respeito pela disciplina. Coisas que ele, corretamente, prezou no episódio de sua demissão do Santos.

Por conta disso, sua imagem sequer foi arranhada, pelo contrário - Dorival saiu ainda mais forte, admirado e valorizado da Vila.

Neymar?

Bem, sabe-se que o Chelsea jamais demonstrou o mesmo interesse de antes.

* * *

Sobre as imagens divulgadas ontem, de como ficará o "novo" Maracanã, reproduzo o email do meu mestre Renato Nogueira:

"Porra, ele flutuava... Agora, nessa versão Frank Miller, vai ficar atarrachado no chão. E maracanã é um pássaro, né? Abateram o estádio!"

Pois é. E o pior é que, além de enterrado no chão, o novo gramado terá dimensões bem menores. Esse sim, para mim, é o maior crime que está para ser cometido.

4 comentários:

Bolinho disse...

a diretoria do Santos fes "A" cagada do ano...falta de habilidade política, de jogo de cintura, além de jogar para o patrocinador. Mas acho ruim pro moleque isso tudo. Ele só tem 18 anos, ainda pode amadurecer. No final, ele se queimou mais que todo mundo nesse episódio.
Até mais tarde!

Edu Mendonça disse...

Pois é. Em contrapartida, quem sai ainda melhor na fita (pra usar um termo neymariano) é o próprio Dorival, que já era um cara respeitado por sua postura e princípios.

Eu imagino bem como o moleque deve ter se comportado no trabalho desde a suspensão...

Thiago disse...

Ele deu uma coletiva em casa, falou em "falha de comunicação" com a diretoria na questão do jogo contra o Corinthians. E abriu mão de uma multa de 2 milhões. É esquisito achar que nessa reunião não falaram sobre escalar ou não o Neymar para o clássico ou que essa decisão não ficou clara. O que eu acho é que ele peitou, como devia peitar mesmo, quando achou que só um jogo era pouco, o que o garoto fez foi demais pra um cara como o Dorival, super profissional. É aquilo, no futebol muita coisa acontece dentro de quatro paredes e não das quatro linhas apenas.

Anônimo disse...

Frase do Andres Sanchez: "vocês (jornalistas) não sabem de 20% da história por trás da saída do Dorival do Santos." Por que ninguém conta, só é assunto quando é com o Corinthians e nisso ele tá totalmente certo em reclamar.